Meio que levamos um pito da Miuccia Prada

Lembra que eu falei no post sobre a temporada de Londres que não sabia se ia comentar Milão porque a Prada tinha sido muito chata ao meu ver?
Pois é. Ainda não tinha lido o que Miuccia Prada em si tinha a dizer sobre essa coleção. Está no WWD.

It’s a total contradiction. We need to consume less, but they want newness — clients want it, journalists want it, press want it, people want it. So probably, it’s a contradictory subject. The real truth is that everybody wants more and wants newness.
— Miuccia Prada para o WWD
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A icônica Freja Beha abre o desfile da Prada de spring-summer 2020

Uma brusinha canelada pólo, uma saia branca mídi, um sapato um tanto horroroso

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Horroroso, sim

Mas é Prada, então tudo bem: a Prada faz coisas horrorosas que a gente acaba curtindo

Miuccia reconhece que o papel dela, assim como a atitude dos jornalistas e compradores, é contraditório no momento. Ela comenta como os nossos tempos estão over, cheios de tudo, e ao mesmo tempo existe um chamado para a interrupção do consumo e da produção. Falei um pouco disso no começo do meu texto sobre a Semana de Moda de NY. Mas e como fica o estilista? Como agir e como criar nesse cenário?
Ela tentou fazer "menos", no que diz respeito à estética. A Prada começou a desfilar suas coleções na era do minimalismo, os anos 1990, com um charme no resgate do retrô e no desafio de transformar o que teoricamente não é de bom gosto em algo fashionista, quase sempre por vias intelectuais. Uma marca para inteligentes, iniciados; até um pouco esnobe nesse sentido de mais informação e contextualização que as outras. Desfiles misteriosos que podem ser lidos-decifrados de diversas maneiras.

Então essa é uma resposta interessante em forma de desfile para os dias de hoje?
Hum, é sim.
Me convenceu?
Sim.
Gostei mais do desfile?
Não. Nem um pouco.

Esses lookinhos acima fazem parte da galeria “até gostei mas esperava mais".
É isso, vida que segue.

Aqui está a Miuccia, demonstrando-se preocupadíssima com a minha opinião kkkkkkkkkkk

Aqui está a Miuccia, demonstrando-se preocupadíssima com a minha opinião kkkkkkkkkkk

Mas que terror: a moda ainda não alcançou o cinema

A última coleção da Moschino, de resort 2020, foi desfilada em Hollywood e apostou no terror como inspiração.

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Oh, dear

Is my make-up that bad?

É uma coisa bem caricata, bem engraçada, com momentos, adivinha… guro kawaii (saiba o que falei sobre o guro kawaii nesse link). Tem mais fotos aqui nesse link do Fashionista e também divido com vocês o vídeo abaixo.

Olha a drag Violet Chachki dando um susto na Aquaria e na Pabllo Vittar! Risos!

Mas tanto a Moschino quanto outras marcas, tipo a Prada, estão apostando no terror antigo, o vintage, o do que os críticos especializados chamam de jump scare.

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Prada fall 2019

Com toque de noiva de Frankenstein

Aproveite para ver mais dessa coleção da Prada com texto da super Suzy Menkes aqui. Aproveito para deixar uma citação da própria Miuccia Prada tirada desse texto:

I would say that it reflects the current world, where there is a lot of danger, a lot of fear, a lot of war around us. Romance is an idea of opportunism, of good will, and of good sentiment – the opposite of fear. This is about love stories and introducing something positive. Romance means ideas.
— Miuccia Prada para Suzy Menkes

Medo. Pulo de susto. Já temos tudo isso na vida real atual. Mas poucos desfiles dessa onda fashion de terror acompanharam o chamado pós-terror, tendência atual dos cinemas. Escrevi sobre o terror da moda no site da Lilian Pacce em abril, mas antes de ter feito essa reflexão. Agora, penso que quatro dos poucos que já deram esse clima pós-terror, mais para o arrepio surreal do que para o grito primal, são…

Marc Jacobs spring 2014, precursor total. Uma trilha densa e uma sensação de que algo está para acontecer - mas não acontece!

A Calvin Klein de Raf Simons e seu “estado de emergência” com roupas para o apocalipse (faixa refletiva, balaclava, remendos) do fall 2018 (veja aqui), culminando na coleção de spring 2019 que homenageava um clássico do cinema, Tubarão, mas o juntava com outras coisas, como A Primeira Noite de um Homem, e suspendia o susto, transformando o clima de terror no desfile em algo mais psicológico, uma permanente sensação da eminência da tragédia, as águas da parede à espreita.
E no fim deu-se a tragédia fashion: essa foi a última coleção de Simons para a CK, e a marca anunciou que não vai mais fazer desfile.

Rick Owens fall 2019: o bizarro sempre esteve no terreno de Owens, circundando seu universo criativo. Pós-terror na veia.

Gucci fall 2018, que ficou famoso por causa da cabeça-acessório - risos risos risos. O estilista Alessandro Michele, que me parece um freak nerd que adora ficção-científica e filme B, depois também fez um desfile em Arles de cruise 2019 num cemitério, que também tem a ver com esse clima mas puxa mais para o assustador-padrão. Vale a menção de qualquer forma e o desfile é bem bom - assista no link.

Bom, você está viajando nesse papo de pós-terror? Eu também estava, e aí ouvi esse podcast:

Agora chegamos na pergunta de ouro: por que a moda ainda não engatou nesse pós-terror? As possibilidades são várias, mas eu tendo a ficar em duas:
. A moda de luxo, essa que vai para a passarela, ainda não conseguiu no geral processar essa ideia do pós-terror que está intimamente atrelada a soluções inventivas de trama e efeitos especiais em baixo orçamento. Eles não trabalham com baixo orçamento, e nem precisam. Um pode (e talvez deva) apresentar opulência. Outro tem que quebrar a cabeça para fazer um roteiro ótimo que caiba numa quantidade de dinheiro diminuta. Universos bem díspares.
. O pós-terror discute questões da sociedade que a moda no geral não quer discutir ou, quando discute, prefere usar de outros tipos de metáforas; acha que não precisa recorrer às ferramentas do terror para falar dessas questões.

Pensando bem a moda e o terror são vistos de maneira muito parecida. Ambos são considerados escapistas. Ambos são, no fundo, retratos da realidade e usam artifícios para representá-la de maneira mais criativa.

Minha lista pessoal para você que quer saber mais do pós-terror do que do terror fashion…

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Suspiria

A nova versão é tão fashion (de um jeito diferente) quanto a primeira

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Nós

Ao lado de Wild Wild Country, esse longa nos diz que usar vermelho é bizarro - e a gente quer usar mais ainda!

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Hereditário

Toni Colette: melhor que Olivia Colman, que Glenn Close e todo o mais. Se liga, Academia!

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Boa noite, mamãe

O futuro está nas mãos da nova geração…

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Corrente do Mal

Um nome horroroso para um filme incrível: uma atualização dos filmes adolescentes de terror dos anos 1980

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The Babadook

Não faça como eu, não demore tanto tempo para assistir Babadook caso ainda não tenha assistido. Não é o que você está pensando, garanto!