Mas que terror: a moda ainda não alcançou o cinema
A última coleção da Moschino, de resort 2020, foi desfilada em Hollywood e apostou no terror como inspiração.
Oh, dear
Is my make-up that bad?
É uma coisa bem caricata, bem engraçada, com momentos, adivinha… guro kawaii (saiba o que falei sobre o guro kawaii nesse link). Tem mais fotos aqui nesse link do Fashionista e também divido com vocês o vídeo abaixo.
Olha a drag Violet Chachki dando um susto na Aquaria e na Pabllo Vittar! Risos!
Mas tanto a Moschino quanto outras marcas, tipo a Prada, estão apostando no terror antigo, o vintage, o do que os críticos especializados chamam de jump scare.
Prada fall 2019
Com toque de noiva de Frankenstein
Aproveite para ver mais dessa coleção da Prada com texto da super Suzy Menkes aqui. Aproveito para deixar uma citação da própria Miuccia Prada tirada desse texto:
“I would say that it reflects the current world, where there is a lot of danger, a lot of fear, a lot of war around us. Romance is an idea of opportunism, of good will, and of good sentiment – the opposite of fear. This is about love stories and introducing something positive. Romance means ideas.”
Medo. Pulo de susto. Já temos tudo isso na vida real atual. Mas poucos desfiles dessa onda fashion de terror acompanharam o chamado pós-terror, tendência atual dos cinemas. Escrevi sobre o terror da moda no site da Lilian Pacce em abril, mas antes de ter feito essa reflexão. Agora, penso que quatro dos poucos que já deram esse clima pós-terror, mais para o arrepio surreal do que para o grito primal, são…
Marc Jacobs spring 2014, precursor total. Uma trilha densa e uma sensação de que algo está para acontecer - mas não acontece!
A Calvin Klein de Raf Simons e seu “estado de emergência” com roupas para o apocalipse (faixa refletiva, balaclava, remendos) do fall 2018 (veja aqui), culminando na coleção de spring 2019 que homenageava um clássico do cinema, Tubarão, mas o juntava com outras coisas, como A Primeira Noite de um Homem, e suspendia o susto, transformando o clima de terror no desfile em algo mais psicológico, uma permanente sensação da eminência da tragédia, as águas da parede à espreita.
E no fim deu-se a tragédia fashion: essa foi a última coleção de Simons para a CK, e a marca anunciou que não vai mais fazer desfile.
Rick Owens fall 2019: o bizarro sempre esteve no terreno de Owens, circundando seu universo criativo. Pós-terror na veia.
Gucci fall 2018, que ficou famoso por causa da cabeça-acessório - risos risos risos. O estilista Alessandro Michele, que me parece um freak nerd que adora ficção-científica e filme B, depois também fez um desfile em Arles de cruise 2019 num cemitério, que também tem a ver com esse clima mas puxa mais para o assustador-padrão. Vale a menção de qualquer forma e o desfile é bem bom - assista no link.
Bom, você está viajando nesse papo de pós-terror? Eu também estava, e aí ouvi esse podcast:
Agora chegamos na pergunta de ouro: por que a moda ainda não engatou nesse pós-terror? As possibilidades são várias, mas eu tendo a ficar em duas:
. A moda de luxo, essa que vai para a passarela, ainda não conseguiu no geral processar essa ideia do pós-terror que está intimamente atrelada a soluções inventivas de trama e efeitos especiais em baixo orçamento. Eles não trabalham com baixo orçamento, e nem precisam. Um pode (e talvez deva) apresentar opulência. Outro tem que quebrar a cabeça para fazer um roteiro ótimo que caiba numa quantidade de dinheiro diminuta. Universos bem díspares.
. O pós-terror discute questões da sociedade que a moda no geral não quer discutir ou, quando discute, prefere usar de outros tipos de metáforas; acha que não precisa recorrer às ferramentas do terror para falar dessas questões.
Pensando bem a moda e o terror são vistos de maneira muito parecida. Ambos são considerados escapistas. Ambos são, no fundo, retratos da realidade e usam artifícios para representá-la de maneira mais criativa.
Minha lista pessoal para você que quer saber mais do pós-terror do que do terror fashion…
Suspiria
A nova versão é tão fashion (de um jeito diferente) quanto a primeira
Nós
Ao lado de Wild Wild Country, esse longa nos diz que usar vermelho é bizarro - e a gente quer usar mais ainda!
Hereditário
Toni Colette: melhor que Olivia Colman, que Glenn Close e todo o mais. Se liga, Academia!
Boa noite, mamãe
O futuro está nas mãos da nova geração…
Corrente do Mal
Um nome horroroso para um filme incrível: uma atualização dos filmes adolescentes de terror dos anos 1980
The Babadook
Não faça como eu, não demore tanto tempo para assistir Babadook caso ainda não tenha assistido. Não é o que você está pensando, garanto!