Coisas que pensei nos dois desfiles que vi no SPFW

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E lembre-se: se você quisesse uma opinião isenta sobre o petróleo brasileiro, você iria no site da Petrobrás? Não, né?
Então fica a dica… kkkkkkk

Esse post vai ser mais uma coisa viajandona.

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Os meus 3 anos de Ensino Médio aconteceram no fim dos anos 1990. Portanto a referência que tenho da moda dessa época, mais do que o minimalismo, é o grunge e a roupa que eu e os meus colegas usavam.
Eram várias as tribos: existia um começo de cybermano com neon, vinil e nylon; as patricinhas & mauricinhos de camisa pólo da Ralph Lauren (eles preferiam Ralph Lauren a Lacoste), calça Levi's 501 e elas adoravam tênis tipo conga cabeção de saltinho (ui) e brinco de argola com berloques; os grunges em si (mas como a gente era muito novo e pouco safo, não íamos no brechó e sim no torra torra kkkk); os metaleiros (que se confundiam um pouquinho com os grunges mas eram mais cabeludos, mais pálidos e usavam ainda mais preto).
Uma coisa unia todos: o moletom ou jaqueta ou camisa ou blusa de manga comprida amarrada na cintura.

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Acinturava, dava um movimento lá embaixo, sei lá.
Para você, deve parecer normal: "Que porra ele tá falando de casaco amarrado na cintura, agora?”

Pois é, mas eu trabalho com pessoas que tem filhos.
E adivinha?
A Geração Z… desconhece essa coisa de amarrar blusa na cintura. Acha esquisito. Acha nada a ver.
Pelo menos nessa minha ligeira apuração. E por observação, mesmo.
Para a gente era uniforme. As patricinhas acho que usavam porque adoravam uma calça bem justinha e quando estavam com absorvente ficavam meio constrangidas, então ficavam com a blusa de manga comprida amarrada na cintura sempre para ninguém saber quando elas estavam usando absorvente e quando não estavam. Foi com elas que aprendi que amarrando as mangas ao contrário (no lugar de passar a manga direita e puxá-la, passe a manga esquerda) a amarração dura mais tempo sem cair.
Para os grunges, no calor tropical, era melhor usar a camisa xadrez na cintura do que vestida.
Para todo mundo, era um jeito de garantir um casaquinho quando batia um vento.

Bom, existe toda uma geração de estilistas mais ou menos da mesma faixa etária que eu (na verdade um pouco mais nova, mas abafa o caso). Portanto eles têm mais ou menos a mesma referência que eu. E o resultado não se traduz exatamente em casaco amarrado na cintura, mas nesse movimento de silhueta. Um pedaço de tecido. Um meio avental torto. Uma coisa ali sem muita função para além da estética.
E eu adoro.

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Aliás, adorei a Modem

Essas releituras da alfaiataria do começo, com assimetrias e volumes, chiques, sérias e com personalidade…

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E a sequência final

com esse poliéster fininho listrado e todo plissado, dando um movimento muito especial, e os tricôs no geral, bem charmosos. Todas as fotos desse post são do Zé Takahashi/Fotosite

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Falando em grunge

Olha o xadrez que André Boffano desenvolveu na Modem. E repara nas bolsas e botas, tudo bem legal e que vai ser vendido em atacado

Reparou nos movimentos a partir da cintura?

Outra coisa que é referência forte da geração, essa já do começo dos anos 2000, é a febre de brechós. A gente amava. E ama, ainda. Aquela roupa que tem personalidade, que não veio de uma pilha com várias e não tem perigo você ir ao bar do momento e dar de cara com 3 pessoas usando a mesma coisa que você. Foi o começo de um exercício livre e divertido de styling pessoal; acho que tinha a ver com a montação clubber e com o fato de naquela época a coisa que estava na moda era ser estudante… de moda. Então todo mundo se vestia que nem estudante de moda, ou seja, montado.
E tinha a Anna dello Russo também, que para a gente era rainha, já na virada dos anos 2000 para 2010.

E precisou Alessandro Michele na Gucci para concretizar, nas passarelas, o que a gente já vinha alimentando e tinha até esquecido um pouco de exercer na vida real.

Mas o que eu quero dizer é que Michele é ótimo, claro, mas essa revisão da revisão, esse brechó em forma de roupa nova, na verdade era inevitável. O Boffano faz um acervo de referência tanto para a Bobstore quanto para a Modem buscando em brechós. A Lilly Sarti, que sempre tem um pé em décadas passadas, fala de "revirar o baú" nessa temporada. E o faz de forma muito charmosa, com clima contemporâneo.

Gosto de tudo? Não: teve um camuflado ali no meio que me dá nervoso. Mas sigo gostando da moda da Lilly, que possui uma variedade profissional de tecidos, modelagens; com uma mão autoral mas que atende uma variedade de estilos.
Outra coisa que adorei da Lilly são as bolsas (uma de triangulinho e outra de coração, fofas) e o casting, com várias tops fodas tipo Carol Ribeiro, Aline Weber, Ana Claudia Michels, Talytha Pugliesi

Não fui nos outros desfiles que rolaram até agora mas queria mostrar mais umas coisinhas.

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Curti a Bobstore

Adorei essa coisa híbrida, parka, meio folk, levinha, chiquezinha

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Branco com atitude

Reinaldo Lourenço arrasando nesse vestido leve que, no styling, virou do rock!

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Utilitário com sutiã de renda

na Ellus, que desfilou domingo, agora com Thiago Marcon e Muriel Mingossi ao lado da diretora criativa Adriana Bozon

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ÃO, do Projeto Estufa

que já é um dos destaques da temporada com suas formas que desconstroem a anatomia humana e brilhos líquidos

É muito estranho voltar ao SPFW nessa circunstância, meio bicho solto, mas sabe que eu gostei?
Depois te conto mais.

Na dúvida, aposte na memória afetiva

Existiram vários posts hits durante os meus 10 anos no site da Lilian Pacce. Comumente eles envolveram Gisele Bündchen, mortes como a do Karl Lagerfeld, famosas que estavam no auge tipo Anitta… Mas um desses posts vai te surpreender. O que bombou demais há quase 10 anos foram… os talheres Comer Brincando.

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Sim, estou ouvindo seu suspiro

ao ver essa foto

Os talheres Comer Brincando foram desenhados por José Carlos Bornancini (falecido em 2008) e Nelson Petzold em 1975 e eram produzidos no sul, pela Hércules, entre os anos 70 e 80. Cerca de 2,5 milhões de unidades foram vendidas do Príncipe Garfo, Cão Faquinha e Princesa Colher, marcando toda uma geração de crianças. O trabalho dos designers costumava envolver emoção com o comportamento das pessoas – por isso a foto dos Comer Brincando sensibilizou tanta gente no post da exposição! A notícia triste que temos é eles que não são mais comercializados nem produzidos – mas talvez possam ser encontrados em brechós e antiquários, quem sabe?
Eu tinha, e você?

Eu tinha, e você?

Existe um fascínio sobre a memória afetiva - se você mexe do jeito certo com ela, a coisa vira um sucesso. O Alexandre Herchcovitch tem feito uma venda tipo desapego de peças pessoais via Instagram: o HerchcovitchCloset. Entre as peças já teve algumas daquelas famosas camisetas que traziam imagens da Disney: Branca de Neve, Bambi… Você lembra?

Eu amava mas nunca tive; quis ter mas, quando vi, todo mundo tinha - e aí não quis ter o que todo mundo tinha, claro. Risos!

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A coleção inteira era muito boa!

Outono-inverno 2003!

Ícones de infância funcionam demais - especialmente entre xennials e millennials, acho que é a nossa saudade da inocência. E acho que também é nesse público que Laços, o filme live-action da Turma da Mônica que deve estrear em 27/07, também aposta, além do infantil.

(Sim, estou muito empolgado para assistir!)

Falando em Turma da Mônica, já teve estilista que surfou lindamente nessa onda. Era o Thiago Marcon na época que se apresentava solo na Casa de Criadores (faz mais de 10 anos, abafa o caso) e que hoje é estilista da 2nd Floor da Ellus.

De Cranicola da turma do Penadinho ao Astronauta! Thiago já fazia lá no começo o que é sua especialidade até hoje: uma roupa para uma menina descolada e bonitinha. Ele também pratica essa brincadeira da memória afetiva na 2nd Floor: já teve Cavaleiros do Zodíaco, Mulher-Maravilha

O que será que novas coleções poderiam explorar como licenciamento para mexer com essa nossa memória afetiva e, para falar um termo usado entre os jovens, hitar? Pensei em três coisinhas:

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Monteiro Lobato tem mil problemas

a começar pelo racismo. Mas acho que o Sítio do Picapau Amarelo continua como referência de infância pra muita gente!

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Pisa menos!!

A Turma do Arrepio era chique demais pra ser esquecida

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Amava a Get Along Gang

Era um dos meus desenhos preferidos!

Falei bastante de desenho de infância, né? Mas deixei de fora um ícone reverenciado por muitos, que inclusive Alexandre Herchcovitch também já usou. Mas isso é um tema para um próximo post porque, hello, ela merece…

E você, que memória afetiva gostaria de ver em uma roupa?