A relação entre os Zappa e os filmes adolescentes norte-americanos dos anos 1980

Esse título é simplesmente tudo, né?
Pois é. O episódio de podcast do Sessão da Tarde sobre A Garota de Rosa Shocking (1986) entrou no ar e eu até dou uma palhinha sobre o que se trata esse post aqui. É nele que falo sobre a aparição do Dweezil Zappa.

Está com preguiça de ouvir agora? OK, vou te explicar aqui, mas depois me promete que vai ouvir quando tiver tempo, tá?

Molly Ringwald era a it girl dos anos 1980 e não tinha para ninguém (quer dizer, até tinha, para a Demi Moore, mas Molly tinha uma pegada mais "namoradinha da américa"). Durante as filmagens do Clube dos Cinco (1985), a atriz namorou o colega Anthony Michael Hall (falei disso nesse post aqui). Mas na época de A Garota de Rosa Shocking, Michael Hall já era passado e ela estava em outra. Ou melhor, em outro. Ringwald namorava Dweezil Zappa.

ringwald-zappa.jpg

ADORO
UM CASAL

(Sim, você leu certo, tem uma chamada para a deusa Sonia Braga na capa da revista)

E quem era Dweezil? Ele vem a ser o filho de um dos caras mais bacanas da música underground norte-americana: Mr. Frank Zappa.

Simplesmente tudo.

Dweezil Zappa é o segundo filho de 4. Ele era VJ da MTV nos anos 1980. Sim!

Aí parece que ele falou mal da MTV no programa do Howard Stern e foi demitido. Acontece. A principal carreira dele é como guitarrista – teve um single lançado aos 12 aninhos, produzido por ninguém menos que Eddie Van Halen! Abaixo, uma música de Dweezil com vocais da sua irmã mais velha, a Moon Unit Zappa. E olha, Let's Talk About It é bem legal, viu?

Guarda o nome da Moon, ela vai aparecer de novo daqui a pouco nesse post.

Dweezil e Molly pareciam um casal feito para os adolescentes modernos se espelharem. Eles eram o auge do cool.

E eu amo acima de tudo a turma:

Em cima: Molly, Dweezil e Moon Unit. Abaixo, as irmãs Ringwald, o punk Matt Freeman e o cara do franjão eu não consegui identificar

Em cima: Molly, Dweezil e Moon Unit. Abaixo, as irmãs Ringwald, o punk Matt Freeman e o cara do franjão eu não consegui identificar

Molly, Dweezil, Moon Unit e o Donovan Leitch, que vem a ser o filho do Donovan!!! Quenda!

Molly, Dweezil, Moon Unit e o Donovan Leitch, que vem a ser o filho do Donovan!!! Quenda!

Dweezil depois teria uma coleção de namoradas famosas. É sério: ele já namorou Sharon Stone, Sandra Bullock, Jennifer Connelly, a própria Demi Moore, Lisa Loeb… Identificamos um tipo: mulheres que tem fama.

Mas a ligação de Dweezil com os filmes adolescentes norte-americanos dos anos 1980 é Molly? Bom, basicamente é, mas a cena de Garota de Rosa Shocking na qual ele aparece é MARA (corre até os seis minutos):

(Falando nisso: a gente AMA Alexa Kenin. Ela morreu bem nova, com 23 anos, em circunstâncias misteriosas. Quando Garota de Rosa Shocking saiu, ela já tinha morrido.)

Dweezil faz essa ponta como Simon. Quando Andie pergunta: “O que você faria se seu pai fosse rico?”, ele responde “Kiss his ass". Mas sinceramente ele parece mais interessado em ver a banda.

E qual é a outra ligação dos Zappa com filmes adolescentes norte-americanos dos anos 1980?
Prepare-se para ver algo que é MUITO Cansei de Ser Sexy.

UM HIT.

Sim, essa que está "cantando” (ou falando?) é Moon Unit Zappa. E apesar dela parecer muito madura, ela tinha apenas 14 anos. Valley Girl é um dos maiores sucessos de toda a carreira de Frank Zappa, lançada em 1982. A ideia era tirar um sarro do jeito das patricinhas do vale de San Fernando, em Los Angeles. Para isso, diz a lenda que ele acordou Moon no meio da noite, levou-a para um estúdio e ela recriou conversas que tinha com seus amigos usando as gírias, o jeito de falar…
Hoje é provável que o nome da música teria que ser Calabasas Girl ou algo assim…

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Aí procuraram o Zappa para propor uma adaptação cinematográfica da música. Ele não quis. E basicamente eles fizeram mesmo assim. O filme, chamado Valley Girl (em português é Sonhos Rebeldes) saiu em 1983 e traz uma história um pouco parecida com Garota de Rosa Shocking na dinâmica "par romântico de diferentes realidades". Nicolas Cage, bem novo, está no papel de Randy, o galãzinho modernete de Hollywood que conquista o coração de Julie Richman (Deborah Foreman), a patricinha que mora no vale.

Randy & Julie em Valley Girl

Randy & Julie em Valley Girl

Até o sobrenome de Julie é uma piada pronta: Richman?! Os pais de Julie nem são tão ricos assim: ex-hippies, possuem um restaurante de comida natureba. Ou seja: o conflito é mais de bolha e de bairro do que necessariamente de dinheiro e classe social. O jeito deles falarem é diferente, o jeito de se vestirem, os gostos musicais, a ideia de uma noite divertida…

Zappa processou a produção – e perdeu.

Um remake musical de Valley Girl foi realizado. O problema é que um dos seus astros é Logan Paul, o influenciador digital que não consegue parar de ser idiota, fazer absurdos e ser cancelado. Então o filme segue tendo o seu lançamento adiado. A última data era em maio, em forma de lançamento digital, e para te falar a verdade acho que foi lançado sim – mas quem se importa? Logan Paul? Musical? Não, obrigado.

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Pabllo Vittar fez de novo

Saiu o EP 111 1 no dia do aniversário da Pabllo Vittar, 1/11, e ele traz as músicas que a gente já conhece, a ótima Parabéns com o Psirico e a mais OK Flash Pose com Charli XCX, mais outras duas inéditas!

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Ponte Perra é, como muitas das músicas do anterior Não Para Não, uma mistura que usa a estrutura do k-pop, aquele mix de "momentos” mais rápidos, drops e tal, com reggaeton.
Mas o melhor mesmo é Amor de Que, um arrocha arretado, primo das músicas do Aviões do Forró e de Dorgival Dantas. Até o grito “AU!" aparece! Um sax safado, uma guitarrinha delícia. Mas o importante é a letra: enquanto a tendência do forró atual é ser um tanto moralista, defensor da monogamia, detrator da traição e dos "maus costumes", na lógica de Pabllo o legal é deixar tudo bem claro desde o início. O amor dela, meu bem, é amor de quenga. E as outras mentem quando dizem que o amor delas é fiel!

É divertida, de melodia grudenta, vai ser hit, é isso aí.
O último 1 do título do EP quer dizer que ele é uma parte de um todo: a segunda, com 6 músicas, é prometida para 2020. Na coletiva, Pabllo disse que vai chamar Ivete Sangalo para participar dessa segunda leva. Tudo!
Ouça Amor de Que:

ATUALIZAÇÃO DIA 3/11, às 17h20:
Pabllo arrasou no tapete vermelho do EMA, a premiação europeia da MTV, de Rober Dognani!!!
Chique demais:

Adorei! Rober, você arrasa!!!

Rick Astley: muito mais que um meme

Ah, você já viu os memes.

(Sim, ele mesmo tuitou isso)

Mas a verdade é que Rick Astley é muito mais do que o seu hit blockbuster Never Gonna Give You Up.

A dança, os looks (parece J.W. Anderson para Uniqlo, não parece???), o topete (que continua o mesmo, para quem não sabe), os óculos (acho que é um Ray-Ban Wayfarer, confirma, produção?), o microfone (chiquérrimo, vai), os coadjuvantes (todos maravilhosos).

Rick Astley é inglês e mais ou menos fez parte da segunda invasão britânica das paradas norte-americanas. Never Gonna Give You Up ganhou o Brit Award de 1988 de Melhor Single Britânico (yes, that's apparently a thing). Whenever You Need Somebody, outro hitzão, veio na sequência, mas a surpresa que ninguém reparava direito com as músicas dançantes pintou com a versão de Astley para When I Fall in Love, do repertório de ninguém menos que o fodão Nat King Cole em dezembro de 1987, a tempo das compras de Natal.

Astley sabia cantar. Ele era da escola de crooners, com um vozeirão imenso.

Em 1988, outro hit do mesmo álbum: Together Forever, que eu adoro, e que só não alcançou o topo das paradas inglesas porque existiu uma Kylie Minogue no meio do caminho com I Should Be So Lucky.

Astley seria o astro de um disco só? 1989 chegou provando que não com a maravilhosa, intensa, deliciosa Hold Me In Your Arms.
Existia um certo preconceito contra Astley, chamando-o de produto da indústria, pois ele começou com os produtores Mike Stock, Matt Aitken e Pete Waterman - lembra que eu falei do SAW no post da Donna Summer? Bom, Hold Me In Your Arms é uma balada de autoria do próprio Astley. Então não é bem assim, né? E 1991 provaria ainda mais isso: Astley parou de trabalhar com o SAW, abandonou os anos de dance hits e lançou seu álbum Free (hum, pegou essa?) com a música que eu mais amo dele: Cry For Help.

Ao lançar o álbum seguinte, Body and Soul (1993), Astley decidiu se desvencilhar da indústria musical. Simples assim. Entre 1994 e 2000, resolveu se dedicar à família - a filha Emilia nasceu em 1992.

O comeback com a música Sleeping, em 2001, é uma surpresa. Porque é… dance! E fez um sucessinho por causa do remix de Todd Terry, quem diria!

E claro que sua voz continuava mara.

Rolou um Greatest Hits, e depois um álbum chamado Portrait em 2005 no qual ele canta standarts e mostra que sim, é da escola de crooners mesmo. Tem Cry Me A River, Close To You, Somewhere e até Nature Boy, tá, meu bem? Renato Russo amaria (será?).

Aí, entre 2007 e 2008, aconteceu a memetização (como eu falo isso?!) de Never Gonna Give You Up. Nessa esteira, ganhou o EMA (da MTV europeia) de Best Act Ever em 2008. Uau!

Desde então, ele continuou lançando músicas. Sabia? Pois. Tem um álbum de 2016 que, na linha Adele, se chama 50.

E por que estou falando tudo isso agora? Bem, Rick Astley acaba de lançar o álbum The Best of Me nessa semana que passou, e ele conta com, óbvio, as suas melhores músicas. Mas não é apenas uma compilação: no fim, tem algumas regravações de seus sucessos em pegadas diferentes. Gostei porque é bom relembrar que Astley é uma das vozes mais incríveis em atividade hoje, à parte da irresistível Never Gonna Give You Up. Aliás, a versão em piano dela para The Best of Me é bem bonita.
Ouça!

<3

<3

Grunge de luxo - de verdade

Um cardigã de mais de US$ 300.000. Como assim, né? Quem pagaria? Mesmo que fosse da Gucci?
Mas e se eu te dissesse que ele é um cardigã que já foi de Kurt Cobain?

cardiga-kurt-cobain.jpg

Esse aqui

Na cor que alguns fashionistas conhecem como "cinza rato” - kkkkkkkkk

O cardigã vai entrar em leilão nessa sexta-feira, 25/10, pela casa Julien's Auctions, e espera-se que ele alcance esse preço - mas pode até ultrapassá-lo. As pessoas estão chamando-o de cardigã do MTV Unplugged porque é justamente a peça que Cobain usou na gravação do programa do canal.

Mas a verdade é que nos últimos meses de vida (o Unplugged foi gravado em novembro de 1993, Cobain foi encontrado morto em abril de 1994), o vocalista do Nirvana andava com o cardigã para cima e para baixo. O atual dono dele é Garrett Kletjian - que o comprou em outro leilão em 2015. Kletjian alega que sente muita pressão por possuir uma peça tão importante de memorabilia, e por isso quis revendê-la. Eita…
O cardigã não foi lavado depois de Cobain tê-lo usado. That's grunge, baby!

Agora, é certo que essa peça seja cultuada e vendida a esse preço? Não é justamente contra isso que Cobain sempre foi? Courtney Love conta que, quando eles ganharam a mítica coleção de Perry Ellis criada por Marc Jacobs de spring 1993, eles a queimaram toda. Era o mundo do luxo se apropriando de uma estética que, no cerne, simbolizava o contrário disso; o grunge era herdeiro do punk e estava sendo cooptado como ele. Era a roupa de brechó, o sujo, o maldito, o marginalizado… entrando na vitrine da Bloomingdale's.

Jacobs foi despedido da Perry Ellis após o lançamento dessa coleção, que é a mais conhecida e comentada da marca até hoje. Ele seguiu tendo o grunge como um dos nortes de suas criações - está em sua essência até hoje. Recentemente, ele relançou essa coleção pela sua marca homônima em parceria com… a Perry Ellis!

Ele devia comprar esse cardigã.
E talvez queimá-lo. Uma questão de ajuste de contas e respeito à memória.

I need an easy friend

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