Qual será o ritmo dos anos 2020?
Chique.
Meio disco house noventista, Don't Start Now é mesmo uma delícia e se não repete o sucesso de New Rules, o primeiro hit de Dua Lipa, pelo menos vem comendo pelas beiradas, daquele tipo de música que quanto mais você ouve, mais você quer ouvir.
É música de dançar, né? E nada melhor para os loucos anos 20 do que dançar.
Nos anos 1920, de um século atrás, as pessoas queriam dançar o charleston. O período entre a 1ª Guerra Mundial e o crash da bolsa com a consequente grande depressão é todo arrojado, modernoso. Teve o art deco que eu acho chiquerrérimo, a moderna Louise Brooks simbolizando as melindrosas e toda a emancipação feminina, Coco Chanel revolucionando o guarda-roupa feminino com seus looks de duas ou três peças… A vida era um cabaré, old friend. Nos EUA, a lei seca, os speakeasy. No Brasil, a Semana de Arte Moderna em 1922.
O que será que nos aguarda nesses anos 2020? Será mesmo hora de dançar? O cenário é bem diferente: se existia otimismo há um século, agora a onda é conservadora. Um cabaré é um escândalo: atualmente me parece que templos e igrejas (acima de tudo cristãs) são mais bem vistos.
Dancemos? Talvez a resposta seja hedonista e escapista, pelo menos a curto prazo. Ninguém dá conta, o Brasil não nos permite ficar sóbrios, o mundo não nos dá a possibilidade de constante lucidez - paradoxalmente isso nos levaria à loucura.
Então, dancemos. O tuíte lá de cima se refere ao vazamento da música da Lady Gaga que, dizem, é do próximo álbum, até agora chamado LG6. Ou Adele?
Também dizem que na verdade a música vazada é sobra de Born This Way ou Artpop, álbuns anteriores da cantora. Tem uma vibe animada meio drama num crescendo do primeiro e noventista do segundo.
E, para dizer a verdade, Gaga is a nineties' bitch apesar de ter nascido em 1986. Desde os primórdios ela bebe dessa água: de Ace of Base e eurodance no geral a Madonna, de balada de banda de heavy metal para cantar em estádio à montação clubber. Até o seu country é noventista, com gostinho de LeAnn Rimes. E o dueto Shallow, com Bradley Cooper? O ator emula Eddie Vedder - this is so nineties.
E a música vazada em si, Stupid Love?
(não sei até quando esse vídeo fica no ar, enfim)
(nem esse tweet então sei lá)
Essa não deve ser a versão final, e achei esquisito porque pelo nome do arquivo que aparece na imagem ela é uma versão de praticamente um ano atrás (24/01/2019).
Mas quer saber? Gostei muito.
Essa onda noventista já vem de faz tempo, né, não dá para falar que foi a Dua Lipa que começou. Mas sim, menina Dua fez um bom trabalho.
Existe uma teoria de que tudo é revisitado de 20 em 20 anos. Nos anos 1990, reviveu-se os 1970. Em teoria, portanto, os anos 1990 seriam revividos em 2010. E atualmente estaríamos nos 2000 (como, de fato, muita coisa está em termos de tendências da indústria cultural).
Na minha visão e na de outros, isso acontece porque os novos artistas, quando estouram, geralmente tem seus 20 e tantos e remetem a referências de sua infância para fazer sua arte. Ou seja: Lady Gaga fez isso nos anos 2010. Katy Perry, à sua maneira, também.
Ao mesmo tempo, o milênio é outro. As coisas estão cada vez mais velozes e sobrepostas. A fragmentação, o overdub, a dodecafonia - do discurso, da informação, da narrativa, da imagem - é uma realidade. Storytelling é comfort food num mundo onde prevalece o caos e irracional. A gente quer a lógica para se sentir mais seguro, só um pouquinho.
Então não adianta mais seguir essa fórmula dos 20 em 20. Acabou-se. Tudo se remixa. A menos que a 3ª Guerra Mundial realmente aconteça (parece que não), a História com agá maiúsculo continua terminada.
Enquanto isso, tem mais gente querendo que você dance. É o caso da Rina Sawayama, que lançou um housezinho tudo:
Rina antes tinha lançado um kawaii-metal um pouco insuportável, então estou muito feliz que a minha Rina está viva.
Mas você já sabe onde estou chegando?
É, nela mesma.
Pode chamá-la de descontrolada, de doida varrida, de barraqueira. Mas sim, isso é uma das maiores referências da música pop desde 2018 e o povo só tá chegando lá agora:
Sim, Azealia Banks já estava dançando em 2018.
E teve isso aqui no fim de 2019, da rainhazona Róisín Murphy - eu já tinha cantado a bola via dica do Guilherme Itacarambi, lembra?
Quer mais noventismo novo? Bom, para mim o Super Bowl vai ser tão virada dos anos 1990 para 2000 que nem sei. Juntar Jennifer Lopez e Shakira é golpe de mestre. Shakira essa que, no single lançado nesse mês, aparece de cabelos pretos (a era Shakira morena voltou??? acho que não porque na verdade parece uma foto da década de 1990 mesmo). E cita nada menos que Sweat, o hit do Inner Circle do começo dos anos 1990 (aquele do alalalala long).
E eu nem amei, mas só de citar Sweat já me vem na cabeça aquela cena de Confissões de Adolescente com Maria Mariana e Georgiana Góes cantando no banheiro de frente para o espelho, se arrumando.
Diz que o R9 da Rihanna vai ser reggae dancehall etc e tal, né?
Anotaí: anos 1990. Pode tirar a poeira daquela camiseta que você comprou no Ruffles Reggae. Rihanna, é isso que eu quero:
Extra: querendo ir para Salvador urgentemente para checar o movimento de perto, pois os anos 1990 do Brasil são de LÁ, bem de LÁ, ai, que delíciaaaaaa!!! Quem quiser patrocinar me avisa!!! kkkkkkkkkk
Quem gostou desse post talvez curta…
. Mas então a febre country é (era?) real?
. Um ícone italiano que tem tudo a ver com essas refs