Brat Pack parte 4: Clube dos Cinco
Guardei o GRANDE destaque para a parte 4, mas… você já viu os posts anteriores sobre o Brat Pack que eu mostrei aqui no blog? Não? Então leia-os antes, per favore! São eles:
. O que é o Brat Pack, afinal, e quem faz parte dele?
. Qual é o primeiro filme do Brat Pack? Há controvérsias…
. O trio de ouro do Brat Pack: Molly Ringwald, Anthony Michael Hall e John Hughes
Pronto? Podemos prosseguir?
Ah, e digamos o óbvio: ESSE POST CONTÉM SPOILERS DE CLUBE DOS CINCO.
Bora!
Hughes diz que fez o roteiro desse longa em apenas dois dias, entre 4 e 5 de julho de 1982 (4/07 é feriado nos EUA). A história toda se passa em um ambiente só, uma escola, e em um dia. São 5 jovens que estão em detenção por motivos diferentes e que, a princípio, acreditam que são muito diferentes entre si. Ao longo do dia, eles vão criar empatia entre si e descobrem que possuem questões e inseguranças comuns ao grupo.
Como explicar a importância desse filme para quem nunca assistiu? Fiquei pensando nisso e é inevitável cair no clichê já dito: Clube dos Cinco (1985) é um filme para adolescentes que não é uma comédia e sim um drama. Encara o jovem como alguém que possui problemas, muitas vezes negligenciado e agredido pelos adultos. Reforça a ideia maniqueísta que faz parte de toda a filmografia de Hughes, ainda que dessa vez sejam todos os jovens da tal "hierarquia estudantil", do esportista popular à menina esquisitona, contra um vilão adulto, o vice-diretor Vernon (Paul Gleason). Critica esse sistema educacional e o caráter punitivo de uma detenção: ela funciona? Ela redime?
Ringwald e Michael Hall nem fizeram teste - Hughes já havia trabalhado com eles em Gatinhas e Gatões (1984) e simplesmente os convidou para esse próximo longa. Existe uma teoria que Ringwald quis o papel de Allison mas ela mesma nega - faz sentido que ela quisesse Claire, algo diferente dela e do seu papel anterior. O casal, o mais novo do elenco, começou a namorar durante as filmagens.
Já papel de John Bender não foi de Judd Nelson logo de cara. Até Estevez queria fazer Bender mas acabou como Andrew. Ainda concorreram Nicholas Cage (!) e John Cusack (!!). Nelson levou, e parece que entrou tanto no personagem que ficou insuportável, incontrolável, ficava provocando Ringwald mesmo nos intervalos das filmagens (ela diz em entrevistas que não se importava, sabia que era um tipo de laboratório para a atuação). Mas Hughes era muito protetor em relação a Molly e chegou a mandar Nelson embora no começo das filmagens. Houve uma reunião que Sheedy dirigiu, e todos intercederam por ele com Hughes pedindo por uma segunda chance. E foi assim que Nelson seguiu no longa.
Ninguém do mercado cinematográfico botava muita fé no projeto, que tinha praticamente um cenário e poderia facilmente ser uma peça de teatro, com muito diálogo. E pelo menos uma cena foi cortada: a que a professora de educação física interpretada por Karen Leigh Hopkins seria vista pelada no vestiário através de um buraco na parede da biblioteca onde os 5 personagens principais estão. Hughes tem uma queda por esse tipo de cena tosca - lembra que em Mulher Nota 1000 uma menina que está tocando piano se vê em uma confusão quando a lareira começa a sugar todos os móveis da sala, inclusive a roupa dela... e ela mesma, de calcinha e sutiã?
Ringwald e Sheedy teriam protestado contra a cena machista e Hughes as ouviu. Leigh Hopkins acabou fora do longa. Ela é uma das roteiristas de Lado a Lado (1998), aquele dramalhão com Julia Roberts e Susan Sarandon. Mas nunca fez sucesso como atriz - será que as meninas estragaram a grande chance dela? Não dá para saber como ficaria o longa com essa cena, mas dá para concordar com elas que… nada a ver, né?
E Hughes tinha criado a cena provavelmente de caso pensado. Um dos executivos do estúdio chegou a reclamar para ele: “Não tem ação, não tem festa, não tem nudez", duvidando do apelo do longa para o público teen.
Outra ideia de Ally: o lanche de Claire. Foi ela quem deu a ideia de ser sushi. Claire é bem zoada pelos outros por causa disso!
As cenas mais pesadas dos filmes são na verdade descritivas. Brian, por exemplo, confessa que o motivo pelo qual está na detenção é porque ele levou uma arma para a escola. Sua ideia era se matar - ele não aguentava a pressão imposta para tirar as melhores notas. Bender sofre agressões físicas do seu pai - o velho papo da violência gerar violência.
Ah, e as razões pelos quais os outros estão em detenção?
Andrew colou a bunda de um menino zoado com fita porque queria se mostrar para os amigos. Claire faltou para fazer compras - claro. Bender ligou o alarme de incêndio.
E Alisson?
É o melhor personagem de todos, na minha humilde opinião. O seu desespero por ser ignorada pelos pais faz com que ela esteja na detenção, segundo a própria, porque não tinha nada melhor para fazer, simplesmente. Não dá para ter certeza: sua personagem mente, é misteriosa, só fala depois de quase 30 minutos de filme. O momento mais tocante é esse:
Falando em momentos clássicos de Clube dos Cinco: e a cena da dança com eles doidos de erva?
No roteiro original, só a Claire dançava, tipo coreô da doida que está fumada. Molly implorou para Hughes para não fazer a dança sozinha. Nunca disse, mas dá para entender: acho que ela tinha medo de ser zoada pelo resto do elenco, mesmo!
Outros improvisos:
. Brian dizendo que tinha uma identidade falsa para… votar. Ideia do próprio Anthony Michael Hall.
. O punho fechado para cima de Bender no fim do longa. Hughes pediu para Nelson ir improvisando ações, e o punho foi escolhido.
E fatos peculiares:
. A caspa de Allison é parmesão. Ufa.
. As cenas foram filmadas em sequência, na ordem do roteiro, coisa muito rara em Hollywood. Isso deve ter ajudado os atores no desenvolvimento de seus personagens.
. Hughes aparece no longa como pai de Brian. A mãe é Mercedes Hall, que é a mãe de Michael Hall na vida real. Mercedes é uma cantora de jazz - o que é engraçado porque é mais uma coisa em comum com Ringwald, cujo pai é pianista de jazz.
. A estátua que fica no meio da biblioteca é uma versão da obra Standing Figure, Knife Edge de Henry Moore. A original fica no parque Greenwich, em Londres.
De um lado da trincheira, a Geração X, que só conseguia pensar em si mesma e nunca chegaria aos pés da construção do American Way of Life ou da ideologia cheia de propósito dos que vieram antes. Do outro, os babyboomers que se perguntavam: do que raios esses jovens reclamam tanto? Hughes e o filme claramente estão do lado do primeiro grupo.
Por fim, existe uma teoria misteriosa e nunca confirmada que Hughes teria um script de uma sequência de Clube dos Cinco. Ele morreu em 2009 e isso ainda não veio à tona, 10 anos depois. Será que existe mesmo? E como seria?
Recentemente perguntaram para Judd Nelson sobre o que ele achava de um remake de Clube dos Cinco. Ele disse: "Sem Hughes? Nunca!” Também existe a teoria de que o servente da escola Carl (John Kapelos) seria uma representação do que Bender se tornaria quando virasse adulto. Mas, na mesma ocasião, quando perguntaram para o ator onde ele imaginaria que Bender estaria hoje, ele respondeu:
"Na Casa Branca".
Se você gostou do texto ou gosta do Clube dos Cinco, é sinal que tem bom gosto. Então talvez também curta esses posts:
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AH: e o próximo post dessa sequência Brat Pack é sobre um filme que é pior que esse Clube dos Cinco, mas que é legal mesmo assim, vai. Alguém adivinha?