Uma dupla maravilhosa: Luiz Melodia e Zezé Motta
Esse vídeo aí de cima está no documentário Todas as Melodias de Marco Abujamra, que está em cartaz na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo online – é só chegar nesse link, pagar R$ 6 e assistir (até 5/11 ou quando 2.000 pessoas tiverem a mesma ideia que você, porque depois de 2.000 pagantes eles “fecham” o filme).
O doc é bem bonito – conta, de maneira não-linear, a história de Luiz Melodia. Mas mais do que isso, ele também mostra a poesia de Melodia com muita sensibilidade e belas imagens.
Da Mostra, por enquanto, também vi o Coronation de Ai Weiwei (doc sobre Wuhan em plena pandemia, belo só que muito sofrido e amargo, difícil) e Verlust do Esmir Filho (ficção com Andrea Beltrão e Marina Lima que sinceramente achei que não deu certo, tinha potencial mas ficou pretensioso demais em alguns momentos, bobo demais em outros).
Ou seja, por enquanto Todas as Melodias, que liga Melodia à brasilidade e àquela velha pergunta “O que é ser brasileiro?", é o meu preferido dos que vi. Ainda pretendo ver outros, vamos aguardar kkkkkk
Mas esse post é sobre uma coisa que só fui me tocar ao assistir ao doc. A ligação artística intensa e rica entre Melodia e Zezé Motta.
Pra começo de conversa, lá vamos nós: Zezé, patrimônio vivo da cultura brasileira, não recebe a atenção que merece, em especial nas suas obras como cantora. Ouçam Zezé, assistam Zezé.
Zezé Motta e Luiz Melodia formaram uma dupla no Projeto Pixinguinha, que começou em 1977, foi interrompido em 1997 por falta de verba e retomado em 2004 via Lei Rouanet e Petrobrás. O Projeto Pixinguinha levava shows de música brasileira a preços populares Brasil adentro. Não sei se esse vídeo do começo do post é de um show do projeto – parece. Segundo Melodia em entrevista pra revista Manchete em 1995, depois desses shows que atestaram a química musical deles, quiseram fazer um disco da dupla, mas queriam um disco recheado de hits potenciais. Ou seja, pediram pro Melodia, já com fama de maldito, fazer concessões artísticas pró-vendas. Risos. Claro que ele não quis.
E lá vamos nós, pro que esse casamento artístico rendeu mesmo sem disco-dueto…
O maravilhoso álbum de 1978 da Zezé Motta tem Magrelinha e Dores de Amores do Melodia e O Morro Não Engana, composição dele com Ricardo Augusto. São três das melhores interpretações de músicas da obra de Melodia, sem brincadeira. Dores de Amores, aliás, é um dueto com o próprio Melodia – resquício da vontade dos grandões de gravadora de um disco dos dois? Talvez. A verdade é que, com três das 11 músicas do repertório do álbum, esse é quase o disco que queriam que eles lançassem, né?
Melodia já tinha sido "lançado” no começo daquela década na voz de Gal Costa e o mítico show Fa-Tal: Gal a Todo Vapor – era o hit Pérola Negra, que Waly Salomão, o diretor, quis que Gal incluísse… e ela amou.
Antes desse disco solo de 1978, Zezé já tinha lançado um outro que citei aqui antes: uma parceria entre ela e Gerson Conrad, ele recém-saído do Secos & Molhados. Gosto bastante do resultado, mas era pra ele refletir uma parceria que, me parece, não deu tanta liga. Então, acho que podemos considerar esse homônimo de 1978 como a verdadeira estreia fonográfica da artista.
O reencontro de Zezé e Melodia só se daria em 1985, na faixa que dá nome ao álbum Frágil Força dela. É uma música meio jazzy, bem do jeito que a gente gostava que Melodia criasse, parceria com Ricardo Augusto.
Zezé demorou uma década pra lançar um disco novo. Chave dos Segredos, de 1995, traz uma coisa meio rumba na primeira faixa: Paixão é de, adivinha, Luiz Melodia!
Aí Zezé faz uma maravilha: Negra Melodia, de 2011, é formado só por músicas de Melodia e Jards Macalé. Maravilhoso. Ou seja: O Sangue Não Nega (com Ricardo Augusto), Começar pelo Recomeço (com Torquato Neto), Decisão (com Sergio Mello), Onde o Sol Bate e se Firma (sozinho), Vale Quanto Pesa (sozinho) e Divina Criatura (com Papa Kid) – tudo de Melodia!
Muita gente diz que Zezé Motta é a maior e melhor intérprete de Luiz Melodia, porque ela “entende a poesia dele" (ao que ela sempre responde: “às vezes eu não entendo, mas adoro assim mesmo” Rsrsrsrs!). E sendo que Gal já gravou Pérola Negra e Juventude Transviada.
E é verdade, mesmo: ela é a maior e melhor intérprete.
Melodia morreu em agosto de 2017. Em novembro, aconteceu isso aqui:
<3
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