Indignadíssimo com a Pantone

“Ah, é tudo golpe de marketing para vender mais e vocês acreditam…"

CLARO que é golpe de marketing, como é que uma empresa descobre uma cor do ano antes do ano terminar? É tipo crítico de música que descobre a música do ano em janeiro (ou seja, quase todos).
Só que o foda é que a Pantone tem bastante alcance. Então o que ela diz às vezes (e são muitas vezes) pega mesmo.

Mas o que me indigna é que a cor do ano é… azul.

AZUL.
Simples assim.
E eles ainda tem a PACHORRA de chamar de “azul clássico".
Porque obviamente existem azuis que não são clássicos.
"Que azul é esse? É o ciano? É o marinho? É o royal? É o calcinha? É o índigo?"
"É o clássico."
É como se fosse o azul clássico de cada um. Se o azul clássico seu for o azul fusquinha, bom, as pessoas vão ter que respeitar. Seu azul suas regras.

Tudo azul quando um brasileiro diz é porque está tudo bem. Provavelmente as contas estão em dia, o que no caso do brasileiro médio é um milagre.
Tudo blue já não é mais tudo azul, os blues são tristes, melancólicos, o mais próximo da melancolia portuguesa herdada por nós que os anglófonos podem chegar.

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O azul tem no mar, o azul tem no céu, o azul é padrãozinho, quase opressor, onipresente, mas dizem que acalma.
É uma cor fria.
Hoje é uma cor masculina, para os caretas que acreditam que cor tem gênero.

Mas a minha revolta é que eu amo usar roupa azul e agora todo mundo vai ficar azul e eu vou me sentir meio banalizado enquanto indivíduo.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Mentira, minha revolta é porque achei preguiçoso, sem imaginação da parte da Pantone. É jogo ganho. Toda loja tem bolsa azul, roupa azul, móvel azul. É muito fácil provar que azul é a cor do ano, é só entrar em qualquer loja e dizer "viu? tá aí, olha essa loja, olha como ela já sacou o azul!"
E já tem até aquela manchete pronta, aquela manchete bem sacada: AZUL É A COR MAIS QUENTE.
Valha-me!

Nova teoria da conspiração: a Tim pagou a Pantone para tentar recuperar os clientes que perdeu para a Claro

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Para Very Important People: Balenciaga

Parece que o fim da era Demna Gvasalia na Vetements se deu porque ele queria caprichar ainda mais na Balenciaga, seu atual (e agora único) emprego. No spring 2020 em Paris, o desfile da maison francesa mexe no vespeiro, a começar pelos primeiros looks com alfaiataria escura e um certo tom de… como dizer… assalariado? “Nasci branco e com a vida ganha"? O estilista deixa claro seu tema político quando ambienta a sala de desfile como uma assembleia.

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Esse é o primeiro look

Com direito a crachá (CLT é um luxo; a Balenciaga já tinha incluído esse crachá no seu styling antes), logo que lembra a Mastercard, a palavra VIP impressa no crachá e uma modelagem mais solta. O sapato tem bico quadradão - aliás, o look em si é quadradão, né?

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Olha o logo de pertinho

Certas coisas o dinheiro não compra. O meu dinheiro certamente não compra Balenciaga, garanto!

E na sequência derivada desse look, chama a atenção a maioria de cabelos grisalhos e de pele branca - exceto um modelo, negro e que parece mais jovem, notadamente com a versão de manga curta do paletó. O poder está nas mãos de quem? De uma maioria velha e branca, vamos falar em português bem claro. E nem estou falando só de idade: de cabeça também.

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Born this way

Algumas modelos ganham esse rosto anguloso tipo Lady Gaga. Esse é um dos vestidos com cara de alfaiataria, de "roupa de escritório” só que muito chique. Também tem um clima de uniforme, de formalidade: linhas retas e amplas, ombreiras

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Pendura a minha conta - na orelha!

O cartão de crédito não é mais uma navalha e sim um brinco

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Oversize demais

Um ternão - a calça precisa ficar cintura alta para não arrastar!

Também pintam estampas interessantes: uma traz logos inspirados em veículos jornalísticos; outras valorizam elementos da própria Balenciaga, como acessórios e frascos do perfume Le Dix.

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Tô plissada

Várias peças de alfaiataria chegam com esses amassados horizontais, quase uns plissadões. A calça jeans também é maxibaggy; e repara no mullet (!) e no brinco de navalha (!!), só porque eu fiz a brincadeira com a música Brasil e o cartão de crédito!

Conjuntinhos: de couro, de jeans, de jogging. Mas combinando em cima e embaixo. Usar couro da cabeça aos pés em 2020? Não sei se é couro fake.

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Olha quem veio para a festa

Tem outras versões de cor. Mais uma vez a ironia bomba quando, em uma coleção tão adulta e séria, Gvasalia encaixa uma Hello Kitty gigante!

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Novo Matrix

O verde claro da vez (neo mint, segundo a Pantone) e os brincos de golfinho (boto rosa??)

Blusa mamãe-eu-sou-fortinho (só de falar isso já me dá arrepio). Odiei. Mas enfim, a Balenciaga não está aqui para me agradar. Sexo, permitido só para maiores, e se não aguenta pede H2O. Com esses símbolos de "só alguns podem” (o VIP do primeiro look, o +18 desse), Gvasalia vai falando sobre jogos de privilégio e poder em forma de imagens.

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E aí o ombro cresce mais…

Look de pois e olha a meiaaaa

E aí, meu bem, olha o que acontece com o ombroooo!

Aí teve esse look que eu adorei, de oncinha. Repara que a meia na verdade não cobre o tornozelo:

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A camisa também amassou

E a gargantilha de corrente de bicicleta? Fiquei me perguntando o que é esse negocinho com espinhos de plástico - será que é um massageador? kkkk

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Sereia gótica

Brinco de concha neon e veludo molhado coladinho, bem mudérna!

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Musa!!!

Nadja Auermann, modelo incrível, figurinha fácil na passarela da Mugler na virada dos anos 1980 para os 1990. Belíssima!

E o desfile termina com uma sequência de vestidões absurdinha - se você tira a crinolina, Gvasalia garante que super dá para usar no dia-a-dia:

O novo power suit? Parece retrô. E parece atual. Acima de tudo, me parece mais relevante que a maioria das coisas apresentadas em Paris nessa temporada.