Por que Rainbow Brite não virou meme que nem todo o resto?

Acho uma injustiça!!
Rainbow Brite surgiu em 1984 pelas mãos de um francês, Jean Chalopin. Ele também é um dos nomes por trás do Inspetor Bugiganga original, fundador da DiC Entertainment. Mas a Rainbow Brite não é propriedade francesa: na verdade, ela é da americana Hallmark e é mais um daqueles desenhos feitos para vender brinquedos. No caso, a Mattel já tinha o licenciamento quando o primeiro episódio estreou. E foi a Hallmark quem encomendou a personagem para Chalopin, já com todo o conceito pré-estabelecido: uma garotinha loira que possui poder sobre todas as cores do universo.

Coisas interessantes para se ter em mente:
. O brinquedo Meu Pequeno Pônei, que provou por A + B que meninas gostam de cavalos (?!), foi lançado na sua primeira versão mais famosa em 1982. Virou desenho um pouco depois - mas o desenho era meio dark. Se você quiser saber detalhes, a série Brinquedos que Marcam Época da Netflix tem um episódio específico sobre Meu Pequeno Pônei. O cavalo de Rainbow Brite, superimportante, chama-se Starlite - lembra??
. O desenho Cavalo de Fogo, que também tem um cavalo bem especial para uma menina loira, Sara, é de 1986. A primeira versão de She-ra também tem um cavalo bem parecido com o da Rainbow Brite com uma diferença: ele se transforma em um unicórnio, o Ventania. O desenho é de 1985. Era uma invasão de cavalos!
. Em 1988, um mash-up de proporções descomunais chegava nos cinemas nacionais. Era Superxuxa Contra o Baixo-Astral. Ele mistura essa ideia da Rainbow Brite de cores e arco-íris contra as sombras com um figurino do Michael Jackson (do curta Captain EO, de 1987) e paralelos muito semelhantes também com o filme Labirinto de 1986, aquele em que o Rei dos Goblins (David Bowie) sequestra o irmãozinho de Sarah (Jennifer Connelly). Em Superxuxa, o Baixo Astral (Guilherme Karan) sequestra o cachorro de estimação Xuxo, que a criançada já tinha aprendido a amar por causa do disco Xou da Xuxa de 1986, com a música Meu Cãozinho Xuxo! Ela CHORA na música. CHORA! No longa ele é um boneco!
(Depois Miley Cyrus a copiaria em Pablo the Blowfish, né?)

Rainbow Brite não estava sozinha: além de Starlite, ela contava com o bicho falante Twinkle (o que ele era? Um macaquinho? Sei lá!) e com os Color Kids.

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Agora olhe fixamente para Rainbow Brite.

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Mas olha mesmo!!!

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Quem já acompanha esse blog talvez se lembre de outra coisa…
Eu digo Rune e vocês dizem Naito:

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Um dos pioneiros do kawaii, Rune Naito foi quem começou a fazer essa proporção da cabeça e olhos grandes que a Sandy Junior desenvolveu na vida real por seleção natural e que os aplicativos coreanos simulam nas selfies.

A primeira teoria diz que as coisas que nos lembram os traços de filhote ou bebê nos despertam sentimentos instintivos de cuidado e amor. Mesmo que sejam personagens ou objetos inanimados.
O livro que estou lendo, cujo título autoexplicativo é The Power of Cute, de Simon May, fala que o fofo mais misterioso, estranho, inquietante, é o que mais possui poder sobre nós hoje. Porque ele não soa simplesmente indefeso. Ele pega exemplos como o ET, que é novo e velho ao mesmo tempo, ou a Hello Kitty, que é um híbrido de menina e gata e não possui boca. No que existe de estranhamento deles, também podem guardar ameaças. O desconhecido é a princípio perigoso, até que se prove o contrário.

Então por que Rainbow Brite não possui tantos fãs? Porque ela não guarda mistérios, simplesmente. Não possui contradições, e assim fica fácil dominá-la e desmontá-la. Ela não é um animal falante, como os Ursinhos Carinhosos (esses, aliás, de 1981 e que viraram brinquedo em 1983, mais antigos que todos os outros!). Ela é claramente uma menina, com proporções talvez um pouco exageradas, mas uma menina.

Mesmo assim, queria memes.

Sobe, bicha, mas não abusa

Sobe, bicha, mas não abusa

A saber: Rainbow Brite ganhou uma nova versão em 2014. Achei bem nada a ver. E o mais esquisito: a voz da vilã é de… Molly Ringwald.

O que é kawaii? Investigando o começo de tudo

Esse post é intimamente ligado com outro: o sobre memória afetiva. Se você ainda não leu, pare, leia, e depois volte!

Já li muitas e muitas coisas sobre o kawaii, o assunto sempre me fascinou. Um dos meus primeiros contatos com o kawaii, que eu me lembre, foi o anime Honey Honey!

Alguém lembra? Honey Honey no Suteki na Bouken contava a história da órfã Honey Honey e sua gatinha Lily, que engole um peixe que continha um anel precioso pertencente a uma princesa. A princesa promete casar com quem resgatar o anel, e isso faz com que um monte de pretendentes a marido persigam Lily - o desenho não explica que raios de sistema digestivo essa gata tem pra não vomitar ou cagar esse anel logo, ele fica dentro dela por bastante tempo! E com isso Honey Honey fica fugindo com Lily, viajando pelo mundo - que eu me lembre, num balão! Risos! Diz que por aqui o desenho chamava Favos de Mel, mas eu me lembro de chamar de Honey Honey mesmo! Passou o SBT quando eu era bem pequeno.

Corra, Honey, corra! Os olhos enormes, bastante ligados ao conceito de kawaii, já estavam presentes aqui - no Japão o desenho foi ao ar em 1981

Corra, Honey, corra! Os olhos enormes, bastante ligados ao conceito de kawaii, já estavam presentes aqui - no Japão o desenho foi ao ar em 1981

Depois disso outras coisas kawaii passaram por mim, antigas e mais recentes, de Doraemon a Pokemon (coincidentemente tenho ambos tatuados no braço, além do Totoro e Hamtaro, outros grandes representantes do kawaii).

Mas kawaii é algo intrínseco da infância?
É aí que mora o plot twist. A resposta é não!
Vamos começar do começo: o livro Kawaii! Japan’s Culture of Cute traz uma descrição que acho bastante precisa para quem não está familiarizado com o conceito - vou traduzir para o português aqui.

Traduzido grosseiramente como ‘cute’, kawaii descreve as características físicas adoráveis que crianças e filhotes de animais têm, e tudo que alimenta sentimentos de amor e cuidado materno. No Japão, isso se transformou em um ideal mais amplo. A palavra pode ser usada pra descrever o clima ou as qualidades perceptíveis de algo assim como sua aparência.

Hoje em dia, kawaii é um adjetivo elogioso aplicado em variadas maneiras que podem te deixar confuso: é sinônimo de lindo, amável, adequado, viciante, cool, divertido, feio mas cativante, peculiar e nojento. Você pode ouvir que uma mesa, carro, prédio, donut ou avião são tão kawaii quanto um filhote recém-nascido - e no Japão, frequentemente, as coisas mais banais são fofas.

O livro não está exagerando: no Japão um aviso de trânsito pode ser fofinho, um eletrodoméstico pode ser fofinho, uma propaganda voltada para a terceira idade pode ser fofinha - e isso é absolutamente normal. Também é normal que uma mulher mais velha use um caderninho com ursinhos - ela não vai ser tirada de infantil bobona. E tudo tem um mascote: a polícia, a cidade, a campanha de reciclagem.

Mas como é que começou o kawaii? Esse mesmo livro traz insights sobre movimentos pioneiros e o que caracteriza a estética.

Tem quem aponte o trabalho de Yumeji Takehisa como pioneiro do kawaii. Pintor e poeta, ele também gostava de fazer ilustrações e eventualmente abriu a Minatoya Ezoshiten, uma papelaria, em 1914. Nela, vendia bolsinhas, papel de carta, lenço - tudo c…

Tem quem aponte o trabalho de Yumeji Takehisa como pioneiro do kawaii. Pintor e poeta, ele também gostava de fazer ilustrações e eventualmente abriu a Minatoya Ezoshiten, uma papelaria, em 1914. Nela, vendia bolsinhas, papel de carta, lenço - tudo com essas ilustrações que tinham apelo junto ao público feminino. Fonte da foto: Japan Times

Esse tipo de artigos fofos acabou sendo chamado de fancy goods - uma categoria de produtos que apela para o kawaii. Com a explosão da bolha econômica na década de 1990, a população ficou mais pobre e não podia comprar tantos desses fancy goods; como o nome já denota, eles eram artigos mais caros; não chegavam a ser de luxo mas custavam uma graninha. Mas o capitalismo deu um jeitinho e popularizou os fancy goods para as lojas de hyakuen (100 ienes, tipo as nossas lojas de 1,99) que começavam a ganhar muita força. A Daiso, por exemplo, é uma loja de hyakuen (mas aqui as coisas chegam um pouco mais caras por causa dos impostos). E na Liberdade existe até uma loja chamada, adivinha… Fancy Goods!

Só que antes mesmo do Takehisa, considero outra coisa bem típica do kawaii, apesar de milenar. A kokeshi!

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As centenárias kokeshi

são bonecas supertradicionais no Japão que já possuíam essa cabeça grande, a boca pequenininha e o aspecto decorativo no corpo cilíndrico

Parece-me que, com a kokeshi, que apareceu pela primeira vez no começo do século 19 na região Tohoku, essa estética já se sedimentava para os nipônicos. Tanto que eles não estranharam o trabalho de outro pioneiro: Rune Naito!

Rune Naito é um dos grandes responsáveis pela popularização do termo kawaii. E também por aspectos que tradicionalmente ligamos a essa estética, como as proporções parecidas com a de uma criancinha: repara, mesmo com a franja, que a testa dos desenh…

Rune Naito é um dos grandes responsáveis pela popularização do termo kawaii. E também por aspectos que tradicionalmente ligamos a essa estética, como as proporções parecidas com a de uma criancinha: repara, mesmo com a franja, que a testa dos desenhos é enorme. Os ombros são menorzinhos, o olho é gigante. Ele hoje é celebrado por grandes nomes da indústria do kawaii como o dono da 6% Dokidoki Sebastian Matsuda. Fonte da imagem: o site Kawaii Kakkoi Sugoi

E desses clássicos também adoro a Eico Hanamura - as ilustrações dela tem um clima anos 1970 delicioso!

Então, resumindo: kawaii pode ser artigos de papelaria e utensílios, pode ser manga e anime, pode ser roupa, pode ser até… avião.

Afinal, por que não? Fonte da foto: Wikipédia

Afinal, por que não? Fonte da foto: Wikipédia

Existe ainda muito assunto sobre o kawaii. Vou fazer mais posts a respeito, mas já dou uma prévia aqui:

. Quem é a rainha do kawaii? Ela mesma! Eu sei, você já adivinhou! Such a queen que merece um post só para ela - ou quase…
. “Isso está fofinho demais!” Eu sei, e também acho. É por isso que também vou levar você para o lado mais obscuro do kawaii…
. Onde é a meca kawaii? Ah, essa é fácil! Em breve também conto a história de um dos bairros mais conhecidos do Japão e alguns segredinhos sobre ele!
. E essa cultura dos mascotes, hein? Tem que ver isso aí!

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