O intervalo do Super Bowl de 2020 não vai ser o primeiro Super Bowl latino

É real-oficial: Shakira e J-Lo são as estrelas do próximo intervalo do Super Bowl, que vai rolar em 2020.

superbowl-j-lo-shakira.jpg

Isso é muito legal primeiro porque a gente adora as duas e segundo porque, politicamente, num tempo em que o racismo e a intolerância crescem, duas latinas em destaque em uma das maiores audiências da TV norte-americana é um babado fortíssimo.
Mas, espera. Elas são as primeiras latinas a se apresentarem no intervalo do Super Bowl?
Nada disso. Senhoras e senhores e senhorxs, vos apresento…

Gloria Estefan é absolutamente TUDO.
Esse show com Stevie Wonder e Big Bad Voodoo Daddy era uma homenagem à salsa, ao suíngue e ao soul! Oye!
O mais surpreendente: não foi a primeira vez que a Gloria Estefan esteve no intervalo do Super Bowl. kkkkkkkkk Em 1992, olha lá ela:

Estranhou o tom Disney? É que a companhia tinha todo um passado de produção dos intervalos do Super Bowl - essa coisa mais pop moderna é relativamente recente. Esse de 1992 em específico não foi produzido pela Disney, mas era um aceno para as Olimpíadas de Inverno (sei lá o porquê, o evento nem aconteceu nos EUA e sim na França!). Entre as duas apresentações, Gloria foi a responsável pela música-tema das Olimpíadas de 1996 em Atlanta (eu sei porque inclusive estava lá kkkkkk). E é interessante ver que Shakira tem experiência em eventos desse porte (Copa de 2010) e J-Lo também (Copa de 2014).

Bom, existem outros intervalos de Super Bowl, fora Madonna, Lady Gaga, Beyoncé e Katy Perry, que eu adoro. Vem conferir:

1998: Homenagem à Motown com Smokey Robinson, Martha Reeves, Queen Latifah e mais!

1972: Ella Fitzgerald e Al Hirt com Mack the Knife em homenagem a Louis Armstrong (o famoso não vi mas gostei mesmo assim)

ella-fitzgerald.jpg

1993: Michael Jackson, e provavelmente o real começo dessas superproduções pop

2001: uma loucura com Britney Spears, Aerosmith, *NSYNC, Mary J. Blige e Nelly!

1996: o meu preferido deixei para o final. DIANA ROSS!

E só para terminar: o que será que Shakira e J-Lo vão cantar? Será que algo em espanhol? Gloria cantou Oye, então não é impossível, mas acho difícil. Se eu fosse elas fazia uma homenagem para a Gloria sem dúvida alguma. Ia ser chiqueeeee!
O Super Bowl de 2020 rola no dia 2/02 - de 2020, claro.

Uma editora especializada em futebol

Um dos meus melhores amigos está com a empreitada mais maravilhosa e corajosa. É uma editora de livros - sim, livros! - especializada em futebol. A No Barbante do Raul Andreucci já chega com um livro incrível, o A Selva do Futebol, do Raul e de Tulio Kruse, que fala sobre a realidade dos clubes de futebol amazonenses e a construção da Arena da Amazônia, um dos estádios usados na Copa de 2014, e o quanto de extração ilegal de madeira aconteceu para que esse estádio fosse construído.
Sou obviamente suspeito para falar sobre assunto mas o livro está com uma diagramação linda e ainda tem o desgraçamento de optar por não incluir o título na capa, bem atrevido, para valorizar a arte de André Bonani. Adoro coisas desse tipo, que vão contra o que todo mundo acredita, quebrando regras - especialmente quando essas regras são de mercado. Mas, bem, não sou amigo do Raul à toa, né?
E já que sou suspeito, conversei com alguém mais suspeito ainda para falar sobre a editora. O Raul em si! Confira a entrevista!

a-selva-do-futebol.png

Arte de André Bonani

para o livro A Selva do Futebol

Wakabara: O que é a No Barbante?
Andreucci: É uma editora dedicada ao futebol e só futebol, nenhum outro esporte e nenhum outro assunto. Mas não é um futebol relacionado ao sucesso, à fama. É um futebol lado B, alternativo, e sobre 3 pilares: jornalismo, pesquisa acadêmica e literatura. Queremos trazer histórias e discussões que ficam marginalizadas ou pela grande imprensa ou pelas grandes editoras. Vamos espalhar essas histórias para quem curte esse tipo de futebol, para além do clube e do estrelato.

Por que falar de futebol?
Primeiro porque amo futebol, muito mais do que o clube que eu torço, que é o São Paulo. Sempre gostei de discutir, de escrever, de ler a respeito. Sempre trabalhei com isso no jornalismo esportivo, fiquei no Lance por aproximadamente 6 anos, em todas as outras publicações jornalísticas que trabalhei também produzi algo relacionado a futebol, a minha pesquisa acadêmica de mestrado foi sobre futebol. Também sempre foi um futebol com um pouco mais de estudo, pesquisa, discussão; um envolvimento mais afetivo, lúdico, que não fosse só ficar brigando para saber qual time é melhor, uma paixão radical que só quer a vitória. Quero encontrar outras pessoas que gostam de futebol dessa outra maneira e compartilhar com elas. Acho que existem muitas pessoas assim, e que vão ter esse espaço para sugerir livros, para comprar livros que possam expandir essas ideias.

Sobre o que você pode discutir quando você discute futebol?
Tudo. Futebol é uma representação da vida. Você pode, por exemplo, discutir moda pela roupa que eles usam, pelas tendências que existem ali; você pode discutir comportamento, política. Apesar de existirem pessoas na grande imprensa hoje achando que não se mistura esporte com política, tudo é um ato político. Essa coisa de lançar um livro com esforço pessoal, levantando uma grana para fazer a primeira tiragem, tudo isso de maneira independente e na marra: é um ato político. Ainda mais nesse momento de governantes fascistas usando o futebol para criar uma nuvem em torno de atos sinistros e comportamentos escrotos que adotam. Estamos fazendo política do jeito que podemos, contribuindo para que o lado humano, solidário, coletivo floresça mais do que a marginalização e exclusão de pessoas, coisas que esse governo e outros governos pelo mundo querem promover.

Fala um pouco sobre o livro em si, o A Selva do Futebol.
A ideia é que a gente seja cobaia, testando formato, levando tempo para maturar esse conteúdo; e ele representa esse pé do jornalismo. Começou como uma reportagem que a gente publicou pelo BRIO [plataforma online que não existe mais dedicada a um jornalismo mais aprofundado], a quem agradecemos muito e que fez a ponte entre eu e Tulio há uns 4, 5 anos. Fala sobre a minha vivência como repórter no meio dos clubes amazonenses em uma realidade pobre, bem mambembe, e justamente dois, 3 meses antes deles receberem, entre muitas aspas, o estádio novo construído para a Copa de 2014, a Arena da Amazônia. Isso é intercalado com a história do Tulio, que é uma investigação do caminho da extração ilegal de madeira; ela acaba saindo da própria floresta amazônica, roda o Brasil inteiro, passa por carvoarias e aciarias e volta em forma de aço para a construção da Arena da Amazônia. Ah, e é legal que a gente fez uma coisa chamada costura aparente, o livro não traz os cadernos colados. Você vê a costura, é uma brincadeira com o nome da editora. E traz essa ideia do artesanal.

Por que chama No Barbante?
É uma expressão antiga, para remeter ao lúdico e ao afetivo. Significa que foi gol, a bola no barbante é a bola no gol, na rede.

Quais são os próximos livros?
O segundo livro vai ser sobre a Coligay, a primeira torcida organizada LGBTQ+ do Brasil, que é do Grêmio. Sai no segundo semestre de 2020. E todo ano vamos ter um livro coletânea de artigos e contos meio… prafrentex, meio pra esquerda? [Risos] É um jeito da gente ver que futebol não é só futebol, tem muito mais coisa envolvida.

Quer um exemplar de A Selva do Futebol? Você pode participar do crowdfunding que já está no ar - confira! E no Medium da No Barbante você confere trechos do livro, para decidir se quer mesmo - mas eu já estou lendo e recomendo, viu? Eu sei, sou suspeito… Mas vai por mim, bebê!

Mulher sabe o que é impedimento, sim!

Opa se sabe!
E para quem não sabe - e deveria se envergonhar disso - a Copa do Mundo que realmente importa já começou, com a craque brasileira de verdade Marta e mais um monte de esportista que joga muito. Esse time dá mó orgulho, e você devia assistir aos jogos! Peça no seu trabalho, na escola, no curso; nada mais justo que dispensem ou disponibilizem uma TV para a gente assistir assim como fazem na outra Copa, aquela que só nos dá decepções já faz um tempo…

Marta, a rainha do futebol - e não sou só eu quem digo: esse artigo do El País também a chama assim

Marta, a rainha do futebol - e não sou só eu quem digo: esse artigo do El País também a chama assim

Mas estou aqui para falar de história, nesse post sugerido pelo meu amigo Raul Andreucci. O Raul é meu consultor para assuntos futebolísticos - quando tenho alguma dúvida sobre o assunto, corro para perguntar para ele.
Você não gosta de futebol e achou que não ia ter esse assunto aqui só porque esse blog é de uma bicha? Azar o seu - você não sabe o que está perdendo. A partir do futebol - assim como a partir da moda - a gente consegue falar de mil questões sociais.

E estou aqui para falar de um tal José Fuzeira, um machista idiota que mandou uma carta para o jornal carioca Diário da Noite em 1940 direcionada para o presidente Getúlio Vargas que acabou culminando na proibição do futebol feminino (!) durante quase 40 anos (!!).
Esse texto aqui desse link vai contar essa história bem melhor do que eu.

1_QdT7kzBFfjVCvYUqeMErWQ.jpeg

Essa é uma das histórias mostradas na exposição em cartaz do Museu do Futebol em SP, a Contra-Ataque! As Mulheres do Futebol. Ainda não fui mas quero muito ir - está em cartaz até 20/10, mas o legal é ir agora, com a Copa rolando, né?

Mais informações sobre a exposição nesse link

Mais informações sobre a exposição nesse link

E aí a gente também pode falar desse vídeo aqui:

Arrepiou aí? Aqui arrepiei!
O Museu do Impedimento é, por enquanto, um museu virtual. Mas quem sabe se ele fizer bastante sucesso não animam em montar uma exposição física dele? Acesse o museu aqui.