Ela era uma estrela cult e não sabia

Melhor que estar grávida e não saber até ter o filho, né?

Mas de qualquer forma, a história é digna de um programa do TLC.
Sukla Biswas é essa mulher da foto da capa desse disco:

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Essa capa é a típica capa de um disco que eu veria numa feirinha e diria "EU PRECISO TER ESSE DISCOOOO", alguém falaria: "Mas você conhece essa Rupa?” e eu diria "NÃO IMPORTAAAAA!!!"
Acontece que isso seria um pouco complicado pois um vinil original desse custa hoje em dia, sei lá, uns R$ 2.000?

Sukla nasceu em Bengala Ocidental na Índia - seu apelido em casa era Rupa. Ela viajou com a família para o Canadá, se apresentou na casa de um parente e o povo gostou. Aí ela fez um showzinho na University of Calgary, tinha bastante gente na plateia incluindo um ganhador de Grammy, o Aashish Khan, e seu irmão Pranesh. Os irmãos Khan acabaram combinando com o irmão de Rupa, Tilak, que iam gravar um disco com ela. As letras foram feitas pela Firoza, mulher do Aashish, e nessa foto acima foi a primeira vez que ela viu um microfone sem fio e que usou roupas ocidentais.
O disco foi lançado mas, ao que tudo indica, muito mal divulgado. A própria Rupa diz que a canção de Nazia Hassan Aap Jaisa Koi eclipsou as suas. Não faz muito sentido - Aap Jaisa Koi foi lançada em 1980; Disco Jazz saiu em 1982.
Porém precisamos concordar em uma coisa: Aap Jaisa Koi é muito boa mesmo!

Dê o play e tente não dar uma balançadinha!

Alguns anos depois Rupa casou, teve um filho (Debayan) e foi viver a vida.
Em 2012, o filme Miss Lovely usou o álbum Disco Jazz como trilha. Não assisti, mas parece ser babado! No trailer a música não aparece, então vamos ter que acreditar nos relatos do povo.

O mais esquisito: Rupa não tomou conhecimento disso! O filme parece meio artsy mesmo e não deve ter bombado como os mais comerciais de Bollywood.
Aí o filho Debayan buscou o disco online e… descobriu que um monte de gente era fã. Disco Jazz se transformou num cult, e um dos seus maiores entusiastas é o Caribou!

Hoje, que bom, não precisamos ter toda essa grana para ouvir Disco Jazz - ele foi relançado por uma gravadora americana e consequentemente está no Spotify.
E Rupa? Olha ela aí:

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I don’t care about the money. I’m just happy that people like my music. Boys, girls, everyone is dancing so much. That’s what makes me happy.
— Rupa em entrevista para o The Guardian

Amei demais. E se você gostou desse som, talvez também goste de uma das minhas músicas preferidas da vida:

Som na caixa, DJ! Se alguém souber o paradeiro da Brenda, por favor conta, vamos fazer um revival dela também! <3
Long life to disco!

Um filme bom; um título de filme não tão bom

A Imovision me convidou para uma seção especial de A Costureira de Sonhos, filme que chegou a passar na Mostra Internacional no ano passado (e eu não vi) e que estreia no circuito no próximo dia 23/05. O título original do longa é Sir e faz muito mais sentido - é como a personagem principal Ratna (Tillotama Shome) chama o seu patrão Ashwin (Vivek Gomber). Ela é empregada dele em Mumbai e sonha em ser uma estilista. Aí você pensa: ah, por isso o título! Ah, é um filme de moda!

Não, não é um filme de moda. É muito mais sobre o abismo social de uma cidade grande na Índia, sobre a dificuldade que a camada mais pobre tem de ascender socialmente porque essa mobilidade é um tabu cultural. É sobre o preconceito de classe. E é muito mais parecido com Que horas ela volta? (2015) e Roma (2018) que com O Diabo veste Prada (2006) e Trama Fantasma (2017).

Mumbai vista de cima pela protagonista

Mumbai vista de cima pela protagonista

Para explicar melhor a minha opinião sobre o filme, vou ter que usar de spoilers. Portanto, se não quiser spoilers, pare de ler a partir daqui.

ALERTA DE SPOILER * ALERTA DE SPOILER
Não prossiga se não quiser SPOILERSSS

Para começo de conversa, não consegui me convencer que o Ashwin não teve um comportamento abusivo. Desculpa mas #militei mesmo: apesar da construção muito bem orquestrada do crescimento da intimidade entre eles, Ratna deixa claro que um relacionamento seria um problema, que o beijo foi um erro. Ele insiste. Pode ser com a melhor das intenções, pode parecer mais complexo que a situação de assédio entre patrão e empregada que estamos acostumados a ver. Mas por quê? Só porque ele é mais jovem e mais bonitão? A história simplesmente se apresenta, nem acho que ela seja tão romantizada, mas a minha leitura é de abuso sim e acho que para muita gente que for assistir talvez não seja, tipo “torcer para a mocinha ficar com o mocinho”.

Isso não faz com que o filme seja ruim. Aliás, pelo contrário, gosto de filmes que fazem pensar e que não tentam apresentar uma lição de moral. É uma história - mas o que você pensa sobre ela?

Também achei bem interessante as referências culturais no geral que se apresentam ao longo da trama, a diferença entre a vida na vila e a vida na cidade grande, o que esse morar na cidade grande representa de libertador (mas nem tanto).

Vale o ingresso! Confira o trailer abaixo:

Obs.: e a moda mais uma vez é apresentada como um universo que exclui e é esnobe, só para os poucos e bons. Hum… Talvez porque ela seja assim, totalmente fora de moda mesmo. Para pensar…