A lista que mais importa em 2019 se você quer saber do futuro: a retrospectiva do ano do TikTok no Brasil

Você ainda não baixou o TikTok? Bom, confesso que nem eu: não por falta de vontade mas me sentiria o maior tiozão. Todo mundo sabe que TikTok é território da misteriosa Geração Z, essa que parece tão distante dos autocentrados millennials que nem eles conseguem decifrar direito. Nenhuma descrição em apresentação marketeira sobre a Geração Z conseguiu me convencer até hoje - ou ela parece incompleta, ou ela parece datada, ou ela parece errada. É como se eles nos escapassem. E também é um mal da juventude no geral, não importa a geração; a minha turma tinha um meme na época que nem se falava meme, a gente dizia a frase “Ah, eu sou tão complexo, você nunca me entenderia” em tom de chacota. Mas no fundo sabíamos que ela tinha um pezinho na realidade. O jovem é muito autocentrado, né? Outra frase, aliás, era “Toda brincadeira tem seu fundo de verdade".
Tem quem continue nessa fase complexa até hoje… HAHAHAHAHAHAHA

Mas voltando: TikTok. É considerado o Eldorado para as marcas. Para quem trabalha com comunicação, portanto, também tem que ser. Nunca baixei mas vejo vídeos e ele me instiga completamente. É uma outra narrativa, é outra coisa. E nesse sentido é um storytelling vanguardista: fragmentado, muitas vezes não-linear e dodecadônico. Não tem story: é um caos superestimulante.

E saiu a primeira retrospectiva do TikTok no Brasil, sabia? Referente ao ano passado, ela traz algumas coisas que provavelmente correspondem a preferências da Geração Z mais early adopter. Vai daí que fiquemos de olho. Seguem, por exemplo, as 5 músicas mais curtidas e usadas nos vídeos:

Wannabe - Why Mona

Uma versão de Wannabe das Spice Girls, quem diria?
Pelo que entendi, o Why Mona é especializado em recriar hits. Essa versão de Wannabe é de 2017, o que aumenta o mistério dela estar nessa lista de 2019. É um projeto paralelo do Unlike Pluto, alcunha do DJ Armond Arabshahi, com voz de Joanna Jones. Jones tem aquela coisinha no seu vocal meio Lana del Rey, mais vintage que Spice Girls.
Essa coisa de nostalgia dos jovens, aliás, é uma bela discussão para outro post. Também tenho, mas não deixo de ver algo esquisito nisso.

Old Town Road - Lil Nas X e Billy Ray Cyrus

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Essa dispensa apresentações, e já falei bastante sobre antes, né?

Barking - Ramz

Mais uma música de 2017. Barking é uma área do Leste de Londres e a música do rapper Ramz, que é inglês, chegou nas paradas no começo de 2018 por lá. No meio de 2019 Ramz, cujo nome real é Ramone Rochester, postou a palavra suicídio nas redes sociais. Os posts foram posteriormente apagados e substituídos por uma postagem onde se lia: Ramz is in the right hands getting the support he needs. Atualmente ele está tuitando normalmente e lançou, em novembro, uma música sobre o assunto que busca trazer mais conscientização sobre o tema:

Absolutely Anything (feat OR3O) - CG5

CG5 é Charlie Green, um cara de 20 anos que faz música desde os 5 e assim como muitos fenômenos da música mais recente (de Justin Bieber a Mallu Magalhães), surgiu na internet. Absolutely Anything, outra do fim de 2017, foi a que estourou mais. OR3O, a parceira na música, também é novinha do rolê. Para te falar a verdade, acho a OR3O mais interessante que CG5, meio vocaloid (tipo voz gerada no computador, como a Hatsune Miku e outras), meio j-pop. Tem até um cover de kawaii-metal! É surreal quando a gente (no caso de você também ser uma cacura como eu) vê a quantidade de visualizações desses vídeos e pensa: "Caraio, mas eu nunca tinha ouvido falar nessa porra".

The Weekend (Funk Wav Remix) - SZA & Calvin Harris

Por que esse remix específico? Não faço ideia, o que sei é que: 1. é gostosinho; 2. também é do fim de 2017. Temos um padrão? Bom, SZA é mara e merece o mundo. Calvin Harris o que tenho a ver.

Vale dizer que, entre as hashtags mais usadas, estão uma que envolve a música de Alok de 2018 Pray (falando em padrão…) e outra com Onda Diferente, da Ludmilla com Anitta e Snoop Dogg, a única coisa realmente boa de Kisses, o álbum da Anitta de 2019. Muito que bem!

Amigas e rivais

Amigas e rivais

Existe a música pop perfeita?

Há mais de um ano, em maio de 2018, matemáticos da Universidade da Califórnia declararam a descoberta de uma fórmula da música pop perfeita estudando 500.000 top 100 singles do Reino Unido entre janeiro de 1985 e julho de 2015 para determinar quais características eram as mais frequentes.

Muita coisa esquisita, né? Um single que entra nas paradas em 80º e não sai disso é material de estudo para descobrir os segredos de um pop perfeito? Se a universidade fica na Califórnia, por que caralhos eles foram olhar para as paradas do Reino Unido?

Segundo a Dra. Natalia Komarova, alguns segredos são:
. Cantora mulher
. Músicas mais felizes - aquela famosa canção para dar um up no domingo ensolarado
. Músicas dançantes, menos "acústicas”
Ela ainda fala, sobre as letras, que por mais que a quantidade de palavras negativas como kill e hate tenha crescido nas últimas 3 décadas, o público segue preferindo músicas alegres. Chora, Lana del Rey.

Eles ainda afirmam que esse algoritmo descoberto pode prever hits com uma eficácia de 86%.
Bom… De lá para cá, quem chegou ao topo da Billboard na parada de streaming?
Er…

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Entre maio e junho, o número 1 na parada de streaming da Billboard foi ocupado por Childish Gambino e sua inteligente e franca This is America. Quando XXXTentacion morreu, sua música Sad! substituiu This is America por duas semanas. Ela foi seguida por músicas do Drake. Ainda tivemos Eminem, Kanye West, Lil Wayne… O fim do ano foi dominado finalmente por uma mulher: Ariana Grande com Thank U Next.

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Não diria que Thank U Next é necessariamente feliz, e vocês? Mas sim, é uma letra que reconhece a importância do passado, do aprendizado com cada relacionamento… Afff não acredito que estou analisando a letra de Thank U Next a esse ponto! kkkkkkk

Em 2019, tivemos Halsey com Without Me, a mesma Ariana com 7 Rings inspirada no standart My Favourite Things, Lady Gaga e Bradley Cooper com Shallow, Lizzo com Truth Hurts, Billie Eilish com Bad Guy, Jonas Brothers com Sucker mas quem dominou mesmo foi Lil Nas X com Old Town Road.
A música de Lil Nas X é feliz? Não sei dizer, mas é de festa, é meio revoltinha adolescente, quebrou o recorde anterior de semanas no topo do Hot 100 da Billboard que já foi de Mariah Carey com Boyz II Men (a One Sweet Day, que não é exatamente dançante) e de Luis Fonsi + Daddy Yankee + Justin Bieber (o onipresente spaninglish Despacito, que aprimorou o nosso vocabulário de espanhol ao lado das letras da Shakira, do RBD e de Alejandro Sanz).

Considero Old Town Road, One Sweet Day e Despacito bem diferentes entre si, todas com seus diferenciais maravilhosos. A Old Town Road original dura menos de dois minutos e agora a gente sabe que seu autor é gay, puxa um estilo que vem sendo chamado de country trap (!?), é carismático (basta ver suas redes sociais) e surgiu de redes sociais de Gen Z. Não subestimem o novo candidato a rei do pop, viu?
One Sweet Day é da ultimate diva Mariah Carey com Boyz II Men, portanto mistura certa latinidade possível para a época (1995) com o R&B que estava bombando. Mariah já era veterana. O eterno hit de todo fim de ano All I Want for Christmas is You havia sido lançado um pouco antes, no fim de 1994. E One Sweet Day é uma música de luto, quase um gospel sem sê-lo. Babado.
Despacito, bem… São dois latinos de verdade que falam espanhol de verdade com o principezinho que surgiu do YouTube. Sem Despacito talvez Anitta não teria conquistado esse espaço internacional que vem conquistando. Virou uma gíria que uniu o mundo: se você falasse despacito no fim de 2017 para um canadense, ele ia saber do que você estava falando. Claro que existiram diversos outros artistas latinos para que todo esse sucesso de Despacito fosse possível.
E é tudo música pop. Perfeitas, sim.

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Existe entre os gays o mito do pop perfection.
Eles dizem: Born This Way por Lady Gaga? Pop perfection!
Emotion da Carly Rae Jepsen? Pop perfection!
Blackout da Britney Spears? Pop perfection!
(acontece que eles costumam dizer que coisas são pop perfection sem muito critério; brigam entre si por causa disso; "tudo é histórico e nada mais importa além da minha opinião")

Essa é a propaganda do jogo Pop Up Perfection

Essa é a propaganda do jogo Pop Up Perfection

Mas essa história de perfeição pop sempre nos leva aos Beatles. Ou não. Sei lá, para mim leva!

São várias as músicas deles que para mim se encaixam no que a gente imagina que é pop perfection. Além dessa acima, tem Something, She Loves You, Help, Hey Jude (que eu acho um saco mas enfim)… Lista interminável.
Mas o que Lennon e McCartney consideram pop perfection?
John Lennon e também Pete Townshend (do The Who) já declararam que essa era a música pop perfeita:

Dançante?
Feliz?
Bom, tem vozes femininas.

No caso de Paul, ele já disse que sua música dos Beatles favorita é Here, There and Everywhere.

Mas a sua música favorita de todos os tempos é de outra banda contemporânea dos Beatles. Essa aqui:

E para mim Paul está certo: God Only Knows é total pop perfection.

Mas essas coisas variam. Para a gente, para a ocasião. Tem músicas que eu acho perfeitérrimas e não fazem tanto sucesso - então talvez precisemos rever essa ligação que a gente faz entre paradas e sucesso com a perfeição do pop. É relativo, provavelmente. Depende da sociedade, do momento histórico, das referências culturais em alta.
E falando em God Only Knows, reouvi uma música recentemente que cita essa e que eu acho uma delícia apesar de pouca gente conhecer.

Sabe o Ludov? Antes eles eram os Maybees e a Vanessa Krongold cantava em inglês. Se escreve Maybees mesmo, mas no Spotify estão como The May Bees.

Hum, acho que isso é assunto para outro post.