3ª temporada de The Crown: quando a nossa geriatrofobia aparece

Infelizmente a gente não acha a 3ª temporada do The Crown tão boa quanto as anteriores, apesar dela ser boa de qualquer forma. É inevitável a comparação, afinal, é a mesma série. Mas você sente que tem algo que não está mais ali.
(Sim, eu digo “a gente” te incluindo. Não é do meu feitio usar “a gente” para falar só de mim. kkkkk)

Olivia Colman, a nova Rainha Elizabeth 2ª

Olivia Colman, a nova Rainha Elizabeth 2ª

“Ah, eu preferia a Claire", penso, me referindo à atriz Claire Foy. Mas espera: quem a substituiu foi Olivia Colman, fucking Oscar winner, uma atriz que arrasa. E ela arrasa em The Crown sim. O mesmo vale para o papel de Princesa Margaret, que é a minha personagem preferida, agora com Helena Bonham Carter.

E a gente no fundo sabe o motivo. É porque elas são mais velhas. Os dramas são mais velhos. Muito do subtexto passa por esse amadurecimento. Logo de cara, a rainha precisa encarar os fatos: seu rosto mais jovem está sendo substituído pelo de meia idade nos selos. Um perfil mais velho. É isso que a gente não gosta de encarar: todos envelhecemos, é inevitável, a menos que a gente morra antes disso.

Parece que até a própria produção percebeu isso: o Buzzfeed News diz que Claire deve voltar ao papel na quarta temporada em um breve flashback com o discurso que a rainha deu quando ainda não era rainha, aos 21 anos. Uma maneira de atrair quem ficou fã do retrato que ela fez da mulher mais famosa do mundo.

Olha aí a Claire retomando o papel

Olha aí a Claire retomando o papel

Isso tudo posto, é ainda mais surreal que um dos melhores papéis da 3ª temporada seja de uma mulher mais velha que todas as supracitadas. Princesa Alice de Battenberg é o destaque do episódio 4 e é a mãe do Duque de Edimburgo, Príncipe Philip, portanto sogra da Rainha Elizabeth.

A princesa na vida real, ao lado do filho - sim, ela virou freira e viveu na Grécia antes de morar no palácio de Buckingham

A princesa na vida real, ao lado do filho - sim, ela virou freira e viveu na Grécia antes de morar no palácio de Buckingham

Interpretada por Jane Lapotaire, ela vira uma espécie de Princesa Margaret dessa temporada: aquela personagem que você quer que apareça porque é sempre um show de interpretação e uma metralhadora de frases ótimas. O auge é o episódio 5, com ela conversando com o irmão Lorde Mountbatten (Charles Dance). Um show.

A Princesa Alice de Battenberg na série

A Princesa Alice de Battenberg na série

Em entrevista para o Daily Express, o biógrafo da família real britânica Hugo Vickers defende que, na vida real, a princesa não era nada disso. Ela era quase que totalmente surda, talvez por isso meio distante e até austera. A relação dela com o Príncipe Philip também era diferente, segundo ele - as tentativas de trazê-la para Londres da parte do filho foram inúmeras, e na verdade a princesa só teria aceitado depois que sua outra filha, Sophie, lhe garantiu que o convite era da parte da Rainha Elizabeth 2ª.

Ah, e na verdade não houve entrevista da sogra da rainha para o The Guardian como o episódio 4 mostra, mas a Princesa Anne realmente tinha uma boa relação com a avó.

Aliás, e a Princesa Anne roubando a cena? A gente AMAAAAA!

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Princesa Anne da vida real

Sim, meu bem, e você achando que Lady Di era o único ícone fashion da turminha…

Sou fissurado pela Princesa Anne, talvez até mais do que pela Princesa Margaret. Estou ansiosíssimo por mais aparições dela nas próximas temporadas!

Resumidamente, em uma temporada que Princesa Alice e Lorde Mountbatten roubam a cena de um lado e Princesa Anne, Príncipe Charles e Camilla Shand (futura Parker-Bowles) roubam a cena de outro, a meia idade fica apagada. A série não é sobre quem está com a coroa na cabeça, for God's sake? Aqui, em muitos momentos, Rainha Elizabeth 2ª aparece quase como coadjuvante da sua própria história.

Então talvez o problema não seja a nossa geriatrofobia, e sim o roteiro.

A terceira temporada de The Crown já está no ar na Netflix.