A primeira versão de Lady Marmalade (e as outras)
Primeiro de tudo, vou precisar perguntar: por onde anda a Mya, hein?
Pois eu te respondo: ela lançou single em 2020 e tudo! Vixe!
Mas vamos voltar. É provável que você saiba que a versão de Lil’ Kim, Pink, Mya e Christina Aguilera (e Missy Elliot fazendo o rapzinho, né) para o hit Lady Marmalade, que entrou na trilha sonora de Moulin Rouge (2001), é uma versão.
E é provável que você ache que a primeira versão é a do grupo Labelle.
Mas… não. Não é!!!
Lady Marmalade é uma composição dos estadunidenses Bob Crewe e Kenny Nolan. Nolan tinha um grupo de disco music, The Eleventh Hour, que era produzido por Crewe. Nolan era o vocalista e o resto eram músicos de estúdio.
Com a febre disco que assolou os EUA e o mundo, era comum que os grupos lançassem muitos singles, na ânsia de obter um superhit nas pistas ou nas rádios (mas, principalmente, nos dois) e conseguir ficar rico graças a essa onda. É por isso que o primeiro álbum do The Eleventh Hour, de 1974, é um… Greatest Hits. Ele junta alguns singles lançados anteriormente e inclui algumas inéditas – entre elas, Lady Marmalade.
E não me entenda mal, a versão original do Eleventh Hour é boa. Acontece simplesmente que ela não fez sucesso, e a do Labelle é melhor.
Diz a lenda que Crewe mostrou a música pra Allen Toussaint em Nova Orleans. E aí entra em cena THE ONE AND ONLY Patti LaBelle e seu grupo.
Até então, as Bluebells ou Bluebelles tentavam a fama ao redor de tantos outros girls groups e não tinham conseguido se diferenciar, apesar da potente voz da vocalista principal. O tempo passava e Patti via que a coisa precisava mudar.
O quarteto virou um trio (uma delas, Cindy Birdsong, saiu pra se juntar às rivais Supremes, BABADO), elas estavam bem desesperançosas e parece que surgiu uma luz. “Ah, é pra mudar? Então vamos mudar.” Patti, Nona Hendryx e Sarah Dash se reinventaram, numa das reviravoltas mais deliciosamente doidas do pop, e se transformaram no Labelle, um trio que usava roupas futuristas no palco dignas de Lady Gaga e que cantava não só sobre namorinho de portão mas sobre preconceito, revolução e… sexo.
Falar sobre sexo nas rádios e nas pistas era um escândalo. A escandalosa I Feel Love de Donna Summer, com gemidos e sussurros, só sairia em 1977. Estamos falando de 1974, mesmo ano de lançamento do Lady Marmalade do Eleventh Hour. A canção que falava do ponto de vista de uma prostituta de Nova Orleans era puro escândalo, e Toussaint, o produtor de Nova Orleans que assumiu a gravação do novo álbum do Labelle chamado Nightbirds pela Epic Records, sabia que a pegada rock soul dançante com o tema tabu era explosiva. Em agosto daquele mesmo ano, a toque de caixa, surgia o primeiro megahit do Labelle em single, topo da parada de R&B e da parada principal.
Isso engatilhou o sucesso do Labelle e da própria Patti LaBelle, que seguiria pra ser uma das maiores divas dos EUA com seus cabelos absurdos e performances energéticas da carreira solo.
O tempo passou… E quem resgatou a música mais de uma década depois, fora alguns covers insípidos, foi Sabrina, uma cantora italiana que tinha um inegável sex appeal, em 1987.
A música estava no álbum de estreia de Sabrina e fez sucesso localizado no continente europeu. Depois, em 1991, foi a vez da protegida do Prince: Sheila E.
A versão dela é bacana mas curiosamente é menos sensual.
Aí, em 1998, surgia a versão de um outro girl group, dessa vez britânico. Estou falando do All Saints! A Lady Marmalade delas já tinha rap e tudo, viu?
Uma versão remixada dessa do All Saints (por Timbaland!) fez parte da trilha sonora de Dr Doolittle (1998).
E sim: aí, em 2001, que Missy Elliot juntou aquele grupo de cantoras poderosas pra trilha de Moulin Rouge. A letra da música foi adaptada, de Nova Orleans pro Moulin Rouge em si, mantendo o toque francês do "Voulez-vous coucher avec moi?” – a origem dessa pegada bilíngue é que o quarteirão da prostituição de Nova Orleans nos anos 1970 era o French Quartier. E a curiosidade: a Patti LaBelle diz que só descobriu o significado da frase ("você quer ir pra cama comigo?”) depois de gravar! Risos!
O clipe de Pink, Aguilera, Mya e Lil’ Kim é um clássico, né? Acho que foi mais influente em matéria de figurino que o filme em si, pelo menos entre as jovenzinhas. Uma coisa lingerie & bordel com maquiagem carregada e cartola que conseguiu traduzir um pouco das roupas das lolitas japonesas mas deixou tudo mais, digamos… malandrinho.
Existe a história clássica que a própria Pink conta que Aguilera queria roubar todas as melhores partes da música (leia-se, as que demonstravam extensão vocal) e Pink não abriu mão da sua, o que teria gerado uma treta entre as duas. Outros detalhes jogam mais pimenta nesse caldeirão: Pink diz que elas foram pra uma boate e que Aguilera tentou bater nela; Aguilera diz que na verdade elas estavam brincando de "gire a garrafa" – aquela brincadeira adolescente feita em roda na qual quem cai nas duas pontas da garrafa tem que se beijar. Xtina conta que… queria beijar a Pink. Oi??? Outro capítulo dessa rinha de cantoras traz Aguilera chamando Linda Perry, parceira de Pink em composições, pra colaborar com ela – Pink levou pro pessoal e não economizou comentários em entrevistas posteriores…
Em teoria, elas fizeram as pazes em algum momento.
Minha versão de Lady Marmalade preferida? Aqui, a mais gritada de todas:
Se você gostou desse post, vai curtir esses outros aqui:
. O que aconteceu com Irene Cara?
. Donna Summer, a dona da pista
. Achei a Brenda, que cantava Sábado que Vem!