Wakabara

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Um salve para o cara que criou a trilha clássica de Godzilla

Esse blog é muito cheio dos assuntos nipônicos, né? Que estranho, parece que está no DNA…

Japão brilha!

Mas enfim - Godzilla 2: Rei dos Monstros estreou. Particularmente amo esse gênero dos kaiju - que é o nome que se dá para as obras de ficção que trazem monstros gigantes como foco, Godzilla incluso. No Japão se fala Godjira - dá para perceber quando o personagem Serizawa se refere a ele. E nesse universo da Legendary Pictures, no lugar de kaiju, eles falam MUTO (Massive Unidentified Terrestrial Organism).
Resumindo: para quem ama ou ao menos simpatiza com kaiju, o filme é mara, com efeitos especiais incríveis, cenas de ação fantásticas pipipipopopó. Quem não acha tão legal e quer apenas um filme para entreter, procure outra coisa porque esse foca bastante nos monstros gigantes em si (sim, tem mais além do Godzilla, e o Kong do filme de 2017 está incluído nessa turma apesar de aparecer apenas de relance dessa vez). 

De umas belezas belíssimas: King Ghidorah e Godjira em ação!

E eu entendo quem não curte tanto. A estrutura é sempre a mesma: algo desperta um monstro que estava nas profundezas, esse monstro destrói cidade (ou cidades, no plural), às vezes aparece um outro monstro que briga com ele, geralmente a intervenção dos humanos nessa briga não dá em nada e eles posam de meros espectadores-narradores, talvez algum monstro vença, em certo momento ele ou eles entram em estado de descanso e a harmonia volta - mas a ameaça continua pairando no ar. A fórmula traz uma variação ou outra mas, no fim, pode ser resumida assim. O bom de assistir kaiju, assim como os tokusatsus em geral (que são as tramas japoneses com efeitos especiais, Jaspion e Changeman inclusos) é que a fórmula te deixa com uma sensação que você tem um certo controle sobre aquela obra, e o ato de assisti-la é como encontrar um amigo querido que você já sabe como funciona…
Que analogia horrorosa!

Uma coisa muito legal desse longa hollywoodiano novo (não lembro se o primeiro dessa série, de 2014, tinha) é a música clássica do Godzilla. Quando fui na Universal em Osaka, tinha uma atração do Godzilla tipo cinema XD - um curta que fazia a poltrona mexer, a água espirrar, o fogo esquentar, todo um babado que deixou o meu marido enjoado por cerca do resto da viagem inteira. Ouvir a música tema já fazia seu coração acelerar, sabe?
Para quem não conhece:

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O autor desse tema já morreu: seu nome era Akira Ifukube. Ele compôs esse tema lá em 1954.
Ifukube tem uma história muito interessante: nascido em Hokkaido, a parte norte do Japão, ele teve convivência com os ainus, o povo nativo dessa região (que inclusive sofre muito preconceito até hoje da parte dos japoneses). Analisando a parte genética, dizem que os ainus se aproximam muito mais dos mongóis do que dos japoneses. Sendo assim, Ifukube entrou em contato com uma cultura bem diferente da japonesa muito cedo, e isso o influenciou bastante.
Ifukube faz parte da história de Godzilla - compôs a trilha do primeiro filme da Toho (o estúdio de cinema japonês) e seguiu fazendo outras nas sequências. Foram 8 filmes com o Godzilla na era Showa (1926-1989), fora outros de kaiju como Rodan e Atragon.

Anaconda who?

Lá pelo fim dos anos 1970, Ifukube saiu da indústria cinematográfica que lhe deu tantos louros. Ele também gostava muito do universo da música clássica e da academia, e por isso acabou se dedicando a eles nesse período.
Filmes do Godzilla voltaram a ser produzidos em 1984, sem Ifukube, e apesar de um pouco antes da era Heisei (1989-2019), já são considerados dessa “nova fase”. Em 1989, com autorização, eles pegam o tema de Ifukube para o monstro - só que o adaptam de maneira muito pop, o que deixa o compositor, digamos, um pouco incomodado. Aí, quando a Toho bate na porta de Ifukube-san novamente, ele decide sair da aposentadoria para fazer novas trilhas de Godzilla, sempre com a música tema coroando. A última dele, Godzilla vs Destoroyah, é de 1995.
Shin Ifukube morreu aos 91 anos em 2006. Também não viu sua música que virou parte da história do cinema japonês no ótimo Shin Godjira (2016), produção japonesa que correu paralelamente a esses filmes da Legendary Pictures.

Desculpa, Legendary, vocês estão fazendo um trabalho ótimo, mas ninguém mostra Godjira como os próprios japoneses. Ainda mais sem Aaron Taylor-Johnson (para melhorar a fotografia do filme, né?) e Bryan Craston - mas OK, a gente gosta da Millie Bobby Brown. Pela atenção, obrigado!

Ah, e se você, caro leitor, quiser ver algum outro Godzilla após o que está no cinema, sugiro Shin Godjira sem pensar duas vezes!

Um extra antes do fim desse post - vídeo explicativo (em inglês) do IMDb sobre Godzilla, com direito à musiquinha infame das gêmeas da Mothra!

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