Existe licenciamento tosco - e existe a linha do Jotalhão para a Tok&Stok <3

Não consegui resistir, me derreti inteirinho.
Olha isso aquiiiii:

Sim, mais uma vez ela: a nostalgia. Para quem não reconheceu porque talvez não tenha idade ou refs adultas de prateleiras de supermercado, o extrato de tomate Elefante existe desde os anos 1940. Ele originalmente era da Cica e trazia um desenho mais realista de elefante na embalagem porque, dizem, o filho do fundador da empresa Rodolfo "Rudi" Bonfiglioli era caçador de elefante - eu, hein! O Jotalhão, por sua vez, foi criado pelo Maurício de Souza para uma campanha do Jornal do Brasil (acho que por isso o Jota) que acabou não indo para frente. Aí rolou esse casamento do Jotalhão com o extrato de tomate um tempo depois, em 1979.

Ainda hoje (em embalagem mais moderna) o extrato de tomate com a imagem do Jotalhão é vendido, agora produzido pela Cargill.

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Preferia a embalagem original

Mas é uma graça mesmo assim, né? Eu não resistiria

Essa história do licenciamento com a Cica é contada pelo próprio Maurício na sua autobiografia Maurício: A História que Não Está no Gibi. Claro que é a versão dele, bem oficialesca, mas o desenhista diz que no começo o acordo não tinha participação de venda e o produto estourou. Eu não era nascido, mas consultei os universitários (ou seja, minha irmã Ana Flavia) e esse copinho da propaganda acima virou febre, todo mundo tinha. Com um volume de vendas bem maior, hoje deve ter existir um outro acordo entre Maurício e empresa, né? Eu não cobraria pouco da Cargill, não… E dá para reparar na clássica assinatura dele na embalagem, de lado.

Acho tacada de mestre essa coleção de homewear da Tok&Stok mirar na memória afetiva: o extrato continua sendo um sucesso, mesmo com embalagem renovada, e tem um super recall. Você bate o olho no pratinho e pensa “o extrato de tomate do elefanteeee!". Muito amor. E acho que a indústria alimentícia tá comendo bola: podia lançar um monte de legume enlatado com o resto da Turma da Mata.

Um detalhe: onde a gente via o logo da Cica agora aparece uma data: 1969 é o ano de criação do Jotalhão para a tal campanha do Jornal do Brasil.

Quem quiser comprar a linha do Jotalhão tem no site da Tok&Stok.
E o extrato tem no supermercado mais próximo kkkk

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. O exótico mundo dos mascotes do Japão

Sabe quem está voltando? Ele mesmo, o nunca aposentado Hayao Miyazaki

Tal qual um brasileiro, Hayao Miyazaki, o diretor por trás de pérolas como Viagem de Chihiro e Meu Amigo Totoro, já tinha dito que ia se aposentar depois de Vidas ao Vento (2013). Mas ele não sossega: uma das maiores referências do anime, Miyazaki acabou de fazer 79 anos no último dia 5/01 e prepara Kimi-tachi wa Dō Ikiru ka, uma história sobre um rapaz de 15 anos que vai morar com o tio pois o pai morreu. O rapaz tem que enfrentar bullying e pobreza. Preparem os lenços!

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Essa é uma das capas do livro que inspira o filme

Um clássico da literatura infanto-juvenil japonesa, Kimi-tachi wa Dō Ikiru ka foi lançado em 1937 por Yoshino Genzaburo e na verdade "começado” por Yuzo Yamamoto - o segundo começou a publicá-lo de forma serial e não conseguiu completar o trabalho por causa de uma doença

O que, você nunca chorou assistindo um anime? Bom, começando pelo próprio Viagem de Chihiro - me poupe. Caso você queira passar pela experiência, vou enumerar alguns filmes, focando só nas produções do Studio Ghibli de Miyazaki (e não só nas dirigidas por ele), para você passar pela experiência. Vamos lá:

Isao Takahata

Só esse cara fez dois dos filmes mais emocionantes que já vi - e os dois são animes. O primeiro é uma das coisas mais tristes que existem, Túmulo dos Vagalumes (1988).

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Ele acompanha a história de um menino e sua irmãzinha no Japão durante a 2ª Guerra Mundial.
Lembro-me de maneira um tanto vaga que eu simplesmente não consegui assistir inteiro porque era insuportavelmente triste, e depois acabei vendo o resto.

O outro talvez não seja emocionante para todo mundo mas quando assisti me tocou de uma forma babadeira. Memórias de Ontem (1991) traz Taeko, uma mulher de 27 anos que se vê indo para o interior e está pensando na vida - só que para entender qual caminho tomar, ela vai revivendo momentos da sua infância.
Sério. Você precisa ver isso. Melhor que muito drama de Hollywood de hoje. Já falei sobre ele antes aqui no blog.

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Ondas do Oceano (1993)

Até onde eu sei, Ondas do Oceano foi produzido na verdade para a TV. Mas o resultado do diretor Tomomi Mochizuki ficou bom o bastante para o povo tratar como uma das obras grandes do Studio Ghibli. Na minha opinião, é um intermediário: uma romcom interessante, mas esquecível. Dá para dar uma minichoradinha, e quem gostou do megahit Your Name (2016) talvez curta.

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Sussuros no Coração (1995)

É um "filme de menina", assim como o anterior. Mas ao mesmo tempo essa romcom tem gato mágico (!!), fãs de livros e me fez nunca mais esquecer Take me Home, Country Roads - isso mesmo, a música country de John Denver! "Que que tem a ver?”, você me pergunta. Bem, assista ao filme!

<3 <3 <3
A menina Shizuku adora livros e de repente repara que tem um rapaz que leu todos os livros que ela pega na biblioteca antes dela.
Ah, e aí tem um gatinho maravilhoso gordinho nesse meio tempo.

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Esse longa também guarda uma história triste: Yoshifumi Kondo, o diretor, morreu por causa de um aneurisma em 1998 aos 47 anos. Esse acabou sendo o único filme que ele deixou.

Em 2002, apareceu O Reino dos Gatos, uma espécie de spin-off de Sussuros no Coração porque o gato Barão e o Muta (que é o gordinho) reaparecem. Não acho tão bom mas uma vez que amei o primeiro, serve para me acalmar ao saber que Kondo não vai mais nos dar filmes :( O Reino dos Gatos é dirigido por Hiroyuki Morita, e é mais fantasioso e infantil.

Da Colina Kokuriko (2011)

De pai para filho: esse é um dos filmes que o filho de Miyazaki, Goro Miyazaki, dirigiu. Dizem que ele nunca quis seguir a carreira do pai para evitar comparações mas foi inevitável: depois de cuidar do projeto de construção do museu do Studio Ghibli em Mitaka, bairro de Tóquio, ele acabou se rendendo.

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Esse é o segundo filme de Goro e se passa em Yokohama, que fica pertinho de Tóquio, às vésperas das Olimpíadas de 1964. Yokohama é cidade portuária e a protagonista, Umi, que perdeu o pai na Guerra da Coreia, se vê às voltas com um novo rapaz, Shun, o seu próprio passado e o destino do Quartier Latin, o antigo prédio de clubes da escola. Não dá para a gente reescrever o passado, mas é possível descobrir mais sobre ele?

Muito bonito. Dei uma chorada leve.

Vidas ao Vento (2013)

Um caso à parte: o último filme lançado com direção de Hayao Miyazaki é baseado numa história real. A de Jiro Horikoshi, o homem que desenhou aviões que o Japão usou na 2ª Guerra.

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Mesmo com esse subtexto bélico, Miyazaki, que é conhecido por ser pacifista e ambientalista, explora mais o lado do sonho de Horikoshi, com um resultado de complexa beleza. Não ganhou o Oscar de Melhor Animação, foi só indicado - e se não fosse uma animação, talvez seria mais conhecido e celebrado.

E tenho um carinho especial por ele, pois é o filme que me apresentou Yumi Arai e uma das minhas músicas preferidas do mundo, Hikouki Gumo. Por causa dele, essa música lançada em 1973 ganhou uma nova vida e virou um sucesso no Japão.

E que mais?

Fora do Studio Ghibli, tem o Your Name que eu já citei, né? Não me cancelem por favor mas acho uma bomba radioativa: cheio de clichês, com um ritmo esquisito (parece vários episódios de uma série unidos, com um monte de reviravolta que não dá nem para curtir por causa do tempo curto entre elas), é tipo Se Eu Fosse Você versão adolescente. Mas Your Name é recordista de bilheteria, um estouro - portanto minha opinião não é exatamente a mais popular...

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Dá uma olhada na Netflix se você não conhece e se interessou porque tem lá. E para quem gosta de Your Name, a boa notícia é que Makoto Shinkai, o diretor e roteirista, está para lançar um novo anime. Tenki No Ko já estreou no Japão e foi um hit (ah, jura?) e chega nos EUA ainda esse mês com o nome Weathering With You. O protagonista, que fugiu de casa, encontra uma menina que parece controlar o tempo tipo Tempestade dos X-Men.

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Banana Fish é um anime LGBTQ sem pegação, é TUDO e tem em streaming

O nome não é estranho? Bom, Banana Fish também está no título de um conto superfamoso da literatura norte-americana, e de um dos meus autores preferidos. Um Dia Ideal para os Peixes-Banana é um conto de J. D. Salinger que faz parte da coletânea Nove Estórias e traz um dos personagens da família Glass, Seymour Glass (a família Glass aparece em grande parte das obras de Salinger). A boa notícia é que Um Dia Ideal para os Peixes-Banana está disponível online no site da revista Bula - leia, mas com cautela, é um conto aparentemente simples mas trata-se de uma armadilha. E é bom ler já antes de continuar, porque mais para frente vou dar spoilers dele, OK?

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Na verdade recomendo que você leia o livro inteiro

Essa é a mais nova edição - o Estórias virou Histórias

O conto saiu pela primeira vez na revista New Yorker em 1948. O trauma pós-guerra e decorrentes problemas na saúde mental são retratados na figura de Seymour. Salinger aproveita as figuras recorrentes em seu trabalho da família Glass para mostrar a complexidade do ser humano e as decorrências de fatos contemporâneos nas nossas vidas. Ele também é autor do profundo e emblemático O Apanhador no Campo de Centeio - se você não leu, recomendo parar tudo o que está fazendo. Alguns dirão que é uma obra voltada para adolescentes, mas não espere por Jogos Vorazes. O negócio é tenso e mexe com a gente. Já ouvi falar que é um dos livros preferidos do Washington Olivetto - ele tem um monte de cópia extra e dá para as pessoas, tipo evangelizando a palavra de Salinger para o povo!

E Banana Fish, o anime, também mexe com a gente.

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O anime é inspirado num mangá de mesmo nome que, disfarçadamente, foi direcionado para garotas. Não sei se você sabe mas mangás no Japão são bem divididos e segmentados em revistas que tem público cativo: o dos meninos, a das meninas etc.
Entre essas histórias para as meninas, é comum que existam as de estilo yaoi. Elas trazem casais de meninos gays com papéis bem definidos de ativo e passivo, são românticas e ao mesmo tempo possuem cenas estilizadas de estupro (sim, pois é), dominação e congêneres. Geralmente essas historias são vistas como válvula de escape para leitoras que não possuem um relacionamento ou que até o possuem, mas são infelizes nele e gostam de sonhar com algo mais idealizado (e impossível de ser vivenciado por elas, já que os personagens principais são rapazes).
Os yaoi vem desde a década de 1970 e são um sucesso sedimentado. Você também pode ver isso como parte do conjunto semântico do ideal masculino mais frágil e feminilizado da Ásia hoje, contemplado, por exemplo, por ídolos do j-pop e k-pop.
(Existe outro estilo de mangá, o bara, voltado para os homossexuais, nos quais os homens são mais musculosos ou gordos, geralmente mais masculinos e maduros, e o foco dele é mais voltado ao sexo em si do que ao relacionamento, pelo menos ao meu ver. Acho que podem até haver exceções mas yaoi e bara são coisas bem diferentes, definitivamente.)

Já está complicadíssimo na sua cabeça, eu sei, mas vou complicar ainda mais: Banana Fish é um ponto fora da curva. Ao contrário da tradição dos yaoi, a história que começou a ser publicada em 1985 na revista Bessatsu Shôjo Comic não traz exatamente um casal gay que faz sexo. Os protagonistas Ash e Eiji na verdade nem transam. É algo mais platônico, apesar de existir uma tensão amorosa entre eles. Eles são gays? Há discussões sobre isso até hoje, e a própria Akimi Yoshida, autora de Banana Fish, costuma ser dúbia em suas respostas para entrevistas.

Outra grande diferença entre Banana Fish e outros é que o estupro aqui não é glamourizado: o tempo todo ele é tratado como algo negativo, perverso, um fetiche nojento. Quem o pratica na trama deve ser punido, existe uma clara criminalização. Ufa.

Não tenho certeza, mas acho que Yoshida fez tudo isso de caso pensado, para criar algo diferente. Tanto que Banana Fish virou cult e conseguiu furar a bolha dessa divisão de gênero: muitos homens héteros e cis são fãs e não tem vergonha de admiti-lo.

Mas vamos à história em si?

Eiji e Ash, o casal mais shipável &lt;3

Eiji e Ash, o casal mais shipável <3

O mangá começa com Griffin, um soldado da Guerra do Vietnã que é usado como cobaia para uma nova droga chamada Banana Fish. Ele acaba pirando com os efeitos dela e sai matando todo mundo - um amigo, Max, é obrigado a atirar nas suas pernas deixando-o paraplégico. Ele fica catatônico.

O irmão de Griffin é Ash, um rapaz de 17 anos que parece uma versão desenhada de River Phoenix, ex-garoto de programa e atual líder de uma gangue de rua de NY que tenta desvendar o que aconteceu com o irmão. Ele acaba descobrindo ao longo da história que essa droga é pura bad trip e que a pessoa fica tão maluca que mata e depois comete suicídio.

Essas duas temáticas, a guerra militar e o suicídio, são o que ligam o mangá (e consequentemente o anime) ao conto de Salinger. Mas também acho que esse retrato de jovens com questões existenciais profundas é inspirado nos personagens salingerianos.

Griffin no flashback eterno da bad trip

Griffin no flashback eterno da bad trip

Nesse meio tempo, aparecem os japoneses Eiji e Ibe: o segundo é um fotógrafo que quer fazer uma fotorreportagem do universo das gangues juvenis de NY, e o primeiro é seu assistente. Eles acabam se envolvendo mais com Ash, Eiji constrói uma relação íntima, mas que nunca chega as vias de fato, com Ash; eles são como opostos que se completam, um rebelde e o outro conformado, um loiro americano e o outro japonês de cabelo preto, um teve uma vida relativamente feliz (na verdade com um trauma, Eiji era atleta mas não consegue mais competir) e o outro teve uma infância dolorosa que o empurrou para uma vida criminosa.

A gente descobre que quem está patrocinando os estudos dessa droga para que ela seja usada pelos militares americanos na guerra é a máfia controlada por Papa Dino Golzine. Golzine também é a cabeça de um círculo pedófilo que comercializa crianças como escravos sexuais - e do qual Ash foi vítima. Esse pessoal inclui figurões do governo.

Ou seja: Golzine é um sugar daddy nojentão

Ou seja: Golzine é um sugar daddy nojentão

O anime lançado em 2018 adapta várias coisas mas se mantém relativamente fiel à história. A maioria das diferenças é de adaptação de época: a história é atualizada para 2010, com smartphone, Guerra do Iraque no lugar de Guerra do Vietnã e outras coisinhas.

Tem um mar de coisas para falar de Banana Fish para te convencer a correr para a Amazon Prime Video e assistir, mas vou me focar em apenas algumas.

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Para começar: Banana Fish é uma série de ação. Tem briga de gangue, tem polícia, cadeia, máfia, incêndio, sequestro, reviravoltas. A sexualidade fica em segundo plano principalmente se você não prestar atenção nela. Agora, se você quiser prestar atenção, ótimo: são personagens complexos, portanto é bom ver retratos ficcionais de gente com sexualidade ambígua mas que ao mesmo tempo vivem histórias que não giram só em torno disso.

Yut-Lung Lee é um bom exemplo: não fica claro se o personagem é crossdresser ou uma mulher trans. Mas fica claro uma coisa: você não gostaria de ter essa pessoa como sua inimiga…

Yut-Lung Lee é um bom exemplo: não fica claro se o personagem é crossdresser ou uma mulher trans. Mas fica claro uma coisa: você não gostaria de ter essa pessoa como sua inimiga…

Outra coisa é a inspiração na literatura, não só em Salinger. Todos os capítulos possuem títulos retirados de obras importantes da literatura, e nessa entram F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway e outros.

Não fica por aí: o tema da prostituição masculina e a semelhança entre Ash e River Phoenix, por exemplo, remetem ao longa Garotos de Programa (1991) de Gus Van Sant, um clássico queer. A culminação da guerra de gangues no metrô de NY em direção a Coney Island nos lembra Warriors - Os Selvagens da Noite (1979).
Provavelmente deve ter mais filme que inspirou Yoshida e eu não pesquei. Sei que o personagem Max sai do físico de Harrison Ford e Eiji replica o físico de Hironobu Nomura, um aidoru bem fofito.

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Um disquinho

de Hironobu Nomura

E como nada é perfeito, um defeito: a música de abertura. Emocore dos ruins.

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. Hayao Miyazaki nos primórdios, com a história melodramática de uma órfã
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Novelão da Gucci: Lady Gaga vai fazer a Patrizia e a gente já quer relembrar todos os babados!!!

A essa altura você já leu em algum lugar: a história da família Gucci parece que finalmente vai sair do papel para as telonas, parece que vai mesmo ser dirigida por Ridley Scott mas, ao contrário do que se especulava antes, um dos papéis principais, o de Patrizia Reggiani (ex-Gucci), não é mais de Angelina Jolie e sim de Lady Gaga!
O babado, meu bem, é certo. Porque afinal she's just an italian girl.

O projeto do filme não é de hoje. Notícias circulam desde 2007, e já ligavam o projeto a Scott. Nessa nova notícia ainda não se sabe uma confirmação para o começo das filmagens.

Mas caso você seja novinha ou ache que o assassinato de Gianni Versace é a única tragédia que a moda italiana já sofreu… meu bem. Tenho uma historinha para te contar.

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Patrizia!

Também conhecida como a Vedova Nera da Gucci (viúva negra), que tal?

O assassinato do estilista amigo das celebridades e supermodelos, Gianni, aconteceu em 1997 e assim eclipsou outro assassinato: o de Maurizio Gucci, em 1995. Maurizio morreu em Milão (e não em Miami, como Versace); já tinha vendido toda a Gucci para a Investcorp em 1993; definitivamente não era tão famoso quanto Gianni, que estava sempre sob os holofotes, desfilando, cortejando os famosos. Mas se eu te disser que a história da Gucci daria uma série muito melhor que American Crime Story: O Assassinato de Gianni Versace, você acreditaria? Segura essa, então: certeza que Ryan Murphy só escolheu Gianni Versace porque a história da Gucci acontece entre Florença e Milão, portanto é uma Italian Crime Story. E a prova é o livro que inspira esse projeto de filme de Scott: Casa Gucci: Uma História de Glamour, Cobiça, Loucura e Morte, de Sara Gay Forden, é tão doido que parece ficção. Já li faz um tempo, e estou relendo agora para fazer esse postzinho que vai dar os highlights dessa trama muito maluca que não inclui só Patrizia, mas tem vários personagens. Vem comigo!

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O subtítulo promete

e cumpre!!! Mas o livro tem várias imprecisões históricas, um vai e vem no tempo meio confuso e sem razão. Bom, o importante é entreter ou ser fiel em tempos de fake news? Sei lá… espero que o filme não se baseie somente nele!

Toda boa família italiana tem um patriarca, já diziam as novelas das oito da Globo. Aqui o cara é Guccio Gucci. Nascido em 1881 em Florença, viu seus pais sofrendo para manter um negócio de chapéus de palha. Decidiu zarpar dali e foi trabalhar no mítico hotel Savoy em Londres.

O Savoy Palace Hotel segue como símbolo do luxo jetsetter até hoje

O Savoy Palace Hotel segue como símbolo do luxo jetsetter até hoje

Guccio ficou de olho nas malas e baús, entendendo os códigos da aristocracia e da elegância. Chegou a passar pela Wagon Lits depois, de trens luxuosos, aprimorando ainda mais o seu olhar para esses artigos de couro. Voltou para Florença e casou com Aida Calvelli. Ela já tinha um filho de 4 anos, Ugo, que ele adotou (guarda esse info que ela vai ser importante). Eles teriam mais 5 filhos, dos quais 4 sobreviveram: Grimalda, Aldo, Vasco e Rodolfo.
Enquanto trabalhava de gerente na filial romana da Franzi, uma empresa de artefatos em couro, Guccio almejava abrir seu próprio negócio em Florença. Encontrou um lugar vago na via della Vigna Nuova, que era um ponto ótimo. Abriu uma revendedora de artigos de couro e com o tempo conseguiu também fazer um ateliê no qual produzia itens exclusivos, com design original. Isso era em 1921.

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Guccio e o filho Rodolfo

Em frente à Gucci nos anos 1940

Curiosidade: o Caffè Giacosa, aberto desde 1815 na Via Tornabuoni, pertíssimo dessa primeira Gucci, é o inventor do Negroni. O drinque foi criado em homenagem ao conde Negroni, que era cliente deles!

Nham!

Nham!

Então vamos aos filhos nessa época:

Grimalda, la pettegola (a fofoqueira)

Trabalhava no balcão da loja.

Aldo, o que tinha o tino comercial mais aguçado

Aldo teve 4 filhos: Giorgio, Paolo, Patricia e Roberto. Aldo acabou bem proeminente na empresa ao longo do tempo - foi quem fez a expansão internacional e a princípio era arrojado nos negócios.

Vasco, il succube (o inerte)

Preferia caçar no interior da Toscana sempre que podia e ficava meio de buenas em relação ao poder na empresa, mas cuidava da produção.

Rodolfo, o caçula, apelidado de Foffo

Nessa época ainda bem criança, e depois correu atrás do sonho de trabalhar com cinema.

E o Ugo, o filho adotivo? Bem…

O primeiro problema: Ugo, il prepotente

Ugo não se mostrava interessado nos negócios da Casa Gucci. Sendo assim, Guccio arrumou um emprego para ele com um de seus clientes, o Barão Levi. Acontece que Ugo, casado e todo cheio de se querer, ficava dizendo como era bem sucedido, pipipi popopó. Guccio, que contraiu dívidas na Gucci, pediu um empréstimo para Ugo. E adivinha: Ugo não tinha tanto dinheiro assim. Na verdade, tinha uma amante e gastava o dinheiro com ela! Mas Ugo não quis reconhecer isso para o pai adotivo, afirmando que ia lhe dar um empréstimo sim.
Vai vendo…
Guccio, nesse meio tempo, fez um adiantamento bancário, pensando que pagaria juros para o filho quando recebesse dele. Ugo, ainda sem querer reconhecer a sua própria falta de dinheiro, roubou 70.000 liras do caixa do Barão seu patrão!!! Deu para o pai 30.000, como se fossem seus, e sumiu com a namorada durante 3 semanas gastando o resto! Claro que Guccio acabou descobrindo tudo com o Barão em si. Que papagaiada.
Não é só: Ugo se afiliou ao Partito Nazionale Fascista de Mussolini. Virou um oficial local e praticava o famoso "Sabe com quem está falando?” Eu, hein. Que mancha.

Agora vamos falar de outro episódio no mínimo exótico. O Gucci astro de cinema. Rodolfo.

Maurizio D’Ancora, a fase cinematográfica de um dos irmãos

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Esse aí de cima é o Rodolfo Gucci. Enfrentando o pai, ele encarou uma carreira na telona que começou em 1929. E sabe que ele até fez bastante coisa e ficou conhecido na Itália? Virou astro do cinema mudo, dizem que chegou a ter um caso com a diva mor Anna Magnani (de Roma Cidade Aberta de 1945, A Rosa Tatuada de 1955, Mamma Roma de 1962 e tantos outros) e se casou com uma atriz milanesa, Alessandra Ratti, que usava o nome artístico Sandra Ravel. Alessandra morreu cedo, no começo da década de 1950, mas antes deixou um filho.
Maurizio Gucci.
Siiiim. Maurizio foi batizado com o nome artístico do pai. E como a mãe morreu quando ele era muito pequeno, Maurizio foi criado pelo pai, que era bem linha dura (como todos os Gucci, diga-se de passagem).
Maurizio D’Ancora em cena:

Nos anos 1930 diz a lenda que surgiram os primeiros símbolos da Gucci. A referência ao mundo da equitação viria na forma dos freios de cavalo no mocassim, o pesponto duplo das selas, o vermelho e verde das correias. Os Gucci inventaram que eram seleiros, mas não procede! Até chegaram a fazer sela, mas só depois, e mais para fins decorativos de loja.

Em 1938, Guccio abre loja em Roma (as maçanetas, cópias das da loja da Via della Vigna Nuova, no formato de oliveiras esculpidas em marfim, começaram a fazer parte da iconografia da grife), e em 1947 aparece a primeira bolsa do modelo Bambu, a 0633, com a tecnologia patenteada da alça feita de bambu (eles a aquecem numa temperatura específica até conseguir entortá-la). Consta que eles precisavam encontrar materiais alternativos, devido ao embargo comercial pré-guerra.

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No filme Viagem à Itália, de Roberto Rossellini, Ingrid Bergman usa bolsa e guarda-chuva da Gucci, ambos com detalhes de bambu

No filme Viagem à Itália, de Roberto Rossellini, Ingrid Bergman usa bolsa e guarda-chuva da Gucci, ambos com detalhes de bambu

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Clássico que rendeu muito

O mocassim com os freios de cavalo

Na virada dos anos 1940 para os 1950, a marca está em seu auge. E Guccio morre em 1953, com Aldo, Vasco e Rodolfo assumindo a companhia.

Vasco ficou supervisionando as coisas em Florença; Rodolfo, que desistiu das telonas após a Guerra e a caminhada do cinema italiano para o Realismo, cuidou da abertura da loja em Milão (dizem que ele era supergalanteador e que as clientes ficavam doidas porque o achavam muito parecido com um astro do cinema antigo… Maurizio D’Ancora); e Aldo foi conquistar a América: a primeira loja Gucci fora da Itália abriu em NY.

Os irmãos Vasco, Aldo e Rodolfo

Os irmãos Vasco, Aldo e Rodolfo

Mas e Grimalda, a irmã mais velha? Pois é.

Os Gucci eram MEGAmachistas

Guccio simplesmente não deixou nada para a filha da empresa. E disse para os filhos que mulher alguma deveria assumir a empresa - ever. Estimulava somente os filhos de Aldo a trabalharem lá: Giorgio, Roberto e Paolo (nessa época Maurizio morava em Milão), deixando a Patricia de fora. Quando nasciam, ele dava um pedaço de couro para o bebê cheirar "pois este é o cheiro do seu futuro".
Que belo exemplar de desgraçado, não?
Grimalda ficou com umas terras, uma fazenda e um dinheirinho. Sendo que seu marido Giovanni chegou a salvar o sogro Guccio quando a empresa ia mal na década de 1920. Se eu fosse ela, teria aberto uma concorrente, bem atrevida. Mas ela preferiu ficar de boa, apesar de obviamente não estar feliz com a divisão.

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Jackie O, um dos maiores ícones de moda da época

E a bolsa Hobo que, depois que virou sua preferida, o modelo ganhou o nome de Jackie

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A bolsa Hobo era vendida como unissex

É por isso que o Samuel Beckett, por exemplo, também tinha a sua. Que cult, né?

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A estampa Flora

foi criada por Vittorio Accornero, ilustrador que colaborou com a Gucci entre 1960 e 1981. Nesse período ele desenhou cerca de 80 lenços, incluindo esse!

A lenda conta que a princesa de Mônaco Grace foi em uma loja de Milão em 1966. Rodolfo insistiu em dar-lhe um presente. No fim, ela disse que aceitava um lenço. Mas a Gucci não possuía muitos modelos, apenas alguns com estribo de cavalo estampado, motivos indianos - nada que Rodolfo considerasse adequado para uma princesa. Ele perguntou qual tipo de echarpe ela tinha em mente, e Grace respondeu: "Que tal uma com estampa de flores?” Rodolfo pensou rápido e respondeu: “Acontece que estamos justamente desenvolvendo uma echarpe assim! Prometo que será a primeira a possuí-la!”
E toca a ligar para Accornero para pedir socorro! kkkkk
Fiorio, estampador que ficava em Como, foi quem deu o toque final: ele havia desenvolvido uma técnica que permitia a estamparia com 40 cores diferentes sem que os tons manchassem. Por isso esse floral vivo da Gucci foi tão marcante - ele realmente era uma coisa luxuosa e inédita.

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Olha o lencinho da Grace Kelly

By Vittorio Accornero! A estampa Flora teve um revival grande na época da estilista Frida Giannini e batiza perfume da marca

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vira símbolo de riqueza! Foi criado em 1969

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Clientela abastada & famosa

Sophia Loren (na foto), Liz Taylor, Michael Caine, Peter Sellers, Rita Hayworth

Temos sido mercadores desde aproximadamente 1410. O nome Gucci não remete à Macy’s.
— Aldo Gucci
Famiglia: na foto nem parece uma versão de Dinasty da vida real…

Famiglia: na foto nem parece uma versão de Dinasty da vida real…

Bom, chegou a hora de falar da terceira geração. Quando Vasco morreu, não deixou filhos. Sua viúva concordou em vender as ações para os outros dois irmãos (para o alívio deles). Assim, entram em cena:

Roberto, filho mais novo de Aldo, apelido il prete (o padre)

Teve seis filhos, era bem conservador e religioso. No começo ajudou o pai nos EUA, e depois se estabeleceu em Florença, perto da matriz.

Giorgio, filho de Aldo, o tímido

Teve dois filhos, Alessandro e Guccio. Tinha uma relação difícil com o dominador Aldo. Acabou mudando para Roma e abrindo a Boutique Gucci por lá com Maria Pia, sua segunda esposa. Foi o primeiro ato de rebeldia nesse sentido de alguém da família, quase uma premonição, um laboratório para o que viria depois - a Boutique Gucci vendia artigos mais jovens e com o tíquete médio mais baixo, em desencontro com todo o resto da marca. Aldo disse para a imprensa que ele era uma ovelha negra que trocou um transatlântico por um barco a remo, mas que ele voltaria. E realmente voltou - a Boutique foi reabsorvida pela Gucci e tudo voltou à normalidade… até Paolo mostrar quem realmente era a ovelha negra.

Paolo, filho de Aldo e o mais rebelde

Paolo não gostava do controle do pai, não respeitava a hierarquia. Usava bigode em atitude rebelde (Guccio, o avô, odiava pelos no rosto). O mais criativo, foi o responsável pelos primeiros artigos de prêt-à-porter. As estampas de pombo e falcão nas echarpes vieram dele, um criador de pombos-correio.

Maurizio, filho de Rodolfo, o avvocatino

Superprotegido pelo pai após a morte prematura da mãe, se viu afastado dos negócios por muito tempo.

Cada um dos filhos de Aldo ganhou 10% da parte dele. Rodolfo preferiu não passar sua parte para Maurizio por enquanto por causa do relacionamento atribulado que tinham.
É que Maurizio conheceu uma certa moça em uma festa… e se apaixonou loucamente, para o desespero de Rodolfo!

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Maurizio & Patrizia

Casal 20 que depois subiu no telhado

Reggiani era de família nova rica de Milão: com dinheiro, sem tradição. Não fazia parte da alta-sociedade, mas tinha gostos luxuosos. Ela foi adotada pelo padrasto que trabalhava com transporte de caminhão e ele a adorava, fazia todas as suas vontades. O sobrenome Reggiani é dele. O verdadeiro pai de Patrizia? Há controvérsias: a mãe dela, Silvana, jura de pé junto que é o Reggiani em si. Mas Patrizia sempre o chamou de padrasto…
A esposa de Reggiani morreu em 1956 de câncer. Ele casou com Silvana depois de um tempo, discretamente.

Patrizia e Maurizio se casaram em 1972. Tiveram duas filhas: Alessandra e Allegra.
Rodolfo ficou por um bom tempo sem falar com o filho após o casamento que aconteceu sem sua aprovação. Foi o irmão Aldo quem o convenceu a amolecer. E ele o fez, bem à moda Gucci, encontrando Maurizio como se nada tivesse acontecido e convidando-o para se juntar a Aldo em NY para trabalhar na Gucci por lá.

Enquanto isso, o nome Gucci se popularizava. Nessa época, você podia comprar um chaveiro por US$ 5 ou um cinto inteiro de ouro 18 quilates por alguns milhares de dólares. A marca acabou ficando com uma imagem de barata por causa da adoração pelos mocassins por parte das secretárias de NY e também pela coleção Gucci Accessories Collection, ou GAC, criada por Aldo sob a empresa Gucci Parfums. O plano era deixar a Gucci Parfums cada vez mais poderosa para diminuir o poder do irmão Rodolfo sobre a empresa principal, da qual ele tinha a maioria (50%). Na Gucci Parfums a divisão era menor para Rodolfo, 20%, com Aldo e os 3 filhos cada um com mais 20%. Só que a GAC era uma linha mais barata, de lona e com os monogramas, tipo de nécessaire, vendida em farmácia.

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Bem horrorosinha

Será que é por isso que eu não gosto do monograma até hoje? #influenciável

Os lucros imediatos até aumentavam muito, mas em matéria de imagem, a Gucci ficava desgastada. E a pirataria sambava em cima, porque era mais fácil falsificar uma bolsa de lona que uma bolsa de couro.

Ninguém pode falar que Aldo não tinha bom humor: ele combatia os piratas ferozmente, mas quando descobriu um falsificador que escrevia Goochy na sacola de lona, deixou. Achou engraçado! Isso conversa com a própria Gucci hoje em dia escrevendo Guccy em itens originais!

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Mas acho que chegou a hora de falar de uma coisa muito específica…

O iate Creole

Um dos barcos mais icônicos do mundo dos milionários, o Creole tem uma história e tanto. Com 64 metros e 3 mastros, já foi considerado por conhecedores como o "mais bonito do mundo". Construído em 1925 a pedido de Alexander Cochran, americano que ganhou fortuna com carpetes, viu seu dono morrer prematuramente por causa de um câncer. Seu primeiro nome foi Vira - que nome para um barco, né? Ave.

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Depois disso, mudou de nome para Magic Circle - o que, segundo as crenças dos marinheiros, é um mau presságio... Outro sinal foi o seu batismo - como Cochran estava com tuberculose na época (!!!), seu amigo Fred Hughes fez as honras de quebrar a garrafa de champanhe (para quem não sabe, é esse o ritual de batismo de uma embarcação). Ele teve que tentar 3 vezes até conseguir quebrá-la. Para os marinheiros, se não quebra de primeira… ih…

Em 1948, foi parar nas mãos de Stavros Niarchos, o ricão grego rival de Onassis, que finalmente o rebatizou de Creole. E começa a pior maré: a primeira esposa de Niarchos cometeu suicídio com overdose de pílulas no Creole, em 1970. Ele casou novamente com a irmã mais nova dela, que simplesmente vinha a ser a primeira mulher de Onassis! Adivinha… Ela também se matou. A única descendente viva de Tina Niarchos é sua neta, Athina Onassis, que foi casada com o brasileiro Doda Miranda.

Niarchos passou a odiar a embarcação e prometeu nunca mais colocar os pés nela. Vendeu-a para a marinha dinamarquesa, que por sua vez doou-a, sabe-se lá porque, para uma clínica de reabilitação de drogados. Ele ficou supercaído, todo estragado.

E por que te contei tudo isso? Porque Maurizio comprou o Creole em 1982 pelo que foi considerado uma barganha (menos de um milhão de dólares), reformou-o e ele virou um dos símbolos dos Gucci. Ainda é de Alessandra e Allegra Gucci até hoje. Na época, Patrizia ficou com medo de energias ruins no local por causa do passado trágico dele. Maurizio chamou uma paranormal para dar uma limpada. Foi babado: a mulher ficou em transe, viu uma porta onde não tinha porta (mas onde já teve, antes das inúmeras reformas) e gritou "Deixe-me em paz” onde o corpo de Eugenia Livanos-Niarchos foi encontrado. Etalelê.

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E agora, mais um babado…

Paolo mostra as garras

Meu tio era um bom ator, mas como homem de negócios era um lixo. Ele foi esperto o bastante para ter boas amizades, mas não era um líder. Meu pai, por outro lado, era exatamente o oposto: um líder nato, mas com péssimos conselheiros.
— Paolo Gucci

Paolo começou a se desentender com a falta de visão do tio Rodolfo. Estabilizado em Florença, também fazia perguntas incômodas sobre o destino dos lucros da Gucci, que sempre estava com os cofres vazios - e depois, se soube que sua desconfiança fazia sentido, já que o tio e o pai tinham contas milionárias em paraísos fiscais.
Ele acabou mudando para os EUA alegando que o tio estava podando-o no seu cargo de designer. Mas com o pai a coisa também não desenrola bem. Frustradíssimo, ele decide aprontar um negocinho…

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Extravagante e com sede de poder

A gente nunca vai saber direito se Paolo queria o melhor para a empresa e acreditava que estava fazendo tudo pelo bem dela ou se era um doido que queria causar e ter mais poder lá dentro

E aí começava a nascer a marca… Paolo Gucci. Acredita? kkkkk

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Imagina a confusão!

Carteira “original” Paolo Gucci, que não tinha nada a ver com a empresa mãe

Imagina a confusão: Paolo queria vender até em supermercado. Falou com fornecedores da própria Gucci e foi assim que seu tio Rodolfo descobriu os planos.
Paolo foi mandado embora da Gucci em 1980 e processou a empresa da família porque não considerou justa a falta de indenização. Ao mesmo tempo, a Gucci em si aprovou o gasto de US$ 8 milhões, logo de cara, para combater esse novo empreendimento do desgarrado.
E foi assim que uma nova era na Gucci começou: a da guerra da família.

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Tio e sobrinho

Aldo e Maurizio Gucci

O que pouca gente imagina é que Domenico de Sole, que depois viria a ser o CEO do Gucci Group, entrou nessa história nessa época. Em uma viagem para Milão, De Sole foi convidado por um importante advogado que era seu associado para assistir a uma reunião da família Gucci, daquelas bem pesadas com Aldo, filhos e advogados de um lado e Rodolfo, Maurizio e advogados do outro. A conversa esquentou e o associado pediu para De Sole encabeçar para ver se ele conseguia controlar aqueles florentinos.
Foi o que ele fez, sem se deixar intimidar pelo sobrenome deles. Quando ele interrompeu Aldo, dizendo para ele que simplesmente não era a hora dele falar, Rodolfo decidiu contratá-lo - ele percebeu que o filho Maurizio ia ficar cada vez mais alienado da empresa já que Aldo se negava a dar mais participação para ele, e precisava de ajuda nisso.
Depois da contratação, numa reunião de acionistas em Palm Beach, Aldo chamou Paolo - e De Sole foi representando Rodolfo. Ele queria que o voto do filho desequilibrasse a balança na empresa, para ele continuar controlando-a. Mas Paolo respondeu que só votaria com ele se ele o deixasse trabalhar na marca própria…
E aí Aldo pegou um CINZEIRO GUCCI e o ARREMESSOU, falando um nome bem feio, na direção de Paolo. Não o atingiu, mas Paolo e De Sole ficaram cobertos de caco de cristal. Quenda…

Outra tentativa seguinte de reunião com Paolo também foi mal-sucedida. Ele levou um gravador (!!) e começou a gravar tudo o que dizia. Aldo ficou puto. Puxou o gravador da mão de Paolo, partiu para cima dele. Maior barraco. O rosto de Paolo acabou arranhado, saiu sangue, e o cara começou a gritar para os funcionários: "Chamem a polícia! Chamem a polícia!"
Quer emoção? Pois é, aqui tem. E lá vinham mais processinhos movidos por Paolo contra a Gucci.
As manchetes dos jornais se refastelaram, né?

Dizem que Jackie O, vendo as notícias, mandou um telegrama para Aldo que dizia apenas: "Por quê?”

Dizem que Jackie O, vendo as notícias, mandou um telegrama para Aldo que dizia apenas: "Por quê?”

Em 1982, o próprio Aldo contratava De Sole para defender a ele e à empresa dos ataques de Paolo. Paolo foi jogando merda no ventilador, mostrando dinheiro desviado da família para a justiça. Ele morreu de hepatite crônica, com bem menos dinheiro do que um dia já teve, em 1995.

O que você tem que entender a respeito dos Gucci é que eles são todos completamente loucos, incrivelmente manipuladores e nada inteligentes. Eles querem estar no controle, mas assim que conseguem o que querem, eles esmagam você! Eles são destruidores, é simplesmente isso!
— Jenny Garwood, segunda mulher de Paolo Gucci, em entrevista
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A linha de joias que Patrizia criou

Ela convenceu Maurizio no começo dos anos 1980 que ela podia criar uma linha de joias para a Gucci. Não deu certo!

A hora de Maurizio

Depois que Rodolfo morreu (mas antes de Paolo morrer), Aldo estava quase indo para a cadeia por evasão de impostos. E aí Maurizio arquitetou um plano para ter a presidência da Gucci: se juntou a… Paolo. Conseguiu.

Depois, ainda ficou com o controle da empresa inteira em 1992, em um plot twist com direito a passar a perna nos primos e do tio - negociou com a Investcorp, que comprou as ações de todos eles escondendo que o nome por trás da negociação era o de Maurizio.

Quando Maurizio vendeu a marca para o Investcorp, a Gucci estava patinando financeiramente fazia tempo e tinha perdido o seu valor por ter se popularizado demais. Isso porque Tom Ford já trabalhava nela! Ele queria recuperá-la mas não teve jeito. Na época da morte, já morava separado de Patrizia e tinha uma namorada, Paola Franchi, por cinco anos. Estava determinado a casar com Paola - e Patrizia não seria mais a Lady Gucci.

Patrizia encarcerada em 2017

Patrizia encarcerada em 2017

Patrizia passou 16 anos na prisão depois que foi provado que ela foi a mandante do assassinato de Maurizio. Ao sair da cadeia, em 2014, foi perguntada por uma emissora de TV: "Patrizia, por que você contratou alguém para matar Maurizio? Por que você mesma não atirou?"
E ela respondeu:

Minha vista não é tão boa, e eu não queria errar.
— Patrizia Reggiani para a TV, ao sair da cadeia

SIM, meus caros. Mais um Oscar da Lady Gaga no forninho.
Em outra entrevista, Patrizia declarou que esperava voltar a trabalhar para a Gucci em si. “Eles precisam de mim. Ainda me sinto uma Gucci, na verdade a mais Gucci de todos eles", ela disse. Alessandro Michele deve adorar isso tudo, né? Agora, com o filme, talvez seja melhor abraçar a história toda de uma vez. Ou não? Seria um suicídio comercial?
No dia do veredito de Patrizia, dizem que lojas da Gucci espalhadas pela Itália exibiram algemas prateadas em suas vitrines. Apesar disso, a marca até hoje não comenta um A sobre o assunto.

Patrizia saiu da cadeia em 2014, depois de negar a primeira oferta de saída em 2011 porque estaria condicionada a um trabalho, como qualquer cidadão comum. "Nunca trabalhei na vida e não pretendo começar agora", ela teria dito para o advogado. Parece que mudou de ideia: hoje ela como consultora de design da joalheria Bozart.

Imagem da sequência de abertura do filme Manhattan (1979) de Woody Allen

Imagem da sequência de abertura do filme Manhattan (1979) de Woody Allen

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Patrizia em foto mais recente

Cuidado que ela fica uma arara… desculpa, não resisti à piada