O incrível Pater Sato (e o também incrível Syd Brak)
Lembrava vagamente de ter dois quadros com imagens muito parecidas com essa no quarto das minhas irmãs quando eu era pequeno. Confirmei com a minha irmã e sim, dessa vez minha memória não falhou.
Essa imagem de cima é criação de Pater Sato, um artista japonês que na verdade se chamava Yoshinori Sato e mudou de nome depois de fazer o papel de Peter Van Pels numa peça baseada no Diário de Anne Frank. Peter, para quem não se lembra ou nunca leu o livro, era o filho da outra família judia que viveu no anexo secreto junto com os Frank e, com a convivência no esconderijo, Peter acabou virando interesse amoroso de Anne.
Sato era um dos artistas dos anos 1980 que criava imagens de mulheres combinando-as com técnicas de airbrush. Tem essa coisa de quase sempre ter um fundo branco, muita mulher de perfil, maquiagens fortes com direito à boca bem marcada e um ar sci-fi. Eu a-do-ro.
Essas fotos incríveis são de Klaus Mitteldorf e a modelo é ninguém menos que Ana Paula Arósio.
Aí você me diz: que legal! Então os quadros do quarto das suas irmãs eram do Pater Sato?
Não. Eram do Syd Brak.
Brak é um artista sul-africano. Assim como Sato, ou talvez até mais, ele criou imagens icônicas de mulheres oitentistas, também com muito airbrush, também com muita maquiagem, muito perfil, muito fundo branco. Olha aí:
Parecidíssimo, né? Jurava que era Sato na parede das minhas irmãs, era Brak. Os dois quadros que povoaram minha infância eram esses aqui:
Icônicos. Completamente icônicos. Depois me pergunto como cresci gay e fã de Jem e as Hologramas?
Talvez você ache todas essas imagens muito familiares. Um dos motivos é porque elas são, mesmo. Brak, por exemplo, fez esses trabalhos para a Athena, que é uma empresa que basicamente faz pôsteres e tem um time de artistas e fotógrafos para criarem imagens para esses pôsteres. Ela já lançou várias imagens icônicas fora as de Brak – tem, por exemplo, o L’Enfant, com um cara musculozão olhando pra um bebê nos seus braços. Essa aqui:
O Sato que eu saiba era um, er, artista indie? Ele comercializava os próprios pôsteres e cartões.
Mas talvez existam outros motivos pelos quais você está familiarizado com essas imagens. Esses daqui:
Ah, e também tem o Patrick Nagel, né? Não o inclui como um terceiro exemplo porque, apesar da gente identificar bastante semelhança na temática, Nagel não usava airbrush e suas mulheres eram menos realistas, mais desenhadas.
(A primeira imagem é a que aparece no álbum Rio, de 1982, do Duran Duran)`
Falando em capa de disco, uma coisa que eu adoro é isso aqui:
Essas quatro capas foram ilustradas por Pater Sato antes dele cair nos anos 1980 de vez. São quatro discos superimportantes da música pop japonesa – isso que eu chamo de pé quente. A capa de Spacy é simplesmente ótima, moderna até hoje. A de Cobalt Hour é clássica, com o apelido da Yumi Arai já aparecendo num detalhe (Yumin, ou Yuming). O de Minako Yoshida prenunciava essa estética oitentista. Tudo maravilhoso.
Quem gostou desse post também vai gostar desses:
. Cachorros jogando pôquer: mas isso é arte?
. As ilustrações de Elifas Andreato em capas de disco: de Paulinho da Viola até Elis Regina!
. Uma das minhas músicas preferidas de todos os tempos é de Yumi Arai