Brat Pack parte 8: Qual é o último filme do Brat Pack? Na dúvida, para mim é esse

A gente vai se aproximando do fim dessa grande saga dos longas que fazem parte do conjunto da obra Brat Pack dos anos 1980 do mesmo jeito que começamos: com opiniões diferentes.

Tem quem ache que o Brat Pack acabou com O Casamento de Betsy (1990), aquele filme que com Molly Ringwald e Ally Sheedy no qual a personagem de Molly, Betsy, casa usando… uma cartola. kkkkk Mas sinceramente acho que esse longa não tem o mesmo tom dos filmes mais clássicos do Brat Pack e que o diretor, Alan Alda, também possui pouco a ver com aquele tom adolescente.

Mas existe outro diretor que ainda não ganhou um post só dele aqui nessa série sobre o Brat Pack, apesar de já ter sido citado. Lembra que existiam 3 cineastas com escritório no mesmo lugar? John Hughes, Joel Schumacher e…

Cameron Crowe!

Antes, um alerta de questão de ordem! Você já leu os posts anteriores sobre o Brat Pack deste blog? Caso não tenha lido, vai ler agora - para facilitar, segue a lista abaixo:

. O que é o Brat Pack e quem faz parte dele?
. Uma pessoa muito importante no começo do Brat Pack: S. E. Hinton
. John Hughes e seus dois musos: Anthony Michael Hall e Molly Ringwald
. Clube dos Cinco, o melhor filme do Brat Pack
. Os filmes do Joel Schumacher (incluindo O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas)
. Rob Lowe, o sex symbol do Brat Pack que se envolveu num escândalo com sex tape
. Curtindo a Vida Adoidado, que não é (mas quase é) um filme Brat Packer

E agora, finalmente, vamos a ele: Crowe. Um cineasta superpop de pérolas como Jerry Maguire (1996) e Quase Famosos (2000), um ex-jornalista prodígio da Rolling Stone (começou a escrever para a revista aos 16 aninhos!!!). Dizer que ele é um herdeiro de Hughes é estranho porque na verdade, como ele começou na carreira muito cedo, ele é contemporâneo de Hughes. Enquanto o roteiro de Hughes Férias Frustadas estreou em 1983, o roteiro de Crowe Picardias Estudantis é de 1982, baseado no livro dele que virou um best seller, Fast Times at Ridgemont High, de 1981.

Shelly O'Neil e Jennifer Jason Leigh em Picardias Estudantis

Shelly O'Neil e Jennifer Jason Leigh em Picardias Estudantis

Picardias Juvenis funciona como um precursor dos filmes Brat Pack sobre o qual a gente não falou até agora nessa série de posts. É que ele tem pouquíssima gente que a gente poderia apontar como Brat Packer - para falar a verdade, só uma pessoa do elenco, Sean Penn, é considerada por alguns como membro-satélite. Mas ao mesmo tempo a "voz” por trás dele - ou seja, a de Crowe - é uma voz legitimamente jovem, argumento muitas vezes usado para diferenciar os filmes Brat Pack dos que já tinham sido produzidos e dirigidos a adolescentes antes.

O tom em que o sexo é abordado em Picardias é muito mais explícito visualmente do que em Gatinhas e Gatões, Clube dos Cinco ou A Garota de Rosa-Shocking. Crowe se infiltrou no Clairemont High School, em San Diego, fingindo ser estudante - o livro que inspirou o filme funciona como uma reportagem mais extensa. Essa visão mais crua e realista, se comparada ao mundo Brat Packer de Hughes, Picardias soa menos cor de rosa e suburbano. O trabalho não é um glamouroso balcão de loja de discos como o de Andie, e sim na chapa de uma lanchonete fast-food.

Judge Reinhold

Judge Reinhold

Questões mais sérias como o aborto, inimagináveis para as quases sempre virgens personagens de Ringwald, são tratadas em Picardias como foco. Também aparece peito (o de Leigh, inclusive), sem tantos pudores. Pelo menos 3 atores que integram o vasto elenco posteriormente ganharam o Oscar com outros trabalhos: o próprio Penn, Nicolas Cage e Forest Whitaker.

Falando em Whitaker: em relação aos colégios branquérrimos de Hughes, aqui temos diversidade racial. Ufa.
E a diretora? Amy Heckerling depois viria a dirigir dois clássicos: Olha Quem Está Falando (1989), que na verdade é a cara do John Hughes, e… As Patricinhas de Beverly Hills (1995)!!!

Stanley Davis Jr (que, até onde eu sei, não é parente do Sammy Davis Jr) e Sean Penn em Picardias

Stanley Davis Jr (que, até onde eu sei, não é parente do Sammy Davis Jr) e Sean Penn em Picardias

Mas eu quero mesmo é chegar na estreia na direção de Crowe. Digam O Que Quiserem (1989) é um roteiro dele que ele decidiu dirigir, diz, para salvar a história que de outra forma seria distorcida ou mal interpretada. Considero o último filme do Brat Pack porque 1) Traz John Cusack, um membro satélite, finalmente em destaque; 2) Trata da adolescência da mesma forma profunda e delicada que Hughes fazia, com vários pontos em comum como a importância da música, a existência de castas no Ensino Médio que em teoria não se misturam etc. 3) É um longa muito carismático 4) Fecha a década. Outros filmes de adolescente ou jovens adultos foram feitos depois, alguns com sensibilidade, um pelas mãos do próprio Crowe como vamos ver em um post futuro (ou você pensou que ia acabar por aqui?). Mas fora dos anos 1980, a coisa não é mais a mesma.

Vamos começar por Cusack, esse cara que a gente conheceu em outro longa bem Brat Pack… Uma Questão de Classe (1983), com Andrew McCarthy e Rob Lowe. Depois, ele faria outro papel menor em Gatinhas e Gatões (1984) e participaria de Conta Comigo (1986), um filme que se aproxima do Brat Pack e só não entra mesmo nesse cânone porque é muito infantil, mais próximo de Goonies. Cusack também esteve naquela bobagem do Um Verão Muito Louco (1986) com Demi Moore. E, nessa "periferia", chegou a fazer teste para o papel de Bender de Clube dos Cinco (1985). Mas foi com Lloyd Dobler e vestido em um trench coat que ironicamente lembra bastante o de Bender que ele encerrou essa era do cinema teen, levantando um rádio estéreo (um Toshiba RT-SX1) acima da cabeça em uma cena que virou um clássico.

As meninas heterossexuais e os rapazes homossexuais se dividiam em duas turmas: os que queriam Jake Ryan na frente de um carro vermelho (de Gatinhas e Gatões) e os que queriam Lloyd Dobler segurando esse boombox

As meninas heterossexuais e os rapazes homossexuais se dividiam em duas turmas: os que queriam Jake Ryan na frente de um carro vermelho (de Gatinhas e Gatões) e os que queriam Lloyd Dobler segurando esse boombox

A CDF Diane Court, personagem de Ione Skye e interesse amoroso de Lloyd, é uma criatura rara no universo dos clichês. Todo mundo parece gostar dela apesar da garota chegar a ser antissocial de tão estudiosa. As pessoas a consideram um partidão; as amigas de Lloyd (é engraçado porque ele se dá melhor com a turma das meninas) dizem que ele está pirando porque ela nunca vai dar bola para ele.

Mas quem não daria bola para Cusack em uma comédia romântica? Quem seria a maluca? Lloyd, que dedica ao kickboxing, se esforça. Realmente está apaixonado. E ganha o coração de Diane. O problema é o pai, James Court, interpretado por John Mahoney, que não quer saber desse relacionamento.

A grande amiga de Lloyd é Corey Flood, vivida pela atriz que adoro Lili Taylor. Depois Lili faria parte de longas importantes de Robert Altman (Short Cuts - Cenas da Vida em 1993, Prêt-à-Porter em 1994), encarnaria a versão cinematográfica da radical Valerie Solanas em Um Tiro para Andy Warhol (1996) e se reuniria com Cusack em Alta Fidelidade (2000). Corey é uma das personagens mais maravilhosas de Digam o Que Quiserem - apaixonadíssima pelo boy lixo Joe (Loren Dean), ela faz 63 músicas para ele, e a gente ouve algumas durante a cena da festa. São ótimas. No fim, Corey se conforma que, apesar dele “invadir sua alma", ele é um lixo mesmo. Que bom!

Tipo precursora de Phoebe Buffay

Tipo precursora de Phoebe Buffay

Digam O Que Quiserem acaba em tom de esperança mas também de vida real, mais ou menos na mesma base dos dramas hughesianos: um pai com problemas de depressão que não trabalha, um nerd que pensa em se matar tamanha a pressão que sente para ser o melhor em tudo, um pai que deseja que o filho estude numa universidade para não ter o mesmo destino de trabalhador braçal que ele. Aqui, Diane se vê numa situação horrível quando seu pai é acusado de roubar dinheiro da casa de repouso para pessoas na terceira idade. Em quem acreditar? Skye se esforça para achar sua Ringwald interior: ela até dá conta do recado mas não tem tanto carisma e quem domina a tela é mesmo Cusack.

(Aliás, a curiosidade é que Ione Skye é filha do cantor Donovan. !!!!)

O filme funciona como uma transição para os cínicos e grunges anos 1990. Adeus aos yuppies. A trama acontece em Seattle - a cidade funciona para Crowe como Chicago para Hughes - e, por causa desse subtexto de dinheiro desviado, vira algo bem sério para o público jovem. Como um refresco, temos o próprio Lloyd, tipo o último romântico: ele sabe que Diane é melhor que ele, e diz que vai se dedicar a deixá-la feliz, a deixá-la se desenvolver até ela ser a melhor versão dela. Que homem é esse, me digam? Sorte a da Diane!

Diane & Lloyd: a gente shipa demaaaaaais

Diane & Lloyd: a gente shipa demaaaaaais

I gave her my heart, and she gave me a pen
— Lloyd Dobler

Crowe, assim como Hughes, é um grande fanático por música. A escolha do que ia tocar no boombox de Lloyd foi complexa, e a cena clássica quase caiu. Mas ele acabou achando!

Vou falar mais sobre isso no próximo post, o penúltimo dessa série Brat Pack, que fala justamente desse universo superimportante para esse conjunto de filmes: a música!

Hum, então parece que querem nos vender uma sobrevida da temporada de moda

Acabou a NYFW (acabou? Na verdade não sei, mas quando acontece o desfile de Marc Jacobs eu fico achando que acabou) e ao que tudo indica a crítica especializada quer que a gente acredite que rolou uma "reenergização” com a nova diretoria encabeçada por Tom Ford e a redução de 7 para 5 dias de evento.

Não vou me estender aqui nas problemáticas dessa NYFW porque dois colegas já o fizeram muy bien: vai no Instagram da Giu Mesquita no primeiro destaque de stories e também no Twitter do Luigi Torre para saber. Spoiler: envolve apoiador de Trump, foco de crise de opioides… O babado é certo, amore, a gente fica até ansiosa pelos próximos capítulos!

Eu acredito na "nova fase da NYFW"? Não. Sabe por quê? Vamos ser bem honestos aqui: para ter propósito real-oficial, as marcas primeiro precisam pensar no que significa ainda produzir. Esse artigo aqui da i-D exemplifica bem o que eu quero dizer, mas vou tentar resumir em bom português: simplesmente não dá para falar que você é uma marca sustentável porque sustentável mesmo é PARAR de produzir. É se transformar de uma marca de bens de consumo para uma marca de serviço. O artigo dá alguns exemplos bem simples que a gente consegue pensar logo de cara: customização no lugar de roupa nova. Também acho legal produzir a partir de banco de tecido - ou seja, você utiliza só matéria-prima que já foi produzida e é considerada refugo hoje. Ou marcas que buscam lona usada (lembra da Será o Benedito?), tecido de guarda-chuva quebrado e pneu usado (caso da Revoada). Isso quer dizer que não, amore, usar algodão sustentável ou malha de pet não te faz sustentável, você continua produzindo mais roupa num mundo cheio de roupa. Você é, no máximo, uma marca mais sustentável que algumas outras marcas.

Desculpa ser o mensageiro dessa notícia.

Isso posto: sim, gostei de algumas imagens & desfiles de NY. Surpresa, a maricona mal humorada que vos fala não está tão chatona assim! A gente continua tendo uma alma fashionista, continua querendo novas imagens de moda incríveis, e sim, somos contraditórios porque ainda assim queremos o fim do aquecimento global e sabemos que a economia baseada em fabricação de novos produtos, no ritmo que segue, vai esgotar os recursos do planeta e poluí-lo ainda mais, a níveis ainda piores do que já estão.
MAS… fazer o quê. Vamos às imagens.

Marc Jacobs

Respect: se Alessandro Michele é o atual rei, Marc Jacobs é imperador. Veio antes. E arrasa. O seu desfile foi bem Gucci: uma ode à individualidade & diversidade. E um convite à moda como ferramenta para se divertir, com chapéus de Stephen Jones, make e cabelo da dupla imbatível Pat McGrath e Guido Palau, nail art de Mei Kawajiri. As modelos desfilaram com personalidade, não apenas como um cabide de roupa, algumas sorrindo, outras gesticulando… Gostei do desfile como um todo, mas acho que esses looks são meus preferidos do momento, especialmente o primeiro, meio andrógino, meio Jarvis Cocker.

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Tom Ford

Ele já foi o rei da cintura baixa mas na primavera-verão 2020, mesmo com a barriga de fora, a cintura encosta no umbigo sim! Amo o top estruturadão e a fluidez da calça

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Chromat

O sample size é tipo a peça piloto, geralmente produzida num tamanho pequeno. O vestido usado por Tess Holliday, que é atriz, modelo e ativista do body positive, é irônico, uma crítica bem humorada à indústria que ainda discrimina o corpo gordo

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Pyer Moss

Parte final da trilogia American, Also da marca de Kerby Jean-Raymond sobre participações da comunidade afro-americana para a cultura estaduniense que foram apagadas pelo preconceito racial, a primavera-verão 2020 da Pyer Moss homenageia Sister Rosetta Tharpe, capítulo importante da história do rock 'n’ roll. Mulher queer negra, ela ainda não é reconhecida como deveria: o verdadeiro rei do rock. E aqui é um fã de Elvis Presley quem fala, OK? Mas não dá para negar: o pioneirismo e o poder da musicalidade de Sister Rosetta Tharpe são imbatíveis.

O look específico que mostrei acima é bem icônico, não só porque retrata Tharpe em cores vivas, mas porque é o trabalho de Richard Phillips. Ele ficou 45 anos na cadeia por um crime que não cometeu e foi recentemente solto, aos 73 anos de idade. Durante o período de encarceramento, Phillips começou a pintar. Ou seja: são várias camadas de significado em um vestido.

Mais um desfile que eu gostei por inteiro - eu e a torcida do Corinthians.

Releituras do trench coat

Gostei delas. É isso, apenas.

Coach + Richard Bernstein

Sou muito fissurado nas capas da Interview que traziam desenhos de Richard Bernstein - como você pode ver nessa galeria que montei para o site Lilian Pacce, que infelizmente ficou distorcida no novo layout (para ver melhor em laptop ou desktop, clica com o botão direito em cima de cada foto, vai em copiar link da imagem e cola em uma nova aba do browser). Então adorei as estampas da Coach com as ilustras de Richard Bernstein de Michael J. Fox, Rob Lowe e Barbra Streisand. São ícones em imagens icônicas, olha a metalinguagem!

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DSquared2

Não costumo gostar da marca, mas menção honrosa à homenagem ao Bruce Lee que permeia toda a coleção inspirada na China, principalmente logo após o retrato babaca que Quentin Tarantino fez dele no seu filme novo

Savage x Fenty: o desfile que a gente ainda vai gostar

A partir de 20/09/2019, o supershow que as pessoas tem considerado um "Victoria's Secret para os novos tempos” estreia no Amazon Prime Video. A marca de lingerie de Rihanna chamou uma cambada de pessoas famosas (de Normani a Paris Hilton!) e encantou quem viu ao vivo. A gente fica no aguardo, roendo as unhas!

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Ulla Johnson

Gosto do climão folk dela, meio Zandra Rhodes, meio Florence Welch fazendo feitiçaria em sua casa de campo…

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Longchamp

A proporção do volume, o material (nylon), a camisa por baixo, a botinha meio boxer meio motocross… OK, acho que gostei desse look porque é tipo Prada

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Jonathan Cohen

Esse look que remete à bandeira norte-americana (com arco-íris, é bom salientar) é bordado por mulheres da Cidade do México, de onde a família de Cohen vem. E a modelo é mexicana. Também gostei da papete que ela usa, com umas florzinhas naïf aplicadas

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Gypsy Sport

Gosto do look, gosto mais ainda da pele azul - vide esse post!

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Vera Wang

Essa coisa boudoir chic com toques dark da estilista que é tão conhecida pelas suas noivas é instigante - e bonita!

Sandy Liang

É o desfile de estreia dela e achei fofo, bem humorado, refrescante. A citação à Mary Quant no padrão de flores, as transparências encapando looks, o very acid jeans, o Bob Esponja e Lula Molusco estampados na camiseta e a referência à cinta liga, o que a conecta à Vera Wang que eu mostrei logo acima. Tudo muito bem feitinho - não é um desfile perfeito, mas é um desfile legal!

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Vaquera

Gosto do bom humor, apesar de achar a Vaquera superestimada

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Khaite

Parece que a Khaite é um dos segredos bem guardados prontos para estourar da NYFW. Gosto do vermelhão e das franjas da jaqueta, do tom de marrom da camisa e o caimento, a combinação de cores e a calça floral - mesmo sabendo que se calça floral virar moda, isso vai ser TENEBROSO

Essa shoulder bag da Rag & Bone

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Não que eu goste de shoulder bag. Mas talvez eu goste. Dessa eu gosto. Ai! <3

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Pois baby

Esse look da Carolina Herrera é um exemplo da tendência que pinta nas passarelas: bolinhas!

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Tie dye, I die

O do Prabal Gurung, em um desfile bem bonito, é um dos mais legais. Tie dye é uma tendência que o povo tá insistindo, né? Não sou muito fã, não, gosto quando é mais trasheira para usar de um jeito irônico kkkkk #hipster

Mansur Gavriel

Uma homenagem ao tempo de São Paulo na coleção nova da Mansur Gavriel - a bolsa azul, aliás, achei ótima.

Uma citação a Flashdance

Direto da passarela da Ralph Lauren - foi a Ale Farah quem lembrou!

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E Tomo Koizumi

que foi tão mara que ganhou um post só dele!

O mundo ficou (ou sempre foi?) pequeno demais para nós todos: China, mercado de luxo, Tarantino etc. e tal

Um artigo do Business of Fashion me chamou muito a atenção essa semana. É esse aqui sobre a atual relação de marcas de luxo em relação à China, infelizmente fechado para assinantes (mas quem tem amigos tem tudo, obrigado Manoella Cheli, kkkk). Versace, Coach e Givenchy atingiram - involuntariamente, alegam - o orgulho chinês ao fazerem peças de roupa nas quais apontam Hong Kong e Macau como países independentes, ou Taipei como uma cidade do país Taiwan, ou tudo isso junto.

Camiseta da discórdia da Coach

Camiseta da discórdia da Coach

Outras marcas, como a Chanel e a Calvin Klein, também apresentam os países como sendo independentes nas listas que aparecem nos seus sites.
O problema: essas são regiões administrativas chinesas, apesar de existirem movimentos separatistas. E o nacionalismo chinês está bombando. Resultado: boicote e quebra de contrato de celebridades chinesas como a modelo Liu Wen, que era embaixadora da Coach, ou a atriz e cantora Yang Mi, que era embaixadora da Versace, e ainda Lay Zhang, estrela do k-pop que nasceu na China, até agora ligado à Calvin Klein mas ameaçando sair.
O problema maior é que a China é um mercado superimportante para a moda, especialmente no mercado de luxo. As marcas, que estão adicionando comitês de diversidade e cargos como diretor de diversidade (?!) nas suas fileiras por causa de constantes casos de falta de sensibilidade racial e afins (para ficar num termo bem suave), parece que mesmo assim não conseguem entender questões além das suas fronteiras. Em momento de polarização política fervilhante, será que multinacionais que querem abraçar o mundo todo possuem braços curtos demais para isso?
E será que isso vai trazer valorização do que é produzido localmente, mesmo no caso do mercado de luxo? O mercado de luxo da moda, atualmente, precisa se equilibrar entre tradição, inovação e excelência de qualidade no produto e serviço. Existem marcas tradicionais chinesas capazes de virar essa chave?

Muitas, muitas perguntas. Mas a questão que mais me toca é a visão ocidental a respeito do asiático - Dolce & Gabbana inclusos, claro.

A propaganda superinfeliz e racista da Dolce &amp; Gabbana de 2018 - saiba mais no link

A propaganda superinfeliz e racista da Dolce & Gabbana de 2018 - saiba mais no link

E isso nos leva ao Era uma vez em… Hollywood, filme de Quentin Tarantino recém-lançado por aqui.
Não vou entrar muito no mérito se o filme é bom ou ruim - tem bastante gente elogiando e eu achei uma bobagem, tenho achado que os filmes do Tarantino no geral envelhecem mal nesses tempos, obras feitas para homem branco hétero pretensamente sensível e sinceramente estou sem paciência para homem branco hétero pretensamente sensível. Portanto não vou falar da falta de necessidade do foco na bunda da atriz Margaret Qualley quando ela está conversando com Cliff Booth (Brad Pitt) debruçada no carro e outras objetificações da mulher (incluir uma cena de Pitt sem camisa não tira esse forte sabor de heteronormatividade masculina tosca da filmografia do cineasta). E se você quiser assistir algo sobre nostalgia e envelhecer, sinceramente acho que Dor e Glória é muito mais interessante, instigante, impactante, diverso.

Pussycat (Margaret Qualley) e Cliff Booth (Brad Pitt) - o "nome” dela também gera uma das piadas mais infames do longa

Pussycat (Margaret Qualley) e Cliff Booth (Brad Pitt) - o "nome” dela também gera uma das piadas mais infames do longa

Mas na verdade o meu ponto está na visão de Tarantino sobre Bruce Lee.
Lembrando que esse é o mesmo Tarantino que homenageou Bruce Lee em Kill Bill, então eu penso, uai?

Montagem que tirei daqui: de um lado Uma Thurman em Kill Bill (2003), do outro Bruce Lee em Jogo da Morte (1978)

Montagem que tirei daqui: de um lado Uma Thurman em Kill Bill (2003), do outro Bruce Lee em Jogo da Morte (1978)

Existiam teorias antes do lançamento do longa. Dizem que na vida real Roman Polanski, que obviamente ficou desesperado depois da tragédia envolvendo a mulher Sharon Tate (o assassinato dela grávida pelas mãos da família Manson), desconfiou de Bruce Lee como o assassino (!!!). Lee conhecia Tate e inclusive a treinou para um filme - isso aparece rapidamente no roteiro de Tarantino. O ator comentou com Polanski em um certo momento que tinha perdido os óculos - e foram encontrados óculos na casa de Polanski e Tate, que a polícia achou num certo momento que poderiam ser uma evidência.
Quem assistiu o filme ou ouviu falar das declarações da filha de Bruce, Shannon Lee, sabe que não foi bem assim que o "personagem” Bruce Lee apareceu.

Mike Moh no papel de Bruce Lee no filme de Tarantino

Mike Moh no papel de Bruce Lee no filme de Tarantino

A princípio Shannon reclamou porque Tarantino teria mostrado seu pai como uma caricatura arrogante. O que se diz é que Bruce era bem autoconfiante mesmo. Daí para arrogante, acho que depende de quem você está falando.
MAS
Existem vários relatos envolvendo mulheres autoconfiantes (como a jogadora Megan Rapinoe), ou negros autoconfiantes (como o influenciador Spartakus Santiago), ou mulheres negras autoconfiantes (como a atriz Taís Araújo) apontando-os como arrogantes.
Em todos esses, a militância defende que isso é preconceito.

Sim, isso quer dizer que achei o retrato que Tarantino fez de Bruce Lee extremamente racista.
Além disso, não acho que Tarantino só o mostrou como arrogante, mas o ridicularizou em sua insegurança de macho branco cretino. A cena é idiota. Se fosse um ator negro historicamente importante como Lee nessa cena, as pessoas estariam caindo de pau em cima do Tarantino.

Bruce nasceu na Califórnia e cresceu em Hong Kong. Foi uma estrela asiática que conseguiu destaque numa Hollywood branca e racista. Morreu tragicamente cedo.

Bruce Lee em cena em Operação Dragão (1973)

Bruce Lee em cena em Operação Dragão (1973)

A cena é importante para o desenvolvimento do roteiro? Até é: mostra que Cliff é bom de briga, traz uma informação importante sobre o passado de Cliff à tona. Precisava ridicularizar um ator asiático historicamente importantíssimo?
Não.
Tarantino, falta muito para você chegar no século 21?

Tarantino respondeu as acusações de Shannon se defendendo. Shannon não teve dúvidas: mandou-o se desculpar ou CALAR A BOCA.
Assino embaixo.

O ocidente ainda não entende o oriente em pleno 2019. É mais fácil ridicularizar e deixar na caixinha do "exótico engraçadinho”.
E a polarização aumenta…

Enquanto isso, para quem não sabe: os autores de Mate-me Por Favor estão fazendo um livro sobre os crimes de Charles Manson há uns QUINHENTOS ANOS mas parece que agora vai sair. Confira entrevista reveladora com eles na Rolling Stone.

Há 50 anos e alguns dias, acontecia o assassinato de Sharon Tate e seus amigos.
O culto de Manson era racista (especialmente com negros), coisa que não é explicitada em Era uma vez em… Hollywood. Charles Manson tatuou uma suástica na testa depois de preso.