Todos os caminhos levam ao Secos & Molhados

Quando o Secos & Molhados lançou o primeiro disco, em 1973, eu ainda não era nascido e minhas irmãs também não (somos todos gêmeos e nascidos na década de 1990, oras).
Brincadeira, mas o que quero dizer é que eles não estavam no meu radar na infância e adolescência. Foi na faculdade que comprei a versão da série Dois Momentos, um CD com os dois álbum da formação original da banda, e comecei a saber mais sobre ela.

Gerson Conrad, João Ricardo e Ney Matogrosso, o Secos & Molhados original

Gerson Conrad, João Ricardo e Ney Matogrosso, o Secos & Molhados original

Sempre me instigou essa história do trio que questionou valores tradicionais em plena ditadura militar virando um retumbante sucesso. Um sensual Ney cantando para um Maracanãzinho lotado. As pinturas no rosto que polemizam o Kiss - foi uma cópia, é uma coincidência? As músicas em si, um pop rock cheio de poesia e aberto a tantas interpretações. E o fato dele ter sido a porta de entrada de Ney Matogrosso para a fama, sendo que tanto Gerson quanto João nunca conseguiram ter tanto reconhecimento quanto ele depois do fim do S&M. Será que Ney faria sucesso mesmo sem esse fenômeno? Será que se o S&M tivesse continuado com essa formação, os próximos álbum teriam vendido bastante?
Para você ter uma ideia, tem gente que defende que o desenvolvimento da indústria fonográfica brasileira se divide entre antes e depois do primeiro álbum do Secos & Molhados. Os números astronômicos de vendagem (mais de um milhão) teriam forçado uma profissionalização.

O disco clássico - aquele ali do fundo é o Marcelo Frias, baterista que desistiu de ficar na banda depois que a foto já tinha sido produzida. Acabou se mantendo na capa, mas não ganhou os louros das vendas e continuou recebendo como músico contratado

O disco clássico - aquele ali do fundo é o Marcelo Frias, baterista que desistiu de ficar na banda depois que a foto já tinha sido produzida. Acabou se mantendo na capa, mas não ganhou os louros das vendas e continuou recebendo como músico contratado

Marcelo Frias, aliás, é história pura da música brasileira: antes dessa foto, ele já tinha tocado bateria no Beat Boys e acompanhou com essa banda ninguém menos que Caetano Veloso cantando Alegria Alegria no Festival Record de 1967, momento seminal do tropicalismo ao lado de Domingo no Parque com Gilberto Gil e Os Mutantes.

Recentemente comecei a ler e mergulhar mais no universo do Secos & Molhados e descobri um monte de ligação muito exótica que pode ser que prove que 1) Os anos 1970 eram o equivalente à cena hipster paulistana, onde todo mundo se conhece; 2) todos os caminhos levam ao Secos & Molhados.
OK, isso é um exagero, nem todos os caminhos levam a eles, mas vários levam sim, e você nem imaginaria essas ligações. Então vem comigo - esse post é baseado nos livros Primavera nos Dentes: a História dos Secos e Molhados e Pavões Misteriosos - 1974-1983: a explosão da música pop no Brasil, mais pesquisas em outros livros e sites. Recomendo a leitura de ambos!

Rita Lee & Roberto de Carvalho

Nunca entenderei esse mafuá, e não existe confirmação oficial. Rita e Roberto, a dupla que a gente aprendeu a amar, se conheceu exatamente em que ano? Dizem que foi em 1976. Mas antes disso, e entre a saída definitiva de Rita dos Mutantes e 1976, estão cerca de 4 anos. O que aconteceu nesse período?
Bom, uma das coisas que aconteceu foi a gravação de Menino Bonito, lançada no disco Atrás do Porto tem uma Cidade de 1974 sob a assinatura Rita Lee & Tutti Frutti.

E sabe o que dizem? Que essa música teria sido composta por Rita para João Ricardo, o português do trio Secos & Molhados.
!!!
Para começo de conversa, João não é exatamente bonito, pode até ser interessante mas sei lá.
Segundo que… João Ricardo e Roberto de Carvalho se conheceram em 1975 ou um tanto antes, mas não depois. É de Roberto a ótima guitarra do primeiro disco solo de João, homônimo que ficou conhecido como o Disco Rosa.

Tem gente que não gosta do Disco Rosa. Acha que forçou a barra, quis trazer uma coisa da androginia de Ney para João que não deu certo, tem a música Vira Safado que seria uma tentativa de repetir o sucesso do clássico O Vira em uma… repetição. Minha opinião? O disco é ótimo. E é uma das várias obras que vão pintar nesse post que a gente ouve e fica pensando: imagina se o Secos & Molhados tivesse continuado com sua formação original? Imagina essas músicas com Ney Matogrosso e Gerson Conrad?
Eu ia amar. <3 Salve-se Quem Puder é tudo, um roquinho bem Secos & Molhados, bem anos 1970, com gritinho uuuuh! e tudo o mais. Balada para um Coiote na minha opinião teria potencial de hit tão grande quanto Assim Assado. Sorte Cigana também ficaria linda na voz do ex-vocalista da banda. E quer saber, até o Vira Safado me atrai!


Roberto estava entrando na “cozinha” que mantinha alguns integrantes dos dois primeiros discos do S&M. Entre eles, o tecladista Emilio Carrera e o baixista Willie Verdaguer. Então Roberto substituía o guitarrista anterior, John Flavin – a maior doideira porque Flavin, por sua vez, ia tocar com uma pá de gente, incluindo…

Arnaldo Baptista

Da mesma forma que os caminhos de Rita e Roberto se cruzaram com os do Secos & Molhados, os de Arnaldo, ex de Rita e outro integrante dos Mutantes, também passaram por lá. É que Flavin, autor de uma guitarra importantíssima do S&M nos shows e dois primeiros álbuns, participa do disco Elo Perdido do Arnaldo & Patrulha do Espaço.

Esse disco foi gravado em 1977 mas só foi lançado em 1988. Esses cruzamentos fazem sentido: a cena roqueira da década de 1970 em SP não era exatamente gigantesca. Nem a da música popular brasileira em geral. De certa forma o trio Mutantes e o trio S&M seguiam uma sequência de abertura da cabeça da MPB.

Ney gravaria Balada do Louco, de Arnaldo e Rita, em 1986 no disco Bugre. Virou um hit do seu repertório.

Elis Regina

Elis e Secos & Molhados? Que ponte é essa?! Calma que eu vou chegar lá!


Depois de gravar o Disco Rosa, João Ricardo foi procurar novas sonoridades. O resultado em 1976 é Da Boca pra Fora, que também é um disco bom. Acho que é difícil pra gente reconhecer que João é um artista bem interessante, apesar de ter virado o vilão da história no Secos & Molhados. Mas a gente sabe que não existe só 8 ou 80 - são vários os números entre eles. As verdades são relativas… Acho o João arrogante por algumas declarações, ele já disse umas coisas bem horrorosas tanto sobre Ney quanto sobre Gerson. Mas as músicas são boas, fazer o quê?

Nesse meio tempo, a turma do William Verdaguer e do Emilio Carrera ficou assim, por aí. Roberto de Carvalho já estava encontrando com Rita Lee e formando uma parceria amorosa e profissional. Então John Flavin, antes da Patrulha do Espaço, voltou a tocar com os amigos da cozinha do S&M formando a banda Humahuaca. Eles misturavam o rock, o jazz e a música popular latino-americana - William é argentino. É o Humahuaca que acompanha Elis Regina em um programa na Bandeirantes, um registro que só os megafãs conhecem mais e que tiraram do ar do YouTube.

A música cantada por Elis nesse programa também se chamava Humahuaca. Existia um projeto de gravação de disco com Cesar Camargo Mariano, então marido da cantora, mas a coisa flopou. Imagina um disco deles com alguns vocais de Elis? Era essa a ideia. Tipo a mesma cozinha do Secos & Molhados, só que com a voz da Elis Regina!


Agora deixa eu falar de um cara que passou pela vida da Elis Regina. E que, dizem, fez Cheia de Charme para Rita Lee. Tô falando, essa história toda tem tantos cruzamentos que nem sei!

Guilherme Arantes

A ponte entre Guilherme Arantes e Secos & Molhados é muito mais curta do que você está imaginando. Ela vem na forma de Moracy do Val, que produziu o Secos & Molhados e arrumou o primeiro contrato deles com uma gravadora, a Continental. A história é nebulosa e cabulosa: Moracy teria entrado em atrito com ninguém menos que o pai de João Ricardo, o poeta João Apolinário. João pai assumiu os negócios e a produção , e esse teria sido um dos estopins para a saída de Ney e Gerson da banda.
Acontece que Moracy, nesse meio tempo, começa a produzir outra banda: a Moto Perpétuo. Parece que ele nem chegou a concluir a produção do álbum exatamente porque a coisa para o lado do S&M começou a complicar cada vez mais – tudo aconteceu meio que ao mesmo tempo. O disco homônimo de 1974 ficou conhecido como o primeiro registro em estúdio de Guilherme Arantes, o vocalista e tecladista, além de ser compositor de quase todas as músicas.

Alguns anos depois, Elis Regina teria um sucesso radiofônico com Aprendendo a Jogar. O compositor? Guilherme Arantes.

Antes disso - e um ano antes do Secos & Molhados entrar em estúdio - Elis lançava Casa no Campo. A autoria: Tavito e…

Zé Rodrix

Foram dois álbums clássicos: Passado, Presente e Futuro (1972) e Terra (1973). As pessoas até costumam apontar o primeiro como mais bem amarrado, mas o meu preferido é Terra: não posso ignorar o poder que a música Mestre Jonas tem sobre a minha pessoa. Simplesmente amo. O trio Sá Rodrix & Guarabyra, coincidentemente, tinha como primeira inspiração o mesmo trio que fazia a cabeça de João Ricardo: Crosby Stills & Nash.

Segundo a biografia O Fabuloso Zé Rodrix de Toninho Vaz, depois do grupo se dissolver e enquanto Zé preparava seu primeiro álbum solo, I Acto, que também saiu em 1973, ele ainda foi lá e participou da cozinha do álbum do Secos & Molhados. Workaholic! É dele o acordeon no superhit O Vira, sugerido por Verdaguer, e o arranjo de Fala, onde tocou o sintetizador Moog. Bela participação!

Mas voltando um pouco: sabe com quem foi a primeira parceria de Sá, ou melhor, Luis Carlos Sá, outra terça parte do trio?

Luhli

Em 1965, antes mesmo de conhecer Guarabyra, Sá encontrou Luhli, que ele diz ser a sua primeira parceira em uma música! Eles faziam parte do Grupo Mensagem com outras pessoas como Sidney Miller e Soninha Ferreira (do Quarteto em Cy). Participaram de um musical no teatro Opinião. Luhli, por sua vez, é peça-chave do Secos & Molhados.
Anos depois, Luhli se apresentava no Kurtisso Negro, um lugar no Bixiga onde a primeira formação de Secos & Molhados, com os hoje esquecidos na história Fred e Pitoco mais João Ricardo, apareceu em público. Acabou a primeira formação, mas ficou uma amizade entre João e Luhli. Eles compuseram algumas músicas, e duas delas entraram no primeiro álbum do S&M, coincidentemente as que Zé Rodrix colocou o dedo: Fala e O Vira.

E mais: foi Luhli quem sugeriu o nome de Ney Matogrosso para João como novo vocalista! Diz a lenda que ele teria comentado que queria um "vocalista de voz aguda” e ela teria respondido “conheço alguém assim, o nome dele é Ney e ele está no Rio".

Nessa época Luhli já era mulher de Luiz Fernando da Fonseca, fotógrafo, e morava num casarão em Santa Teresa. A partir daqui a história fica um pouco misteriosa: Lucina foi namorada de Ney em algum momento, mas como ele não gosta de comentar a vida pessoal, ela sempre respeitou isso. Em certo momento Luli & Lucinha (era assim que elas assinavam na época) viraram dupla musical. E em 3 anos seriam um trio na vida pessoal: Luhli, Lucina e Luiz, trisal bem antes do poliamor ser mais discutido como agora, e que durou até Luiz morrer em 1990. Chique!!!

Essa foto da cabeça das duas juntas, que é da capa do primeiro álbum da dupla, foi feita por Luiz. Juntos, eles tiveram duas meninas (Luhli) e dois meninos gêmeos (Lucina). Elas dizem que o pessoal ficou meio cabreiro quando o trisal se assumiu, mas Ney não se afastou - continuou fiel a essa amizade e gravou várias músicas delas também na carreira solo, como Bandoleiro. A foto da capa do primeiro álbum solo de Ney (aqui embaixo você vai vê-la) é de Luiz também. O livro Ney Matogrosso: Ousar Ser é recheado de fotos de autoria dele. E Luiz fez outras coisas incríveis como a foto da capa do álbum de Tetê Espíndola Pássaros na Garganta de 1982.

Astor Piazzolla

Um dos primeiros passos solo de Ney Matogrosso depois do fim do S&M foi falar com Astor Piazzolla num show que o músico argentino estava fazendo no Rio. Disse que adoraria gravar com ele, e não é que o já mito da música também quis? Ney foi para Roma, onde Piazzolla morava. As duas músicas que gravaram entraram no primeiro disco solo de Ney, Água do Céu - Pássaro, de 1975. São as duas últimas, um bônus que quando lançado em vinil vinha num compacto anexado e com as edições em CD viraram parte do álbum.

Outra curiosidade que faz a gente voltar um pouquinho em item anterior: a primeira música desse mesmo disco Água do Céu - Pássaro é Homem de Neanderthal. A autoria? Sá e Guarabyra! Mas acho a produção meio experimental demais, não curto muito:

Zezé Motta

Essa muita gente sabe, mas parece que pouca gente realmente descobriu esse álbum, o primeiro "solo” de Gerson Conrad pós-S&M. Entre aspas porque na verdade é um álbum de dupla, dele com a atriz e cantora Zezé Motta.
E sabe do que mais? Acho bem legal. Também me faz ficar pensando que músicas teriam entrado no terceiro álbum do Secos & Molhados, cantadas por Ney.

As letras são do mesmo Paulinho Mendonça de Sangue Latino e Delírio; todas as melodias são de Conrad.
Uma curiosidade que muita gente esqueceu é que em 1981 Conrad lançou outro disco homônimo. Hihihihi… Interessante, a música Rosto Marcado já tem um gosto forte de coisas do BRock oitentista:

Em 2018 saiu o álbum Lago Azul de Gerson Conrad. As parcerias com Paulinho Mendonça também voltaram em Gatos de Muro e Antes que Amanheça.

Os outros discos do Secos & Molhados

Além dos álbuns solo de João Ricardo, ele também seguiu lançando discos sob o nome de Secos & Molhados. Geralmente ele arrumava um cantor de voz aguda (afff, que fetiche) e mais alguns integrantes. Pelo menos dois desses são dignos de nota:

O terceiro álbum trazia vocal de Lili Rodrigues e guitarra de Wander Taffo, que depois faria parte da banda Rádio Táxi com integrantes da Tutti Frutti de Rita Lee - uau, por esse plot twist você não esperava! Foi a Rádio Táxi que gravou a primeira versão de Eva em 1982, que virou hit de novo em 1997 com a Banda Eva e Ivete Sangalo.
A primeira música desse álbum do S&M, Que Fim Levaram Todas as Flores, até fez um sucessinho, mas nada perto do blockbuster dos discos anteriores. Também gosto de Lindeza, delicadinha, e De Mim Para Você que é meio disco music (!!!).

O disco de 1980 é com os irmãos Lempé - gosto de várias (pois é!!!), incluindo Roído de Amor e Sem as Plumas Numas, uma das únicas com os Lempé como co-autores.

Bom, eu ainda poderia falar de um monte de ligações. Como por exemplo a com o Fagner, que fez um compacto com Ney em 1975, hoje pouco conhecido:

Em julho de 1975, também sairia Ave Noturna de Fagner. E nesse mesmo mês, Ney e Fagner foram de carro para se apresentar no Festival de Belo Horizonte. Foi a primeira vez que Ney cantou no palco sem maquiagem e um figurino elaborado - segundo o próprio!
Ney também conta uma história inusitada: na volta de BH Fagner passou uns dias na casa dele no Leblon, Rio, antes de ir embora para SP. E esqueceu uma cueca no quarto de hóspedes! Ela foi lavada, passada e ficou pendurada no quarto de hóspedes como um troféu.

Na minha fantasia:
transaram sim.

ATUALIZAÇÃO com EXTRA em 8/09/19:
Confira o episódio de O Som do Vinil, programa do Canal Brasil, sobre o primeiro álbum do Secos & Molhados!

ATUALIZAÇÃO 25/06/20: Descobri que tem duas pessoas que gostaram bastante desse post. Fico tão feliz quando isso acontece, vocês não tem ideia! O Julio me avisou que a amiga dele, a Monique Dieb, fez uma playlist inspirada nesse texto aqui que você acabou de ler! AH! Tá aqui:

A disco music brasileira

Gosto muito de disco music, mas se for brasileira é ainda melhor. Acho que foi lá no começo dos anos 2000 que comecei a gostar mais - tinha uma festa chamada Ressucita-me que eu e meus amigos frequentávamos e ela costumava tocar esse tipo de coisa.
Mas se nos EUA e em outros lugares do mundo a disco music teve um viés libertário para os gays e para os negros, aqui a música nesse estilo em português e produzida no Brasil não chegava nisso. Era capitali$mo mesmo, tudo orquestrado por homens brancos tipo Carlos Imperial e Mister Sam. Paciência - pelo menos vejo uma sexualidade mais livre em Gretchen, Ronaldo Resedá e Sarah Regina, uma negritude glamourosa em Lady Zu, uma saída do eixo do Sudeste com Miss Lene.
Abaixo coloquei algumas das minhas disco songs preferidas em português. Você tem alguma que acha mara e não está aqui? Me avisa, talvez eu não conheça!
A gente se encontra na pista!

#1: A Noite Vai Chegar (1977) - Lady Zu

"Meu pensamento está tão longe"… Um clássico: ouvi demais um disco que foi relançado em formato CD e tinha esse mega hit. A voz chiquérrima de Zuleide (o nome verdadeiro dela) merecia ser mais reverenciada. Ela tentou retomar a carreira na década de 2000 mas não chegou a fazer o sucesso retumbante da década de 1970.

#2: Amor Bandido (1979): Sarah Regina

Sarah foi a finalista de um concurso do Show de Calouros do Silvio Santos mais ou menos nessa época. Depois de tentar mais um tanto a carreira de cantora, acabou indo para a dublagem, jingles e backing vocals. Mas antes, em 1981, lançaria o disco Felina, que teria entre outras coisas… uma versão de Can't Take my Eyes Off of You que é bem, hum, instigante! Chama-se Tenho Sede. Hehehehehe! Gosto de Amor Bandido e de outras das músicas que estão nessa lista especialmente por causa das letras, são populares e divertidas!

#3: Cara de Pau (1978) - Ana e Ângela

Ana na verdade chamava Áurea e já tinha uma carreira atrelada ao estilo da Jovem Guarda. Gravou, por exemplo, uma versão de Goodbye do Paul McCartney em 1969. E Ângela, na verdade Ângela Márcia, é a mulher de Sérgio Reis! Essa música fez parte da trilha da novela Te Contei? da Globo. Falando nela…

#4: Te Contei? (1978) - Sônia Burnier

Nem tão disco, deliciosamente pop: a música de Rita Lee e Roberto de Carvalho foi para a abertura da novela cantada por Sônia Burnier. Se o nome não é estranho para você, existe um motivo: ela é irmã de Otávio Burnier, que formava a dupla Burnier e Cartier. Eu ADORO o álbum deles de 1974. Junto com eles, Sonia gravou a trilha sonora do Sítio do Picapau Amarelo - eles cantavam a música da Jabuticaba e a do Saci. Tanto Tavynho quanto Sonia eram sobrinhos de Luiz Bonfá. Participaram de gravações com ele. Minha opinião: Sonia era mais do jazz do que do pop e Te Contei? foi uma diversão passageira.

#5: Pertinho de Você (1978) - Elizângela

O produtor Hugo Bellard misturou a batida que ele ouviu num disco do jamaico Jesse Green (talvez de Nice and Slow? Parece) com o estilo de cantoras tipo Tina Charles (de ultrasucessos como I Love to Love). Virou uma brincadeira com a atriz Elizângela, sem grandes pretensões… mas que vendeu 20.000 de compacto (single) por semana no Brasil. 54 semanas nas paradas de sucesso da época. E é uma delicinha mesmo - a banda Capim com Mel gravou já nos anos 2000 em ritmo de forró e virou sucesso de novo!

#6: Quem é Ele? (1978) - Miss Lene

Miss Lene é a cearense Frankislene Ribeiro Freitas. Adoro essa e Deixa a Música Tocar, da mesma época. Depois ela gravaria Vivendo com Medo em 1980 - a música tema é de Guilherme Arantes, e o disco ainda trazia uma versão de uma balada bem linda de Kate Bush, O Homem. A voz de Miss Lene é bem potente. É engraçado que, dessa turma, a que tinha menos voz foi a que seguiu carreira com altos e baixos, mas vários altos, até hoje. A gente chega nela daqui a pouco, mas acho que você sabe de quem eu estou falando…

#7: Acenda o Farol (1978) - Tim Maia

Um pouco depois do período Cultura Racional - e da desilusão com a religião do Universo em Desencanto - Tim Maia caiu no hedonismo da discoteca em Tim Maia Disco Club. Acenda o Farol é a segunda faixa do álbum, arranjos de Tim com arranjos de metais e cordas de Lincoln Olivetti - ele também tocou piano elétrico, órgão e sintetizador. Conta com a Banda Black Rio na cozinha. Amo!

#8: Bem-me-quer (1980) - Rita Lee

A partir do encontro com Roberto de Carvalho e depois de ser presa por porte de maconha, Rita Lee passou por uma reinvenção. Da roqueira que os pais não queriam que os filhos ouvissem, ela se transformou na cantora das baladas que a família inteira ouvia junto. Bem-me-quer, que é quase uma disco music e está no álbum de 1980 que abre com Lança Perfume (outra "quase disco music, quase marchinha de carnaval"), tem um solinho de guitarra maravilha no começo. E Gal Costa também canta!

#9: Felicidade (Margarida) (1980) - Harmony Cats

Esse clipe não-oficial deve ter sido feito por um fã. Acho que Margarida é da primeira formação do Harmony Cats, se não me engano, com Cidinha, Rita Kfouri, Juanita, Maria Amélia e Vivian Costa Manso. A ideia foi de Helio Costa Manso: juntou a irmã Maria Amélia, a mulher Vivian e mais 3 cantoras e fez uns medleys de sucessos em ritmo dançante. Tanto Maria Amélia quanto Vivian também fizeram parte da mítica banda Sunday do Helio (também produtor, já foi da RGE e Som Livre), que gravou pencas de covers dos anos 1970 para frente. Teve um set da época que eu era DJ e tocava com a Talita Denardi que a gente começou, se não me engano, com Felicidade. Esse começo é irresistível!

#10: Sábado que Vem (1978) - Brenda

Nunca encontrei uma informação sobre a Brenda, mas certamente ela é gringa. Ou está forçando um sotaque engraçado. Só sei que foi produzida por Roberto Livi - a gente já falou dele aqui, o argentino por trás da invenção da origem cigana de Sidney Magal. Mas a música é absolutamente maravilhosa, ouço desde pequeno num disco que era de uma das minhas irmãs de coletânea de sucessos. Ficava chocado com a descrição do look: “Eu vou vestir meu camisão estampado / a calça jeans de boca apertada / uma sandália de salto fino / e no cinto uma bolsinha amarrada”. Se eu fosse estilista, fazia uma coleção inspirada nessa música.

#11: Marrom Glacê (1979) - Ronaldo Resedá

O Kid Discoteca: o bailarino carioca era também ator e, em 1976, se lançou como cantor em um espetáculo no lendário Teatro Opinião, do Rio. Depois de participar de algumas trilha sonoras gravou um disco, no qual essa música aparecia (e que trazia Ronaldo de smoking branco já na capa). O power trio Guto Graça Mello, Mariozinho Rocha e Renato Correa compuseram Marrom Glacê, que também virou tema de novela.

#12: Dance With Me (1979) - Gretchen

Aí vem ela: antes de Freak Le Boom Boom, do Melô do Piripipi e de Conga Conga Conga, Grechen surgiu com Dance With Me. Foi um estouro. Ela era sexy mas agradava crianças, não tinha voz mas tinha carisma e um corpão. Resultado: virou uma das celebridades mais célebres do Brasil. Talvez a mais famosa de toda essa lista de músicas. Talvez mais que Rita Lee - é possível que algum brasileiro saiba quem é Gretchen e não saiba quem é Rita Lee, não é? Escolhi essa música porque no fim ficou a menos conhecida, mas as outras são igualmente incríveis.

#13: Dancing Days (1978) - Frenéticas

Clássicos são clássicos: Leiloca (hoje astróloga dos famosos), Sandra Pêra (a atriz irmã de Marília), Dhu Moraes (até hoje atriz da Globo, antes foi do musical Hair, depois trabalhou muito com Chico Anysio e foi a Tia Nastácia da versão de 2001 de Sítio do Picapau Amarelo), Lidoka (que virou empresária), Regina Chaves (foi casada com Chico Anysio e também trabalhou bastante com ele) e Edyr de Castro (então mulher de Zé Rodrix, também foi do Hair e também era atriz) eram as Frenéticas, maior símbolo da disco music brasileira. Sandra é a chave de tudo - ela que chamou a maioria das integrantes para trabalhar na boate Frenetic Dancing Days por meio do seu então cunhado Nelson Motta. Surgiam as Frenéticas, que eram garçonetes e num certo momento da noite subiam no palco para cantar - o nome vem da boate! Pois é, chora Johnny Rockets. Esse maior hit delas continua sendo música obrigatória em ocasiões tipo festa de formatura, aniversário de quinze anos, festa de casamento…

#14: Não Existe Pecado Ao Sul do Equador (1978) - Ney Matogrosso

Ney Matogrosso transforma a música de Chico Buarque composta em 1973 para o musical Calabar: o Elogio da Traição em uma disco music deliciosa. A peça foi proibida pelo regime militar e só seria liberada 7 anos mais tarde. Mas Chico já tinha gravado a canção no seu álbum de 1973, Chico Canta, que foi megacensurado. Essa versão de Ney, que acabou virando uma versão definitiva, entrou na trilha da novela Pecado Rasgado. O título vem de um trecho da música que surgiu por causa da censura: o verso "Vamos fazer um pecado safado debaixo do meu cobertor” virou “Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor".

#15: Sublime (2018) - Gal Costa

Diva é diva: Gal Costa voltou à disco em pleno 2018. Ela já tinha dado umas misturas de disco music com outras coisas nos seus hits mais dançantes entre o fim dos anos 1970 e começo dos 1980 (será que Balancê é uma marchinha disco?), mas Sublime, que chegou nela como um samba, foi transformado em disco total. E virou uma das minhas músicas preferidas da Gal - o que não é pouco, existem muitas! Hehehehe

Dance como Sônia Braga!

Dance como Sônia Braga!