Watchmen: algo bem diferente do filme

Você assistiu à nova série da HBO Watchmen ontem, 21/10?
Watchmen é um clássico cult dos quadrinhos: a história de Alan Moore, lançada entre 1986 e 1987, é hoje considerada uma das primeiras graphic novels, aquelas HQs caprichadas, de história mais madura e, vá lá, um certo realismo fantástico porque, apesar de ainda ser relacionada a super-heróis, imagina-os como seres mais complexos e realistas.
Aí teve o filme, não sei se você lembra, de 2009 e dirigido por Zack Snyder. Ele é bastante fiel aos quadrinhos.
A série não: na verdade ela leva o universo para o futuro. Mais precisamente cerca de 30 anos para frente, numa época bem mais próxima de nós mas alterada pelos acontecimentos do Watchmen original.
Precisa ver o filme ou ler os quadrinhos antes? Mais ou menos: você simplesmente não vai ter explicação de algumas coisas se não tiver essas informações, mas isso não necessariamente vai alterar sua percepção acerca da trama principal.

Sister Night (Regina King), uma nova personagem para uma nova história

Sister Night (Regina King), uma nova personagem para uma nova história

Bom, spoilers ahead. Nada muito revelador (é só o primeiro capítulo da série, afinal), mas vai que. Coisinhas que aparecem no primeiro episódio, que tem a ver com o universo do Watchmen e que podem ter passado batido:

A chuva de pequenas lulas, por exemplo, se refere ao ataque da lula gigante na história original. Ela foi liberada em uma fenda interdimensional, matou 3 milhões de pessoas e por fim foi derrotada. Mas ao que tudo indica essa fenda não foi fechada. #lulalivre!
Outra coisa: o uso de pagers. O responsável pela série Damon Lindelof (de Lost e The Leftovers, adoro ambas), imaginou um mundo mais paranóico com o uso de tecnologia após a aparição da lula. Entre os motivos que fariam essa fenda interdimensional surgir, as pessoas poderiam apontar qualquer coisa. Então os experimentos com tecnologia wifi e celulares foram interrompidos pelos governos. É uma década de 2010… sem celular! Imagina?
O ator Robert Redford (sim) é o atual presidente dos EUA nesse mundo paralelo. E por quase 30 anos. Pois é, é uma realidade bem alternativa, mesmo… Será que ele mandaria melhor que o Trump?

Mas o principal é que, para a combustão dessa história nova, foi incluído um elemento central na história da América do Norte hoje e sempre: o racismo. Se isso passava longe da história original (todos os personagens principais eram brancos, fora Dr. Manhattan, que era - ou é - azul), agora vira o assunto principal. O episódio de estreia começa com a histórica rebelião racial de Tulsa de 1921 (que realmente aconteceu) com brancos atacando a comunidade negra. Pula para 2019, com a ameaça do despertar de um grupo de supremacistas brancos que usam a máscara do personagem Rorschach e se autodenomina a Sétima Cavalaria. Esse grupo foi reprimido mas voltou, e por algum motivo misterioso está recolhendo baterias de relógio com lítio sintético, que agora está proibido na trama.
Sister Night, a nova personagem interpretada por Regina King, é um misto de policial e vigilante - não é oficial, mas trabalha com a polícia. A história deve centrar nela.

E tem o Jeremy Irons, um ricaço que aparece na sua grande propriedade mas por enquanto ninguém sabe quem ele é. Ozymandias, será?

Ou seja: para falar a verdade, acho melhor você assistir ao filme, sim.

Prestei atenção em algumas coisas, também:
. As máscaras. Os policiais as usam depois da fictícia White Night, quando os supremacistas mataram vários deles, para proteger suas identidades. Quando Sister Night está em ação, ela também a usa, assim como Looking Glass (Tim Blake Nelson). O xerife Judd (Don Johnson, o pai da Dakota) parece ser o único que dispensa o acessório. É interessante pensar em um mundo cheio de mascarados em contraposição com o reconhecimento facial discutido enquanto invasão de privacidade no nosso mundo.
. A prática continua em baixa no mundo fictício dos super-heróis, pelo menos no que diz respeito ao figurino. Ninguém aprendeu com Edna Moda? Panos soltos e capuzes dão movimento e estilo para os personagens, mas na vida real seriam pouco práticos se você quer bater em alguém até a pessoa soltar a informação que você precisa…
. O tema dos vigilantes é extremamente atual para o cenário social que temos hoje. Inclusive para a realidade brasileira.

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Gostei. Vou assistir os próximos.

ATUALIZAÇÃO 22/10: A própria HBO Brasil vai soltar episódios de um podcast sobre a nova série Watchmen a cada novo programa! Ouvi o primeiro e achei bacana! Play: