O lugar que a gente queria estar lá por volta de 1967 se fôssemos nascidos

Ah, e me desculpa se você já era nascido em 1967: xennial tem mania de achar que tudo gira em torno dele e que todo mundo é da mesma geração que ele.

ENFIM.
Sabe Pinheiros?
Aqui o post que fiz sobre 4 lugares não-hipsters de Pinheiros.
Aqui outro post sobre 3 lojas na Cônego Eugênio Leite em Pinheiros que são hipsters sim - e são legais.
Aqui o post sobre as sorveterias em Pinheiros.

Mas Pinheiros, meu bem, é pouco perto do que era aquilo.

Sabe Harajuku?
Aqui o post sobre Harajuku, o bairro de Tóquio que ficou superfamoso.

Já leu todos esses posts? Pela atenção obrigado, sua audiência é muito importante para nós.

Mas agora eu queria falar de uma rua chamada King's Road lá em Chelsea, Londres, antes de Chelsea virar o bairro de riquinho de hoje, o local onde fica a Saatchi Gallery.
Foi na King's Road, em 1955, que Mary Quant começou a sua aventura. Você sabe, eu já falei de Quant aqui uma ou duas vezes. Na King's Road que Quant abriu sua mítica Bazaar, uma aventura de jovens com vitrines superinovadoras para a época que se transformou num belo negócio.

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A Bazaar era um babado

Moderna, ela antevia a nova atitude da década que chegava: os libertários e tumultuados anos 1960

Tudo começou, na verdade, com um… café. Em 1955, antes da Bazaar, surgia o Fantasie no número 128 da King's Road. Um dos primeiros cafés que serviam espresso em Londres (o pioneiro foi o Moka, de Gina Lollobrigida, na Frith Street), o Fantasie era o lugar para se estar se você era jovem e moderno naquela época. Foi ali que Quant e Alexander Plunkett-Greene, seu futuro marido, decidiram abrir uma boutique na mesma rua. Aberta em novembro, ela gerou um sucesso instantâneo: não tinha mais mercadoria para vender depois de 10 dias! O jeito foi fazer "pão quentinho a toda hora"; Quant criava e vendia, criava e vendia, uma ciranda louca (mais ou menos o que se repetiria em Kensington na Biba de Barbara Hulanicki e Stephen Fitz-Simon 9 anos depois, ali perto).

Não sei se já existia o termo gentrificação, mas os artistas pobrinhos que davam o charme para região tiveram que se mudar para mais longe - mais especificamente para a mesma rua só que mais para frente, em… World's End. Quem sacou, sacou; quem não sacou guarda esse "fim de mundo” que a gente retoma daqui a pouco.

Twiggy na King's Road

Twiggy na King's Road

Chelsea se transformou no lugar mais legal que tinha. Ou já estava destinada a isso? O Royal Court Theatre existia (e existe) ali perto, no Sloane Square. Era um lugar artístico e boêmio. Mas a Bazaar trouxe outra coisa: o fashion.

Ah, e o Chelsea Palace, ali perto, foi vendido mais ou menos nessa época para a Granada Television. Um dos programas gravados ali, o Chelsea at Nine, tem importância histórica. Várias apresentações incríveis, incluindo uma das últimas de Billie Holiday em 1959, antes da cantora morrer de cirrose.

Ao redor da Bazaar surgiram outras lojas. Nenhuma com a mesma projeção internacional de Quant, mas importantes porque fomentaram uma cena dividida com outra ruazinha de Londres que também é o máximo: a Carnaby Street (na época a Carnaby era bem localizada mas com um aluguel mais em conta).

O movimento ia crescendo na King's Road: Kiki Byrne, ex-funcionária de Quant que se transformou em concorrente, abriu loja colada na Bazaar, no número 136. A moda masculina de John Michael apareceu no 170. E a dupla lotada da pequenina Top Gear e a vizinha Countdown pintaram nos números 135a e 137, já em 1964.

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Se você queria comprar uma roupa mara e tinha dinheiro para isso

Era lá que você ia!

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Swinging London

ia chegando ao seu auge!

Em 1967, outra revolução estava chegando. Desde 1965, a Hung on You do aristocrata Michael Rainey chamava atenção no número 22 da Cale Street. Depois, em 1967, a butique de moda masculina mudou para a o número 430 da King's Road, já para os lados do World's End (ou seja, relativamente distante do quadrilátero quente da Bazaar e outras). Ela também desvirtuava o conceito do varejo de mostrar os itens na vitrine para estimular a venda: a Hung on You escondia tudo. Pintava sua vitrine bem colorida. Era o conceito da exclusividade: só quem entrasse saberia (e seria surpreendido) pelo que veria por lá.

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Misteriosa

A Hung on You exigia um conhecimento prévio: de fora nem dava para saber o que era aquilo

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Apontam a mudança da loja, da Cale Street para King's Road, como o começo do fim

A partir do endereço mais "famoso", a Hung on You ia perdendo seu status de exclusividade

O World's End se chama assim e não era à toa. Não existia (e não existe até hoje) metrô na região. Ou você vai de busão, ou você desce numa estação de metrô "meio perto” e anda um tanto para chegar. A Hung on You, ao lado de outras que a gente vai ver a seguir, trouxe a figura do dândi repaginada para os anos 1960: veludo, contas, vintage, motivos étnicos, pelúcia. Tudo entrava na salada. Era o look dos artistas do rock na época (pense nos Beatles na época do Magical Mistery Tour, que não por acaso foi lançado em 1967). Era inventivo, era doido e era o máximo. Mas mais doida ainda era a Granny Takes a Trip!

COLOSSALMENTE COOL: Salman Rushdie, sim, o escritor, sim, ele mesmo, morava em cima da Granny Takes a Trip e é assim que ele descreve a loja no vídeo acima. A psicodelia nas mãos do alfaiate-lenda John Pearse, que usava tecido William Morris de decoração para fazer os paletós e misturava vitoriano e contemporâneo, garantia o ar arrojado. Granny Takes a Trip também ficava em World's End, no número 488 da King's Road, e também fazia da sua vitrine uma tela para artistas. Antes ou depois de Hung on You? Ah, o zeitgeist

Granny Takes a Trip em 1967: a cara de Jean Harlow estilizada & vetorizada

Granny Takes a Trip em 1967: a cara de Jean Harlow estilizada & vetorizada

Portanto a gente fala da nossa mania atual de recorrer ao vintage, dos estilistas voltando nas décadas para criar as modas de hoje, mas na década de 1960 já se fazia isso, e muito. A Biba tinha especial fascinação pelos anos 1920 e 1930. Granny Takes a Trip e Hung on You eram o puro creme do dandismo da virada do século 18 para o 19 - extravagantes, esnobes, mas agora com toques árabes e indianos. Na onda dessas duas, Dandie Fashions era a alternativa mais acessível, tanto em preço quanto em local - King's Road número 161, mais para a Top Gear do que para o World's End.

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Se você quisesse se vestir tal qual Mick Jagger em Their Satanic Majesties Request (1967)

Dandie Fashions era um dos lugares para ir!

Ah, e ali perto ainda rolaria uma outra revoluçãozinha em uma década cheia de revoluções. Ninguém menos que a dupla Ossie Clark & Celia Birtwell na Quorum, que em 1966 mudou para a Radnor Walk número 52, pertinho do fervo da King's Road.

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Look Ossie Clark com estampa Celia Birtwell

Ele era tão ligado à rua que até hoje é chamado de The King of King's Road! A mulher fazia os desenhos da estampa, em uma das parcerias mais prolíficas e famosas da moda britânica

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Ossie Clark em si

na Quorum da sua chefe Alice Pollock

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Twiggy de Ossie Clark

Por que se fala tão pouco de Ossie Clark hoje em dia? É um mistério. O cara foi genial!

Depois da injeção de capital de Al Radley na Quorum, a loja-marca conseguiu ficar mais lucrativa. Eles mudaram para a King's Road em si no seu auge, no número 113, em 1969. Em 1972, com Clark se envolvendo cada vez mais com a marca própria e homônima, a loja fecharia e tudo seria absorvido pela marca Radley (não confundir com a Radley London, de acessórios). Al Radley, aliás, morreu recentemente, em abril de 2019.

Ali por perto, no mesmo bairro de Chelsea, a The Fulham Road Clothes Shop abria no número 160 da, adivinha, Fulham Road. Era a loja de Sylvia Ayton com Zandra Rhodes. Lembra que eu falei da Rhodes aqui? Durou pouco, só até 1969. Mas foi a semente de, adivinha, outra revoluçãozinha - dessa vez de Rhodes em si. Falo mais sobre isso nesse post!

Não posso esquecer de algo que fez a cabeça das mulheres em Chelsea… o salão de Vidal Sassoon, no número 44 da Sloane Street!

Sassoon e Quant <3 A influência no cabelo e a influência na roupa

Sassoon e Quant <3 A influência no cabelo e a influência na roupa

Seguindo em frente…

Em 1968, no mesmo mítico endereço da Hung on You da King's Road (o número 430), abria a Mr Freedom.

Mais doido ainda: Mr Freedom

Mais doido ainda: Mr Freedom

Parecia que aquele endereço da King's Road em World's End estava destinado a ser sempre território da vanguarda da moda. Pop art, glam rock, pastiche da cultura norte-americana, mod. Essa mistura de autoria de Tommy Roberts e Trevor Myles era explosiva e dramática, a Mr Freedom parecia mais um cenário que uma loja. Aos moldes da Biba, eles decidiram sair de lá em 1971 para um endereço maior na Kensington Church Street em 1971.

A Mr Freedom fazia um bom par com a Cobblers to the World, loja de sapatos de Terry de Havilland no número 323 da King's Road, com botas, plataformas, brilhos e píton aberta logo depois, em 1972. O gênio dos calçados malucos fez coisas para pessoas tão diferentes quanto David Bowie, Jackie Kennedy, Rudolf Nureyev e… o personagem de Tim Curry, Dr. Frank-n-Furter, em The Rocky Horror Picture Show (1975)!

Terry de Havilland e suas criações na Cobblers to the World em 1974 - ele morreu no último dia 27/11

Terry de Havilland e suas criações na Cobblers to the World em 1974 - ele morreu no último dia 27/11

I designed most of my shoes on acid, and the opening party for my shop in the King’s Road was famous for the three Cs — champagne, cocaine and caviar. God knows who was there — everybody.
— Terry de Havilland para o The Guardian em 2006
Tim Curry e os sapatos da Cobblers to the World em The Rocky Horror Picture Show

Tim Curry e os sapatos da Cobblers to the World em The Rocky Horror Picture Show

Falando em filme: o Chelsea Girls (1966), longa de Andy Warhol e Paul Morrissey, não tem nada a ver com Chelsea, tá? Ele se liga ao Chelsea Hotel de NY, do outro lado do Atlântico. Na mesma pegada, o álbum Chelsea Girls (1967) de Nico se refere ao filme, no qual ela aparece.

Esclarecimentos feitos, voltemos para ele, sempre ele, esse número 430 da King's Road no World's End.
Trevor Myles, após a aventura da Mr Freedom num lugar maior, retomou esse ponto de origem com a Paradise Garage, loja que seguia mais ou menos a mesma ideia do seu maior sucesso: um cenário divertido, dessa vez bem centrado nos EUA dos anos 1950, muito jeans, meio bar de Louisiana.

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Um paraíso de garagem

Trevor Myles na frente da loja - que realmente tinha uma bomba de gasolina antiga na porta (sem funcionar) e um carro com estampa de tigre estacionado na frente!

Não demorou muito para entrar em cena um dos maiores doidos que o marketing de moda mundial já viu. Malcolm McLaren pegou um pedaço na parte de trás da Paradise Garage com o amigo Patrick Casey e pediu para a mulher, uma tal de Vivienne, fazer umas roupinhas para vender ali.

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Malcolm na frente da Let it Rock, a reencarnação seguinte do local, já sob sua batuta

O endereço do número 430 assumiu um lado sasonal: mudava de tempos em tempos. A Let it Rock já abriu no mesmo ano de 1971, vendendo roupas vintage e novas para Teddy Boys, bem anos 1950

E sim, você entendeu certo: a tal Vivienne era a Vivienne Westwood, que é dona do endereço até hoje!

Seguindo uma linha cada vez mais agressiva, a reencarnação Too Fast to Live Too Young to Die, cada vez mais à moda Westwood, trazia essas misturas doidas em 1972 de colegial com um tema de caveira remetendo à bandeira de pirata. Piratas seriam o tem…

Seguindo uma linha cada vez mais agressiva, a reencarnação Too Fast to Live Too Young to Die, cada vez mais à moda Westwood, trazia essas misturas doidas em 1972 de colegial com um tema de caveira remetendo à bandeira de pirata. Piratas seriam o tema do primeiro desfile de Vivienne em Paris, em 1981!

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Sex, 1974

O rompimento total com os anos 1960: agora a onda era punk. Na nova reencarnação da loja, Westwood misturava sadomasoquismo, fetiche, couro e borracha, correntes. Isso era uma provocação total em pleno Chelsea, imagina?!

Vivienne Westwood na Seditionaires - Clothes for Heroes, mais uma encarnação de loja no mesmo endereço, aberta em 1976: com os Sex Pistols crescendo e virando vitrines ambulantes do estilo punk, cada vez mais gente se atraía. Agora a pegada era mais…

Vivienne Westwood na Seditionaires - Clothes for Heroes, mais uma encarnação de loja no mesmo endereço, aberta em 1976: com os Sex Pistols crescendo e virando vitrines ambulantes do estilo punk, cada vez mais gente se atraía. Agora a pegada era mais política, provocava com slogans e a clássica imagem dos caubóis com os paus encostando: provocativa na representação de nudez, homossexualidade, dando um tapa na cara da burguesia

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Essa aqui

no corpinho de Sid Vicious, do Sex Pistols

Finalmente a última reencarnação, que continua assim de 1980 até hoje: Vivienne Westwood World's End é onde você encontra as peças mais clássicas da estilista, que já foi caminhando para um estilo New Romantic quando percebeu que o punk tinha dado o…

Finalmente a última reencarnação, que continua assim de 1980 até hoje: Vivienne Westwood World's End é onde você encontra as peças mais clássicas da estilista, que já foi caminhando para um estilo New Romantic quando percebeu que o punk tinha dado o que havia de dar

Posso falar só de mais uma?

A BOY!

A BOY!

A BOY ficava no número 153 da King's Road. Stephane Raynor, o fundador, trabalhava na Let it Rock. Abriu a BOY em 1976, que se transformou em point tanto quanto as lojas da dupla McLaren e Westwood. Assim como Chrissie Hynde trabalhou na Sex antes da fama, na BOY você encontrava Billy Idol no caixa!

A BOY conseguiu acompanhar a moda: do punk para o New Romantic (como Westwood), do New Romantic para o clubbing dos anos 1980. A marca voltou em 2007 - você curte? Tenho um certo preconceito bobo, acho que tem cara de marca de skinhead, mas acho que é só comigo, né? Um monte de bilu usa o boné. Enfim! kkkkkk

A King's Road e Chelsea em si continuam sendo tudo isso hoje? Não. Com as consequências da gentrificação (leia-se o aumento do aluguel), o povo mais inventivo vazou. A loja da Vivienne é meio isolada, não tem nada muito interessante ali perto. Acontece. Já a Carnaby Street é um fervo, pertinho da Liberty London. Eu adoro.

Brat Pack parte 10: os herdeiros

Quem diria que chegaríamos ao fim dessa saga?
Esse post é o fim de uma série de 10 sobre o Brat Pack, um grupo de jovens de Hollywood que recebeu esse apelido na década de 1980 e que hoje a gente liga bastante ao surgimento de vários filmes que davam voz aos adolescentes e jovens adultos de maneira menos caricatural, aproveitando esse nicho de mercado na época. Costuma-se dizer que foi quando o adolescente foi visto sob a sua própria ótica.
Para você que chegou agora, sugiro que leia os posts anteriores antes de seguir nesse! Pode ser? Para facilitar sua vida, segue a lista:

. O que é o Brat Pack, de onde surgiu o nome, quem são eles?! São tantas as questões…
. Um nome muito importante nas origens do Brat Pack, antes ainda dessa nomenclatura aparecer: S. E. Hinton
. A trindade de um dos núcleos centrais do Brat Pack: Molly Ringwald, Anthony Michael Hall e John Hughes
. He-he-he-he… uuuuuuuuuuuuh-oooooh: o clássico Clube dos Cinco
. O Brat Pack também tem um filme ruim: O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas
.
O galã do grupo e um escândalo envolvendo sex tape com menor de idade: Rob Lowe
. O outro clássico: Curtindo a Vida Adoidado
. O último filme do Brat Pack: Digam O Que Quiserem
. A trilha sonora: música é muito importante nos filmes do Brat Pack! Ouça algumas delas!

A gente poderia ter incluído mais filmes entre os que a gente colocou aqui? Poderia sim: tem, por exemplo, O Rei da Paquera (1987) com Ringwald e Robert Downey Jr (é ruinzinho). Ou o ótimo Atração Mortal (1988) com Winona Ryder e Christian Slater (que já traz uma outra turma e tem um tom mais macabro; acho que um dia faço um post sobre ele fora desse contexto brat packer). Ou ainda Conta Comigo (1986) com River Phoenix e Corey Feldman (que está mais para infanto-juvenil do que adolescente e é da leva "filmes inspirados em livros do Stephen King”). E também De Volta Para o Futuro (1985) com Michael J. Fox (falei sobre a sequência, que completou 30 anos, também fora desse contexto brat packer). Ou todos os filmes de terror adolescente dessa época (que para mim são outra categoria e se ligam ao Brat Pack de maneira muito tênue, basicamente só porque eram dirigidos para o mesmo público).
Mas é a vida: achei que esse recorte que usei até incluiu coisas que normalmente não são consideradas do Brat Pack (como Curtindo a Vida Adoidado, Os Garotos Perdidos, Picardias Juvenis e outros). A gente pode ir falando de um ou outro que ficou de fora por aí, pela vida, por 2020, né?

Agora chegou a hora de falar sobre os herdeiros de toda essa filmografia. Se os filmes, diretores, roteiristas e atores foram tão influentes, quem eles influenciaram?

Vou começar pelos que seriam primos distantes de O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas e Sobre Ontem à Noite. A gente já sabe que esses longas se referem àquela fase que você está recém-formado, prestes a dominar o mundo mas… descobre que o mundo é quem te domina (uau, falei bonito, hein?). Existem dois filmes que seguem essa linha "jovem adulta” logo no começo dos anos 1990. São eles: Vida de Solteiro (1992) e Caindo na Real (1994).

Campbell Scott, Kyra Sedgwick, Matt Dillon, Sheila Kelley, Bridget Fonda e Jim True-Frost, os atores de Vida de Solteiro

Campbell Scott, Kyra Sedgwick, Matt Dillon, Sheila Kelley, Bridget Fonda e Jim True-Frost, os atores de Vida de Solteiro

Aliás, Vida de Solteiro traz Matt Dillon, marcado pelo comecinho do Brat Pack, lembra? Além dele, outro membro-satélite do Brat Pack, Eric Stoltz, aparece no filme como o mímico. E adivinha quem é o diretor e roteirista?
Ninguém menos que Cameron Crowe!
Crowe já havia escrito uma primeira versão do script lá em 1984, e ela se passava em Phoenix, no Arizona. Ele estava reescrevendo-o quando recebeu a notícia da morte por overdose do músico Andrew Wood em 1990, e contou para a Rolling Stone em artigo em primeira pessoa que decidiu passar para o seu roteiro aquilo que ele sentiu em Seattle, algo do que fazia parte: a cena. Não é sobre a história de Wood (não existe morte por overdose no longa), mas traz aquele clima dos jovens da cidade naquele momento. Surgia o grunge.

Sou suspeitíssimo para falar de Vida de Solteiro: amo esse filme demais. Seattle é uma das minhas cidades preferidas dos EUA (não que eu conheça tantas, mas não sou muito chegado em norte-americanices, se é que me entendes, então eu gostar de lá é realmente um big deal). Comparado ao Primeiro Ano, o filme é mais adulto, mais noventista… mais minha cara, basicamente. kkkk

Bridget Fonda, Matt Dillon e Chris Cornell, isso mesmo, o Chris Cornell do Soundgarden que morreu em 2017

Bridget Fonda, Matt Dillon e Chris Cornell, isso mesmo, o Chris Cornell do Soundgarden que morreu em 2017

Uma comédia romântica que acompanha histórias paralelas, Vida de Solteiro também ficou cult porque representou o grunge antes dele invadir o mainstream de vez (a coleção primavera-verão 1993 de Marc Jacobs para Perry Ellis foi apresentada em 1992 e tomou a moda de assalto; o Nirvana lançou Nevermind em 1991 e In Utero viria em 1993). Tem até uma banda fictícia no filme, a Citizen Dick. Dizem que Chris Cornell viu a lista das músicas do Citizen Dick (elas não existiam, era só uma lista de títulos) e decidiu compor as músicas de verdade. Seasons, uma delas, está na trilha sonora. Ainda na trilha, figuram nomes como Pearl Jam e Mudhoney.

E dizem também que Johnny Depp quase ficou com o papel de Steve - que acabou indo para Campbell Scott. Os atores do longa em geral não chegaram a virar superestrelas, a não ser Dillon, que já era o mais reconhecido. Ou melhor: isso mudou um pouco com a ascensão meteórica do seu par romântico em Vida de Solteiro, Bridget Fonda.

Bridget Fonda como Janet Livermore em Vida de Solteiro: a cara feminina do grunge ao lado de Courtney Love

Bridget Fonda como Janet Livermore em Vida de Solteiro: a cara feminina do grunge ao lado de Courtney Love

Fonda, na época mulher de Eric Stoltz e sobrinha de Jane Fonda (filha de Peter Fonda), era uma das novas it girls, a nova Ringwald ao lado de Ryder, o rosto dos anos 1990. Mas a atriz, surpreendentemente, ficou nos anos 1990 mesmo. O megassucesso Mulher Solteira Procura (1992) e uma quantidade bem grande de lançamentos num curto período de tempo rendeu uma superexposição, mas a segunda metade da década não foi tão cheia de audiência para ela. Depois de terminar com Stoltz em 1998, ela acabou casando com Danny Elfman (lembra que a gente falou dele? O vocalista do Oingo Boingo fez a música-tema de Mulher Nota 1000!); sofreu um acidente de carro em 2003 no qual fraturou uma vértebra e… nunca mais voltou a atuar. A última coisa que ela fez foi um filme para a TV em 2002, o bobinho Snow Queen.

Era outra época. Estrelas de cinema não queriam ser estrelas de TV. Dizem que Fonda recusou o papel principal da série Ally McBeal em 1999 para focar nos filmes. E também dizem que ela está muito feliz, obrigada, na sua aposentadoria precoce; bem sossegadinha e linda.

Falando em TV: houve um interesse para que Vida de Solteiro se transformasse numa série. Crowe diz que esse projeto foi a semente de… Friends (1994-2004). Esse formato de jovens que moram num mesmo prédio, tudo e tal… Não é que faz sentido?

E Caindo na Real (1994) é basicamente para o mesmo público, com o mesmo apelo.

Ethan Hawke e Winona Ryder em Caindo na Real - que casalsão!

Ethan Hawke e Winona Ryder em Caindo na Real - que casalsão!

Mude de Seattle para Houston, de Matt Dillon para Ethan Hawke, de Bridget Fonda para Winona Ryder, e de música para cinema. O papel de Ryder, Lelaine Pierce, é de uma recém-formada que está fazendo um documentário sobre a vida… após se formar. Ou seja, é como um espelho: o longa fala sobre a Geração X naquele momento, e essa coleta de material dela também lida com o mesmo assunto. A narrativa segue para ela fazer uma escolha: o que é melhor, o idealismo de Troy (Hawke) ou o materialismo de Michael (Ben Stiller, que também vem a ser o diretor)? Nesse meio tempo, assim como em Vida de Solteiro, correm histórias paralelas, só que com um tom mais realista contemporâneo: Vickie (Janeane Garofalo) teve vários parceiros sexuais e se depara com a necessidade de fazer um teste de HIV; Sammy (Steve Zahn) é gay mas ainda está no armário.

A turminha: Hawke, Ryder, Garofalo e Zahn em Caindo na Real

A turminha: Hawke, Ryder, Garofalo e Zahn em Caindo na Real

Esses dois filmes são claramente dirigidos para a geração que assistiu Clube dos Cinco (1985) com 15 anos. Naquele momento com 20 e poucos, eles queriam continuar se vendo na telona. Mas as histórias também acabaram me atingindo de alguma maneira: eu, na época com bem menos de 20, assisti e imaginava como seria a minha vida na faculdade e depois dela, e imaginava que seria meio parecida com aquilo, com amigos que gostavam de ir no cinema, em shows, em exposição; com uma mistura de gente engraçada e gente profunda.

Foi exatamente isso que aconteceu, e hoje eu penso: será que eu forcei a barra para isso acontecer por causa desses filmes ou será que tudo já estava fadado a acontecer assim, naturalmente? Ou é uma combinação das duas coisas?
Acho que não importa muito. Mas esses filmes me marcaram profundamente: tenho uma conexão com eles a ponto de, inconscientemente, qualquer coisa meramente parecida com um dos dois para mim já é maravilhosa. Paixão instantânea. Seja na atuação, na estética, na narrativa.

Amo vocês! kkkkkkkkk

Amo vocês! kkkkkkkkk

Por outro lado, existe o outro lado: os filmes de John Hughes, os colegiais. É claro que Hughes virou um mote, um tema, uma referência, um objetivo. Ele era a junção da autoria com o comercial; seus filmes não são considerados o tal "cinema de autor” mas é ele quem escreve, é ele quem dirige ou quem interfere muito na direção. Não dá para negar um estilo característico. Então teve gente que não só gostou do que viu mas que quis fazer igual. Um dos nomes óbvios é Chris Columbus, tão herdeiro que, na fase "família" de Hughes, dirigiu um dos roteiros mais bombados dele, Esqueceram de Mim (1990) e sua sequência de 1992. Uma Babá Quase Perfeita (1993) e Nove Meses (1995) poderiam muito bem ter saído da cabeça de Hughes, são a cara dele.
Aí ele cometeu Eu Te Amo, Beth Cooper (2009), que apesar do nome não tem nada a ver com o universo de Riverdale, e que é uma bobagem cheia de estereótipos. Columbus ainda virou o rei das adaptações de best sellers literários com dois Harry Potters e um Percy Jackson.
NEXT!

Mas sem contar Crowe, existe um outro herdeiro de Hughes em Hollywood.

O nome dele é Judd Apatow.

Basically, my stuff is just John Hughes films only with four-letter words. Nobody made me laugh harder than John Hughes.
— Judd Apatow

Sim, ele é um herdeiro autoproclamado e a prova disso é Freaks and Geeks (1999-2000).
A série nem foi uma criação dele (ele assina como produtor executivo e dirigiu alguns episódios) mas ficou marcada como o começo de, adivinha só, uma turma. Um grupo. Um grupo de Hollywood. O FRAT PACK.

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Você não esperava uma reviravolta a essa altura do campeonato, aos 45 do segundo tempo, no meio do último post dessa série, né? Mas TEM SIM!
O termo Frat Pack foi cunhado pelo USA Today em 2004. Ele se referia a Vince Vaughn e Owen Wilson em Penetras Bom de Bico (2005) e seus comparsas, todos acostumados a trabalhar juntos assim como o Brat Pack (e talvez até mais que o Brat Pack). Em 2005, a Details chamaria Apatow (com os outros diretores Adam McKay e Todd Phillips) de frat packager. Ele é o escritor e produtor (e às vezes diretor) de várias comédias ligadas ao Frat Pack.
Minha opinião?

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Pronto falei. Mas Freaks and Geeks? Pode levar TODO MEU OURO.

Criada na verdade por Paul Feig (Missão Madrinha de Casamento, o Caça-Fantasmas só com mulheres e o filme que está em cartaz Uma Segunda Chance para Amar), a série é um mistério. Com apenas 18 episódios e aclamada pela crítica, ela não ganhou uma segunda temporada porque… por quê? Tem quem aponte o seu horário ingrato (sábado à noite) para a baixa audiência apesar dos elogios; tem quem diga que existia desentendimento na criação e que Feig (e Apatow) não queriam fazer mudanças e deixá-la mais de acordo com o gosto dos executivos da NBC. Mas é até bom que ela seja assim, uma série que durou uma temporada só, que o povo guarda no coração com saudade.

James Franco, Jason Segel, Linda Cardellini, Seth Rogen, John Francis Daley, Martin Starr e Samm Levine em Freaks &amp; Geeks

James Franco, Jason Segel, Linda Cardellini, Seth Rogen, John Francis Daley, Martin Starr e Samm Levine em Freaks & Geeks

Freaks and Geeks entende a frustração adolescente e também apresenta um cenário de colegial com as "castas" às quais Hughes tanto se referia. Dá para entender logo pelo título: os freaks, a turma "problemática" da qual Lindsay Weir (Cardellini) quer fazer parte; e os geeks, da qual Sam Weir (Daley) faz parte. Tem muito em comum com as narrativas hughesianas, inclusive a década (se passa em 1980). E até a questão de um par romântico na trama ir para a vida real também rolou: Cardellini e Segel namoraram por um tempo.

Cardellini é a mulher do Gavião Arqueiro em Vingadores. Todo o resto desse povo, um clube do Bolinha, também foi bem-sucedido em maior ou menor grau em suas carreiras.

Ah, e não sei se você reparou: sim, na melhor tradição de Hughes, o Freaks and Geeks (e o Frat Pack) é branco, branquíssimo, branquérrimo. A diversidade racial passa longe.

Why so white?

Why so white?

Apatow parece ter ficado tão abalado com o fim de Freaks and Geeks que constantemente chama pessoas do elenco original para trabalhar com ele (o que confirma o Frat Pack). Foi o caso de um dos projetos seguintes dele, Curso: Incerto (2001-2003), série que também contou com 18 episódios e se passa na faculdade. Seth Rogen também está no elenco fixo e existem várias participações especiais: Jason Segel, Busy Philipps, Samm Levine e por aí vai.
Só que Curso: Incerto não caiu tão bem. Não ganhou status cult. Não colou.

Com coisas como Superbad: É Hoje (2007) e Ligeiramente Grávidos (2007), o Frat Pack ocupa um espaço para um público jovem que o Brat Pack ocupava antes.
A minha opinião eu já disse lá em cima em forma de gif. Freaks and Geeks é muito legal, o resto é uma bobagem.

Outras coisas deveram muito aos filmes do Brat Pack. Um episódio de Dawson's Creek de 1998, por exemplo, se chama Detenção e é totalmente baseado em Clube dos Cinco (spoiler para quem não lembra: é IDIOTA). 10 Coisas que Eu Odeio Sobre Você (1999) traz esse ambiente colegial e atualiza a história de A Megera Domada de Shakespeare com a ajuda do charme de Heath Ledger. As Vantagens de Ser Invisível (2012), baseado no livro de Stephen Chbosky (que também dirigiu e fez o roteiro), é meio que um drama Hughes atualizado e mais dramático. Juno (2007), um roteiro de outra herdeira de Hughes, a Diablo Cody, traz um drama que nunca esteve no universo criativo de Hughes: a gravidez na adolescência. Cody já chamou Hughes de um dos seus "grandes heróis”.

Hughes’ movies were my film school. As crazy as it sounds, The Breakfast Club is the first thing that I ever wrote about online. Ever. My brother got a dial-up modem a long time ago and we got on one of those like bulletin board-type chatrooms — very crude — and I just started asking people about it. And they told me to go away, because I didn’t understand chatroom etiquette at the time. I was interrupting the conversation between the other hardcore geeks on their dial-up modems. It was my first time being flamed. [Laughs] But it’s funny to me that my very first impulse was to talk about that movie. More than influencing me as a filmmaker, it influenced me as a person.
— Diablo Cody para a Rolling Stone
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Ellen Page e Michael Cera em Juno

Muita gente acha o filme melhor que os retratos de Hughes da adolescência. Gosto de ambos por motivos diferentes!

Bom, eu acho que tem uma outra série que pouca gente comenta que é muito hughesiana. MUITO. E é maravilhosa. Se você tiver chance, assista My Mad Fat Diary (2013-2015)!

Nico Mirallegro, Jodie Comer, Sharon Rooney, Dan Cohen (lá atrás) e Jordan Murphy em My Mad Fat Diary

Nico Mirallegro, Jodie Comer, Sharon Rooney, Dan Cohen (lá atrás) e Jordan Murphy em My Mad Fat Diary

Para começo de conversa, a série é inglesa. À sensação de inadequação inerente do adolescente, aqui também se acrescenta uma protagonista gorda e na luta pela sua saúde mental. Rae (Sharon Rooney) passou por uma instituição psiquiátrica por meses por causa de uma tentativa de suicídio e agora tenta reatar laços com a sua amiga de infância Chloe (Jodie Comer). A turma de Chloe acaba virando também sua turma, mas Rae procura esconder os problemas do seu passado recente.

A série se passa em 1996, portanto tem uma trilha sonora absolutamente PERFEITA com britpop e o pop dos anos 1990. Sinto-me em casa! Acho bem diferente de Skins, que para mim é mais novelão com momentos muito bobos.
Rae Earl realmente existe na vida real. A série se baseia em seus diários (daí vem o nome). Mas Finn (Nico Mirallegro) foi criado, e a história original se passa nos anos 1980.

Só de ouvir a música de abertura dá uma aquecidinha no coração e cai uma lagriminha!

Assista! Faça isso por você!

Assista! Faça isso por você!

Para terminar com chave de ouro, queria falar sobre um tesouro que segue desconhecido até hoje.

Oil and Vinegar, o roteiro perdido

Em algum momento da história, existiu um roteiro de John Hughes chamado Oil and Vinegar, que seria protagonizado por Ringwald e Matthew Broderick e dirigido por Howard Deutch. Na mesma lógica de um dos maiores sucessos de Hughes Clube dos Cinco, Oil and Vinegar se passaria quase em sua totalidade dentro de um carro. Ringwald seria uma mulher pedindo carona, bem rock and roll, e Broderick seria um vendedor que viaja para as praças que ele precisa atuar de carro, está noivo e… dá carona para Ringwald. Tudo isso era uma desculpa para que ambos, daquele jeitinho bem Clube dos Cinco, se abrissem um para o outro em pegada existencial.

Dizem que Hughes acreditava tanto no roteiro que queria dirigi-lo ele mesmo. Deutch teria convencido-o a passá-lo para ele - porque também ficou encantado com o texto. Só que Deutch, segundo o próprio, deu para trás - estava estafado após Alguém Muito Especial e queria começar a fazer coisas só dele, a se desprender de Hughes. Jon Cryer conta uma versão diferente: na verdade Hughes não gostou desse interesse todo de Deutch e o desligou do projeto para tocá-lo sozinho.

Nessas idas e vindas, com o estúdio pedindo alterações (e Hughes não querendo reescrever o roteiro), Ringwald também diz que, na hora do vamos ver, ela acabou entrando em outro filme e abandonando o barco.

Essas páginas ainda devem existir em algum lugar. Seria certo fazê-lo hoje? Imagino que não: sem Hughes, sem Ringwald, sem Broderick? Resta-nos imaginar. Seria a versão melhorada de O Primeiro Ano? Seria melhor que Vida de Solteiro? Traria uma carreira mais prolífica e com hits para Ringwald nos anos 1990?

Ficam as perguntas.

Brat Pack parte 9: As músicas que embalaram o Brat Pack. Ou SEGURA ESSES ANOS 1980 NO CORAÇÃO

Estamos chegando ao fim da sequência de posts do Brat Pack! Esse é o penúltimo! TUDOOOO!
Você leu os anteriores? Esses daqui:

. O que é Brat Pack e quem faz parte desse grupo?
. Os primeiros filmes do Brat Pack
. Santíssima trindade do Brat Pack: John Hughes, Molly Ringwald e Anthony Michael Hall
. O clássico: Clube dos Cinco
. Eu hein, que filme ruim: O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas (mas é tão ruim que é quase bom)
. Rob Lowe, o rostinho bonito que se envolveu em um escândalo de sex tape
. Tudo em minha vida: Curtindo a Vida Adoidado
. Qual é o último filme do Brat Pack, e por que é Digam o Que Quiserem, e por que você tem que concordar comigo?

Caso já tenha lido todos, chegou a hora de relaxar… porque é o momento de ouvir música!
Um dos segredos dos filmes brat packers foi o uso da música como um dos pontos primordiais. Dois dos principais diretores desses filmes, John Hughes e Cameron Crowe, eram muito fanáticos por música. Eles (e os estúdios) perceberam rápido que esse mercado adolescente era sedento por discos e que esses discos podiam servir de ferramenta a mais de marketing para alavancar ainda mais a bilheteria. As pessoas assistiam ao filme e ficavam com vontade de comprar o disco e ouvir as músicas; compravam, ouviam; as músicas chegavam nas paradas; mais gente ouvia essa música, contavam para essa gente que essa música estava num filme; essa gente também ia para o cinema porque, se tinha gostado da música, provavelmente ia gostar do filme, né? E mais e mais pessoas ouviam, assistiam e curtiam.

Outra coisa interessante é que Hughes é peça central da segunda invasão britânica nas paradas americanas. Isso porque ele tinha uma preferência por bandas do Reino Unido em suas trilhas sonoras. Isso acabou virando o que era cool para os jovens. O ápice é a trilha sonora de A Garota de Rosa Shocking (1986), uma coisa maravilhosa sobre a qual a gente já falou um pouco aqui no blog e que traz um elenco estelar: Orchestral Manouevres in the Dark, Suzanne Vega, Echo & the Bunnymen, The Smiths, INXS, New Order e essa coisa linda…

A MTV foi lançada em 1981. Gatinhas e Gatões estreou no cinema em 1983. A história cresceu junta!
Molly Ringwald e Anthony Michael Hall eram dois nerds musicais e tem pais músicos (o pai de Ringwald é pianista e a mãe de Hall é cantora). A irmã de Ringwald, Beth, teve um filho com o vocalista da banda The Rave-Ups, Jimmer Podrasky, e o grupo aparecem em Garota. A própria Ringwald, depois de namorar Hall, namorou ninguém menos que Dweezil Zappa, o filho de Frank Zappa e também músico. Choque!

Então vamos começar por aquela que talvez seja a mais famosa entre as músicas do Brat Pack…

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Don't You (Forget About Me) - Simple Minds

O supersucesso do Simple Minds provavelmente já teria sido um hit por si só. Mas a música ganhou todo um novo significado ao encerrar o longa Clube dos Cinco (1985). Composta pela dupla Keith Forsey e Steve Schiff com o Simple Minds em mente, ela foi a princípio rejeitada pela banda escocesa. Ofereceram então para Bryan Ferry e Billy Idol, e ambos recusaram. Cogitaram Corey Hart, do sucesso Sunglasses at Night, e aí foi Forsey que não quis que ele cantasse (ufa!).

A gravadora A&M continuou insistindo com o Simple Minds e dizem que a música ganhou uma forcinha com ninguém menos que Chrissie Hynde, que era a esposa do integrante da banda Jim Kerr na época. Forsey também voltou a falar com a banda, expressando sua admiração.

Consta na lenda que eles entraram num estúdio, rearranjaram e gravaram a música em 3 horas e pronto; acharam que era só mais uma musiquinha para um filminho e tinham o maior preconceito com ela, do tipo "nós somos uma banda que faz as próprias músicas, a gente não quer se vender assim”, blablablá whiskas sachê.

Resultado: essa foi a primeira música do Simple Minds a atingir o topo das paradas nos EUA. Hoje, show do Simple Minds tem que ter essa música! Toma!

Weird Science - Oingo Boingo

Encomendada por Hughes para o filme Mulher Nota 1000 (1985), que em inglês se chama Weird Science mesmo, foi criada pelo integrante do Oingo Boingo Danny Elfman no carro em Los Angeles, quando ele estava a caminho de casa. Quando ele chegou, foi para o estúdio que tinha em casa e gravou a demo.

A música não tem muito a ver com o trabalho costumeiro da banda - é mais pop. O disco Dead Man's Party (1985), que traz a canção, virou o maior sucesso comercial deles.

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If You Were Here - Thompson Twins

Suspeitíssimo pois amo demais o Thompson Twins. Aparece no álbum Quick Step & Side Kick (1983), o primeiro que a banda lançou como um trio (e o primeiro a fazer mais sucesso). É a música que fecha o longa Gatinhas e Gatões, naquela cena do bolo de aniversário. E em teoria é uma música triste (“and if you were here / you would believe / but would you suspect / my emotion wandering") para um final feliz. Estranho, né? Mas é bonitinha!

Oh Yeah - Yello

Kkkkk Essa música é muito engraçada!
Ela também é conhecida como a "música do Curtindo a Vida Adoidado” e compete pau a pau com o grande clássico Twist and Shout (na versão dos Beatles) na trilha sonora do longa.

Quase sem letra, viciante e eletrônica, obviamente não tem o mesmo impacto cultural de Twist and Shout mas, olha, teve impacto sim. É meio babaca, até, com essa voz masculina grossa dizendo “oh, yeah” de maneira que pode ser entendida como lasciva. Mas sinceramente, se tocasse na pista, eu dançava!

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St. Elmo's Fire - John Parr

A música-tema do O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas talvez tenha sido planejada para ser a próxima Don't You (Forget About Me). Não deu muito certo… É ruim, né? Eu acho! Parr conta que quando entrou na jogada, David Foster, o outro compositor da canção, já estava totalmente consumido pelo trabalho e não conseguia mais pensar. Parr também não saía do lugar.

Aí Foster mostrou um vídeo sobre o canadense Rick Hansen, que estava dando a volta ao mundo em sua cadeira de rodas para conscientizar as pessoas a respeito de danos na coluna vertebral e suas consequências - o projeto se chamava Man in Motion. Parr se inspirou, e é por isso que o subtítulo da música é Man in Motion - na verdade ele está falando de Hansen, e não de um projeto de yuppie dirigindo um carro e em busca de motivação, sabe?

Pensando desse jeito, a música parece melhor do que um arremedo de autoajuda. Enfim… dá um play aí e me diz o que achas!

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In Your Eyes - Peter Gabriel

Na procura por uma música nessa cena clássica de Digam O Que Quiserem (1989), com Lloyd segurando o boombox acima da cabeça para mostrar para Diane que ele não havia desistido dela, o diretor Crowe patinou. Primeiro que a cena quase não existiu: John Cusack resistiu, achando que o personagem não se colocaria em uma situação tão subserviente e passiva; depois eles quase não registraram a cena do melhor jeito, tiveram pouquíssimo tempo no final da agenda de filmagens e quando ainda tinham luz natural para captar.

Aí, quando finalmente tinham a cena, que música colocar? A princípio seria Question of Life, do Fishbone, mas Crowe não estava feliz com a escolha. A cena ia ser cortada, até que… In Your Eyes apareceu no rádio e Crowe pensou: "É isso!”

Mas convencer Peter Gabriel foi outro parto. Crowe mandou uma fita com o filme para ver se ele aprovava, e na confusão o cantor quase não aprovou pois viu a fita errada, uma cinebiografia do John Belushi chamada Wired! Lembra que a gente falou de Belushi no post sobre Rob Lowe, né? Ele morreu supercedo, aos 33 anos. Aí, desfeito o mal-entendido, Gabriel assistiu a Digam O Que Quiserem e… aprovou. Ufa!

In Your Eyes é uma música megarromântica - encaixou aqui, mas também encaixa em casamentos, dates, pedido de noivado…

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Miss Amanda Jones - The Rolling Stones

"Mas que merda é essa, esses filmes não são anos 1980? Por que tem uma música lançada em 1967 pelos The Rolling Stones?"

É que Alguém Muito Especial (1987), um dos filmes dirigidos por Howard Deutch com roteiro de Hughes, é todo centrado nos Rolling Stones. O personagem principal chama Keith (Eric Stoltz), a melhor amiga que tem crush nele se chama Watts (Mary Stuart Masterson), e a menina desejada por Keith se chama… Amanda Jones (Lea Thompson). Acho bem chique todas essas referências! A música toca em um momento de transição do roteiro, um sobe som com imagens dos personagens. Gosto <3

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People Are Strange - Echo & the Bunnymen

A versão de People are Strange encerra o filme Os Garotos Perdidos, que nem faz parte do cânone central do Brat Pack mas achei importante incluir aqui por combinar esse apreço a uma nostalgia (versão do The Doors, pense!!!) com uma das bandas que são supertrilha dos adolescentes dos anos 1980, o Echo & the Bunnymen. Gosto do clima trevoso Liverpool que eles dão para a música, que é bem similar à original.

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Rave-Up/Shut-Up do The Rave-Ups

The Rave-Ups, a banda rabiscada no fichário de Samantha (Ringwald) em Gatinhas e Gatões (1983), depois apareceu em A Garota de Rosa-Shocking (1986) como eu já contei mais para o começo desse post - a irmã de Molly, Beth Ringwald, teve um relacionamento com o vocalista da banda, Jimmer Podrasky, e um filho.

Depois de tanta exposição e tanto insistir, a banda conseguiu um contrato com a Epic em 1988. Só que não rolou o sucesso esperado. Aí veio Chance, o álbum de 1990, e uma participação tocando no Peach Pit do Barrados no Baile. A banda foi desfeita em seguida. E Chance também é o nome desse sobrinho de Ringwald!

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Gostou? Bom, ainda antes de 2019 acabar fiz uma promessa para mim mesmo de acabar essa série de 10 posts. O próximo, que é o último, vai falar dos herdeiros do Brat Pack, desse impacto cultural que o conjunto de filmes e atores tiveram em filmes que foram feitos depois disso. Então prepara e segura aí que eu já venho com mais!

Brat Pack parte 8: Qual é o último filme do Brat Pack? Na dúvida, para mim é esse

A gente vai se aproximando do fim dessa grande saga dos longas que fazem parte do conjunto da obra Brat Pack dos anos 1980 do mesmo jeito que começamos: com opiniões diferentes.

Tem quem ache que o Brat Pack acabou com O Casamento de Betsy (1990), aquele filme que com Molly Ringwald e Ally Sheedy no qual a personagem de Molly, Betsy, casa usando… uma cartola. kkkkk Mas sinceramente acho que esse longa não tem o mesmo tom dos filmes mais clássicos do Brat Pack e que o diretor, Alan Alda, também possui pouco a ver com aquele tom adolescente.

Mas existe outro diretor que ainda não ganhou um post só dele aqui nessa série sobre o Brat Pack, apesar de já ter sido citado. Lembra que existiam 3 cineastas com escritório no mesmo lugar? John Hughes, Joel Schumacher e…

Cameron Crowe!

Antes, um alerta de questão de ordem! Você já leu os posts anteriores sobre o Brat Pack deste blog? Caso não tenha lido, vai ler agora - para facilitar, segue a lista abaixo:

. O que é o Brat Pack e quem faz parte dele?
. Uma pessoa muito importante no começo do Brat Pack: S. E. Hinton
. John Hughes e seus dois musos: Anthony Michael Hall e Molly Ringwald
. Clube dos Cinco, o melhor filme do Brat Pack
. Os filmes do Joel Schumacher (incluindo O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas)
. Rob Lowe, o sex symbol do Brat Pack que se envolveu num escândalo com sex tape
. Curtindo a Vida Adoidado, que não é (mas quase é) um filme Brat Packer

E agora, finalmente, vamos a ele: Crowe. Um cineasta superpop de pérolas como Jerry Maguire (1996) e Quase Famosos (2000), um ex-jornalista prodígio da Rolling Stone (começou a escrever para a revista aos 16 aninhos!!!). Dizer que ele é um herdeiro de Hughes é estranho porque na verdade, como ele começou na carreira muito cedo, ele é contemporâneo de Hughes. Enquanto o roteiro de Hughes Férias Frustadas estreou em 1983, o roteiro de Crowe Picardias Estudantis é de 1982, baseado no livro dele que virou um best seller, Fast Times at Ridgemont High, de 1981.

Shelly O'Neil e Jennifer Jason Leigh em Picardias Estudantis

Shelly O'Neil e Jennifer Jason Leigh em Picardias Estudantis

Picardias Juvenis funciona como um precursor dos filmes Brat Pack sobre o qual a gente não falou até agora nessa série de posts. É que ele tem pouquíssima gente que a gente poderia apontar como Brat Packer - para falar a verdade, só uma pessoa do elenco, Sean Penn, é considerada por alguns como membro-satélite. Mas ao mesmo tempo a "voz” por trás dele - ou seja, a de Crowe - é uma voz legitimamente jovem, argumento muitas vezes usado para diferenciar os filmes Brat Pack dos que já tinham sido produzidos e dirigidos a adolescentes antes.

O tom em que o sexo é abordado em Picardias é muito mais explícito visualmente do que em Gatinhas e Gatões, Clube dos Cinco ou A Garota de Rosa-Shocking. Crowe se infiltrou no Clairemont High School, em San Diego, fingindo ser estudante - o livro que inspirou o filme funciona como uma reportagem mais extensa. Essa visão mais crua e realista, se comparada ao mundo Brat Packer de Hughes, Picardias soa menos cor de rosa e suburbano. O trabalho não é um glamouroso balcão de loja de discos como o de Andie, e sim na chapa de uma lanchonete fast-food.

Judge Reinhold

Judge Reinhold

Questões mais sérias como o aborto, inimagináveis para as quases sempre virgens personagens de Ringwald, são tratadas em Picardias como foco. Também aparece peito (o de Leigh, inclusive), sem tantos pudores. Pelo menos 3 atores que integram o vasto elenco posteriormente ganharam o Oscar com outros trabalhos: o próprio Penn, Nicolas Cage e Forest Whitaker.

Falando em Whitaker: em relação aos colégios branquérrimos de Hughes, aqui temos diversidade racial. Ufa.
E a diretora? Amy Heckerling depois viria a dirigir dois clássicos: Olha Quem Está Falando (1989), que na verdade é a cara do John Hughes, e… As Patricinhas de Beverly Hills (1995)!!!

Stanley Davis Jr (que, até onde eu sei, não é parente do Sammy Davis Jr) e Sean Penn em Picardias

Stanley Davis Jr (que, até onde eu sei, não é parente do Sammy Davis Jr) e Sean Penn em Picardias

Mas eu quero mesmo é chegar na estreia na direção de Crowe. Digam O Que Quiserem (1989) é um roteiro dele que ele decidiu dirigir, diz, para salvar a história que de outra forma seria distorcida ou mal interpretada. Considero o último filme do Brat Pack porque 1) Traz John Cusack, um membro satélite, finalmente em destaque; 2) Trata da adolescência da mesma forma profunda e delicada que Hughes fazia, com vários pontos em comum como a importância da música, a existência de castas no Ensino Médio que em teoria não se misturam etc. 3) É um longa muito carismático 4) Fecha a década. Outros filmes de adolescente ou jovens adultos foram feitos depois, alguns com sensibilidade, um pelas mãos do próprio Crowe como vamos ver em um post futuro (ou você pensou que ia acabar por aqui?). Mas fora dos anos 1980, a coisa não é mais a mesma.

Vamos começar por Cusack, esse cara que a gente conheceu em outro longa bem Brat Pack… Uma Questão de Classe (1983), com Andrew McCarthy e Rob Lowe. Depois, ele faria outro papel menor em Gatinhas e Gatões (1984) e participaria de Conta Comigo (1986), um filme que se aproxima do Brat Pack e só não entra mesmo nesse cânone porque é muito infantil, mais próximo de Goonies. Cusack também esteve naquela bobagem do Um Verão Muito Louco (1986) com Demi Moore. E, nessa "periferia", chegou a fazer teste para o papel de Bender de Clube dos Cinco (1985). Mas foi com Lloyd Dobler e vestido em um trench coat que ironicamente lembra bastante o de Bender que ele encerrou essa era do cinema teen, levantando um rádio estéreo (um Toshiba RT-SX1) acima da cabeça em uma cena que virou um clássico.

As meninas heterossexuais e os rapazes homossexuais se dividiam em duas turmas: os que queriam Jake Ryan na frente de um carro vermelho (de Gatinhas e Gatões) e os que queriam Lloyd Dobler segurando esse boombox

As meninas heterossexuais e os rapazes homossexuais se dividiam em duas turmas: os que queriam Jake Ryan na frente de um carro vermelho (de Gatinhas e Gatões) e os que queriam Lloyd Dobler segurando esse boombox

A CDF Diane Court, personagem de Ione Skye e interesse amoroso de Lloyd, é uma criatura rara no universo dos clichês. Todo mundo parece gostar dela apesar da garota chegar a ser antissocial de tão estudiosa. As pessoas a consideram um partidão; as amigas de Lloyd (é engraçado porque ele se dá melhor com a turma das meninas) dizem que ele está pirando porque ela nunca vai dar bola para ele.

Mas quem não daria bola para Cusack em uma comédia romântica? Quem seria a maluca? Lloyd, que dedica ao kickboxing, se esforça. Realmente está apaixonado. E ganha o coração de Diane. O problema é o pai, James Court, interpretado por John Mahoney, que não quer saber desse relacionamento.

A grande amiga de Lloyd é Corey Flood, vivida pela atriz que adoro Lili Taylor. Depois Lili faria parte de longas importantes de Robert Altman (Short Cuts - Cenas da Vida em 1993, Prêt-à-Porter em 1994), encarnaria a versão cinematográfica da radical Valerie Solanas em Um Tiro para Andy Warhol (1996) e se reuniria com Cusack em Alta Fidelidade (2000). Corey é uma das personagens mais maravilhosas de Digam o Que Quiserem - apaixonadíssima pelo boy lixo Joe (Loren Dean), ela faz 63 músicas para ele, e a gente ouve algumas durante a cena da festa. São ótimas. No fim, Corey se conforma que, apesar dele “invadir sua alma", ele é um lixo mesmo. Que bom!

Tipo precursora de Phoebe Buffay

Tipo precursora de Phoebe Buffay

Digam O Que Quiserem acaba em tom de esperança mas também de vida real, mais ou menos na mesma base dos dramas hughesianos: um pai com problemas de depressão que não trabalha, um nerd que pensa em se matar tamanha a pressão que sente para ser o melhor em tudo, um pai que deseja que o filho estude numa universidade para não ter o mesmo destino de trabalhador braçal que ele. Aqui, Diane se vê numa situação horrível quando seu pai é acusado de roubar dinheiro da casa de repouso para pessoas na terceira idade. Em quem acreditar? Skye se esforça para achar sua Ringwald interior: ela até dá conta do recado mas não tem tanto carisma e quem domina a tela é mesmo Cusack.

(Aliás, a curiosidade é que Ione Skye é filha do cantor Donovan. !!!!)

O filme funciona como uma transição para os cínicos e grunges anos 1990. Adeus aos yuppies. A trama acontece em Seattle - a cidade funciona para Crowe como Chicago para Hughes - e, por causa desse subtexto de dinheiro desviado, vira algo bem sério para o público jovem. Como um refresco, temos o próprio Lloyd, tipo o último romântico: ele sabe que Diane é melhor que ele, e diz que vai se dedicar a deixá-la feliz, a deixá-la se desenvolver até ela ser a melhor versão dela. Que homem é esse, me digam? Sorte a da Diane!

Diane &amp; Lloyd: a gente shipa demaaaaaais

Diane & Lloyd: a gente shipa demaaaaaais

I gave her my heart, and she gave me a pen
— Lloyd Dobler

Crowe, assim como Hughes, é um grande fanático por música. A escolha do que ia tocar no boombox de Lloyd foi complexa, e a cena clássica quase caiu. Mas ele acabou achando!

Vou falar mais sobre isso no próximo post, o penúltimo dessa série Brat Pack, que fala justamente desse universo superimportante para esse conjunto de filmes: a música!