Outras culturas, outras famílias

Fiquei um tempo com crise de sinusite e isso me deixou de cama. Assim, consegui também ver algumas coisas que já estava para assistir faz um tempo e até agora não tinha rolado. O interessante é que essas 3 coisas de certa forma mostram famílias diferentes do padrão papai-mamãe-filhinho, e também mostram culturas diferentes do típico ocidental com base norte-americana que nos acostumamos a ver retratado em ficção. Achei as 3 bacanas, então decidi dividir com vocês.

Minhas Famílias

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O cineasta chinês Hao Wu foi estudar nos EUA. Ele é gay, encontrou um marido no país e agora que vai ter dois filhos (!) ele decide encarar a família chinesa que evitou tanto depois de sair do armário. Choque cultural total, claro; não tem como não se emocionar com as tentativas dos pais deles em serem empáticos mesmo sem entender a sexualidade do filho. A mãe de Wu, uma pessoa de uma realidade que a gente nem consegue imaginar direito, parece mais resistente com o fato do filho querer ter filhos do que com a própria homossexualidade dele. Outra coisa que chama a atenção é a questão da aparência de normalidade, que me parece algo bem asiático no geral. Daqueles filmes que te deixam pensando - não existem soluções fáceis.

Um de Nós

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A gente acompanha as histórias paralelas de 3 membros da comunidade de judeus hassídicos que tentam sair dela. Ultrafechada, a comunidade formada por judeus ortodoxos não aceita "desistentes". Nesse sentido, lembra um culto e é assustadora, abusiva, até perigosa. São 3 histórias bem diferentes: uma envolve uma mãe que quer se separar e vê a guarda de seus filhos ameaçada; outra traz um jovem com problemas com drogas que acaba internado em uma clínica de reabilitação; e outra ainda é sobre um homem que vive isolado numa pindaíba, num trailer, tentando a sorte como ator. Contei assim para não dar muito spoiler, tá? E fiquei bem curioso para saber mais coisa sobre o judaísmo ultraortodoxo. Se alguém souber de mais documentários bons, me conta aí!

One Day at a Time

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Old but gold - a série foi cancelada pela Netflix mas agora parece que um canal pequeno, o Pop TV, vai trazê-la de volta, quem diria? Talvez a quarta temporada não fique disponível na Netflix, pelo menos não tão cedo, mas dá um quentinho no coração saber que essa história continua. Trata-se de uma família de origem cubana e cidadania americana que fala justamente sobre esse e outros assuntos nessa nova realidade de Donald Trump. E são vários bônus: mãe divorciada; filha lésbica; amigo-agregado alcoólatra… Por aí vai. Só que como é uma comédia, daquelas comédias familiares de menos de meia hora cada episódio, esses assuntos são tratados com seriedade porém certa leveza. Eu me acabo de chorar, amo tanto que fiquei enrolando para não terminar rápido. Terminei na sinusite. Agora o jeito é aguardar pela próxima temporada ficar disponível, né?

O grito que eu dei (ou o chamado que fiz?)

Você conhece. Você sabe. É só olhar a imagem.

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Sadako é uma das coisas mais assustadoras que já existiram. O ano era 1998 e Ringu (em inglês Ring e aqui no Brasil O Chamado) era o maior exemplo do novo terror que vinha do Japão. Ainda não tinha essa de baixar filme, então você precisava ir até uma locadora para alugar, imagina só? Era meio que um movimento, vários filmes japoneses nessa onda, como O Grito (2002), Água Negra (2002), Pulse (2001), Suicide Club (2002)… A maioria deles ganhou versão hollywoodiana - The Ring de 2002, com Naomi Watts como a mocinha e Samara no lugar de Sadako, dá medo mas não passa perto do pavor que você sente com o terror psicológico japonês, o tempo suspenso, as imagens bizarras em lo-fi da TV.
Até a ideia do longa é meio antiga: uma fita de vídeo amaldiçoada que você assiste e, a partir daí, morre em exatos 7 dias. Tem um aparelho de videocassete? Pois bem, nem eu, acho que um dos grandes desafios em 2019 seria você achar um para sequer chegar a ser tocado pela maldição… uma pena! kkkkk
Só que Ringu é tão legal que rendeu continuações - tem até uma prequência, a Ringu 0 de 2000! Sadako virou um personagem pop. Dê o play - se for capaz:

Mas agora foca em O Grito, no original Ju-on. O filme, que também ganhou versão hollywoodiana (com Sarah Michelle Gellar), conta com outra cabeluda assustadora: Kayako.

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Kayako fez tanto sucesso quanto Sadako, tanto que existe um filme tipo Alien vs Predador com as duas. Simplesmente maravilhoso, não? O famoso "não vi e quero ver com certeza":

Tudo isso para contar que agora Kayako vai ganhar não só uma mas duas novas versões, ambas ocidentais. Uma é em série para Netflix (claro, mais uma vez ela), sobre a qual não se sabe tantos detalhes. Outra é para o cinema, diferente da com a Sarah Michelle lançada antes (ou seja, formando um outro "cânone"), que conta com direção de Nicolas Pesce e tem no elenco Andrea Riseborough, Démian Bichir e o nosso querido John Cho! Ninguém falou se Kayako vai mudar de nome nessas versões. Na primeira versão norte-americana, Kayako era Kayako mesmo. Espero que a tradição continue - hahahaha!

E se você está se perguntando se essa onda de j-terror era parecida com o pós-terror de agora (falei dele nesse post)… Hum, de certa forma sim, eram filmes de baixo orçamento e que privilegiavam um terror psicológico no lugar de muito sangue e gore. Gosto e recomendo!

Aggretsuko e outras ficções que se passam na firrrma

E eis que sou CLT.
É até estranho me acostumar com o fato de que existe um VR na minha carteira. Quase esqueço!

É nessas que tenho valorizado muito mais as ficções - geralmente comédias - que tem seu centro nessa vida de firrrma. Se antes eu via e ria de tudo aquilo como algo alheio à minha realidade, agora me reconheço, repenso em situações e desafios, e sim, dou risada de mim mesmo.
É o caso de Aggretsuko, cuja segunda temporada estreou faz pouquinho tempo na Neflix.

Aggretsuko no setor de contabilidade

Aggretsuko no setor de contabilidade

Ela, que é um pandinha vermelho, tem uma relação bem difícil com o chefe e alguns colegas. Descarrega a tensão cantando no karaokê - mas o engraçado é o que ela canta…

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METAAAAL!!!

Assisti só os dois primeiros episódios dessa temporada nova mas já digo logo que está boa!
E quem ainda não viu o especial de Natal precisa ver, é bem legal também e fala sobre o nosso vício bizarro em Instagram.

Bom, vou falar de mais algumas ficções de escritório que gosto, fora a manjada The Office que é maravilhosa e acho que não preciso falar, né? (mas procurem também a versão inglesa de The Office, que é tudo!) Vamos:

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Como Eliminar seu Chefe (1980)

Ou, em inglês, 9 to 5. Quem não assistiu esse clássico com a trinca Jane Fonda, Lily Tomlin e Dolly Parton não sabe o que perde!

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Uma Secretária de Futuro (1988)

Engraçado que esse filme é sempre citado como um clássico do power suit oitentista - mas sinceramente não acho o melhor exemplo de power suit. De qualquer forma, a história com Tess McGill (Melanie Griffith) é bem empolgante

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Quatro Garotas… Uma grande confusão (1997)

Sim, esse filme tem Toni Collette, Parker Posey e Lisa Kudrow. De nada!

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Um Senhor Estagiário (2015)

É idiota - mas eu chorei

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Yokai Watch

Em alguns episódios desse anime, o Komasan (que é esse da foto) vira um superexecutivo de uma empresa de brinquedos. E tudo isso acontece… sem querer!

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Salve-me Quem Puder (1986)

Nossa, como eu AMAVA Jumpin’ Jack Flash. A Whoopi Goldberg nesse filme para mim era a pessoa mais legal do mundo!!!

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Os Aspones (2004)

Selton Mello, Andréa Beltrão, Drica Moraes, Marisa Orth e Pedro Paulo Rangel. Como ser ruim?

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Estrelas Além do Tempo (2016)

Mais um caso de elenco ótimo - e nesse filme o escritório é nada menos que… a Nasa

E você, de qual filme ou série que se passa em um ambiente de firrrrma que você gosta? Me conta!

Sobe o som:

TV Cultura, audiobook e um certo podcast que me lembra esse audiobook além de ser ótimo

Vocês viram que a TV Cultura agora tem um outro canal de YouTube além do que ela já tinha? Chama Eu vi na Cultura e, pelo que entendi, deve subir episódios antigos de coisas que passavam na Cultura. Nostalgia pura.

Aliás, tem exposição da TV Cultura baseada nessa memória afetiva do povo, a Entra que Lá vem História comemorando os 50 anos da emissora. Tá em cartaz no shopping Eldorado em SP até setembro - estou com vontade de ir mas ainda não fui. Você consegue comprar o ingresso online aqui nesse link. E o Catraca Livre fez um vídeo sobre a expô:

Bom, fui seco no novo canal do YouTube esperando uma das minhas séries preferidas do mundo e… flop: o canal só vai ter programa infantil. Tudo bem, adoro o Mundo da Lua (Somos os Big Bad Boys hit eterno) e vou aproveitar assim mesmo, mas bateu uma vontade de rever Confissões de Adolescente.

Quem é xennial não esquece <3

Quem é xennial não esquece <3

A versão em série de TV de Confissões foi ao ar pela primeira vez em 1994 e teve algumas retransmissões, inclusive na Band. Ela era baseada no livro da Maria Mariana (a 3ª na foto, da esquerda pra direita) feito em colaboração com Ingrid Guimarães (sim, ela mesma, que já interpretou dona de sex shop no cinema e tudo e tal), Carol Machado (quem aqui viu Top Model?) e Patricia Perrone (por onde andará Patricia Perrone?!). Maria Mariana é a filha do grande-enorme-fodástico-maravilhoso Domingos de Oliveira.

A novinha que me lê nesse momento pode não saber, mas Domingos é O CARA. Adoro tudo que ele já fez, é uma loucura. Mas o clássico maior de todos os clássicos é o filme Todas as Mulheres do Mundo de 1966, com a Leila Diniz.

Ninguém nunca passará duas vezes pelo mesmo caminho. <3

Domingos morreu recentemente, em março, mas antes disso produziu pencas: escreveu, escreveu, escreveu; dirigiu, dirigiu, dirigiu. Entre as coisas que dirigiu também estão peças de teatro, e entre as peças que dirigiu está Confissões de Adolescente, baseada no livro da sua filha e que virou um baita sucesso.

Mas antes (ou meio ao mesmo tempo?) de virar uma série que se baseou na peça que se baseou no livro, Confissões também virou outra coisa: um audiobook. Sim, nos anos 1990 já existia o audiobook! E que eu me lembre também foi antes de Cid Moreira gravar a Bíblia - mas isso já não sei bem, já que também me parece que esse audiobook da Bíblia de Cid Moreira sempre existiu, provavelmente uns meses depois do concílio em que decidiram "pronto, a Bíblia é isso e o resto é apócrifo".

Uma fita cassete que na época chamava audiolivro e contava com as vozes das autoras dos textos Maria Mariana, Carol Guimarães, Patricia Perrone e Ingrid Guimarães - a primeira montagem da peça, até onde sei, também era com elas

Uma fita cassete que na época chamava audiolivro e contava com as vozes das autoras dos textos Maria Mariana, Carol Guimarães, Patricia Perrone e Ingrid Guimarães - a primeira montagem da peça, até onde sei, também era com elas

Eu tinha o livro. Mas ter a fitinha era outra coisa. A Ingrid Guimarães contando sobre a primeira vez que fumou maconha já é bom por escrito - imagina em áudio? Era uma preciosidade, era uma delícia. Ali estavam acumuladas todas as questões que depois seriam a base da série que foi ao ar na TV Cultura e de Malhação e mais qualquer coisa produzida no Brasil e dirigida a adolescentes: aborto, primeiro beijo, primeira transa, bebida alcoólica, questões mais metafísicas do tipo "como é quando alguém morre"… Quem é versado na fitinha ainda fala alguns bordões dela - com a mesma entonação, claro - até hoje: “Ah, não, menina, mentira! Ah, não, mentira, menina!”

Foi nessa época que eu e meus amigos começamos a gravar fitas com o microfone do aparelho de som da minha casa com histórias - inventadas, às vezes um pouco baseadas em nossas experiências reais. A inspiração vinha dessa fita de Confissões e um pouco também do que as minhas irmãs faziam com as nossas vizinhas na época, gravando versões absurdas e engraçadíssimas de músicas como num programa de rádio fictício. Um salve para a Mariana Missiunas, que era a maior gênia da paródia musical e hoje é uma estrela linda no céu. <3

(De repente esse post virou uma terapia, porque acabei de perceber de onde nasceu minha vontade de contar histórias, que depois isso tudo virou uma parte importante da minha profissão, e eu lacrimejei. Viva a Mariana, viva a Ingrid e viva todo mundo que gravou essas fitas comigo: Henrique, Raphaela, Flavia, um grande e emocionado beijo.)

Voltando: um dia desses estava ouvindo um podcast e me bateu aquela sensação maravilhosa que eu sentia quando ouvia essa fita. Sei que muita gente vai achar que estou viajando, mas existe algo no ótimo texto, no humor inteligente e no carisma de Laurinha Lero que me remetem "às ilhas Cagarras parecendo dois seios disformes" e ao "passo maluco".
Portanto ouçam:

(Laurinha, talvez você nunca leia esse texto mas se ler e não achar esse comentário lisonjeiro, saiba que foi de coração)

Ah, e eu sei: saiu um filme em 2016 atualizando Confissões para os dias de hoje, né? Não vi, apesar do pai ser interpretado pelo ator Cassio Gabus Mendes, o que muito me comove porque ele é o marido de uma das minhas pessoas preferidas da vida.
Solange
ou
Leonora
ou
Lídia Brondi <3 <3

Mas acho que isso é assunto para um outro post… Por enquanto você fica com a trilha sonora de Confissões, que era mara:

ATUALIZAÇÕES 1/10/2019: Fiz um post sobre Lídia Brondi! Vem ver aqui!
Outra coisa: Esse post é um dos que mais dá audiência via buscas de Google. O termo procurado não podia ser outro: Laurinha Lero. Isso posto, então, acho que nada mais justo do que incluir esse episódio do Um Podcast Chamado Wanda com a própria Laurinha Lero, no qual ela esclarece… quase nada sobre sua identidade. Acontece! Segue, espero ter ajudado:

John Cho, pode levar meu dinheiro (e em troca me dá o seu cabelo)

Lembra que eu falei da representação asiática na cultura pop nesse post?
Então: além de Akira, um outro anime que vai ganhar versão live action (provavelmente com resultados melhores segundo a minha bola de cristal) é Cowboy Bebop.

Cowboy Bebop consegue ser ainda mais cult que Akira - originalmente uma série animada de TV, foi ao ar em 1997 lá no Japão e é considerado meio que um sci-fi existencialista. Vixe! O personagem principal, Spike Siegel, é um caçador de recompensas do espaço.

Todo estilosão e misturando gêneros (western, noir, cyberpunk, comédia, dá-lhe!), o anime tem como um de seus destaques a trilha sonora: quem compôs foi Yoko Kanno, com um apreço pelo jazz e blues. Chique demais. Dá uma olhadinha nessa playlist feita em homenagem à trilha, que traz algumas composições da própria Kanno, ouve aí que é o maior groovezão:

Chora, Guardiões da Galáxia!
E esse é o Spike Spiegel:

Oh, hi, babe (sim, isso é uma foto autografada por um personagem de anime)

Oh, hi, babe (sim, isso é uma foto autografada por um personagem de anime)

A versão live action da Neflix já está em plena produção, vai ter 10 episódios e ainda não se sabe quando estreia. E sabe quem vai ser Spike Spiegel? Eleeee:

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John Cho

Esse belo bebê sul-coreano

Cho já fez a nova versão de Sulu do Jornada nas Estrelas de J. J. Abrams (uhuuu) e American Pie (afff). Sinceramente não gosto muito do fato dele ser sul-coreano porque cai naquela história de que asiático é tudo igual e o personagem em teoria é japonês (mas bem em teoria, já que o sobrenome é na verdade judeu, certo? E parece que na trama do anime é revelado que ele nasceu em Marte…).

Isso tudo posto, é um alívio que Scarlett Johansson não tenha assumido o papel de Spike Spiegel.

Cho já está com o cabelo do personagem, aliás. Ó:

Ele publicou essa foto faz quase 10 dias com o pai.

E eu gostaria imensamente de copiar esse corte, mas há uma certa calvice que me separa desse estilo. Que pena.

Vocês acham que peruca rola?