O que é kawaii? Investigando o começo de tudo
Esse post é intimamente ligado com outro: o sobre memória afetiva. Se você ainda não leu, pare, leia, e depois volte!
Já li muitas e muitas coisas sobre o kawaii, o assunto sempre me fascinou. Um dos meus primeiros contatos com o kawaii, que eu me lembre, foi o anime Honey Honey!
Alguém lembra? Honey Honey no Suteki na Bouken contava a história da órfã Honey Honey e sua gatinha Lily, que engole um peixe que continha um anel precioso pertencente a uma princesa. A princesa promete casar com quem resgatar o anel, e isso faz com que um monte de pretendentes a marido persigam Lily - o desenho não explica que raios de sistema digestivo essa gata tem pra não vomitar ou cagar esse anel logo, ele fica dentro dela por bastante tempo! E com isso Honey Honey fica fugindo com Lily, viajando pelo mundo - que eu me lembre, num balão! Risos! Diz que por aqui o desenho chamava Favos de Mel, mas eu me lembro de chamar de Honey Honey mesmo! Passou o SBT quando eu era bem pequeno.
Depois disso outras coisas kawaii passaram por mim, antigas e mais recentes, de Doraemon a Pokemon (coincidentemente tenho ambos tatuados no braço, além do Totoro e Hamtaro, outros grandes representantes do kawaii).
Mas kawaii é algo intrínseco da infância?
É aí que mora o plot twist. A resposta é não!
Vamos começar do começo: o livro Kawaii! Japan’s Culture of Cute traz uma descrição que acho bastante precisa para quem não está familiarizado com o conceito - vou traduzir para o português aqui.
O livro não está exagerando: no Japão um aviso de trânsito pode ser fofinho, um eletrodoméstico pode ser fofinho, uma propaganda voltada para a terceira idade pode ser fofinha - e isso é absolutamente normal. Também é normal que uma mulher mais velha use um caderninho com ursinhos - ela não vai ser tirada de infantil bobona. E tudo tem um mascote: a polícia, a cidade, a campanha de reciclagem.
Mas como é que começou o kawaii? Esse mesmo livro traz insights sobre movimentos pioneiros e o que caracteriza a estética.
Esse tipo de artigos fofos acabou sendo chamado de fancy goods - uma categoria de produtos que apela para o kawaii. Com a explosão da bolha econômica na década de 1990, a população ficou mais pobre e não podia comprar tantos desses fancy goods; como o nome já denota, eles eram artigos mais caros; não chegavam a ser de luxo mas custavam uma graninha. Mas o capitalismo deu um jeitinho e popularizou os fancy goods para as lojas de hyakuen (100 ienes, tipo as nossas lojas de 1,99) que começavam a ganhar muita força. A Daiso, por exemplo, é uma loja de hyakuen (mas aqui as coisas chegam um pouco mais caras por causa dos impostos). E na Liberdade existe até uma loja chamada, adivinha… Fancy Goods!
Só que antes mesmo do Takehisa, considero outra coisa bem típica do kawaii, apesar de milenar. A kokeshi!
Parece-me que, com a kokeshi, que apareceu pela primeira vez no começo do século 19 na região Tohoku, essa estética já se sedimentava para os nipônicos. Tanto que eles não estranharam o trabalho de outro pioneiro: Rune Naito!
E desses clássicos também adoro a Eico Hanamura - as ilustrações dela tem um clima anos 1970 delicioso!
Então, resumindo: kawaii pode ser artigos de papelaria e utensílios, pode ser manga e anime, pode ser roupa, pode ser até… avião.
Existe ainda muito assunto sobre o kawaii. Vou fazer mais posts a respeito, mas já dou uma prévia aqui:
. Quem é a rainha do kawaii? Ela mesma! Eu sei, você já adivinhou! Such a queen que merece um post só para ela - ou quase…
. “Isso está fofinho demais!” Eu sei, e também acho. É por isso que também vou levar você para o lado mais obscuro do kawaii…
. Onde é a meca kawaii? Ah, essa é fácil! Em breve também conto a história de um dos bairros mais conhecidos do Japão e alguns segredinhos sobre ele!
. E essa cultura dos mascotes, hein? Tem que ver isso aí!
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