Brat Pack parte 10: os herdeiros

Quem diria que chegaríamos ao fim dessa saga?
Esse post é o fim de uma série de 10 sobre o Brat Pack, um grupo de jovens de Hollywood que recebeu esse apelido na década de 1980 e que hoje a gente liga bastante ao surgimento de vários filmes que davam voz aos adolescentes e jovens adultos de maneira menos caricatural, aproveitando esse nicho de mercado na época. Costuma-se dizer que foi quando o adolescente foi visto sob a sua própria ótica.
Para você que chegou agora, sugiro que leia os posts anteriores antes de seguir nesse! Pode ser? Para facilitar sua vida, segue a lista:

. O que é o Brat Pack, de onde surgiu o nome, quem são eles?! São tantas as questões…
. Um nome muito importante nas origens do Brat Pack, antes ainda dessa nomenclatura aparecer: S. E. Hinton
. A trindade de um dos núcleos centrais do Brat Pack: Molly Ringwald, Anthony Michael Hall e John Hughes
. He-he-he-he… uuuuuuuuuuuuh-oooooh: o clássico Clube dos Cinco
. O Brat Pack também tem um filme ruim: O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas
.
O galã do grupo e um escândalo envolvendo sex tape com menor de idade: Rob Lowe
. O outro clássico: Curtindo a Vida Adoidado
. O último filme do Brat Pack: Digam O Que Quiserem
. A trilha sonora: música é muito importante nos filmes do Brat Pack! Ouça algumas delas!

A gente poderia ter incluído mais filmes entre os que a gente colocou aqui? Poderia sim: tem, por exemplo, O Rei da Paquera (1987) com Ringwald e Robert Downey Jr (é ruinzinho). Ou o ótimo Atração Mortal (1988) com Winona Ryder e Christian Slater (que já traz uma outra turma e tem um tom mais macabro; acho que um dia faço um post sobre ele fora desse contexto brat packer). Ou ainda Conta Comigo (1986) com River Phoenix e Corey Feldman (que está mais para infanto-juvenil do que adolescente e é da leva "filmes inspirados em livros do Stephen King”). E também De Volta Para o Futuro (1985) com Michael J. Fox (falei sobre a sequência, que completou 30 anos, também fora desse contexto brat packer). Ou todos os filmes de terror adolescente dessa época (que para mim são outra categoria e se ligam ao Brat Pack de maneira muito tênue, basicamente só porque eram dirigidos para o mesmo público).
Mas é a vida: achei que esse recorte que usei até incluiu coisas que normalmente não são consideradas do Brat Pack (como Curtindo a Vida Adoidado, Os Garotos Perdidos, Picardias Juvenis e outros). A gente pode ir falando de um ou outro que ficou de fora por aí, pela vida, por 2020, né?

Agora chegou a hora de falar sobre os herdeiros de toda essa filmografia. Se os filmes, diretores, roteiristas e atores foram tão influentes, quem eles influenciaram?

Vou começar pelos que seriam primos distantes de O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas e Sobre Ontem à Noite. A gente já sabe que esses longas se referem àquela fase que você está recém-formado, prestes a dominar o mundo mas… descobre que o mundo é quem te domina (uau, falei bonito, hein?). Existem dois filmes que seguem essa linha "jovem adulta” logo no começo dos anos 1990. São eles: Vida de Solteiro (1992) e Caindo na Real (1994).

Campbell Scott, Kyra Sedgwick, Matt Dillon, Sheila Kelley, Bridget Fonda e Jim True-Frost, os atores de Vida de Solteiro

Campbell Scott, Kyra Sedgwick, Matt Dillon, Sheila Kelley, Bridget Fonda e Jim True-Frost, os atores de Vida de Solteiro

Aliás, Vida de Solteiro traz Matt Dillon, marcado pelo comecinho do Brat Pack, lembra? Além dele, outro membro-satélite do Brat Pack, Eric Stoltz, aparece no filme como o mímico. E adivinha quem é o diretor e roteirista?
Ninguém menos que Cameron Crowe!
Crowe já havia escrito uma primeira versão do script lá em 1984, e ela se passava em Phoenix, no Arizona. Ele estava reescrevendo-o quando recebeu a notícia da morte por overdose do músico Andrew Wood em 1990, e contou para a Rolling Stone em artigo em primeira pessoa que decidiu passar para o seu roteiro aquilo que ele sentiu em Seattle, algo do que fazia parte: a cena. Não é sobre a história de Wood (não existe morte por overdose no longa), mas traz aquele clima dos jovens da cidade naquele momento. Surgia o grunge.

Sou suspeitíssimo para falar de Vida de Solteiro: amo esse filme demais. Seattle é uma das minhas cidades preferidas dos EUA (não que eu conheça tantas, mas não sou muito chegado em norte-americanices, se é que me entendes, então eu gostar de lá é realmente um big deal). Comparado ao Primeiro Ano, o filme é mais adulto, mais noventista… mais minha cara, basicamente. kkkk

Bridget Fonda, Matt Dillon e Chris Cornell, isso mesmo, o Chris Cornell do Soundgarden que morreu em 2017

Bridget Fonda, Matt Dillon e Chris Cornell, isso mesmo, o Chris Cornell do Soundgarden que morreu em 2017

Uma comédia romântica que acompanha histórias paralelas, Vida de Solteiro também ficou cult porque representou o grunge antes dele invadir o mainstream de vez (a coleção primavera-verão 1993 de Marc Jacobs para Perry Ellis foi apresentada em 1992 e tomou a moda de assalto; o Nirvana lançou Nevermind em 1991 e In Utero viria em 1993). Tem até uma banda fictícia no filme, a Citizen Dick. Dizem que Chris Cornell viu a lista das músicas do Citizen Dick (elas não existiam, era só uma lista de títulos) e decidiu compor as músicas de verdade. Seasons, uma delas, está na trilha sonora. Ainda na trilha, figuram nomes como Pearl Jam e Mudhoney.

E dizem também que Johnny Depp quase ficou com o papel de Steve - que acabou indo para Campbell Scott. Os atores do longa em geral não chegaram a virar superestrelas, a não ser Dillon, que já era o mais reconhecido. Ou melhor: isso mudou um pouco com a ascensão meteórica do seu par romântico em Vida de Solteiro, Bridget Fonda.

Bridget Fonda como Janet Livermore em Vida de Solteiro: a cara feminina do grunge ao lado de Courtney Love

Bridget Fonda como Janet Livermore em Vida de Solteiro: a cara feminina do grunge ao lado de Courtney Love

Fonda, na época mulher de Eric Stoltz e sobrinha de Jane Fonda (filha de Peter Fonda), era uma das novas it girls, a nova Ringwald ao lado de Ryder, o rosto dos anos 1990. Mas a atriz, surpreendentemente, ficou nos anos 1990 mesmo. O megassucesso Mulher Solteira Procura (1992) e uma quantidade bem grande de lançamentos num curto período de tempo rendeu uma superexposição, mas a segunda metade da década não foi tão cheia de audiência para ela. Depois de terminar com Stoltz em 1998, ela acabou casando com Danny Elfman (lembra que a gente falou dele? O vocalista do Oingo Boingo fez a música-tema de Mulher Nota 1000!); sofreu um acidente de carro em 2003 no qual fraturou uma vértebra e… nunca mais voltou a atuar. A última coisa que ela fez foi um filme para a TV em 2002, o bobinho Snow Queen.

Era outra época. Estrelas de cinema não queriam ser estrelas de TV. Dizem que Fonda recusou o papel principal da série Ally McBeal em 1999 para focar nos filmes. E também dizem que ela está muito feliz, obrigada, na sua aposentadoria precoce; bem sossegadinha e linda.

Falando em TV: houve um interesse para que Vida de Solteiro se transformasse numa série. Crowe diz que esse projeto foi a semente de… Friends (1994-2004). Esse formato de jovens que moram num mesmo prédio, tudo e tal… Não é que faz sentido?

E Caindo na Real (1994) é basicamente para o mesmo público, com o mesmo apelo.

Ethan Hawke e Winona Ryder em Caindo na Real - que casalsão!

Ethan Hawke e Winona Ryder em Caindo na Real - que casalsão!

Mude de Seattle para Houston, de Matt Dillon para Ethan Hawke, de Bridget Fonda para Winona Ryder, e de música para cinema. O papel de Ryder, Lelaine Pierce, é de uma recém-formada que está fazendo um documentário sobre a vida… após se formar. Ou seja, é como um espelho: o longa fala sobre a Geração X naquele momento, e essa coleta de material dela também lida com o mesmo assunto. A narrativa segue para ela fazer uma escolha: o que é melhor, o idealismo de Troy (Hawke) ou o materialismo de Michael (Ben Stiller, que também vem a ser o diretor)? Nesse meio tempo, assim como em Vida de Solteiro, correm histórias paralelas, só que com um tom mais realista contemporâneo: Vickie (Janeane Garofalo) teve vários parceiros sexuais e se depara com a necessidade de fazer um teste de HIV; Sammy (Steve Zahn) é gay mas ainda está no armário.

A turminha: Hawke, Ryder, Garofalo e Zahn em Caindo na Real

A turminha: Hawke, Ryder, Garofalo e Zahn em Caindo na Real

Esses dois filmes são claramente dirigidos para a geração que assistiu Clube dos Cinco (1985) com 15 anos. Naquele momento com 20 e poucos, eles queriam continuar se vendo na telona. Mas as histórias também acabaram me atingindo de alguma maneira: eu, na época com bem menos de 20, assisti e imaginava como seria a minha vida na faculdade e depois dela, e imaginava que seria meio parecida com aquilo, com amigos que gostavam de ir no cinema, em shows, em exposição; com uma mistura de gente engraçada e gente profunda.

Foi exatamente isso que aconteceu, e hoje eu penso: será que eu forcei a barra para isso acontecer por causa desses filmes ou será que tudo já estava fadado a acontecer assim, naturalmente? Ou é uma combinação das duas coisas?
Acho que não importa muito. Mas esses filmes me marcaram profundamente: tenho uma conexão com eles a ponto de, inconscientemente, qualquer coisa meramente parecida com um dos dois para mim já é maravilhosa. Paixão instantânea. Seja na atuação, na estética, na narrativa.

Amo vocês! kkkkkkkkk

Amo vocês! kkkkkkkkk

Por outro lado, existe o outro lado: os filmes de John Hughes, os colegiais. É claro que Hughes virou um mote, um tema, uma referência, um objetivo. Ele era a junção da autoria com o comercial; seus filmes não são considerados o tal "cinema de autor” mas é ele quem escreve, é ele quem dirige ou quem interfere muito na direção. Não dá para negar um estilo característico. Então teve gente que não só gostou do que viu mas que quis fazer igual. Um dos nomes óbvios é Chris Columbus, tão herdeiro que, na fase "família" de Hughes, dirigiu um dos roteiros mais bombados dele, Esqueceram de Mim (1990) e sua sequência de 1992. Uma Babá Quase Perfeita (1993) e Nove Meses (1995) poderiam muito bem ter saído da cabeça de Hughes, são a cara dele.
Aí ele cometeu Eu Te Amo, Beth Cooper (2009), que apesar do nome não tem nada a ver com o universo de Riverdale, e que é uma bobagem cheia de estereótipos. Columbus ainda virou o rei das adaptações de best sellers literários com dois Harry Potters e um Percy Jackson.
NEXT!

Mas sem contar Crowe, existe um outro herdeiro de Hughes em Hollywood.

O nome dele é Judd Apatow.

Basically, my stuff is just John Hughes films only with four-letter words. Nobody made me laugh harder than John Hughes.
— Judd Apatow

Sim, ele é um herdeiro autoproclamado e a prova disso é Freaks and Geeks (1999-2000).
A série nem foi uma criação dele (ele assina como produtor executivo e dirigiu alguns episódios) mas ficou marcada como o começo de, adivinha só, uma turma. Um grupo. Um grupo de Hollywood. O FRAT PACK.

frat-pack.jpeg

Você não esperava uma reviravolta a essa altura do campeonato, aos 45 do segundo tempo, no meio do último post dessa série, né? Mas TEM SIM!
O termo Frat Pack foi cunhado pelo USA Today em 2004. Ele se referia a Vince Vaughn e Owen Wilson em Penetras Bom de Bico (2005) e seus comparsas, todos acostumados a trabalhar juntos assim como o Brat Pack (e talvez até mais que o Brat Pack). Em 2005, a Details chamaria Apatow (com os outros diretores Adam McKay e Todd Phillips) de frat packager. Ele é o escritor e produtor (e às vezes diretor) de várias comédias ligadas ao Frat Pack.
Minha opinião?

reductive.gif

Pronto falei. Mas Freaks and Geeks? Pode levar TODO MEU OURO.

Criada na verdade por Paul Feig (Missão Madrinha de Casamento, o Caça-Fantasmas só com mulheres e o filme que está em cartaz Uma Segunda Chance para Amar), a série é um mistério. Com apenas 18 episódios e aclamada pela crítica, ela não ganhou uma segunda temporada porque… por quê? Tem quem aponte o seu horário ingrato (sábado à noite) para a baixa audiência apesar dos elogios; tem quem diga que existia desentendimento na criação e que Feig (e Apatow) não queriam fazer mudanças e deixá-la mais de acordo com o gosto dos executivos da NBC. Mas é até bom que ela seja assim, uma série que durou uma temporada só, que o povo guarda no coração com saudade.

James Franco, Jason Segel, Linda Cardellini, Seth Rogen, John Francis Daley, Martin Starr e Samm Levine em Freaks & Geeks

James Franco, Jason Segel, Linda Cardellini, Seth Rogen, John Francis Daley, Martin Starr e Samm Levine em Freaks & Geeks

Freaks and Geeks entende a frustração adolescente e também apresenta um cenário de colegial com as "castas" às quais Hughes tanto se referia. Dá para entender logo pelo título: os freaks, a turma "problemática" da qual Lindsay Weir (Cardellini) quer fazer parte; e os geeks, da qual Sam Weir (Daley) faz parte. Tem muito em comum com as narrativas hughesianas, inclusive a década (se passa em 1980). E até a questão de um par romântico na trama ir para a vida real também rolou: Cardellini e Segel namoraram por um tempo.

Cardellini é a mulher do Gavião Arqueiro em Vingadores. Todo o resto desse povo, um clube do Bolinha, também foi bem-sucedido em maior ou menor grau em suas carreiras.

Ah, e não sei se você reparou: sim, na melhor tradição de Hughes, o Freaks and Geeks (e o Frat Pack) é branco, branquíssimo, branquérrimo. A diversidade racial passa longe.

Why so white?

Why so white?

Apatow parece ter ficado tão abalado com o fim de Freaks and Geeks que constantemente chama pessoas do elenco original para trabalhar com ele (o que confirma o Frat Pack). Foi o caso de um dos projetos seguintes dele, Curso: Incerto (2001-2003), série que também contou com 18 episódios e se passa na faculdade. Seth Rogen também está no elenco fixo e existem várias participações especiais: Jason Segel, Busy Philipps, Samm Levine e por aí vai.
Só que Curso: Incerto não caiu tão bem. Não ganhou status cult. Não colou.

Com coisas como Superbad: É Hoje (2007) e Ligeiramente Grávidos (2007), o Frat Pack ocupa um espaço para um público jovem que o Brat Pack ocupava antes.
A minha opinião eu já disse lá em cima em forma de gif. Freaks and Geeks é muito legal, o resto é uma bobagem.

Outras coisas deveram muito aos filmes do Brat Pack. Um episódio de Dawson's Creek de 1998, por exemplo, se chama Detenção e é totalmente baseado em Clube dos Cinco (spoiler para quem não lembra: é IDIOTA). 10 Coisas que Eu Odeio Sobre Você (1999) traz esse ambiente colegial e atualiza a história de A Megera Domada de Shakespeare com a ajuda do charme de Heath Ledger. As Vantagens de Ser Invisível (2012), baseado no livro de Stephen Chbosky (que também dirigiu e fez o roteiro), é meio que um drama Hughes atualizado e mais dramático. Juno (2007), um roteiro de outra herdeira de Hughes, a Diablo Cody, traz um drama que nunca esteve no universo criativo de Hughes: a gravidez na adolescência. Cody já chamou Hughes de um dos seus "grandes heróis”.

Hughes’ movies were my film school. As crazy as it sounds, The Breakfast Club is the first thing that I ever wrote about online. Ever. My brother got a dial-up modem a long time ago and we got on one of those like bulletin board-type chatrooms — very crude — and I just started asking people about it. And they told me to go away, because I didn’t understand chatroom etiquette at the time. I was interrupting the conversation between the other hardcore geeks on their dial-up modems. It was my first time being flamed. [Laughs] But it’s funny to me that my very first impulse was to talk about that movie. More than influencing me as a filmmaker, it influenced me as a person.
— Diablo Cody para a Rolling Stone
juno.jpg

Ellen Page e Michael Cera em Juno

Muita gente acha o filme melhor que os retratos de Hughes da adolescência. Gosto de ambos por motivos diferentes!

Bom, eu acho que tem uma outra série que pouca gente comenta que é muito hughesiana. MUITO. E é maravilhosa. Se você tiver chance, assista My Mad Fat Diary (2013-2015)!

Nico Mirallegro, Jodie Comer, Sharon Rooney, Dan Cohen (lá atrás) e Jordan Murphy em My Mad Fat Diary

Nico Mirallegro, Jodie Comer, Sharon Rooney, Dan Cohen (lá atrás) e Jordan Murphy em My Mad Fat Diary

Para começo de conversa, a série é inglesa. À sensação de inadequação inerente do adolescente, aqui também se acrescenta uma protagonista gorda e na luta pela sua saúde mental. Rae (Sharon Rooney) passou por uma instituição psiquiátrica por meses por causa de uma tentativa de suicídio e agora tenta reatar laços com a sua amiga de infância Chloe (Jodie Comer). A turma de Chloe acaba virando também sua turma, mas Rae procura esconder os problemas do seu passado recente.

A série se passa em 1996, portanto tem uma trilha sonora absolutamente PERFEITA com britpop e o pop dos anos 1990. Sinto-me em casa! Acho bem diferente de Skins, que para mim é mais novelão com momentos muito bobos.
Rae Earl realmente existe na vida real. A série se baseia em seus diários (daí vem o nome). Mas Finn (Nico Mirallegro) foi criado, e a história original se passa nos anos 1980.

Só de ouvir a música de abertura dá uma aquecidinha no coração e cai uma lagriminha!

Assista! Faça isso por você!

Assista! Faça isso por você!

Para terminar com chave de ouro, queria falar sobre um tesouro que segue desconhecido até hoje.

Oil and Vinegar, o roteiro perdido

Em algum momento da história, existiu um roteiro de John Hughes chamado Oil and Vinegar, que seria protagonizado por Ringwald e Matthew Broderick e dirigido por Howard Deutch. Na mesma lógica de um dos maiores sucessos de Hughes Clube dos Cinco, Oil and Vinegar se passaria quase em sua totalidade dentro de um carro. Ringwald seria uma mulher pedindo carona, bem rock and roll, e Broderick seria um vendedor que viaja para as praças que ele precisa atuar de carro, está noivo e… dá carona para Ringwald. Tudo isso era uma desculpa para que ambos, daquele jeitinho bem Clube dos Cinco, se abrissem um para o outro em pegada existencial.

Dizem que Hughes acreditava tanto no roteiro que queria dirigi-lo ele mesmo. Deutch teria convencido-o a passá-lo para ele - porque também ficou encantado com o texto. Só que Deutch, segundo o próprio, deu para trás - estava estafado após Alguém Muito Especial e queria começar a fazer coisas só dele, a se desprender de Hughes. Jon Cryer conta uma versão diferente: na verdade Hughes não gostou desse interesse todo de Deutch e o desligou do projeto para tocá-lo sozinho.

Nessas idas e vindas, com o estúdio pedindo alterações (e Hughes não querendo reescrever o roteiro), Ringwald também diz que, na hora do vamos ver, ela acabou entrando em outro filme e abandonando o barco.

Essas páginas ainda devem existir em algum lugar. Seria certo fazê-lo hoje? Imagino que não: sem Hughes, sem Ringwald, sem Broderick? Resta-nos imaginar. Seria a versão melhorada de O Primeiro Ano? Seria melhor que Vida de Solteiro? Traria uma carreira mais prolífica e com hits para Ringwald nos anos 1990?

Ficam as perguntas.