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Thina Rodrigues, presente: o desfile 2020 de Lindebergue Fernandes

Tá, eu vou falar de moda, mas depois vocês me prometem que lêem os outros posts que não são sobre moda aqui nesse blog, tá? É só apertar no logo acima e navegar.

O Dragão Fashion, semana de moda que acontece anualmente em Fortaleza (e que agora chama DFB Festival abrangendo shows e outras atrações), foi outro evento atingido pela pandemia que acabou não acontecendo em sua data prevista e precisou se adaptar para uma versão digital. Ele está rolando agora sob o codinome DFB DigiFest.

Frequentei o Dragão faz tempo, e faz tempo que não vou. Na época em que eu ia, me empolgava bastante com o que via: desfilavam por lá coisas que ainda estavam fora do radar do eixo Rio-SP mas que eram muito bacanas, como Mark Greiner, Vitorino Campos, Helen Rödel.

E também tinha Lindebergue Fernandes, um criador com um universo muito próprio que misturava referências superpopulares camp com streetwear e possuía um senso de ironia próprio do Ceará, que no lugar de diminuir meio que exalta seu alvo. Para isso, há que se ter sensibilidade – poucos conseguem.

Lili seguiu participando do Dragão e, nessas suas referências todas, acrescentou a política. É sempre um discurso sem firula, colocando-se pró minorias. Nesse DFB DigiFest, sua apresentação que foi ao ar pelo YouTube ontem homenageou Thina Rodrigues, fundadora da Associação das Travestis do Ceará (ATRAC). Thina morreu faz um mês, um dia depois do Dia do Orgulho LGBTQ+, vítima da COVID-19.

Quem abre o desfile é o incrível Silvero Pereira, que ficou nacionalmente conhecido com Bacurau mas que já era figura celebrada no Ceará. O vestido que Silvero usou no Festival de Cannes em 2019 era assinado por Lindebergue.

Thina é a parte que simboliza o todo: presa por ser travesti nos anos 1980, símbolo de poesia e resistência, ela não morreu como parte das estatísticas de ataques transfóbicos, mas em decorrência do coronavírus que, está provado estatisticamente, é ainda mais avassalador entre comunidades marginais.

O vestido que Silvero usa, em tecido cru e de mangas bufantes, é aberto atrás, atrevido e ao mesmo tempo remetendo a camisola hospitalar. O texto que a gente ouve no começo da trilha é da Inês Brasil – ela já tinha virado notícia durante uma live, quando fez um desabafo. Um grito de uma mulher preta que não aguenta mais a situação chocante do país e a nossa falta de reação.

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A estampa criada por Maurício Alexandre, essa dos sertanejos de mãos dadas, traz a mensagem "ninguém solta a mão de ninguém" – ela aparece em diversas peças, inclusive na manga nuvem que é uma das marcas de Lindebergue.

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Quem fecha o desfile é Yara Canta, artista trans, usando uma cabeça-turbante-black-power-arco-íris-pantera-floral criada pelo artista plástico Ciro Alencar mais um vestido balonê com cores veladas pela transparência branca que envelopa e protege. Simbologias para refletir e apreciar.

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O DFB DigiFest continua. Confira a programação de desfiles no site deles.

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