Buonasera Raffaella Carrà!

Você acha que o penúltimo melhor disco da Madonna é o Confessions on a Dance Floor? E o último melhor é o último mesmo, Madame X? Parabéns, você concorda com 99% dos críticos de música.
Sinceramente acho que o Rebel Heart tinha tudo para ser maravilhoso mas se perdeu na produção. A versão vazada da música que deu título ao álbum, por exemplo, é bem melhor do que a que foi lançada, meio ABBA, pop safado, bem delicioso.
Mas não é por causa disso que estou fazendo esse post, eu queria falar é do Confessions mesmo e da era disco music da Madonna.
A gente sabe que no clipe de Deeper and Deeper ela pensou em Marlene Dietrich em A Vênus Loura, que em Material Girl ela pensou em Marilyn Monroe no número Diamonds are a Girl's Best Friend de Os Homens Preferem as Loiras, Papa Don't Preach tem um arzinho de Jean Seberg em Acossado e Express Yourself tem algo, de novo, da androginia de Marlene Dietrich com o cenário de Metropolis de Fritz Lang.
Mas e Confessions, hein?

"Ah, é meio oitentaaaa… meio vídeo de ginásticaaaa… meio assim disco, né???"

Bom, você já viu o clipe de Rumore de Raffaella Carrà? Tem vários, na verdade, mas é desse aqui que eu tô falando:

Você não conhecia a Raffaella?
Ah, eu sei. Pois é, você acabou de encontrar sua nova música preferida.
Vou te dar um tempinho para você se recuperar.



Algo me diz que Madonna já conhecia Raffaella e a tinha como referência mesmo antes de Confessions. O clipe de Ray of Light tem algo desse clipe de Rumore: o chroma key, a dança meio frenética meio esquisita meio de corpo inteiro.

Mas chega de Madonna.
Raffaella começou sua carreira como atriz. Mas muito cedo também já cantava e dançava na maravilhosa TV italiana - e ficou bem famosa justamente nesse meio. Para quem não tem muita noção de TV italiana, recomendo um dia inteiro de RAI e o filme Ginger & Fred de Federico Fellini, que traz Giulietta Masina e Marcello Mastroianni como um casal que fazia cover de Ginger Rogers e Fred Astaire no passado e vão dançar como eles mais uma vez, já mais velhos, em um programa de TV.

Rumore nem é o maior hit de Raffaella. Ela é mais conhecida por músicas como Tanti Auguri (que eu acho meio farofa demais, então é bom ouvir em pequenas doses) e Far l’Amore (que está na trilha do filme A Grande Beleza de 2013). Inclusive, essa segunda é a única que foi sucesso em inglês - a versão se chama Do It Do It Again. Não chega a ter o charme de Rumore.

Depois do sucesso italiano, Raffaella mudou para Espanha. Também fez sucesso. Aí foi para Buenos Aires. Sucesso de novo. É por isso que ela é bem conhecida na Argentina e na Europa como um todo.
Em 2018, rolou uma exposição sobre os figurinos de Raffaella, colocando-a como ícone de estilo, na Itália. Veja o vídeo da Rai no link.

E uma coisa é inegável: assim como Madonna, Raffaella dança muitoooo!

Bom, se você precisa de mais motivos para gostar de Raffaella, vou enumerar alguns aqui.

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Ela sempre vota no comunista!

Revista Interview, versão espanhola, de 1977, número 55. Ela declara: "Siempre voto comunista". Tá, meu bem? Vermelhou!

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Ela escandalizou o papa antes de Madonna!

A sua dancinha Tuca Tuca, na qual o par fica pegando em partes um do outro (dá uma olhadinha no vídeo abaixo), teria deixado o papa escandalizado em seu lançamento, em 1971. Quem era o papa em 1971? Paulo 6º. Você sabe, na Itália essa coisa de papa é coisa bem séria. Bom, no Brasil também era, né?

Na passagem da turnê MDNA de 2012 por Florença, Madonna, mais uma vez ela, homenageia Carrà fazendo o Tuca Tuca durante o medley de Candy Shop e Erotica.

O babado do cropped

Diz que Raffaella foi a primeira a mostrar o umbiguinho na TV italiana. Não só isso - ela adorava mostrar o umbigo! Cropped para ela era tudo. Várias artistas também curtiam essa coisa da barriga de fora, por exemplo a Cher. Nesse vídeo abaixo tem a artista mostrando o umbigo no Milleluci, programa no qual ela dividia a apresentação com outro ícone: Mina. Existiram rumores de uma possível rivalidade nos bastidores; mas também dizem que Mina quis dar mais espaço para Raffaella. No que acreditar? Sei lá!

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Raffaella e Mina

no programa Milleluci, de 1974

A versão de Roberto e Erasmo Carlos!

Gente!!!

Uma versão de Cama e Mesa em italiano com Raffaella. O que mais queremos?
Sim, queremos mais: Raffaella cantando em português. Música de Jorge Ben, coisas assim.

E mais um vai, dela cantando o mesmo medley com Samba de uma Nota Só em italiano no começo:

Pedro Almodóvar disse que Raffaella Carrà não é uma mulher e sim um estilo

Aguardando ansioso pelo filme, amore!

É muito provável que ela tenha sido a inspiração de várias crianças viadas

Porque, afinal, imagina você criança ligar a TV em 1983 e dar de cara com isso:

A dublagem e a coreô certamente vão acontecer.
Melhor que Xuxa!

Remixadah

Para quem gosta de música eletrônica e remixes, Bob Sinclar fez umas coisinhas com as músicas de Carrà em 2011. Não gosto muito da versão de Far L’Amore, que veio na esteira do filme A Grande Beleza - se for para escolher, prefiro Forte.

Mas a original ainda é melhor, um baladão sexy cheio de climão italiano. Aliás, se alguém quiser me dar esse vinil…

Estou aceitando

Estou aceitando

Ícone gay sim

Raffaella já cantava sobre homossexualidade nos anos 1970. Lucas era o nome dele…

Um velho amigo? Ih, Lucas, onde você se meteu? Nunca vou saber…

Bom, Raffaella acabou coroada rainha do World Pride em Madri em 2017. Depois, declarou em entrevista:

Al recibirlo dije: Viva esta semana con alegría, pero las luchas no han terminado. Todavía hay que ‘hacer mucho fuego’ para romper prejuicios. Tendremos éxito. Mi frase favorita dice: ‘Puedes quitar todas las flores, pero no puedes quitar la primavera’
— Raffaella Carrà

Masturbação feminina

Antes de I Touch Myself de Divinyls; de Sexxx Dreams de Lady Gaga; de She Bop de Cyndi Lauper.
Ouve direitinho antes de achar que é uma mulher desesperada no telefone…
"Mi dedo está enrojecido de tanto marcar, se mueve solo, sobre mi cuerpo, y marca sin parar: 5-3 /5-3/ 4-5-6. Ya no vengas, que aquí no hay nada que hacer. Sin ti aprendí que hay muchas formas de poder vivir"

Rainha modesta

Veo a Madonna o a Lady Gaga y muchas veces me reconozco en ellas. La que me gusta mucho es Shakira. Me vuelve loca. Yo comencé antes, pero tengo más años y soy menos atrevida.
— Raffaella Carrá para a Vanity Fair espanhola

Essa entrevista é mara, aliás.

Para terminar, um vídeo de Raffaella… e Madonna.

É loucura minha ou a poderosa Madonna está ligeiramente nervosa?
Pode ser só viagem… mas sei lá…
Arrivederci!

Teve uma novela antes de Sol Nascente que contou com uma oriental no papel principal!

Giovanna Antonelli é tipo a Scarlett Johansson brasileira: já interpretou muçulmana, nordestina e até uma nissei mestiça em Sol Nascente, a polêmica novela das seis de 2017 que trazia histórias de imigrantes japoneses no Brasil. Só que antes, bem antes de Sol Nascente, já existiu uma novela protagonizada por uma nikkei de verdade (nascida no Brasil mas de pais japoneses), e que tocava o dedo em uma ferida que até hoje existe mas que antes era mais aberta: o relacionamento interracial entre japoneses e brasileiros.

Bom, eu acho que tenho experiência no assunto, sendo eu mesmo um mestiço, né? Papai casou com uma loira (com a ajuda de blondor, verdade, mas loira), e foi o único entre seus irmãos a casar com alguém que não era da colônia. Para falar bem a verdade, ele não gostava muito dos japoneses - quase tudo que sei sobre a cultura japonesa corri atrás por mim mesmo, um interesse bem pessoal que compartilho com a minha irmã mais velha. Papai inclusive achava esquisito: "Mas por que você quer ir para o Japão? Engraçado, você acha que isso é realmente importante.” Ele me deu um dinheiro extra na primeira viagem que fiz para lá e achei que ele estava sensibilizado. Perguntei: "Você gostaria de voltar, pai?” porque ele foi a trabalho, uma vez, acho que na década de 1970. Ele disse: “Eu, hein. Tem muito japonês lá.” Hahahahaha!
Mas também lembro de gente falando para minha irmã quando ela arrumava um namorado novo ou estava de paquera: "Mas é gaijin?” Papai ficava exaurido quando ouvia a colônia chamar brasileiro de gaijin - significa estrangeiro, e tecnicamente os japoneses é que são estrangeiros no Brasil, né? Acabou virando um sinônimo de ocidental. Minha irmã sempre estava namorando um gaijin. Conviver com a colônia nunca foi nosso forte, mesmo, mas o mais bizarro é que sempre acabei fazendo amizade entre descendentes de orientais na escola e na faculdade! Genes se atraem?!

Voltando à novela: Yoshico, um Poema de Amor foi ao ar na TV Tupi em 1967 e se passava no Japão mas foi gravada em estúdio. Era a história de um jovem rico, Luis Paulo, interpretado por Luis Gustavo um pouco antes do marco da TV brasileira Beto Rockfeller, novela considerada a responsável pela linguagem moderna a que estamos acostumados hoje, com pegada mais contemporânea e realista. Luis Paulo viajava para o Japão a trabalho e conhecia Yoshico. Adivinha? Se apaixonava. A protagonista foi interpretada por alguém que já era um tanto famosa, especialmente na colônia japonesa de São Paulo, e que viria ser uma espécie de Sabrina Sato da época no sentido de ser uma "oriental referência" em um showbusiness carente de figuras de ascendência japonesa. Rosa Miyake, você lembra?

Rosa era a apresentadora de Imagens do Japão, um dos programas mais longevos da TV brasileira. Ela passou mais de 30 anos apresentando o programa, acredita?

Na novela, para reforçar a imagem mais recatada das japonesas (elas em geral são mesmo mais tímidas e reservadas), só teve beijo no capítulo final. Não existem imagens - um incêndio em 1972 sumiu com grande parte do acervo da emissora, incluindo Yoshico.

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Mas existe foto!

Aqui, Rosa com o figurino de Yoshico

Descobri tudo isso na biografia sobre Rosa Miyake da editora Contexto, escrita por Ricardo Taira e chamada Rosa da Liberdade. Tem várias outras histórias interessantes por lá, como a curta participação dela no programa Jovem Guarda (!!!). Rosa começou a carreira como cantora e tinha uma relação forte com o estilo enka. Mas visualmente, tinha apelo fashion e lembra muito as idols da era Showa!

Disco de 1968, um ano depois da novela

Disco de 1968, um ano depois da novela

Na minha cabeça o Imagens do Japão e o Japan Pop Show se misturam - mas acho que o Japan Pop Show era mais moderninho. Olha a abertura dos dois:

Rosa se aposentou da vida artística. E não casou com um gaijin: Mario Okuhara, um dos homens que deu espaço para ela em sua rádio Santo Amaro, foi o seu marido.

Essa fixação pelos anos 1980 nunca vai acabar?

Meu palpite: acho que não.
Mas vai que cansa, né? Tem tudo para cansar. Era uma vez uma poderosa empresa de audiovisual em streaming que decidiu checar seus algoritmos com dados que tinha acumulado por tanto tempo para produzir uma série e lançá-la em 2016. E assim nasceu Stranger Things e materializou-se a nostalgia e a memória afetiva (olha ela aí de novo) como uma certeza de sucesso.

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Stranger Things começou ambientada em 1983 e vai avançando ao longo da década - a 3ª temporada está em 1985.

Dali para frente, surgiu tanta coisa com esse ar de naftalina e de tantos perfis que quase enjoa - mas digo quase porque na verdade gosto, hehehe. Pense em Pose, que se passa em 1987-88; na novela Verão 90 que começa nos anos 1980 e vai para os 1990; em Jogador Nº1 que é mergulhado em nostalgia oitentista apesar de se passar em 2045; na série Glow com uma história ficcionalizada da luta livre feminina dos EUA que virou febre da TV de lá dos anos 1980. E eu não lembro ao certo se veio antes ou depois, mas X-Men: Apocalipse é de 2016 e se passa nos anos 1980! O episódio San Junipero de Black Mirror, total oitentista e considerado por muitos o preferido da série, saiu um pouco depois de Stranger Things.

San Junipero ganhou um séquito de fãs - tem um monte de fan art, e várias têm uma pegada vaporwave

San Junipero ganhou um séquito de fãs - tem um monte de fan art, e várias têm uma pegada vaporwave

A febre não dá sinais de arrefecer. Tem pelo menos 3 coisinhas para sair fora a 4ª temporada de Stranger Things que, dizem, pode ser a última. Aliás, você gostou da 3ª temporada? Eu adorei! A gente adora uma história de adolescente em shoppings, e se tiver monstro e hospedeiros, melhor ainda!
Mas vamos às coisas:

American Horror Story: 1984

Depois de uma temporada um tanto quanto inconsistente que parecia mais preocupada com o fan service do que em contar uma história realmente boa, Ryan Murphy volta com 1984 e ao que tudo indica as coisas vão mudar bastante. Apesar de alguns membros recorrentes no elenco como Emma Roberts, Cody Fern (um dos nossos fashion guys favoritos do momento), Billie Lourd e Leslie Grossman, Evan Peters está de fora (para cuidar da sua saúde mental) e a participação de Sarah Paulson pode estar reduzida a uma ponta. But it ain't AHS without them! E agora?

197.7k Likes, 16.2k Comments - Ryan Murphy (@mrrpmurphy) on Instagram: "To celebrate the first day of filming the NINTH Season of AMERICAN HORROR STORY, here's the..."

Ninguém disse concretamente, mas o material divulgado até agora leva a crer que a história vai ser inspirada nos filmes slasher da virada dos anos 1970 para 1980. Halloween foi lançado em 1978, Sexta-Feira 13 em 1980 e finalmente A Hora do Pesadelo em 1984.

Porém, uma teoria dos fãs acha outra coisa: AHS: 1984 seria algo parecido com a temporada Roanoke, trazendo uma filmagem ou refilmagem de um filme slasher com esse tom de nostalgia mas nos dias de hoje. E os assassinatos vão começar a acontecer também no set. Será?
Outra teoria ainda acrescenta que a ponta de Sarah Paulson será como Lana Winters, uma de suas personagens mais recorrentes no universo AHS. Ou ela entrevistaria os sobreviventes, como fez em Roanoke, ou a filmagem seria de uma adaptação de um livro dela. Eita!

Ah, Angelica Ross, a Candy de Pose, vai fazer uma personagem. Isso significa que ela é a primeira atriz trans a fazer parte do elenco fixo de duas séries na TV americana!

E esse preview, a gente tem que comentar… Focar no pênis dentro do short de Matthew Morrison é meio estranho, uma vez que a gente lembra dele como o professor do coral de Glee, né? Risos.

American Horror Story: 1984 estreia em setembro lá nos EUA.

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De uma coisa a gente sabe

Vai ter sangue!!!

Verão de 84

Um grupo de jovens desconfia que o vizinho é um serial killer. Tudo isso acontece, claro, no verão de 1984 como o próprio título diz. Esse filme de François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell chega aos cinemas brasileiros em 29/08.

Bom, se você quer uma mistura de Stranger Things com os filmes slasher, me parece que isso é o mais perto que você vai chegar.

Não parece?

Não parece?

Mestres do Universo

Sim, você leu certo: vai ter remake do He-man, sabe-se lá o porquê. E com Noah Centineo, o queridinho da Netflix - Noah, não tens medo de afundar sua carreira?
Para você saber: já existiu um filme Mestres do Universo em 1987, estrelado por Dolph Lundgren. É horrendo.

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Quenda

Hihihihihihihi

A Mattel deve estar de olho nessa nostalgia toda porque decidiu relançar o He-man. O relançamento está marcado para a segunda metade de 2020, o que o deixa mais perto do lançamento desse novo filme, em 2021.

Como disse o meu primo Hugo MarsBrinquiglia, que guardou toda a sua coleção de Grayskull até hoje conservadíssima, quando eu mostrei a nova versão para ele: “O cabelinho desse He-man novo está meio esquisito, né?"
Eu digo "blondor errado"… Risos.

Quem ficou curioso para saber a origem do He-man e tudo e tal, recomendo o episódio dedicado a ele da série Brinquedos que Marcam Época da Netflix.

Mas por que os anos 1980?!

Boa pergunta. A década escapista não foi muito legal no Brasil nem no mundo, só que também marcou uma certa diversão nas roupas, nos móveis (o movimento Memphis, que já falei aqui). Era também o momento em que olharam para os adolescentes como um público potencial no cinema: John Hughes, os filmes de terror que já citei, e no Brasil teve Lael Rodrigues com Rock Estrela (1986), Bete Balanço (1984), Rádio Pirata (1987) e Antônio Calmon com Menino do Rio (1982) e Garota Dourada (1984). E as novelas? Guerra dos Sexos, Vereda Tropical, A Gata Comeu, Ti-Ti-Ti, Cambalacho, Sassaricando, Top Model… E TV Pirata, né? E Armação Ilimitada, né?! Uma série maravilhosa, quem não viu não viveu. Moral da história: na ficção os anos 1980 eram mesmo ótimos. Então deve ser isso…

Só de ouvir a música de abertura dá aquela aquecidinha no coração.
Ah, não incluí a sequência de Top Gun por motivos de "dá um tempo", né? E ela se passa nos dias de hoje. Espero que pelo menos eles tenham a decência de chamar a Ariana Grande para fazer uma nova versão de Take my Breath Away.

A maior it girl que o Brasil já conheceu: Lídia Brondi

Tem uma famosa brasileira pela qual sou completamente fissurado - cheguei a citá-la no post sobre Confissões de Adolescente, lembra? É uma mistura de carisma, de interrupção e mistério no auge, da relação entre a fama e a saúde mental, de talento e beleza que são raros de se ver. E conta vários pontos o fato de que a achava estilosérrima, muito cool, a precursora de outras atrizes chiquérrimas como Malu Mader, Claudia Abreu e Andréa Beltrão.
Lídia Brondi tinha até um nome diferentão. Ela era o máximo!

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Lídia nasceu em Campinas e cresceu em Ribeirão Preto. É filha de um professor de sociologia que também é pastor protestante, Jonas Resende, e que gostava de teatro mas nunca se profissionalizou na área. Aos 9 anos mudou pro Rio; aos 14 fez um teste no programa Márcia e Seus Problemas e passou. Aí Boni a procurou para estrear em O Grito (1975), já na Globo, como filha do personagem de Walmor Chagas.

O cabelo, o look: nasce uma estrela. Lídia Brondi como Estela em O Grito (1975)

O cabelo, o look: nasce uma estrela. Lídia Brondi como Estela em O Grito (1975)

Desde o começo, a relação com a fama parece que era meio complicada. Aos 18, na revista Love Story, ela explicava que “o negócio é não deixar o sucesso subir à cabeça, senão eu perco a minha individualidade e passo a ser uma coisa, uma imagem fabricada pela TV.” Aos 17, na Sétimo Céu, ela dizia: “Muitas vezes a gente quer ficar sozinha, e não pode."

Em Dancin’ Days (1978), Lídia recusou o papel de filha de Sonia Braga, que acabou com Gloria Pires. Ela se achava meio velha pro papel, e acabou em outro, interpretando Vera Lúcia. Olha um trecho:

Agora um apanhado de coisas que Lídia já fez na TV, cinema e teatro:

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A Ilha das Cabras (1979)

Especial da série Aplauso, inspirado na peça homônima de Hugo Betti

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Os Gigantes (1979)

Lídia faz o papel da veterinária Renata - aqui com Tarcísio Meira, seu interesse amoroso na novela

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Baila Comigo (1981)

A personagem Mira

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Beijo no Asfalto (1981)

No papel de Dália, que é apaixonada pelo cunhado. Não foi a única vez que ela fez uma personagem rodrigueana. Também teve…

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Perdoa-me por me traíres (1980)

Ela fez Glorinha, personagem que só ajuda a reforçar sua imagem de ninfeta

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O Colecionador (1983)

Peça na qual contracenou com Ewerton de Castro

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Corpo Santo (1987)

No papel da repórter policial Bárbara, uma incursão na Manchete

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Rádio Pirata (1987)

Um filme deliciosamente jovem precursor de iCarly. Brincadeira, mas quem nunca sonhou em ter uma rádio pirata? Aqui, os motivos são para mobilizar a opinião pública, o que deixa tudo mais, er… sério?

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Final Feliz (1982)

Natália do Vale com Lídia em cena

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Espelho Mágico (1977)

Tony Ramos com Lídia

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Transas e Caretas (1984)

Lídia sairia no meio da trama pois ficou grávida da filha Isadora com o seu então marido na época, o diretor Ricardo Waddington

Aliás, a título de curiosidade: Isadora Frost hoje é artista visual. Olha o Instagram dela!

As minhas maiores lembranças de Lídia Brondi são das últimas novelas que ela fez. Confere aí - Roque Santeiro (1985):

Vale Tudo (1988): a cena mais inesquecível, de Solange com Maria de Fátima, o melhor cabelo, o melhor texto. Maravilhosa. Solange, para quem não lembra, trabalhava como produtora de moda. Tá, meu bem?

ATUALIZAÇÃO: a minha irmã Ana Flavia me lembrou que ela chamava as pessoas de cherrie e isso virou moda, era o more da época! Tá, cherrie? Bring cherrie back!

E mais um tapa, dessa vez de Tieta em Leonora em Tieta (1989):

E a última novela que ela fez, Meu Bem Meu Mal (1990), com esse cabelo incrível que, confesso, já fiz igual.

E aí surgiu a notícia: Lídia foi uma das primeiras famosas que teve a sua condição de sofrer de síndrome do pânico exposta em público. Esse foi o motivo apontado do seu afastamento do mundo das celebridades. Ela negou. Segundo a própria, simplesmente quis abandonar a carreira artística após uma última peça de teatro, Parsifal (1992), e se dedicar a ser psicóloga. A galera ficou doida, claro: como uma atriz tão famosa pode querer deixar isso para trás? Pois é, ela quis. E continuou casada com Cássio Gabus Mendes, que não deixou de ser ator.

Será que ela se arrepende hoje? Espero que não. Acho maravilhosamente punk essa coisa dela ter deixado a carreira no auge, com um gosto de “tudo é possível". Ao mesmo tempo, o que Lídia poderia ter feito se tivesse continuado? Quais papéis seriam dela?

Termino esse post com essa sequência de capas de revista, que é um outro lugar que me lembro de ver Lídia com frequência.