Qui êtes-vous, Celine Dion?

Você viu a capa da Harper's Bazaar US de setembro com Celine Dion?

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A cantora está bela, fotografada por Mario Sorrenti com styling da diretora global Carine Roitfeld. A capa faz parte da edição Icons, que se espalha pelo mundo - todas as Bazaar, inclusive a do Brasil, usam da temática nesse mês. Tem Alek Wek, Kate Moss, Awkwafina, Alicia Keys… Mas achei essa a mais bonita mesmo, não só pelo clique como pela referência. Você conhece o filme Qui êtes-vous, Polly Maggoo?

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Eu simplesmente AMO esse filme. Ele foca na modelo Polly Maggoo (Dorothy McGowan) e faz uma sátira ácida ao mundo da moda. Após apenas dois anos do lançamento de Courrèges de primavera-verão 1964, que fez com que o estilista ficasse conhecido como o criador da era espacial, o diretor William Klein armou essa comédia que chega a ter ares existenciais. E um desfile feito com… peças de alumínio?!

Acho Qui êtes-vous, Polly Maggoo? sensacional, com uma pegada narrativa diferentona e um atrevimento. Tem participação das modelos Peggy Moffitt e Donyale Luna, duas das musas da época.

Peggy & Donyale

Peggy & Donyale

E acima de tudo o longa tem um bom humor perante a moda que às vezes acho que nos falta - a gente se leva muito à sério, a leveza às vezes faz parte. Celine Dion também sabe disso - seu jeito de encarar a moda, faz um tempo, é com humor. Relembre então o vídeo que ela fez com a Vogue América, bem nessa pegada:

Minissaia: quem inventou? No fundo... ninguém

Além de ter me apaixonado em definitivo por Mary Quant por causa da exposição que está em cartaz no Victoria & Albert Museum, estou muito-muito-muito envolvido com o tema (leia-se: comprei livros e não paro de pensar na trajetória dessa estilista-empresária incrível). Já estava lendo a biografia dela, Quant by Quant, antes de ir. Aliás já estava lendo essa biografia faz tempo. Acho que cabe uma breve explicação:

Geralmente quando estudo algo muito a fundo, acontece alguma coisa com esse algo. Ele de alguma maneira vira notícia. Tipo: começo a ler muito sobre o estilista dos anos 1920 Paul Poiret e, batata, a marca volta (sabe-se lá o porquê, veja aí se não estou mentido). Aí vou procurar saber mais sobre um artista japonês e ele inaugura exposição no MoMA. Coisas assim - talvez o que chamam de instinto jornalístico, mas para mim é algo muito misterioso. Não quero me vangloriar e sim, acredito que sejam apenas coincidências. Só que a partir do momento que percebi isso, fico morrendo de medo de ler uma biografia de quem ainda está vivo, acabar a biografia e… a pessoa morrer. É por isso que não terminei de ler Quant by Quant até hoje - Mary Quant está vivíssima, com 85 anos.

Mary na década de 1960, cabelo assinado por Vidal Sassoon - tá, querida?

Mary na década de 1960, cabelo assinado por Vidal Sassoon - tá, querida?

Um dos temas que me instigam a respeito de Mary Quant é a autoria da minissaia. Tem gente que defende que foi ela. Só que tem quem ache que foi a francesa Courrèges de André Courrèges.

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Courrèges

Clique de Willy Rizzo de 1966

E aí? A autoria é britânica ou francesa? As datas são praticamente iguais. Uma diferença de meses - isso se a gente levar em consideração a barra acima do joelho. Courrèges desfilou "saias curtas" em 1964. No Ginger Group de Quant, de peças mais baratas, existem registros de vestidos bem sessentinhas, acima do joelho, da mesma época. E é difícil, historicamente, encontrar peças da primeira metade da década de 1960 que não tenham sido alteradas (ou seja, encurtadas) pelas próprias donas posteriormente, para se adequarem à moda subsequente!

Só que não sejamos ingênuos. Imagine você, vivendo nos anos 1960. Surge a minissaia na vitrine da Bazaar de Quant ou no desfile de Courrèges. Você acha mesmo que isso foi uma invenção chocante; que as saias eram compridérrimas e de repente estavam curtas? Claro que existem registros anteriores a isso. A saia foi encurtando. Foi um processo!

Vamos para Yves Saint Laurent na Dior:

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O look da extrema direita…

Oi, joelhinho! Coleção Trapeze, fim de 1958

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Mais de Saint Laurent para Dior

Inverno 1960 - curtinho, hein?

E que tal Cristóbal Balenciaga?

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O vestido-saco

De 1950!

Mas se você não se impressionou tanto com a quantidade de perninha de fora dos looks de alta-costura, bem… eu tenho outro look para te mostrar. Algo que poderia ter inspirado Courrèges, Paco Rabanne, Pierre Cardin - essa turma do futurismo dos anos 1960. E, quem diria, o look vem pelas mãos da autora de um dos vestidos de noiva mais famosos do mundo, o de Grace Kelly. A figurinista Helen Rose!

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Olha a ousadia!

A vida é curta, mas esse vestidinho…

Rose criou esse look para a personagem de Anne Francis em Planeta Proibido, filme de 1956. Acontece que ele nunca foi visto na telona - a MGM vetou, porque o achou muito revelador! A própria Helen fala a respeito:

With exercise, dieting, health and beauty consciousness, the human body, especially the female body was getting more and more beautiful... I had been nurturing a costume idea for over twenty years, ever since I did the special show for (ballroom dancers) Fanchon and Marco when I painted the performers with gold paint. I thought this would be a good idea for the film Forbidden Planet, as I could easily imagine ‘sprayed -on-clothes’ in the year 2000, but no one wanted to go along with me. We settled for a very short, stylish dress that was to become the first ‘mini-skirt.’ My most favorite outfit was never seen.
— Helen Rose

Mas, Helen, outro look bem curto (se bem que não tão justo) aparece no trailer…

Não entendi!

E, na verdade, tem um outro filme anterior a esse, mais obscuro, com look curtérrimo:

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Vôo para Marte (1951)

A personagem Alita, de Marguerite Chapman, e sua minissaia azul

Não existe registro sobre quem seria o visionário que fez esse look de Alita. Na verdade, dizem que esse longa foi filmado a toque de caixa, em questão de dias.

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Adoraria saber quem fez esse lookinho

Modernosaaaa! Se o Elon Musk me chamar para um rolê, já sei onde vou me inspirar (mentira, imagina eu de minissaia, que horror???)

Agora, atenção - menção honrosa para uma visionária:

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Josephine Baker!

É mais um adereço que uma saia, mas meu bem, eram os anos 1920! Imagina?!

Resumindo, gosto em particular da frase de Mary Quant, mais uma vez ela:

It wasn’t me or Courrèges who invented the miniskirt anyway—it was the girls in the street who did it.
— Mary Quant

Foram as próprias mulheres que encurtaram seus looks. Não foi um estilista, um figurinista, um criador que inventou isso. A moda é viva, ela não acontece só da indústria para o pessoal. Nesse link você fica sabendo mais sobre o que acho desse movimento mais "para todos os lados” da moda.

Para terminar: a que rua Mary se refere? Do que é que ela está falando?
Hummmmm… Are you ready, steady, go?
Enquanto eu preparo esse novo post, vai fazendo o esquenta com um outro que fala muito sobre a moda que nasce na rua: o de Harajuku! <3 Stay tuned!