Grunge de luxo - de verdade

Um cardigã de mais de US$ 300.000. Como assim, né? Quem pagaria? Mesmo que fosse da Gucci?
Mas e se eu te dissesse que ele é um cardigã que já foi de Kurt Cobain?

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Esse aqui

Na cor que alguns fashionistas conhecem como "cinza rato” - kkkkkkkkk

O cardigã vai entrar em leilão nessa sexta-feira, 25/10, pela casa Julien's Auctions, e espera-se que ele alcance esse preço - mas pode até ultrapassá-lo. As pessoas estão chamando-o de cardigã do MTV Unplugged porque é justamente a peça que Cobain usou na gravação do programa do canal.

Mas a verdade é que nos últimos meses de vida (o Unplugged foi gravado em novembro de 1993, Cobain foi encontrado morto em abril de 1994), o vocalista do Nirvana andava com o cardigã para cima e para baixo. O atual dono dele é Garrett Kletjian - que o comprou em outro leilão em 2015. Kletjian alega que sente muita pressão por possuir uma peça tão importante de memorabilia, e por isso quis revendê-la. Eita…
O cardigã não foi lavado depois de Cobain tê-lo usado. That's grunge, baby!

Agora, é certo que essa peça seja cultuada e vendida a esse preço? Não é justamente contra isso que Cobain sempre foi? Courtney Love conta que, quando eles ganharam a mítica coleção de Perry Ellis criada por Marc Jacobs de spring 1993, eles a queimaram toda. Era o mundo do luxo se apropriando de uma estética que, no cerne, simbolizava o contrário disso; o grunge era herdeiro do punk e estava sendo cooptado como ele. Era a roupa de brechó, o sujo, o maldito, o marginalizado… entrando na vitrine da Bloomingdale's.

Jacobs foi despedido da Perry Ellis após o lançamento dessa coleção, que é a mais conhecida e comentada da marca até hoje. Ele seguiu tendo o grunge como um dos nortes de suas criações - está em sua essência até hoje. Recentemente, ele relançou essa coleção pela sua marca homônima em parceria com… a Perry Ellis!

Ele devia comprar esse cardigã.
E talvez queimá-lo. Uma questão de ajuste de contas e respeito à memória.

I need an easy friend

I need an easy friend

A invasão holandesa de 1970

Existem dois momentos da invasão britânica.
Ah, não, não estou falando de guerra e invasão de território. Estou falando das paradas musicais americanas!

A primeira invasão britânica rolou a partir de 1963 e foi como uma onda. De Beatles a Rolling Stones até Animals, Zombies e Kinks passando por Dusty Springfield e outras mídias como o cinema (com Julie Andrews e 007) e a TV (The Avengers e The Man from U.N.C.L.E.), a moda de Swinging London (Mary Quant, as modelos Twiggy e Jean Shrimpton). O que vinha de lá era cool.
No fim dos anos 1960, a coisa foi se arrefecendo e veio a Guerra do Vietnã.

Aí teve a segunda invasão britânica. Preparada no fim dos anos 1970 por The Police e Dire Straits, ela começaria mesmo a partir de 1982. Human League, Soft Cell, Duran Duran, Billy Idol, Bonnie Tyler, Eurythmics, Culture Club, Wham! e George Michael em carreira solo… Até os filmes bem americanos da década voltados para adolescentes (chamados filmes dos Brat Pack, do qual faziam parte Emilio Estevez, Anthony Michael Hall, Molly Ringwald, Ally Sheedy, Rob Lowe, Andrew McCarty, Judd Nelson e Demi Moore) tiveram músicas inglesas: Don't You (Forget About Me) do Simple Minds para O Clube dos Cinco (1985); St. Elmo's Fire de John Parr para O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas (1985); e Pretty in Pink de Psychedelic Furs para A Garota de Rosa-Shocking (1986).
(Amo os 3!)

Tem quem defenda que ainda houve uma terceira invasão britânica (meio dos anos 1990, com Spice Girls, Oasis, britpop em geral, Robbie Williams, cultura clubber e raver; era o Cool Britannia, que eu vivi alegremente rsrsrsrs). E tem quem defenda, veja só, uma quarta (a invasão do soul britânico a partir do meio dos anos 2000, com Amy Winehouse, Estelle, Joss Stone, Duffy, Adele, Florence Welch, Leona Lewis, Jessie J). Mas essas não chegaram a ser tão impactantes e influentes quanto as primeiras, e não são importantes para o que na verdade eu vim contar.
É que houve uma invasão holandesa que foi eclipsada pelas invasões britânicas porque aconteceu entre elas. E na verdade foi praticamente uma marola.

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A primeira música da invasão holandesa, e a melhor, é Venus do Shocking Blue. E sim, você vai reconhecê-la.

Quem canta é a gloriosa Mariska Veres, vocalista do grupo. Aí você diz: "Ué, mas essa música é do Bananarama!” Pois é, Venus foi regravada pelo Bananarama e também fez parte da… segunda invasão britânica. Mas antes virou febre no começo dos anos 1970, alcançou primeira posição nas paradas de diversos países (Estados Unidos, África do Sul, Austrália, Espanha, Canadá, Bélgica, Suíça). A curiosidade é que na Holanda ela só chegou a 3º lugar (e 2º na parada de singles).
Shocking Blue era uma banda boa de verdade. Um dos fãs era Kurt Cobain - o Nirvana regravou Love Buzz, que é da banda, como primeiro single lançado (em 1988) e a música ainda entrou no primeiro álbum deles (Bleach, em 1989).

Chique, né? E Mariska Veres é musa!

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Isso é o que chamo de

olho maior que a boca

Antes de continuar, é bom salientar que existe um nome por trás da tal invasão holandesa. Jerry Ross, o produtor do megahit Sunny do Bobby Hebb (que muitos anos depois ganharia uma versão cômica de Léo Jaime, Sônia, aquela do “não fica me excitando que eu tô de sunga"), estava fazendo um rolê na Suíça. Um jovem que tinha se mudado da Holanda para Genebra tava lá numa boate e pediu para o DJ tocar um disquinho que ele tinha levado. Ross estava na mesma boate, e na época queria hits europeus para lançar nos EUA pela sua gravadora recém-lançada Colossus Records. O disco era Ma Belle Amie, do Tee-Set.

Ross assinou com Tee-Set e ainda pescou Venus e Little Green Bag do George Baker Selection.
O Tee-Set também era uma boa banda. Seu próximo single, que fez sucesso na Holanda, era She Likes Weeds. Foi censurada nos EUA - I wonder why

Bom, perto de Shocking Blue e Tee-Set, o George Baker Selection é uma bobagem. Mas como tem gente que gosta de bobagem, fica aí o play por sua própria conta e risco:

Todas as 3 músicas alcançaram o top 40 da Billboard. Só que Ross fechou a Colossus em 1971!
E aí, acabou? Mais ou menos. Teve outras!
Em 1972, apareceu How Do You Do? da dupla Mouth & MacNeal. Talvez se tivesse um player no dicionário ao lado do termo hippie, seria isso que você ouviria:

No ano seguinte, 1974, as paradas receberam Hocus Pocus da banda Focus (sim, parece um trava-língua, eu sei). É engraçada, parece uma zoeira com rock progressivo mas na verdade era uma banda muito séria - até demais! kkkkk Mas ouve para você não ver se é engraçada:

Quem fecha a invasão holandesa é a banda Golden Earring com Radar Love em 1974. É engraçado porque se me dissessem que Venus e Radar Love foram compostas pela mesma pessoa (não foram), eu acreditaria. E no visual, Golden Earring está mais para Led Zeppelin do que para Beatles, sem dúvida:

Você conhecia alguma das bandas que apareceram aqui? Pois é! Babado!

E se você chegou até aqui, pode ser que se interesse pela música pop perfeita!