Cantoras pop... da Marvel. Isso mesmo.

Se você não foi uma criança nerd como eu que era viciada em quadrinhos, talvez você não conheça algumas personagens que infelizmente ainda não ganharam uma versão cinematográfica - ou pelo menos, não num filme que todo mundo tenha visto (você vai entender daqui a pouco).

A minha cantora pop da Marvel preferida (e acho que a preferida de toda criança viada nerd que era viciada em quadrinhos) se chamava Cristal, em inglês Dazzler, e tinha um poder (meio idiota, vai) que transformava som em luz. Fora o fato de que ela apareceu pela primeira vez durante A Saga da Fênix Negra (um marco que todo fã de X-Men conhece e ama), Cristal tinha o melhor make, o melhor look, cantava de PATINS… Ela é uma superstar, não tem o que discutir!

E Cristal na verdade era parte de um plano maior: a Marvel queria lançar um disco com a Casablanca Records (pense em Donna Summer e Village People) e um filme. A personagem apareceu pela primeira vez em 1979 na edição 130 de X-Men, e ela era inicialmente uma cantora de disco music.

Quem acompanha ou já acompanhou X-Men sabe que, no fundo, a história é uma novela rocambolesca de décadas no que há de melhor e pior nisso. Com Alison Blaire, o nome real de Dazzler, não é diferente. É no nível descobrir que fulana não morreu e na verdade é a sua mãe só que vinda do futuro; de repente o vilão bate a cabeça, sofre amnésia e se apaixona pela mocinha; e sabe aquele cara que você sempre pensou que era seu irmão? Na verdade é seu avô. E por aí vai… Por isso, não vale muito a pena colocar toda a história da Dazzler aqui, mesmo porque eu não acompanhei inteira (faz tempo que não leio quadrinhos). O que acho importante é que, à parte de toda a história cheia de meandros como todas as outras, Cristal tem fãs nos quadrinhos (tipo o Colossus, Kitty Pryde e o vilão Juggernaut, que já se recusou a lutar contra ela pois gostava muito do seu trabalho…), já teve um relacionamento com o Longshot (um super-herói loiro de mullet) e teve um filho com ele (que vem a ser o Shatterstar, desde 2009 um herói fora do armário que tem um relacionamento com Rictor). O contexto no qual essa gravidez aconteceu é complicado (e problemático & questionável!!!) demais para eu explicar aqui, tá, então fiquemos nisso mesmo… Risos!

A ideia com a Casablanca é que Dazzler também ganharia um filme, ainda nos anos 1980. E a coisa estava até meio avançada: a atriz Bo Derek foi escolhida para protagonizar e tudo. Aí existem duas versões. Segundo Bo…

Mas segundo Jim Shooter, o editor-chefe da Marvel na época, Bo aceitou sim. Só que ela insistiu que seu marido, John Derek, dirigisse o longa, e a ideia acabou naufragando.
O Ricardo Schott falou mais da Dazzler no site Pop Fantasma, na época que surgiu uma história que a personagem ia ganhar uma série animada própria com a personagem Tigra.

Fun fact: Pouco depois da ideia do filme com a Dazzler naufragar em 1980, a história foi… para os quadrinhos. Em 1984, a personagem Alison Blaire é convencida a fazer uma cinebiografia sobre ela mesma chamada Dazzler: The Movie. Mas, como a gente sabe, o mundo não é um mar de rosas para os mutantes: o sentimento antimutante faz o filme ser destruído e a carreira de Alison afundar.
(Tô falando que é uma novela!)

Bom, aí aconteceu aquele filme que ninguém viu em 2019: X-Men: Dark Phoenix, a definição de HOT MESS.
Caso você não tenha visto (acho bem provável), sabe quem aparece lá?

Tá passada?
A música composta pela banda Odessa e com a voz da cantora BANKS parece boa, mas nunca apareceu em versão integral.
Como os fãs são mais rápidos que a indústria fonográfica, já apareceram diversas versões feitas por eles, desenvolvidas a partir desse trechinho do filme. Risos!

Em X-Men: Dark Phoenix, Dazzler foi interpretada pela atriz Halston Sage. Existe um rumor de que era para Dazzler ter estreado nas telonas em 2016 numa participação especial no filme X-Men: Apocalypse e ela seria interpretada por ninguém menos que Taylor Swift. A produção sempre negou, apesar dessa foto aqui existir:

Taylor, Simon Kinberg (roteirista da franquia X-Men e diretor de X-Men: Dark Phoenix), James McAvoy e Sophie Turner

Kinberg depois disse que era tudo bobagem, que essa foto foi tirada no backstage do show de Taylor Swift em Montreal (a cidade onde X-Men: Apocalypse estava sendo filmado na época).
Te parece um backstage? Hum. OK, then.
Só que Sophie Turner, a atriz que fez Jean Grey (ou seja, a Fênix Negra em si) ajudou a colocar lenha nessa fogueira. Ela usou uma imagem de uma cena deletada de X-Men: Apocalypse num tweet:

Esse “pré-1989” (lembra do disco da Taylor Swift 1989, que também é a data de nascimento dela?) deixou todo mundo em polvorosa.
Só que a imagem é um meme - não é esse disco que Scott Summers (interpretado por Tye Sheridan) segura nela.
E, bem, a cena original é bem mais legal (sim, agora eu vi como o Boy George e a Sophie Turner são parecidos e nunca mais conseguirei desver).

Nos quadrinhos, Cristal nunca cantou Hands on Me. Mas já cantou outras!

Essa de cima é A Little Girl’s Dream. Ainda tem Hush Now Baby e The Serpent is Coming, que parecem ÓTIMAS, e uma versão de Beautiful Dreamer que é originalmente de 1864 (!!!) e já foi regravada por diversas pessoas, como Roy Orbison e Bing Crosby.

Bom, agora é hora de revelar porque o título desse post está no plural.

Em 1991, surgiu uma outra cantora pop no universo dos quadrinhos da Marvel. Estou falando da Nightcat.

A Nightcat de fato conseguiu ser lançada em disco, pela gravadora LMR (Lefrak-Moelis Records). E a companhia não era tão fraca e obscura quanto pode parecer: foi a responsável pelo grande hit de Stevie B, Because I Love You, que chegou a fazer um sucesso bom mais ou menos na mesma época de Nightcat. E também cuidou da Jaya, uma cantora filipina, no começo da carreira dela (dela, ouça If You Leave Me Now, a primeira música de uma artista filipina a aparecer no Hot 100 da Billboard em 44º lugar em 1989).

Jacqueline Tavarez, que deu “vida” e voz para a Nightcat, não era famosa na época. E também não chegou a ser depois - participou do filme Tromeo and Juliet de 1996, uma paródia de Romeu e Julieta, e depois… sumiu. Aparentemente, ela chegou a enveredar por uma carreira na indústria pornô com o codinome Jacqueline Love durante um tempo, mas nada é confirmado oficialmente (os rumores, no entanto, são numerosos).

Provavelmente não ajudou para a carreira de Jacqueline o fato dos quadrinhos e do disco lançado terem flopado. Nightcat tinha um título só para ela! Chique. Porém não durou.

O CD da Nightcat virou um artigo raro, mas dá para achá-lo completo no YouTube.

E aí a gente tem a Lila Cheney como bela representante da música pop britânica. Hahahahahaha!

Na minha cabeça, mas talvez só na minha cabeça, Lila é uma coisa meio Chrissie Hynde, meio Joan Jett. Ou, talvez, Pat Benatar? Ou seja: é a melhor chance de Miley Cyrus entrar no MCU (Universo Cinematográfico da Marvel) hahahahaha
Ela apareceu pela primeira vez nos quadrinhos da Marvel em história dos Novos Mutantes, em 1984.

Galera curte tanto a Lila Cheney que fez um vídeo de fã (!!) com ela cantando e tudo, e participação especial da Cristal no backing vocal e dos Novos Mutantes na plateia.
Nessa fanfic em forma de clipe, ela dá uma paquerada com o personagem Cannonball, referência ao fato deles já terem sido um casal (e separaram, e se uniram de novo, e por aí vai) nos quadrinhos.

A música é boa, né??
Dois anos antes, a mesma turma fez um outro vídeo com a Cristal em si como protagonista, dessa vez com participação de Longshot na plateia (e a música também é fofa)!

Existe também uma versão de Cristal da série animada do X-Men. Mas sinceramente? Acho fraquinha.

Nos quadrinhos, Lila Cheney chegou a contratar Alison Blaire para sua banda. Elas eram (são?) tipo amigues.

Dizer quem é a minha preferida é difícil: esse tema “cantoras fictícias” é a minha cara. Adoro cada uma por motivos diferentes. Mas não dá para negar que Cristal ocupa um lugar especial no meu coração por ter aparecido na saga da Fênix Negra. É um cristalzinho do pop (trocadilho infame intencional, sim).

(E você reparou que esse make da Cristal é bem parecido com outro, de uma outra cantora pop que só existe em desenho?
Sim, estou falando de Jem e as Hologramas. MAS PORÉM Jem apareceu com aquele make em pink em 1985. Portanto… Cristal veio primeiro. Sorry, Jem girl, te adoro mas você copiou!)

Como eu não quero nerd me xingando por aí, primeiro deixo claro: Rick Jones não está incluído aqui porque só estou falando de cantoras.
Mas, como só estou falando de cantoras, também não poderia deixar de falar dela - que, aliás, podia participar do MCU também, hein? The one and onlyMonica Lynne!

Monica apareceu antes de Cristal e de Lila Cheney, em 1970 numa edição de Os Vingadores, e acabou virando o primeiro par romântico do Pantera Negra. Para tanto e pelo que a HQ dá a entender, ela abandonou a carreira de cantora para ir com T’Challa para Wakanda. Eles ficaram noivos, mas depois T’Challa rompeu o noivado.

(Existe uma cantora de verdade chamada Monica Lynne Chase. Não há relação entre elas.)

Eventualmente, Monica voltou a cantar. Foi numa revista de 2006 e ela estava curtindo a maior dor de cotovelo, esquema Marília Mendonça. Sabe por quê? Bem: T’Challa ficou noivo de ninguém menor que Ororo Munroe, a Tempestade dos X-Men, nessa época.

Monica morreu numa revista de 2018, vítima de câncer.
(Porém, como na Marvel tudo pode acontecer, quem sabe um dia ela não renasce, ressuscita, aparece em uma versão do passado ou de um universo paralelo…)

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Existe licenciamento tosco - e existe a linha do Jotalhão para a Tok&Stok <3

Não consegui resistir, me derreti inteirinho.
Olha isso aquiiiii:

Sim, mais uma vez ela: a nostalgia. Para quem não reconheceu porque talvez não tenha idade ou refs adultas de prateleiras de supermercado, o extrato de tomate Elefante existe desde os anos 1940. Ele originalmente era da Cica e trazia um desenho mais realista de elefante na embalagem porque, dizem, o filho do fundador da empresa Rodolfo "Rudi" Bonfiglioli era caçador de elefante - eu, hein! O Jotalhão, por sua vez, foi criado pelo Maurício de Souza para uma campanha do Jornal do Brasil (acho que por isso o Jota) que acabou não indo para frente. Aí rolou esse casamento do Jotalhão com o extrato de tomate um tempo depois, em 1979.

Ainda hoje (em embalagem mais moderna) o extrato de tomate com a imagem do Jotalhão é vendido, agora produzido pela Cargill.

extrato-de-tomate.png

Preferia a embalagem original

Mas é uma graça mesmo assim, né? Eu não resistiria

Essa história do licenciamento com a Cica é contada pelo próprio Maurício na sua autobiografia Maurício: A História que Não Está no Gibi. Claro que é a versão dele, bem oficialesca, mas o desenhista diz que no começo o acordo não tinha participação de venda e o produto estourou. Eu não era nascido, mas consultei os universitários (ou seja, minha irmã Ana Flavia) e esse copinho da propaganda acima virou febre, todo mundo tinha. Com um volume de vendas bem maior, hoje deve ter existir um outro acordo entre Maurício e empresa, né? Eu não cobraria pouco da Cargill, não… E dá para reparar na clássica assinatura dele na embalagem, de lado.

Acho tacada de mestre essa coleção de homewear da Tok&Stok mirar na memória afetiva: o extrato continua sendo um sucesso, mesmo com embalagem renovada, e tem um super recall. Você bate o olho no pratinho e pensa “o extrato de tomate do elefanteeee!". Muito amor. E acho que a indústria alimentícia tá comendo bola: podia lançar um monte de legume enlatado com o resto da Turma da Mata.

Um detalhe: onde a gente via o logo da Cica agora aparece uma data: 1969 é o ano de criação do Jotalhão para a tal campanha do Jornal do Brasil.

Quem quiser comprar a linha do Jotalhão tem no site da Tok&Stok.
E o extrato tem no supermercado mais próximo kkkk

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Banana Fish é um anime LGBTQ sem pegação, é TUDO e tem em streaming

O nome não é estranho? Bom, Banana Fish também está no título de um conto superfamoso da literatura norte-americana, e de um dos meus autores preferidos. Um Dia Ideal para os Peixes-Banana é um conto de J. D. Salinger que faz parte da coletânea Nove Estórias e traz um dos personagens da família Glass, Seymour Glass (a família Glass aparece em grande parte das obras de Salinger). A boa notícia é que Um Dia Ideal para os Peixes-Banana está disponível online no site da revista Bula - leia, mas com cautela, é um conto aparentemente simples mas trata-se de uma armadilha. E é bom ler já antes de continuar, porque mais para frente vou dar spoilers dele, OK?

nove-historias.png

Na verdade recomendo que você leia o livro inteiro

Essa é a mais nova edição - o Estórias virou Histórias

O conto saiu pela primeira vez na revista New Yorker em 1948. O trauma pós-guerra e decorrentes problemas na saúde mental são retratados na figura de Seymour. Salinger aproveita as figuras recorrentes em seu trabalho da família Glass para mostrar a complexidade do ser humano e as decorrências de fatos contemporâneos nas nossas vidas. Ele também é autor do profundo e emblemático O Apanhador no Campo de Centeio - se você não leu, recomendo parar tudo o que está fazendo. Alguns dirão que é uma obra voltada para adolescentes, mas não espere por Jogos Vorazes. O negócio é tenso e mexe com a gente. Já ouvi falar que é um dos livros preferidos do Washington Olivetto - ele tem um monte de cópia extra e dá para as pessoas, tipo evangelizando a palavra de Salinger para o povo!

E Banana Fish, o anime, também mexe com a gente.

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O anime é inspirado num mangá de mesmo nome que, disfarçadamente, foi direcionado para garotas. Não sei se você sabe mas mangás no Japão são bem divididos e segmentados em revistas que tem público cativo: o dos meninos, a das meninas etc.
Entre essas histórias para as meninas, é comum que existam as de estilo yaoi. Elas trazem casais de meninos gays com papéis bem definidos de ativo e passivo, são românticas e ao mesmo tempo possuem cenas estilizadas de estupro (sim, pois é), dominação e congêneres. Geralmente essas historias são vistas como válvula de escape para leitoras que não possuem um relacionamento ou que até o possuem, mas são infelizes nele e gostam de sonhar com algo mais idealizado (e impossível de ser vivenciado por elas, já que os personagens principais são rapazes).
Os yaoi vem desde a década de 1970 e são um sucesso sedimentado. Você também pode ver isso como parte do conjunto semântico do ideal masculino mais frágil e feminilizado da Ásia hoje, contemplado, por exemplo, por ídolos do j-pop e k-pop.
(Existe outro estilo de mangá, o bara, voltado para os homossexuais, nos quais os homens são mais musculosos ou gordos, geralmente mais masculinos e maduros, e o foco dele é mais voltado ao sexo em si do que ao relacionamento, pelo menos ao meu ver. Acho que podem até haver exceções mas yaoi e bara são coisas bem diferentes, definitivamente.)

Já está complicadíssimo na sua cabeça, eu sei, mas vou complicar ainda mais: Banana Fish é um ponto fora da curva. Ao contrário da tradição dos yaoi, a história que começou a ser publicada em 1985 na revista Bessatsu Shôjo Comic não traz exatamente um casal gay que faz sexo. Os protagonistas Ash e Eiji na verdade nem transam. É algo mais platônico, apesar de existir uma tensão amorosa entre eles. Eles são gays? Há discussões sobre isso até hoje, e a própria Akimi Yoshida, autora de Banana Fish, costuma ser dúbia em suas respostas para entrevistas.

Outra grande diferença entre Banana Fish e outros é que o estupro aqui não é glamourizado: o tempo todo ele é tratado como algo negativo, perverso, um fetiche nojento. Quem o pratica na trama deve ser punido, existe uma clara criminalização. Ufa.

Não tenho certeza, mas acho que Yoshida fez tudo isso de caso pensado, para criar algo diferente. Tanto que Banana Fish virou cult e conseguiu furar a bolha dessa divisão de gênero: muitos homens héteros e cis são fãs e não tem vergonha de admiti-lo.

Mas vamos à história em si?

Eiji e Ash, o casal mais shipável &lt;3

Eiji e Ash, o casal mais shipável <3

O mangá começa com Griffin, um soldado da Guerra do Vietnã que é usado como cobaia para uma nova droga chamada Banana Fish. Ele acaba pirando com os efeitos dela e sai matando todo mundo - um amigo, Max, é obrigado a atirar nas suas pernas deixando-o paraplégico. Ele fica catatônico.

O irmão de Griffin é Ash, um rapaz de 17 anos que parece uma versão desenhada de River Phoenix, ex-garoto de programa e atual líder de uma gangue de rua de NY que tenta desvendar o que aconteceu com o irmão. Ele acaba descobrindo ao longo da história que essa droga é pura bad trip e que a pessoa fica tão maluca que mata e depois comete suicídio.

Essas duas temáticas, a guerra militar e o suicídio, são o que ligam o mangá (e consequentemente o anime) ao conto de Salinger. Mas também acho que esse retrato de jovens com questões existenciais profundas é inspirado nos personagens salingerianos.

Griffin no flashback eterno da bad trip

Griffin no flashback eterno da bad trip

Nesse meio tempo, aparecem os japoneses Eiji e Ibe: o segundo é um fotógrafo que quer fazer uma fotorreportagem do universo das gangues juvenis de NY, e o primeiro é seu assistente. Eles acabam se envolvendo mais com Ash, Eiji constrói uma relação íntima, mas que nunca chega as vias de fato, com Ash; eles são como opostos que se completam, um rebelde e o outro conformado, um loiro americano e o outro japonês de cabelo preto, um teve uma vida relativamente feliz (na verdade com um trauma, Eiji era atleta mas não consegue mais competir) e o outro teve uma infância dolorosa que o empurrou para uma vida criminosa.

A gente descobre que quem está patrocinando os estudos dessa droga para que ela seja usada pelos militares americanos na guerra é a máfia controlada por Papa Dino Golzine. Golzine também é a cabeça de um círculo pedófilo que comercializa crianças como escravos sexuais - e do qual Ash foi vítima. Esse pessoal inclui figurões do governo.

Ou seja: Golzine é um sugar daddy nojentão

Ou seja: Golzine é um sugar daddy nojentão

O anime lançado em 2018 adapta várias coisas mas se mantém relativamente fiel à história. A maioria das diferenças é de adaptação de época: a história é atualizada para 2010, com smartphone, Guerra do Iraque no lugar de Guerra do Vietnã e outras coisinhas.

Tem um mar de coisas para falar de Banana Fish para te convencer a correr para a Amazon Prime Video e assistir, mas vou me focar em apenas algumas.

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Para começar: Banana Fish é uma série de ação. Tem briga de gangue, tem polícia, cadeia, máfia, incêndio, sequestro, reviravoltas. A sexualidade fica em segundo plano principalmente se você não prestar atenção nela. Agora, se você quiser prestar atenção, ótimo: são personagens complexos, portanto é bom ver retratos ficcionais de gente com sexualidade ambígua mas que ao mesmo tempo vivem histórias que não giram só em torno disso.

Yut-Lung Lee é um bom exemplo: não fica claro se o personagem é crossdresser ou uma mulher trans. Mas fica claro uma coisa: você não gostaria de ter essa pessoa como sua inimiga…

Yut-Lung Lee é um bom exemplo: não fica claro se o personagem é crossdresser ou uma mulher trans. Mas fica claro uma coisa: você não gostaria de ter essa pessoa como sua inimiga…

Outra coisa é a inspiração na literatura, não só em Salinger. Todos os capítulos possuem títulos retirados de obras importantes da literatura, e nessa entram F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway e outros.

Não fica por aí: o tema da prostituição masculina e a semelhança entre Ash e River Phoenix, por exemplo, remetem ao longa Garotos de Programa (1991) de Gus Van Sant, um clássico queer. A culminação da guerra de gangues no metrô de NY em direção a Coney Island nos lembra Warriors - Os Selvagens da Noite (1979).
Provavelmente deve ter mais filme que inspirou Yoshida e eu não pesquei. Sei que o personagem Max sai do físico de Harrison Ford e Eiji replica o físico de Hironobu Nomura, um aidoru bem fofito.

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Um disquinho

de Hironobu Nomura

E como nada é perfeito, um defeito: a música de abertura. Emocore dos ruins.

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Watchmen: algo bem diferente do filme

Você assistiu à nova série da HBO Watchmen ontem, 21/10?
Watchmen é um clássico cult dos quadrinhos: a história de Alan Moore, lançada entre 1986 e 1987, é hoje considerada uma das primeiras graphic novels, aquelas HQs caprichadas, de história mais madura e, vá lá, um certo realismo fantástico porque, apesar de ainda ser relacionada a super-heróis, imagina-os como seres mais complexos e realistas.
Aí teve o filme, não sei se você lembra, de 2009 e dirigido por Zack Snyder. Ele é bastante fiel aos quadrinhos.
A série não: na verdade ela leva o universo para o futuro. Mais precisamente cerca de 30 anos para frente, numa época bem mais próxima de nós mas alterada pelos acontecimentos do Watchmen original.
Precisa ver o filme ou ler os quadrinhos antes? Mais ou menos: você simplesmente não vai ter explicação de algumas coisas se não tiver essas informações, mas isso não necessariamente vai alterar sua percepção acerca da trama principal.

Sister Night (Regina King), uma nova personagem para uma nova história

Sister Night (Regina King), uma nova personagem para uma nova história

Bom, spoilers ahead. Nada muito revelador (é só o primeiro capítulo da série, afinal), mas vai que. Coisinhas que aparecem no primeiro episódio, que tem a ver com o universo do Watchmen e que podem ter passado batido:

A chuva de pequenas lulas, por exemplo, se refere ao ataque da lula gigante na história original. Ela foi liberada em uma fenda interdimensional, matou 3 milhões de pessoas e por fim foi derrotada. Mas ao que tudo indica essa fenda não foi fechada. #lulalivre!
Outra coisa: o uso de pagers. O responsável pela série Damon Lindelof (de Lost e The Leftovers, adoro ambas), imaginou um mundo mais paranóico com o uso de tecnologia após a aparição da lula. Entre os motivos que fariam essa fenda interdimensional surgir, as pessoas poderiam apontar qualquer coisa. Então os experimentos com tecnologia wifi e celulares foram interrompidos pelos governos. É uma década de 2010… sem celular! Imagina?
O ator Robert Redford (sim) é o atual presidente dos EUA nesse mundo paralelo. E por quase 30 anos. Pois é, é uma realidade bem alternativa, mesmo… Será que ele mandaria melhor que o Trump?

Mas o principal é que, para a combustão dessa história nova, foi incluído um elemento central na história da América do Norte hoje e sempre: o racismo. Se isso passava longe da história original (todos os personagens principais eram brancos, fora Dr. Manhattan, que era - ou é - azul), agora vira o assunto principal. O episódio de estreia começa com a histórica rebelião racial de Tulsa de 1921 (que realmente aconteceu) com brancos atacando a comunidade negra. Pula para 2019, com a ameaça do despertar de um grupo de supremacistas brancos que usam a máscara do personagem Rorschach e se autodenomina a Sétima Cavalaria. Esse grupo foi reprimido mas voltou, e por algum motivo misterioso está recolhendo baterias de relógio com lítio sintético, que agora está proibido na trama.
Sister Night, a nova personagem interpretada por Regina King, é um misto de policial e vigilante - não é oficial, mas trabalha com a polícia. A história deve centrar nela.

E tem o Jeremy Irons, um ricaço que aparece na sua grande propriedade mas por enquanto ninguém sabe quem ele é. Ozymandias, será?

Ou seja: para falar a verdade, acho melhor você assistir ao filme, sim.

Prestei atenção em algumas coisas, também:
. As máscaras. Os policiais as usam depois da fictícia White Night, quando os supremacistas mataram vários deles, para proteger suas identidades. Quando Sister Night está em ação, ela também a usa, assim como Looking Glass (Tim Blake Nelson). O xerife Judd (Don Johnson, o pai da Dakota) parece ser o único que dispensa o acessório. É interessante pensar em um mundo cheio de mascarados em contraposição com o reconhecimento facial discutido enquanto invasão de privacidade no nosso mundo.
. A prática continua em baixa no mundo fictício dos super-heróis, pelo menos no que diz respeito ao figurino. Ninguém aprendeu com Edna Moda? Panos soltos e capuzes dão movimento e estilo para os personagens, mas na vida real seriam pouco práticos se você quer bater em alguém até a pessoa soltar a informação que você precisa…
. O tema dos vigilantes é extremamente atual para o cenário social que temos hoje. Inclusive para a realidade brasileira.

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Gostei. Vou assistir os próximos.

ATUALIZAÇÃO 22/10: A própria HBO Brasil vai soltar episódios de um podcast sobre a nova série Watchmen a cada novo programa! Ouvi o primeiro e achei bacana! Play: