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O stress, por Chisato Moritaka

Em 25/02/89, antes da gente começar a falar sobre saúde mental e síndrome de pânico no horário nobre, uma cantora lançava o single Za Surotesu, ou The Stress. Era Chisato Moritaka, na época com apenas 20 aninhos. Ela era uma aidoru? Sim, ela seguia a lógica pop das gravadoras de fórmula de sucesso para um público jovem (que também acaba atingindo véio babão). Um pacote completo, meio lolita sexy. Mas tinha uma diferença muito importante: The Stress e várias outras músicas que ela lançou foram compostas… por ela mesma. Sim: por trás desse rostinho bonito se encontra uma compositora competente, capaz de tocar diversos instrumentos.

(Boiou na parte da aidoru? Explico o que é isso nesse post.)

Na época que compôs The Stress, Moritaka já era famosa. Em 1986, ganhou um concurso da bebida Pocari Sweat (é tipo um Gatorade) e em troca se transformou no rosto publicitário deles, com todo um investimento de marketing em campanhas publicitárias. Em 1987, apareceu em um filme, lançou um single, fez um show. E em 1988 lançou o single e o álbum que traziam sua primeira composição própria lançada comercialmente: The Mi-Ha.

Esse clipe é PERFEITO DEMAIS. A humanidade simplesmente não o merece.

Mi-ha é uma gíria para alguém desmiolado e imaturo, geralmente uma menina. Na letra, Moritaka fala para o cara que explica que um outro não vai mais sair com ela que… tá tudo bem. Afinal, ela não leva as coisas muito a sério, ela é só uma mi-ha e a ideia de um romance tradicional a entedia. Descompromissada. Extremamente livre – inclusive para padrões japoneses. Ela se insinua para o cara, do tipo "não tô triste, não, chega de papo e vamos ao que interessa, você quer e eu também quero".
Babadeira.

Capa do single de Mi-ha

Aí chegou a hora dela fazer sua primeira grande turnê, já que tinha ficado claro que ela Moritaka ia se dedicar à carreira de cantora. Mas no meio dos ensaios, ela passou mal, teve dores abdominais, foi parar no médico.

Diagnóstico: stress. A semana que passou internada a inspirou a compor The Stress.
De janeiro a março de 1989, ela circulou por 9 cidades japonesas com a turnê Watch. No meio da turnê, portanto, saiu o single de The Stress.

Preparado para mais um vídeo que vai te fazer ficar chocado?

Isso é uma das pérolas pop japonesas mais influentes: o uniforme de garçonete ficou tão marcado que Moritaka o usa quando se apresenta… até hoje. É sério.

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E a coreografia sempre acompanha. É a mesma.

A música é bem simples e direta: ela fica repetindo “o stress, o stress", que é esse "sutoresu ga” que meu marido carinhosamente canta como "sou cabeçuda". Aí ela diz que todo mundo tá incomodando, que stress não faz bem para o planeta, stress não faz bem para uma mulher, stress não faz bem para a sua motivação, "alguém me salve” e tudo e tal.
O que eu mais gosto é uma parte que ela diz, em uma ponte, que "mesmo que eu sempre me esqueça basta olhar ao redor e ver que nada é o que parece."
Ah, o stress! <3

Infelizmente, como todo saudosista tonto, paralisei em abril de 1989, nesse show da turnê batizada Mite que começa com ela cantando The Stress. Os looks, a encantadora falta de recursos cênicos, a seleção megapop de músicas. Fora a versão dela de LocomotionI DIE!

Mas não dá para ignorar essa pop perfection que veio em seguida: em Hijitsuryokuha Sengen Moritaka parece muito autoconsciente da sua posição de aidoru e chega, na minha modesta opinião, a fazer uma leitura camp disso com os looks e a música. É o Fame Monster dela.

A música single de Hijitsuryokuha Sengen que está no clipe acima, 17-sai, originalmente foi lançada por Saori Minami. Bombou em 1971 e a versão de Moritaka já estava no set list da turnê Mite. Foi o primeiro single de Moritaka a entrar no top 10 japonês (em oitavo).

Serving looks, honey

Se você acha que Moritaka nunca poderia te surpreender mais, segue uma faixa de álbum seguinte dela, Kokon Tozai.

SIM.
Ela regravou uma música que já tinha sido lançada pelo Santana. Tocando guitarra.
Meu bem…
Kokon Tonzai foi o único álbum de Moritaka a alcançar o topo das paradas nipônicas.

Uma nova versão de The Stress foi lançada em 2006 por Natsumi Abe. Natsumi é egressa da girl band de j-pop Morning Musume. Desder 2011, ela faz parte do Dream Morning Musume, que é formado por 10 membros originais do Morning Musume.
Minha opinião sobre a versão nova: hummm… Natsumi a interpreta como se fosse uma paródia. Um dos segredos do melhor camp, Susan Sontag já dizia, é que ele se leva a sério. Ele não sabe que é camp. Então acho que é divertidinha, mas a original ganha disparado (inclusive na coreografia, a de 2006 é mais complicada e menos charmosa).

E para quem quer saber como vai Moritaka: bem, obrigado. No ano passado, saiu em uma turnê depois de muito tempo (como várias outras aidoru, ela se retirou da vida pública para "cuidar da família", mas agora que os filhos estão crescidos decidiu voltar). E é um dos destaques da Vogue Japão de junho. Sim, desse junho em que estamos!!!

Para quem se perguntou: Chisato Moritaka tem 51 anos. E faz hot yoga três vezes por semana.
Sem stress!

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