30 anos de De Volta Para o Futuro 2

Não, esse não é um post da série sobre o Brat Pack que estou fazendo, apesar de De Volta Para o Futuro 2 (1989) ser contemporâneo, da mesma década da era Brat Pack. Michael J. Fox é considerado por alguns como um membro satélite do grupo que a gente chama de Brat Pack, mas eu sinceramente não acho que tem muito a ver: a vibe é outra, os filmes que ele fez são outros. E a trilogia De Volta Para o Futuro não é exatamente sobre amadurecimento e a vida do adolescente - o seu encanto e apelo está na ficção científica de máquina do tempo e na ideia de que a gente poderia mudar nosso passado ou nosso presente para evitar um futuro que não queremos.
(Não que ela seja muito prática: o aquecimento global está aí e a gente continua com nossos hábitos de consumo; mudamos de poliéster para algodão orgânico como se esse fosse o problema…)

Hoje, exatamente hoje, faz 30 anos que De Volta Para o Futuro 2 foi lançado nos EUA.

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Gosto MUITO dessa cinessérie do Robert Zemeckis. De verdade. E o meu preferido é esse segundo. Porque, obviamente, mostrava certas coisas do futuro que faziam a gente sonhar com… o futuro.
Apesar de ser lançado em 1989, o presente para a história do longa é 1985, ano do primeiro filme. E o futuro passa para 30 anos à frente: 2015.

Para 2015, 4 anos trás, De Volta Para o Futuro 2 imaginou coisas que não aconteceram. Não temos carros voadores, por exemplo - aliás, carro é algo quase obsoleto, desejo de boomer ou de Geração X. O legal é transporte compartilhado, e se possível autômato.
Mas quais outras previsões que o longa fez?

Holograma e sequências eternas de filmes

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Uma das cenas que mais me impressionava em De Volta Para o Futuro 2 era essa. Isso ainda não existe mas temos algo parecido com a realidade virtual. E depois de shows com o holograma de Tupac Shakur, em 2020 espera-se uma turnê com uma Whitney Houston virtual no palco. Um filme chamado Finding Jack, ainda sem data de lançamento, chamou a atenção porque vai usar um CGI (imagem gerada em computador) de James Dean, que morreu em 1955. E não é só: antes os diretores Anton Ernst e Tati Golykh queriam Elvis Presley!
Falando em indústria cinematográfica, o comentário sobre sequências cinematográficas (o holograma se refere a uma fictícia 19ª sequência de Tubarão) já era um tanto real na época. Em 1988 foi lançado Sexta-Feira 13 Parte VII: A Matança Continua. O mesmo ano viu A Hora do Pesadelo 4 - O Mestre dos Sonhos. Um ano antes, o 4º filme da cinessérie Tubarão estreava: Tubarão - A Vingança.
De Volta Para o Futuro em si, que bom, ficou só na trilogia mesmo.

Hoverboard

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Um sonho de uma pessoa (eu) que nem andar de bicicleta sabe. Hoverboard. O skate voador não virou uma realidade. Ou melhor, mais ou menos. Assiste aí:

Passadah? Eu também. Dizem que o hoverboard da Lexus custa US$ 10.000. E ele anda sobre a água, ao contrário da sua versão fictícia. Não é exatamente uma realidade acessível. Mas imagina se vira? Por enquanto, o condado de Pinheiros e adjacências se vê invadido de… patinetes. O que soa muito anos 1980, né?

Refrigerante inflacionado

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A Pepsi Perfect custa US$ 50 no longa e choca Marty McFly (Fox). Sabe nada, inocente. A Pepsi em si lançou uma edição comemorativa em 2015 e ela custava US$ 20,15 na época (para formar o ano 2015 no preço). O tempo passou e hoje existem unidades à venda na Amazon por… US$ 230. É pegar ou largar.
(Um refrigerante normal em SP custa uns R$ 5 na padoca, o que significa cerca de US$ 0,0007)

Marty ficaria certamente chocado com outros preços, como o do tênis Nike Air Foamposite, que está por volta de R$ 1.100 no Brasil (ou, na conversão, cerca de US$ 6).
O que nos leva ao próximo tema…

Nike Air Mag

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O tênis que amarra sozinho, sonho de adolescentes preguiçosos, virou realidade. A Nike lançou 89 pares em 2016 que já se esgotaram e hoje você só conseguiria em leilões disputados. O original do filme foi vendido por quase US$ 100.000 em um leilão que rolou em 2018.

Também existe o Hyper Adapt 1.0, que segue mais ou menos a mesma lógica, também é da Nike e foi lançado há alguns anos. Que eu saiba não está mais sendo produzido. A diferença é que ele não tem a carinha do tênis do De Volta Para o Futuro - é mais contemporâneo.

Gadgets vestíveis

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Os óculos fazem chamada, coisa supernormal. Também temos smartwatches, bolsa que carrega celular (a da Alê Farah é tudo, corre atrás)… Mas acho que o mais-mais é o smartphone mesmo, que virou um acessório: a partir dele você faz várias coisas mas também concretiza o seu estilo. Tem capinha, tem a marca dele, tem penduricalho e adesivo que você pode colocar, tem os aplicativos que você usa. Tudo isso faz parte da expressão da identidade, tal qual moda e hobbies.
Eu, por exemplo, fiquei DOIDO quando vi o novo Moto Razr. Não existe coisa mais icônica que celular de flip - e agora existe um smartphone de flip!!!

A nova versão de um ícone: mimdá!

A nova versão de um ícone: mimdá!

Falando nisso: tablet ou smartphone?

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Seja o que for: talvez esse gadget seja a previsão mais certeira de De Volta Para o Futuro 2.

Comida desidratada

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Não existe um "hidratante de comida” - ainda. Mas existe comida desidratada, né? É diferente da pizza fictícia da Pizza Hut, certamente, que tinha a ideia de ser pequenininha e crescer pencas.

Mas você conhece a comida liofilizada? Gente que acampa e faz trilhas pode optar por comer esse tipo de coisa, com prazo maior de validade, preparo simples - e dizem que mantém as propriedades dos alimentos. Geralmente é só acrescentar água e, se você quiser, alguns temperos, ferver um pouco e pronto. Então é mais ou menos o que aparece no filme, mas não é algo normal, da nossa vida cotidiana.

Diria que a tendência desse nosso futuro é que cada vez mais gente não queira alimentos industrializados, na verdade. Ou seja, é a contramão disso.
Na polêmica do hambúrguer plant-based, você é de qual time? O que prefere um hambúrguer caseiro feito de carne e sem processos industriais (porém sustentando uma indústria pecuária) ou um industrializado que imita carne mas é cruelty free?
Sinceramente não sei responder o que acho melhor em questões éticas e saudáveis, mas… prefiro o de carne normal no sabor. E quando não quero comer carne nem nada de origem animal, prefiro outras opções, de preferência não-industrializadas.

Videoconferência

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"Vamos fazer uma call?"
”A gente pode marcar um Skype"
"Faz um Facetime, uai!”
Afff. Odeio.
Bom, é melhor que reunião presencial.

Biometria

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Inclusive para pagamento. Existe. Tá aí.
É confiável? Acho que sim, né, mas às vezes acho que dá ruim.
Por exemplo… em 2013, médicos e enfermeiros foram flagrados usando dedo de silicone para fraudar ponto em SP. Que tal?

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Ah, e existe uma outra ligação do Brat Pack e a cinessérie De Volta Para o Futuro. Lea Thompson! A mãe de Marty McFly também pode ser considerada um membro satélite, porque participou do último filme adolescente com roteiro de John Hughes: Alguém Muito Especial, de 1987. Ela era a lindinha Amanda Jones, objeto do desejo do personagem principal. Em De Volta Para o Futuro 2, ela aparece um pouco… turbinada, digamos.

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No longa o decotão é mais um dos símbolos de decadência de um futuro alternativo. Uma visão certamente moralista - Zemeckis certamente não esperava que um sistema de busca de imagens chamado Google Images tivesse começado com um decote ainda maior que esse.

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Uai, mas não era Fenty?

Não entendi.

Você entende por esse post que só os óculos são Fenty?
Pois é.
A camisa com estampa de Frankenstein é da Prada.

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E sinceramente? A camisa é mais legal que os óculos.

Apesar disso, tenho pensado muito numa frase de Joel Schumacher. Ele disse que fez Os Garotos Perdidos (1987) com vampiros porque vampiros são mais sensuais. E que ele achava o Frankenstein bem pouco sensual.
Acho que foi um shade para o John Hughes e sua Mulher Nota 1000 (1985), que foi claramente inspirado em Frankenstein - os meninos protagonistas estão assistindo um filme sobre o monstro na TV quando pinta a ideia de fazer uma mulher só para eles.
Uma visão um pouco simplista? Talvez. Mas tendo a concordar.
Schumacher também já chegou a dizer que Os Garotos é sobre o medo do outro, do diferente. E tem quem defenda que exista um subtexto homoerótico na trama. Ui!

Você fica sabendo mais sobre o longa Os Garotos Perdidos nesse link.

Novelão da Gucci: Lady Gaga vai fazer a Patrizia e a gente já quer relembrar todos os babados!!!

A essa altura você já leu em algum lugar: a história da família Gucci parece que finalmente vai sair do papel para as telonas, parece que vai mesmo ser dirigida por Ridley Scott mas, ao contrário do que se especulava antes, um dos papéis principais, o de Patrizia Reggiani (ex-Gucci), não é mais de Angelina Jolie e sim de Lady Gaga!
O babado, meu bem, é certo. Porque afinal she's just an italian girl.

O projeto do filme não é de hoje. Notícias circulam desde 2007, e já ligavam o projeto a Scott. Nessa nova notícia ainda não se sabe uma confirmação para o começo das filmagens.

Mas caso você seja novinha ou ache que o assassinato de Gianni Versace é a única tragédia que a moda italiana já sofreu… meu bem. Tenho uma historinha para te contar.

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Patrizia!

Também conhecida como a Vedova Nera da Gucci (viúva negra), que tal?

O assassinato do estilista amigo das celebridades e supermodelos, Gianni, aconteceu em 1997 e assim eclipsou outro assassinato: o de Maurizio Gucci, em 1995. Maurizio morreu em Milão (e não em Miami, como Versace); já tinha vendido toda a Gucci para a Investcorp em 1993; definitivamente não era tão famoso quanto Gianni, que estava sempre sob os holofotes, desfilando, cortejando os famosos. Mas se eu te disser que a história da Gucci daria uma série muito melhor que American Crime Story: O Assassinato de Gianni Versace, você acreditaria? Segura essa, então: certeza que Ryan Murphy só escolheu Gianni Versace porque a história da Gucci acontece entre Florença e Milão, portanto é uma Italian Crime Story. E a prova é o livro que inspira esse projeto de filme de Scott: Casa Gucci: Uma História de Glamour, Cobiça, Loucura e Morte, de Sara Gay Forden, é tão doido que parece ficção. Já li faz um tempo, e estou relendo agora para fazer esse postzinho que vai dar os highlights dessa trama muito maluca que não inclui só Patrizia, mas tem vários personagens. Vem comigo!

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O subtítulo promete

e cumpre!!! Mas o livro tem várias imprecisões históricas, um vai e vem no tempo meio confuso e sem razão. Bom, o importante é entreter ou ser fiel em tempos de fake news? Sei lá… espero que o filme não se baseie somente nele!

Toda boa família italiana tem um patriarca, já diziam as novelas das oito da Globo. Aqui o cara é Guccio Gucci. Nascido em 1881 em Florença, viu seus pais sofrendo para manter um negócio de chapéus de palha. Decidiu zarpar dali e foi trabalhar no mítico hotel Savoy em Londres.

O Savoy Palace Hotel segue como símbolo do luxo jetsetter até hoje

O Savoy Palace Hotel segue como símbolo do luxo jetsetter até hoje

Guccio ficou de olho nas malas e baús, entendendo os códigos da aristocracia e da elegância. Chegou a passar pela Wagon Lits depois, de trens luxuosos, aprimorando ainda mais o seu olhar para esses artigos de couro. Voltou para Florença e casou com Aida Calvelli. Ela já tinha um filho de 4 anos, Ugo, que ele adotou (guarda esse info que ela vai ser importante). Eles teriam mais 5 filhos, dos quais 4 sobreviveram: Grimalda, Aldo, Vasco e Rodolfo.
Enquanto trabalhava de gerente na filial romana da Franzi, uma empresa de artefatos em couro, Guccio almejava abrir seu próprio negócio em Florença. Encontrou um lugar vago na via della Vigna Nuova, que era um ponto ótimo. Abriu uma revendedora de artigos de couro e com o tempo conseguiu também fazer um ateliê no qual produzia itens exclusivos, com design original. Isso era em 1921.

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Guccio e o filho Rodolfo

Em frente à Gucci nos anos 1940

Curiosidade: o Caffè Giacosa, aberto desde 1815 na Via Tornabuoni, pertíssimo dessa primeira Gucci, é o inventor do Negroni. O drinque foi criado em homenagem ao conde Negroni, que era cliente deles!

Nham!

Nham!

Então vamos aos filhos nessa época:

Grimalda, la pettegola (a fofoqueira)

Trabalhava no balcão da loja.

Aldo, o que tinha o tino comercial mais aguçado

Aldo teve 4 filhos: Giorgio, Paolo, Patricia e Roberto. Aldo acabou bem proeminente na empresa ao longo do tempo - foi quem fez a expansão internacional e a princípio era arrojado nos negócios.

Vasco, il succube (o inerte)

Preferia caçar no interior da Toscana sempre que podia e ficava meio de buenas em relação ao poder na empresa, mas cuidava da produção.

Rodolfo, o caçula, apelidado de Foffo

Nessa época ainda bem criança, e depois correu atrás do sonho de trabalhar com cinema.

E o Ugo, o filho adotivo? Bem…

O primeiro problema: Ugo, il prepotente

Ugo não se mostrava interessado nos negócios da Casa Gucci. Sendo assim, Guccio arrumou um emprego para ele com um de seus clientes, o Barão Levi. Acontece que Ugo, casado e todo cheio de se querer, ficava dizendo como era bem sucedido, pipipi popopó. Guccio, que contraiu dívidas na Gucci, pediu um empréstimo para Ugo. E adivinha: Ugo não tinha tanto dinheiro assim. Na verdade, tinha uma amante e gastava o dinheiro com ela! Mas Ugo não quis reconhecer isso para o pai adotivo, afirmando que ia lhe dar um empréstimo sim.
Vai vendo…
Guccio, nesse meio tempo, fez um adiantamento bancário, pensando que pagaria juros para o filho quando recebesse dele. Ugo, ainda sem querer reconhecer a sua própria falta de dinheiro, roubou 70.000 liras do caixa do Barão seu patrão!!! Deu para o pai 30.000, como se fossem seus, e sumiu com a namorada durante 3 semanas gastando o resto! Claro que Guccio acabou descobrindo tudo com o Barão em si. Que papagaiada.
Não é só: Ugo se afiliou ao Partito Nazionale Fascista de Mussolini. Virou um oficial local e praticava o famoso "Sabe com quem está falando?” Eu, hein. Que mancha.

Agora vamos falar de outro episódio no mínimo exótico. O Gucci astro de cinema. Rodolfo.

Maurizio D’Ancora, a fase cinematográfica de um dos irmãos

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Esse aí de cima é o Rodolfo Gucci. Enfrentando o pai, ele encarou uma carreira na telona que começou em 1929. E sabe que ele até fez bastante coisa e ficou conhecido na Itália? Virou astro do cinema mudo, dizem que chegou a ter um caso com a diva mor Anna Magnani (de Roma Cidade Aberta de 1945, A Rosa Tatuada de 1955, Mamma Roma de 1962 e tantos outros) e se casou com uma atriz milanesa, Alessandra Ratti, que usava o nome artístico Sandra Ravel. Alessandra morreu cedo, no começo da década de 1950, mas antes deixou um filho.
Maurizio Gucci.
Siiiim. Maurizio foi batizado com o nome artístico do pai. E como a mãe morreu quando ele era muito pequeno, Maurizio foi criado pelo pai, que era bem linha dura (como todos os Gucci, diga-se de passagem).
Maurizio D’Ancora em cena:

Nos anos 1930 diz a lenda que surgiram os primeiros símbolos da Gucci. A referência ao mundo da equitação viria na forma dos freios de cavalo no mocassim, o pesponto duplo das selas, o vermelho e verde das correias. Os Gucci inventaram que eram seleiros, mas não procede! Até chegaram a fazer sela, mas só depois, e mais para fins decorativos de loja.

Em 1938, Guccio abre loja em Roma (as maçanetas, cópias das da loja da Via della Vigna Nuova, no formato de oliveiras esculpidas em marfim, começaram a fazer parte da iconografia da grife), e em 1947 aparece a primeira bolsa do modelo Bambu, a 0633, com a tecnologia patenteada da alça feita de bambu (eles a aquecem numa temperatura específica até conseguir entortá-la). Consta que eles precisavam encontrar materiais alternativos, devido ao embargo comercial pré-guerra.

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No filme Viagem à Itália, de Roberto Rossellini, Ingrid Bergman usa bolsa e guarda-chuva da Gucci, ambos com detalhes de bambu

No filme Viagem à Itália, de Roberto Rossellini, Ingrid Bergman usa bolsa e guarda-chuva da Gucci, ambos com detalhes de bambu

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Clássico que rendeu muito

O mocassim com os freios de cavalo

Na virada dos anos 1940 para os 1950, a marca está em seu auge. E Guccio morre em 1953, com Aldo, Vasco e Rodolfo assumindo a companhia.

Vasco ficou supervisionando as coisas em Florença; Rodolfo, que desistiu das telonas após a Guerra e a caminhada do cinema italiano para o Realismo, cuidou da abertura da loja em Milão (dizem que ele era supergalanteador e que as clientes ficavam doidas porque o achavam muito parecido com um astro do cinema antigo… Maurizio D’Ancora); e Aldo foi conquistar a América: a primeira loja Gucci fora da Itália abriu em NY.

Os irmãos Vasco, Aldo e Rodolfo

Os irmãos Vasco, Aldo e Rodolfo

Mas e Grimalda, a irmã mais velha? Pois é.

Os Gucci eram MEGAmachistas

Guccio simplesmente não deixou nada para a filha da empresa. E disse para os filhos que mulher alguma deveria assumir a empresa - ever. Estimulava somente os filhos de Aldo a trabalharem lá: Giorgio, Roberto e Paolo (nessa época Maurizio morava em Milão), deixando a Patricia de fora. Quando nasciam, ele dava um pedaço de couro para o bebê cheirar "pois este é o cheiro do seu futuro".
Que belo exemplar de desgraçado, não?
Grimalda ficou com umas terras, uma fazenda e um dinheirinho. Sendo que seu marido Giovanni chegou a salvar o sogro Guccio quando a empresa ia mal na década de 1920. Se eu fosse ela, teria aberto uma concorrente, bem atrevida. Mas ela preferiu ficar de boa, apesar de obviamente não estar feliz com a divisão.

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Jackie O, um dos maiores ícones de moda da época

E a bolsa Hobo que, depois que virou sua preferida, o modelo ganhou o nome de Jackie

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A bolsa Hobo era vendida como unissex

É por isso que o Samuel Beckett, por exemplo, também tinha a sua. Que cult, né?

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A estampa Flora

foi criada por Vittorio Accornero, ilustrador que colaborou com a Gucci entre 1960 e 1981. Nesse período ele desenhou cerca de 80 lenços, incluindo esse!

A lenda conta que a princesa de Mônaco Grace foi em uma loja de Milão em 1966. Rodolfo insistiu em dar-lhe um presente. No fim, ela disse que aceitava um lenço. Mas a Gucci não possuía muitos modelos, apenas alguns com estribo de cavalo estampado, motivos indianos - nada que Rodolfo considerasse adequado para uma princesa. Ele perguntou qual tipo de echarpe ela tinha em mente, e Grace respondeu: "Que tal uma com estampa de flores?” Rodolfo pensou rápido e respondeu: “Acontece que estamos justamente desenvolvendo uma echarpe assim! Prometo que será a primeira a possuí-la!”
E toca a ligar para Accornero para pedir socorro! kkkkk
Fiorio, estampador que ficava em Como, foi quem deu o toque final: ele havia desenvolvido uma técnica que permitia a estamparia com 40 cores diferentes sem que os tons manchassem. Por isso esse floral vivo da Gucci foi tão marcante - ele realmente era uma coisa luxuosa e inédita.

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Olha o lencinho da Grace Kelly

By Vittorio Accornero! A estampa Flora teve um revival grande na época da estilista Frida Giannini e batiza perfume da marca

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vira símbolo de riqueza! Foi criado em 1969

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Clientela abastada & famosa

Sophia Loren (na foto), Liz Taylor, Michael Caine, Peter Sellers, Rita Hayworth

Temos sido mercadores desde aproximadamente 1410. O nome Gucci não remete à Macy’s.
— Aldo Gucci
Famiglia: na foto nem parece uma versão de Dinasty da vida real…

Famiglia: na foto nem parece uma versão de Dinasty da vida real…

Bom, chegou a hora de falar da terceira geração. Quando Vasco morreu, não deixou filhos. Sua viúva concordou em vender as ações para os outros dois irmãos (para o alívio deles). Assim, entram em cena:

Roberto, filho mais novo de Aldo, apelido il prete (o padre)

Teve seis filhos, era bem conservador e religioso. No começo ajudou o pai nos EUA, e depois se estabeleceu em Florença, perto da matriz.

Giorgio, filho de Aldo, o tímido

Teve dois filhos, Alessandro e Guccio. Tinha uma relação difícil com o dominador Aldo. Acabou mudando para Roma e abrindo a Boutique Gucci por lá com Maria Pia, sua segunda esposa. Foi o primeiro ato de rebeldia nesse sentido de alguém da família, quase uma premonição, um laboratório para o que viria depois - a Boutique Gucci vendia artigos mais jovens e com o tíquete médio mais baixo, em desencontro com todo o resto da marca. Aldo disse para a imprensa que ele era uma ovelha negra que trocou um transatlântico por um barco a remo, mas que ele voltaria. E realmente voltou - a Boutique foi reabsorvida pela Gucci e tudo voltou à normalidade… até Paolo mostrar quem realmente era a ovelha negra.

Paolo, filho de Aldo e o mais rebelde

Paolo não gostava do controle do pai, não respeitava a hierarquia. Usava bigode em atitude rebelde (Guccio, o avô, odiava pelos no rosto). O mais criativo, foi o responsável pelos primeiros artigos de prêt-à-porter. As estampas de pombo e falcão nas echarpes vieram dele, um criador de pombos-correio.

Maurizio, filho de Rodolfo, o avvocatino

Superprotegido pelo pai após a morte prematura da mãe, se viu afastado dos negócios por muito tempo.

Cada um dos filhos de Aldo ganhou 10% da parte dele. Rodolfo preferiu não passar sua parte para Maurizio por enquanto por causa do relacionamento atribulado que tinham.
É que Maurizio conheceu uma certa moça em uma festa… e se apaixonou loucamente, para o desespero de Rodolfo!

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Maurizio & Patrizia

Casal 20 que depois subiu no telhado

Reggiani era de família nova rica de Milão: com dinheiro, sem tradição. Não fazia parte da alta-sociedade, mas tinha gostos luxuosos. Ela foi adotada pelo padrasto que trabalhava com transporte de caminhão e ele a adorava, fazia todas as suas vontades. O sobrenome Reggiani é dele. O verdadeiro pai de Patrizia? Há controvérsias: a mãe dela, Silvana, jura de pé junto que é o Reggiani em si. Mas Patrizia sempre o chamou de padrasto…
A esposa de Reggiani morreu em 1956 de câncer. Ele casou com Silvana depois de um tempo, discretamente.

Patrizia e Maurizio se casaram em 1972. Tiveram duas filhas: Alessandra e Allegra.
Rodolfo ficou por um bom tempo sem falar com o filho após o casamento que aconteceu sem sua aprovação. Foi o irmão Aldo quem o convenceu a amolecer. E ele o fez, bem à moda Gucci, encontrando Maurizio como se nada tivesse acontecido e convidando-o para se juntar a Aldo em NY para trabalhar na Gucci por lá.

Enquanto isso, o nome Gucci se popularizava. Nessa época, você podia comprar um chaveiro por US$ 5 ou um cinto inteiro de ouro 18 quilates por alguns milhares de dólares. A marca acabou ficando com uma imagem de barata por causa da adoração pelos mocassins por parte das secretárias de NY e também pela coleção Gucci Accessories Collection, ou GAC, criada por Aldo sob a empresa Gucci Parfums. O plano era deixar a Gucci Parfums cada vez mais poderosa para diminuir o poder do irmão Rodolfo sobre a empresa principal, da qual ele tinha a maioria (50%). Na Gucci Parfums a divisão era menor para Rodolfo, 20%, com Aldo e os 3 filhos cada um com mais 20%. Só que a GAC era uma linha mais barata, de lona e com os monogramas, tipo de nécessaire, vendida em farmácia.

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Bem horrorosinha

Será que é por isso que eu não gosto do monograma até hoje? #influenciável

Os lucros imediatos até aumentavam muito, mas em matéria de imagem, a Gucci ficava desgastada. E a pirataria sambava em cima, porque era mais fácil falsificar uma bolsa de lona que uma bolsa de couro.

Ninguém pode falar que Aldo não tinha bom humor: ele combatia os piratas ferozmente, mas quando descobriu um falsificador que escrevia Goochy na sacola de lona, deixou. Achou engraçado! Isso conversa com a própria Gucci hoje em dia escrevendo Guccy em itens originais!

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Mas acho que chegou a hora de falar de uma coisa muito específica…

O iate Creole

Um dos barcos mais icônicos do mundo dos milionários, o Creole tem uma história e tanto. Com 64 metros e 3 mastros, já foi considerado por conhecedores como o "mais bonito do mundo". Construído em 1925 a pedido de Alexander Cochran, americano que ganhou fortuna com carpetes, viu seu dono morrer prematuramente por causa de um câncer. Seu primeiro nome foi Vira - que nome para um barco, né? Ave.

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Depois disso, mudou de nome para Magic Circle - o que, segundo as crenças dos marinheiros, é um mau presságio... Outro sinal foi o seu batismo - como Cochran estava com tuberculose na época (!!!), seu amigo Fred Hughes fez as honras de quebrar a garrafa de champanhe (para quem não sabe, é esse o ritual de batismo de uma embarcação). Ele teve que tentar 3 vezes até conseguir quebrá-la. Para os marinheiros, se não quebra de primeira… ih…

Em 1948, foi parar nas mãos de Stavros Niarchos, o ricão grego rival de Onassis, que finalmente o rebatizou de Creole. E começa a pior maré: a primeira esposa de Niarchos cometeu suicídio com overdose de pílulas no Creole, em 1970. Ele casou novamente com a irmã mais nova dela, que simplesmente vinha a ser a primeira mulher de Onassis! Adivinha… Ela também se matou. A única descendente viva de Tina Niarchos é sua neta, Athina Onassis, que foi casada com o brasileiro Doda Miranda.

Niarchos passou a odiar a embarcação e prometeu nunca mais colocar os pés nela. Vendeu-a para a marinha dinamarquesa, que por sua vez doou-a, sabe-se lá porque, para uma clínica de reabilitação de drogados. Ele ficou supercaído, todo estragado.

E por que te contei tudo isso? Porque Maurizio comprou o Creole em 1982 pelo que foi considerado uma barganha (menos de um milhão de dólares), reformou-o e ele virou um dos símbolos dos Gucci. Ainda é de Alessandra e Allegra Gucci até hoje. Na época, Patrizia ficou com medo de energias ruins no local por causa do passado trágico dele. Maurizio chamou uma paranormal para dar uma limpada. Foi babado: a mulher ficou em transe, viu uma porta onde não tinha porta (mas onde já teve, antes das inúmeras reformas) e gritou "Deixe-me em paz” onde o corpo de Eugenia Livanos-Niarchos foi encontrado. Etalelê.

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E agora, mais um babado…

Paolo mostra as garras

Meu tio era um bom ator, mas como homem de negócios era um lixo. Ele foi esperto o bastante para ter boas amizades, mas não era um líder. Meu pai, por outro lado, era exatamente o oposto: um líder nato, mas com péssimos conselheiros.
— Paolo Gucci

Paolo começou a se desentender com a falta de visão do tio Rodolfo. Estabilizado em Florença, também fazia perguntas incômodas sobre o destino dos lucros da Gucci, que sempre estava com os cofres vazios - e depois, se soube que sua desconfiança fazia sentido, já que o tio e o pai tinham contas milionárias em paraísos fiscais.
Ele acabou mudando para os EUA alegando que o tio estava podando-o no seu cargo de designer. Mas com o pai a coisa também não desenrola bem. Frustradíssimo, ele decide aprontar um negocinho…

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Extravagante e com sede de poder

A gente nunca vai saber direito se Paolo queria o melhor para a empresa e acreditava que estava fazendo tudo pelo bem dela ou se era um doido que queria causar e ter mais poder lá dentro

E aí começava a nascer a marca… Paolo Gucci. Acredita? kkkkk

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Imagina a confusão!

Carteira “original” Paolo Gucci, que não tinha nada a ver com a empresa mãe

Imagina a confusão: Paolo queria vender até em supermercado. Falou com fornecedores da própria Gucci e foi assim que seu tio Rodolfo descobriu os planos.
Paolo foi mandado embora da Gucci em 1980 e processou a empresa da família porque não considerou justa a falta de indenização. Ao mesmo tempo, a Gucci em si aprovou o gasto de US$ 8 milhões, logo de cara, para combater esse novo empreendimento do desgarrado.
E foi assim que uma nova era na Gucci começou: a da guerra da família.

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Tio e sobrinho

Aldo e Maurizio Gucci

O que pouca gente imagina é que Domenico de Sole, que depois viria a ser o CEO do Gucci Group, entrou nessa história nessa época. Em uma viagem para Milão, De Sole foi convidado por um importante advogado que era seu associado para assistir a uma reunião da família Gucci, daquelas bem pesadas com Aldo, filhos e advogados de um lado e Rodolfo, Maurizio e advogados do outro. A conversa esquentou e o associado pediu para De Sole encabeçar para ver se ele conseguia controlar aqueles florentinos.
Foi o que ele fez, sem se deixar intimidar pelo sobrenome deles. Quando ele interrompeu Aldo, dizendo para ele que simplesmente não era a hora dele falar, Rodolfo decidiu contratá-lo - ele percebeu que o filho Maurizio ia ficar cada vez mais alienado da empresa já que Aldo se negava a dar mais participação para ele, e precisava de ajuda nisso.
Depois da contratação, numa reunião de acionistas em Palm Beach, Aldo chamou Paolo - e De Sole foi representando Rodolfo. Ele queria que o voto do filho desequilibrasse a balança na empresa, para ele continuar controlando-a. Mas Paolo respondeu que só votaria com ele se ele o deixasse trabalhar na marca própria…
E aí Aldo pegou um CINZEIRO GUCCI e o ARREMESSOU, falando um nome bem feio, na direção de Paolo. Não o atingiu, mas Paolo e De Sole ficaram cobertos de caco de cristal. Quenda…

Outra tentativa seguinte de reunião com Paolo também foi mal-sucedida. Ele levou um gravador (!!) e começou a gravar tudo o que dizia. Aldo ficou puto. Puxou o gravador da mão de Paolo, partiu para cima dele. Maior barraco. O rosto de Paolo acabou arranhado, saiu sangue, e o cara começou a gritar para os funcionários: "Chamem a polícia! Chamem a polícia!"
Quer emoção? Pois é, aqui tem. E lá vinham mais processinhos movidos por Paolo contra a Gucci.
As manchetes dos jornais se refastelaram, né?

Dizem que Jackie O, vendo as notícias, mandou um telegrama para Aldo que dizia apenas: "Por quê?”

Dizem que Jackie O, vendo as notícias, mandou um telegrama para Aldo que dizia apenas: "Por quê?”

Em 1982, o próprio Aldo contratava De Sole para defender a ele e à empresa dos ataques de Paolo. Paolo foi jogando merda no ventilador, mostrando dinheiro desviado da família para a justiça. Ele morreu de hepatite crônica, com bem menos dinheiro do que um dia já teve, em 1995.

O que você tem que entender a respeito dos Gucci é que eles são todos completamente loucos, incrivelmente manipuladores e nada inteligentes. Eles querem estar no controle, mas assim que conseguem o que querem, eles esmagam você! Eles são destruidores, é simplesmente isso!
— Jenny Garwood, segunda mulher de Paolo Gucci, em entrevista
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A linha de joias que Patrizia criou

Ela convenceu Maurizio no começo dos anos 1980 que ela podia criar uma linha de joias para a Gucci. Não deu certo!

A hora de Maurizio

Depois que Rodolfo morreu (mas antes de Paolo morrer), Aldo estava quase indo para a cadeia por evasão de impostos. E aí Maurizio arquitetou um plano para ter a presidência da Gucci: se juntou a… Paolo. Conseguiu.

Depois, ainda ficou com o controle da empresa inteira em 1992, em um plot twist com direito a passar a perna nos primos e do tio - negociou com a Investcorp, que comprou as ações de todos eles escondendo que o nome por trás da negociação era o de Maurizio.

Quando Maurizio vendeu a marca para o Investcorp, a Gucci estava patinando financeiramente fazia tempo e tinha perdido o seu valor por ter se popularizado demais. Isso porque Tom Ford já trabalhava nela! Ele queria recuperá-la mas não teve jeito. Na época da morte, já morava separado de Patrizia e tinha uma namorada, Paola Franchi, por cinco anos. Estava determinado a casar com Paola - e Patrizia não seria mais a Lady Gucci.

Patrizia encarcerada em 2017

Patrizia encarcerada em 2017

Patrizia passou 16 anos na prisão depois que foi provado que ela foi a mandante do assassinato de Maurizio. Ao sair da cadeia, em 2014, foi perguntada por uma emissora de TV: "Patrizia, por que você contratou alguém para matar Maurizio? Por que você mesma não atirou?"
E ela respondeu:

Minha vista não é tão boa, e eu não queria errar.
— Patrizia Reggiani para a TV, ao sair da cadeia

SIM, meus caros. Mais um Oscar da Lady Gaga no forninho.
Em outra entrevista, Patrizia declarou que esperava voltar a trabalhar para a Gucci em si. “Eles precisam de mim. Ainda me sinto uma Gucci, na verdade a mais Gucci de todos eles", ela disse. Alessandro Michele deve adorar isso tudo, né? Agora, com o filme, talvez seja melhor abraçar a história toda de uma vez. Ou não? Seria um suicídio comercial?
No dia do veredito de Patrizia, dizem que lojas da Gucci espalhadas pela Itália exibiram algemas prateadas em suas vitrines. Apesar disso, a marca até hoje não comenta um A sobre o assunto.

Patrizia saiu da cadeia em 2014, depois de negar a primeira oferta de saída em 2011 porque estaria condicionada a um trabalho, como qualquer cidadão comum. "Nunca trabalhei na vida e não pretendo começar agora", ela teria dito para o advogado. Parece que mudou de ideia: hoje ela como consultora de design da joalheria Bozart.

Imagem da sequência de abertura do filme Manhattan (1979) de Woody Allen

Imagem da sequência de abertura do filme Manhattan (1979) de Woody Allen

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Patrizia em foto mais recente

Cuidado que ela fica uma arara… desculpa, não resisti à piada

Brat Pack parte 5: a dupla de filmes teen de Joel Schumacher

Joel Schumacher é um diretor bastante conhecido pelas coisas de ação que fez. Batman Eternamente (1995), Por um Fio (2002), 8MM: Oito Milímetros (1999). Também tem umas coisas maravilhosas ali pelo meio de sua filmografia como Ninguém é Perfeito (1999) com Philip Seymour Hoffman no papel de uma transexual (em desempenho injustamente ignorado pelo Oscar) desafiando a homofobia do personagem policial machão de Robert De Niro; ou O Cliente (1994) que rendeu indicação ao Oscar para Susan Sarandon.
Mas nos anos 1980 ele tinha começado sua carreira fazia muito pouco tempo. Seu escritório ficava pertinho do de John Hughes e Cameron Crowe. E Schumacher, que começou uma carreira na moda e depois foi figurinista por alguns anos (acredita que é dele o figurino de Interiores e O Dorminhoco, longas de Woody Allen?!), cometeu dois clássicos, um em seguida do outro. O primeiro é um dos símbolos do Brat Pack.

Opa. Você não sabe o que é Brat Pack? Então para tudo e confere esses posts antes de continuar:

. O que é e quem são os Brat Pack?
. Qual é o primeiro filme do Brat Pack? Há controvérsias…
. A santíssima trindade do Brat Pack: Molly Ringwald, John Hughes e Anthony Michael Hall
. O grande clássico do Brat Pack: Clube dos Cinco

Pronto? Preparado?
Agora está na hora de pegar fogo de mentirinha com o St Elmo's Fire, que no Brasil virou O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas (1985)!

O fenômeno fogo de Santelmo, que dá nome ao filme original e também à música tema homônima assinada por John Parr, é metereológico, uma luminescência em plasma que geralmente ocorre em tempestades ao redor de formas afiadas. Parece fogo. Mas não é.
Na letra da música, John Parr canta: “I can climb the highest mountain, cross the widest sea / I can feel St. Elmo's fire burning in me, burning in me”, o que é esquisito porque na verdade o fogo de Santelmo é uma mentira. Mas é causado por causa da eletricidade… Será que é a isso que ele se refere? Parece falar de impulsividade, de garra.
O filme é mais um daqueles sobre amadurecimento, coisa e tal.

7 estrelas promissoras: Rob Lowe é Billy, Ally Sheedy é Leslie, Judd Nelson é Alec, Mare Winningham é Wendy, Andrew McCarthy é Kevin, Emilio Estevez é Kirby e Demi Moore é Jules

7 estrelas promissoras: Rob Lowe é Billy, Ally Sheedy é Leslie, Judd Nelson é Alec, Mare Winningham é Wendy, Andrew McCarthy é Kevin, Emilio Estevez é Kirby e Demi Moore é Jules

A história de 7 amigos recém-formados, enfrentando a vida adulta, é o mote - só que aqui não é Friends, o clima é de drama. Lançado um pouco depois de Clube dos Cinco, tinha tudo para ser um filme tão clássico e importante quanto. Mas faltou roteiro, faltou carisma, faltou música boa (a de Parr é inegavelmente pior que o clássico do Simple MInds Don't You Forget About Me). O Primeiro Ano é ruim. Tem quem defenda que ele é o pior filme já feito! E não foi por falta de aviso: o próprio Schumacher conta no livro You Couldn't Ignore me If You Tried da Susannah Gora que um diretor de estúdio disse sobre o roteiro que aqueles eram “os seres-humanos mais nojentos que jamais vi impressos em uma página".

Não dá para defender muito Schumacher e o seu colega roteirista Carl Kurlander: se eles tiraram todas essas histórias da vida real, como Kurlander alega, a vida real era realmente fodida. De stalker (Kirby) a idiota machista (Billy, que claramente é a matriz do Billy interpretado por Dacre Montgomery na série Stranger Things), os problemas só se empilham. Wendy, por exemplo, é virgem - e isso é visto como algo absurdo. E a atriz que a interpretou já tinha filho na época. HAHAHAHAHA

Jules, Wendy e Leslie - vida difícil a deles perto desses rapazes tontos do filme

Jules, Wendy e Leslie - vida difícil a deles perto desses rapazes tontos do filme

Aliás, vamos falar de idade: como é que pode Nelson, Sheedy e Estevez terem interpretado alunos do Ensino Médio no Clube dos Cinco e recém-formados na faculdade em O Primeiro Ano, sendo que os dois filmes foram lançados em 1985? Mistérios de Hollywood. Os 3 atores foram sugeridos pelo próprio Hughes.

No caso de Moore, ela foi fazer um teste para um filme no escritório de Hughes. Não passou. Saiu toda irritada e apressada. Schumacher olhou para ela saindo (lembra? O escritório dele era no mesmo prédio) e disse para Kurlander: "Corre atrás e descobre se ela é atriz, ela é a nossa Jules!"
E foi mesmo. Imagina o coitado do Kurlander chegando em Demi Moore e perguntando: “Oi, more, tudo? Escuta, você é atriz?"
Se bem que em Los Angeles deviam fazer isso direto.

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Demi Moore

Ao contrário da Demi Lovato, ela realmente chama Demi, está lá no RG dela! kkkkk

Moore era musa mor do Brat Pack, apesar de Molly Ringwald ser muito mais conectada com o termo hoje. E era "da confusão", sabe… Na sua recém-lançada autobiografia, ela conta que ia ser mandada embora de O Primeiro Ano por causa do vício em cocaína, mas se ela desse entrada numa clínica de reabilitação, eles a deixariam continuar. Foi o que ela fez.

St. Elmo’s will always be the movie that changed my life. If I hadn’t gone to rehab to make that film, I really wonder if I’d still be alive.
— Demi Moore no seu livro Inside Out

A personagem de Moore, Jules, também é cocainômana. Uma das cenas que fica entre o bizarro e o dramático é uma das finais, na qual ela tenta se matar… congelada dentro do seu apartamento, que já não tinha móveis porque ela os vendeu para comprar drogas. Jules abre todas as janelas, desliga o aquecedor. "Como assim??”, você se pergunta. Mas o roteirista Kurlander garante que um amigo dele também tentou se matar assim. Chocado!

Tem mais revelações na bio de Demi, claro. A atriz diz que tirou a virgindade de Jon Cryer enquanto filmava No Small Affair (1984) com ele (era a estreia do ator nas telonas, dois anos antes do lançamento de A Garota de Rosa-Shocking). Ela também fala que teve um one night stand com Rob Lowe antes de virar noiva de Emilio Estevez.

Emilio & Demi

Emilio & Demi

Sim, eles começaram um relacionamento durante as filmagens de O Primeiro Ano, assim como outro casal símbolo do Brat Pack, Ringwald e Anthony Michael Hall, começaram a namorar durante as filmagens de Clube dos Cinco. <3 Os brutos e as jovens estrelas de cinema também amam.

Outro fato curioso é que Demi e Emilio terminaram por causa de traições (não fica claro de quem para quem, mas conhecendo o histórico e como eles eram vidaloka na época, provavelmente ambos se traíram). Porém, mesmo depois do término seguiram amigos. E foi acompanhando Estevez em uma pré-estreia, já só na amizade, que Demi encontrou um outro cara… Bruce Willis, que viria a ser seu marido. Sheedy, amigaça de Demi, foi madrinha no casamento.
(Demi & Emilio são amigos até hoje. Ela faz parte do elenco de Bobby de 2006, longa sobre Bobby F. Kennedy escrito e dirigido por ele. O novo marido de Demi na época, Ashton Kutcher, também fez um papel!)

Kevin (Andrew McCarthy) e Jules (Demi Moore)

Kevin (Andrew McCarthy) e Jules (Demi Moore)

E o Andrew McCarthy, hein? Muita gente o aponta como um membro do Brat Pack mas ele nega. Na lógica deles serem, acima de tudo, um grupo de amigos, Andrew, que também fez A Garota de Rosa Shocking, explica que nunca mais encontrou esse povo do elenco depois de O Primeiro Ano e que, na verdade, ele nunca encontrou um dos mais proeminentes membros do grupo, Michael Hall, ao vivo. Eita! McCarthy de fato sempre foi meio que o patinho feio dessa turma - dizem que o povo fazia bullying com ele desde Uma Questão de Classe (1983), que conta com Rob Lowe e John Cusack. Ô, tadinho. Ao mesmo tempo, foi colega de quarto de Estevez, o rei do Brat Pack, como um laboratório para seus respectivos personagens em O Primeiro Ano. Ué…

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Queira ou não

McCarthy seguiu sendo considerado parte do Brat Pack. kkkkkk Já Mare Winningham, como vimos no primeiro post dessa série, nunca foi - já era mãe, então era vista como de outro rolê

Existe uma notícia circulando esse ano de que vai rolar um remake de O Primeiro Ano na NBC em forma de série. Oh, well…

Se a gente pensar em moral da história, a de Clube dos Cinco, aquela coisa de "não se leve pelas aparências, não aceite rótulos”, é mais atraente que a pegada "todo mundo muda quando amadurece, seus amigos da época de faculdade não necessariamente vão ter a ver com você na vida adulta". Para ser bem honesto, acho O Primeiro Ano bem pau molão. Tem várias coisas bizarras na trama, a começar pelos apartamentos - que recém-formado teria dinheiro para bancar lugares tão descolados? Schumacher já disse que isso é uma fantasia bem na linha dos anos 1980, com a cultura yuppie querendo ostentar mais do que podia. Okay then. E esse grupo de amigos é aquele roteiro típico de amigos diferentões para representar pessoas diversas numa mesma trama - mas se eles têm pouco em comum, por que são amigos? (Sim, Sex and The City, eu estou falando com você)

Já o filme seguinte de Schumacher, que muita gente não considera do Brat Pack porque não tem membros desse Brat Pack principal, é MUITO LEGAL.
E traz os Coreys (Haim e Feldman) mais Kiefer Sutherland, que muita gente inclui na lista Brat Pack sim.
Você já adivinhou, né?

Dwayne (Billy Wirth), David (Kiefer Sutherland), Paul (Brooke McCarter) e Marko (Alex Winter)

Dwayne (Billy Wirth), David (Kiefer Sutherland), Paul (Brooke McCarter) e Marko (Alex Winter)

Os Garotos Perdidos (1987) é um caso a parte por aqui. Primeiro porque é o primeiro filme que junta os inseparáveis Coreys - que viraram amigos inseparáveis e voltaram a ser colegas de elenco por mais um monte de filmes. Uma vez que é mais centrado neles, Garotos é quase um filme pré-adolescente, mais próximo de Conta Comigo (1986) e Goonies (1985) do que do Brat Pack. Os Coreys e River Phoenix (de Conta Comigo) até são considerados parte do Brat Pack por alguns, mas fica clara a diferença de idade entre eles e os atores de O Primeiro Ano. Os mais velhos de Garotos, fora Sutherland, não fizeram muito sucesso: o belo Patric chegou a fazer Sleepers: A Vingança Adormecida (1996) sem alcançar o mesmo destaque que os colegas (o elenco incluía Brad Pitt, Kevin Bacon, De Niro e Dustin Hoffman), nunca bateu a fama de Lowe apesar de seu rostinho ter muito potencial; Jami Gertz em certo momento da carreira começou a focar mais na TV e por lá ficou.

Motos, jaquetas: signos ligados ao bad boy nesses longas. Aqui, Jason Patric como Michael

Motos, jaquetas: signos ligados ao bad boy nesses longas. Aqui, Jason Patric como Michael

E segundo: a história de Os Garotos Perdidos é mais fantasiosa. A gente até pode entender como uma metáfora do tipo "negação da vida adulta”, e a inspiração inicial do roteiro foi justamente Peter Pan e os garotos perdidos, que não querem crescer. Mas existe mais entretenimento do que profundidade aqui. Sem julgamentos: nessa pegada, Schumacher manda melhor! Mas os filmes adolescentes de Hughes parecem ter mais nuances e complexidades. Quando Schumacher tentou isso, em O Primeiro Ano, foi um flop.

Kiefer nunca foi exatamente parte do Brat Pack. Mas acabou acrescentado no rol dos bad boys no imaginário dos anos 1980 por causa desse personagem, David. Ficava difícil acreditar na toada do "stay away from drugs” simbolizada no "não tome o líquido da garrafa” quando a turma de David era tão legal - ou, pelo menos, tão mais legal que o resto. Eles pareciam se divertir, ao menos, com suas motos e seu figurino heavy metal. Em contraponto, o look de Sam (Haim), bem coloridão verão, uma pegada parecida com a que a gente viu na temporada 3 de Stranger Things em Eleven (Millie Bobby Brown), ajudava no “lado bom" da força.
Mas nem Haim stayed away from drugs. Feldman cheirava cocaína nessa época, e ofereceu para Haim. Tinham 14 anos. Feldman diz que também foi nessa época que ele e Haim sofreram abusos sexuais do que ele chama de círculo de pedofilia de Hollywood. Feldman hoje é desacreditado e zoado pela indústria cinematográfica como um doido que perdeu o cérebro para as drogas; Haim morreu em 2010, a autópsia e exame toxicológico foram considerados inconclusivos e a causa apontada é a pneumonia, apesar de tanta gente dizer que ele morreu de overdose.
Será mesmo que não existe verdade nesses abusos?

Sam (Corey Haim) na loja de quadrinhos

Sam (Corey Haim) na loja de quadrinhos

Os irmãos Frog, Edgar (Corey Feldman) e Alan (Jamison Newlander). O nome deles é em homenagem a Edgar Allan Poe. E Edgar tem referência dos filmes de ação da época, tipo Rambo, com a faixa na cabeça e o camuflado

Os irmãos Frog, Edgar (Corey Feldman) e Alan (Jamison Newlander). O nome deles é em homenagem a Edgar Allan Poe. E Edgar tem referência dos filmes de ação da época, tipo Rambo, com a faixa na cabeça e o camuflado

Fica atento: o próximo post fala sobre o galã mais belo do Brat Pack… e o seu crime que quase custou sua carreira. Vish!

Um elo entre Procura-se Susan Desesperadamente e... Marisa Monte

Kkkkkk esse título é maravilhoso, né?

Sim, existe um elo entre Procura-se Susan Desesperadamente (1985) e Marisa Monte. Você lembra do filme? Se nunca assistiu, deveria. E nem é pela Madonna, o longa é bem divertido, mesmo!

Um dos primeiros veículos da então princesa do pop do momento, a personagem Susan se mesclou com a de Madonna: ela era misteriosa, sexy, dominadora, desafiadora das convenções, jovem, com um estilo de se vestir arrojado, atrevida. Os homens a queriam e Roberta (Rosanna Arquette), a dona de casa entediada, queria ser como ela. Uma jaqueta que Susan vende em um brechó (Love Saves the Day em East Village, NY, fechado desde 2009) e que Roberta compra e usa faz com que a segunda assuma a identidade da primeira. O poder da moda, não?
A jaqueta foi vendida num leilão em 2014 pela bagatela de US$ 225.000.

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Illuminati, anyone?

Nas costas da jaqueta lê-se Novus Ordo Seclorum: a imagem é uma reprodução do selo da nota de dólar e quer dizer "nova ordem dos séculos” ou "nova ordem mundial”

Mas vamos para a ligação: nem todo mundo sabe mas Procura-se Susan Desesperadamente conta com diversas participações especiais. Por exemplo: a maravilhosa mulher que vende cigarros, do diálogo maravilhoso “Susan! Meu Deus, a gente achou que você estava morta” e a resposta “Eu estava em New Jersey”, é Ann Magnuson. Antes da drag queen Katya sonhar em ser Katya, Magnuson fazia uma personagem de cabaré chamada Anoushka, uma cantora soviética que interpretava músicas pop americanas com sotaque russo. A camarada também fazia parte de um grupo bem doido de música e performance chamado Bongwater. Ou seja, era da ceninha alternas de NY. Outra participação: Richard Hell, co-fundador do Television, é o cara que Susan dispensa logo no começo.

Agora, lembra da aparição dos trigêmeos que foram separados e depois se reencontraram e em 2018 viraram um documentário, o Três Estranhos Idênticos? É por um segundo, se você piscar você perde: Susan desce do carro para ir para a redação do jornal e se depara com eles.

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(Aliás, assistam o doc, é legal)

Logo depois disso, Susan pede um classificado no balcão. O cara lê: "Procura-se estranha que procura Susan desesperadamente” etc etc., e ela responde “Ela vai amar".
Esse cara é o elo. O nome dele, meus caros, talvez, se você for um geek da música, te desperte algo… é Arto Lindsay.

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Nessa época Lindsay também era parte da ceninha. Membro ativo da no wave do fim da década de 1970, fez parte do grupo DNA na guitarra e vocais. Atenção, é BEM experimental, tá?

Os pais de Lindsay eram missionários. Então, apesar de ser norte-americano, ele passou anos entre Recife e Garanhuns. Cresceu vendo o tropicalismo dando frutos. Isso causou um impacto que ficou mais óbvio na dupla que formou com Peter Scherer após Procura-se Susan Desesperadamente, a Ambitious Lovers. Entre as coisas que eles fizeram, está essa versão linda de É Preciso Perdoar do repertório de João Gilberto, de 1991:

Nessa época ele já estava bem mergulhado na música brasileira contemporânea: a dupla do Ambitious Lovers que produziu Estrangeiro (1989) de Caetano Veloso. E finalmente a gente vai chegando perto de Marisa Monte: o segundo álbum da cantora, aquele em que ela diz tchau para Nelson Motta para se encontrar ("Deixe-me ir / preciso andar / vou por aí / a procurar…"), é produzido por Lindsay. Mais (1991) reafirma o ecletismo de Marisa só que também mostra o lado compositora dela. O hit Beija Eu é dela, Arnaldo Antunes e Arto Lindsay.

Essa visão cosmopolita, esse lado quase experimental (em Borboleta, nas misturas de Ensaboa com músicas incidentais, e que também está em Estrangeiro) me parecem tanto vontades dos músicos como a cara de Lindsay. Isso, na minha opinião, ainda é reforçado em Verde Anil Amarelo Cor-de-Rosa e Carvão (1994), outro produzido por ele, um marco que reconstrói a MPB sob essa pecha eclética. A partir daí, toda nova cantora teria uma outra matriz de inspiração, especialmente na questão de repertório, por mais que gente como Nara Leão e a própria Elis Regina já trabalhassem nesses resgates de músicas "vintage", cada uma à sua maneira. A diferença, acredito, é que o novo vintage eram contemporâneos dessas cantoras: Marisa absorve pérolas de repertório de Tim Maia, Jorge Ben Jor, Roberto e Erasmo Carlos, sambas de Candeia, Paulinho da Viola, Jamelão.
Isso sem contar as participações especiais, né? Ryuichi Sakamoto nos teclados de várias faixas de Mais, Laurie Anderson em Enquanto Isso de Verde Anil Amarelo. Lindsay trabalhou com Sakamoto desde a década de 1980, e conhece e trabalha com Anderson desde a tal ceninha de NY.

Também é óbvio que Verde Anil Amarelo e mesmo o Mais são sementes do que depois virou o fenômeno Tribalistas.

Lindsay ainda produziu Barulhinho Bom (1996) e Memórias Crônicas e Declarações de Amor (2000). Universo ao Meu Redor (2006) ficaria nas mãos de outro meio-brasileiro-meio-gringo, o paulistano Mario Caldato Jr.

Voltando um pouquinho, só de brinks:
VOCÊ SABIA que Marisa Monte namorou Nasi? Sim, ele mesmo. O vocalista do Ira!. O relacionamento começou em 1988 e durou um ano e meio. Ou seja, antes do lançamento de Mais. Mas não, me parece que Ainda Lembro não seria uma música composta para ele - ou seria? Marisa divide os créditos da composição com Nando Reis, outro namorado dela. Foi um encontro babadeiro: toda a caligrafia do encarte de Mais, para você ter uma ideia, é de Reis!
A história conta que Marisa já tinha começado a escrever Ainda Lembro (eita…) e Reis ajudou a terminá-la.

Eu adoro: é pop gostoso, é um encontro muito feliz de vozes lindas (dela e de Ed Motta).
Resposta, do repertório do disco Siderado (1998) do Skank, é uma música que Reis fez sobre o término com Marisa. Interessante: já reparou na letra? "Bem mais que o tempo / que nós perdemos / Ficou pra trás também o que nos juntou / Ainda lembro / que eu estava lendo / só pra saber o que você achou / dos versos que eu fiz / ainda espero / resposta".
O “ainda lembro” é uma referência à outra música? Ele quer dizer que ainda espera uma resposta dos versos que ele fez em Ainda Lembro? E quais são os versos? Seriam os cantados por Ed Motta? “Eu errei com você / e só assim / pude entender / que o grande mal que eu fiz foi a mim mesmo"?

A digressão foi enorme! Sorry!
Por fim, fiquem com Onde Você Mora?, que originalmente foi gravada pelo Cidade Negra e também é uma composição de Marisa e Nando. Gosto muito dessa música <3 Ela bem que podia regravar em estúdio.