Wakabara

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Onde você estava em novembro de 1995?

Dependendo da sua idade você nem tinha nascido, né?
Eu ainda não tinha viajado para o exterior. Estava terminando a oitava série!!! O meu mundo era bem pequeno: mais especificamente consistia em Pinheiros. Meus amigos moravam em Pinheiros. Eu andava para lá e para cá em Pinheiros. A estação de metrô Clínicas ficava longíssimo - e ainda por cima era uma subida, eu hein. E certamente eu estava começando a fumar, ou prestes a: era L&M, que tinha a propaganda com o Evandro Mesquita e a rota 66 (!!!).
Bom, foi em novembro de 1995 que a Globo e Gloria Perez previram os relacionamentos via web. A webnamorada. Entre um empresário de nome pomposo, Júlio Falcão, e uma cigana, Dara. Era a novela Explode Coração. Chora, Tinder!

Júlio Falcão (Edson Celulari) entre Vera (Maria Luísa Mendonça) e Dara (Tereza Seiblitz)

É um turbilhão de perguntas que surgem só de lembrar, não é mesmo? Por exemplo…

Essa vida é certamente muito misteriosa…
O que eu sei é que em novembro de 1995 internet era um assunto MUITO MODERNO. E que Gloria Perez, digam o que quiserem, popularizou a internet no Brasil. Ela própria conta que foi ridicularizada quando propôs o tema.
Mas brasileiro adora uma novidade, então… por que não, não é mesmo?
No ano seguinte, no Ensino Médio, me lembro que uma amiga minha, a Luciana, ia na minha casa para conversar num chat do UOL (!) com um cara que morava sei lá onde (!!) e eles marcavam um horário para encontrar no chat do UOL (!!!). Aí trocaram endereço e começaram a se corresponder por CARTA (!!!!) com direito a fotos reveladas (!!!!!) provavelmente tiradas numa daquelas câmeras de filme que a gente costumava ter, MEU DEUS.

Bom, para quem não se lembra o Júlio Falcão era casado com a Vera, mas era um casamento que ia de mal a pior. O site Ashley Madison, que se dedica a puladas de cerca entre gente casada, só foi criado em 2001. Então o Júlio teve que apelar para o chat, mesmo. Essa novela deve ter tido sua parcela na responsabilidade pela popularização dos chats do UOL, Bol, Terra, IG e congêneres.
Já Dara era cigana prometida para o cigano Igor (adoro que ele sempre é chamado de "cigano Igor") mas ansiava por liberdade, acessava internet escondida (HAHAHAHA) e fazia cursinho pré-vestibular.

"Agora eu arrumo um boy!”

Dizem que Explode Coração foi uma novela encaixada às pressas no horário das 20h. Ela veio após O Rei do Gado de Benedito Ruy Barbosa e em seguida apareceria A Próxima Vítima de Silvio de Abreu, só que as duas tinham brigas entre duas famílias italianas e a Globo achou melhor separá-las por alguma outra trama. Inicialmente, seria a adaptação de Mar Morto de Jorge Amado por Aguinaldo Silva, que a princípio foi concebida para ser uma minissérie, só que a ideia flopou (em 2001 Mar Morto virou Porto dos Milagres em formato de minissérie mesmo).
Então apareceu Explode Coração, que contava com Tereza Seiblitz em seu único papel como protagonista, sabe-se lá porquê - a achava uma boa atriz, de verdade.

Agora atenção para a abertura que previa os shows com hologramas e a Ana Furtado como substituta de todos (no caso de Tereza Seiblitz). E o ritmo Gypsy Kings todo todo, né?

Aliás, era na trilha sonora dessa novela que tinha Macarena e Estoy Enamorado! Amo!

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Dá para lembrar também que esse foi o primeiro papel na Globo de Leandra Leal. Ela fazia a pentelha Ianca, irmã da Dara, que sonhava em casar. Já que na cultura cigana a irmã mais velha precisa casar primeiro para depois a irmã mais nova ter essa permissão, imagina, né?
Quem era apaixonado por Ianca? Vladimir, o personagem de Felipe Folgosi!
E tinha o Serginho, que era o primeiro namorado de Dara e depois se envolvia com a primeira mulher do padrasto, vai vendo. Serginho era vivido por Rodrigo Santoro, ainda cabeludo, e a primeira mulher do padrasto era Renée de Vieldmond.

Tabu até hoje, né?

Outro assunto babado que a novela tratava era o desaparecimento de crianças. O agora famoso Caso Evandro aconteceu em 1992 no Paraná, 3 anos antes.

Isadora Ribeiro vivia Odaísa, uma mãe que via seu filho desaparecer

E ainda tinha a Sarita Vitti, que na época chamavam de drag queen mas hoje a gente veria como uma mulher trans que trabalha como drag à noite. Ela era interpretada por Floriano Peixoto.

Aqui Sarita se pergunta quantos assuntos Gloria Perez consegue incluir em uma novela só

Mas o que eu amava mesmo era…

Ai, ai… em pensar que Gloria Perez ainda ia fazer O Clone, Caminho das Índias, América
Babado. Os tempos eram mais simples quando o nosso maior problema era discutir a verossimilhança das tramas dela.