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O que aconteceu com a Irene Cara?

Irene Cara tinha o mundo na palma da sua mão em 1983. Ela começou sua carreira jovem, uma blatina (negra e latina) que tinha tudo para dar certo no showbusiness norte-americano. Começou como uma artista mirim e chegou a lançar um disco em espanhol com nove anos de idade, uma relíquia que pouca gente ouviu.

Aos 12 anos, Irene fez parte de um programa educativo da TV pública, tipo Castelo Rá-Tim-Bum, e chegou a fazer outros papéis dramáticos em séries e filmes. Um exemplo é Sparkle (1976), uma história à Dreamgirls (2006) na qual Irene faz uma das irmãs de um grupo musical, a Sparkle do título, que acaba conquistando uma carreira solo. O filme foi mal recebido na época mas ganhou um séquito de fãs. Chegou a rolar um remake em 2012.

Mas se Sparkle acabou não sendo um veículo para mostrar para um grande público tudo o que Irene era capaz de fazer, em 1980 chegaria a chance dela: era Fame, o musical sobre os estudantes de uma escola de artes performáticas. Irene não só fez um dos papéis principais (com uma maravilhosa franjinha de quarentena) e é a protagonista de uma das cenas mais dramáticas do filme, mas canta 3 músicas originais da trilha sonora: Fame, Hot Lunch e Out Here on My Own. A primeira e a última garantiram um fato inédito na história do Oscar: foi a primeira vez que duas músicas de um mesmo filme concorreram ao prêmio de Melhor Música Original. E a primeira vez que uma artista apresentou duas músicas na mesma cerimônia da Academia.

Imagina o quão emocionante deve ter sido assistir a tudo isso?!
A música Fame levou o Oscar de Melhor Música Original. E a trilha também levou o prêmio da noite.

Com isso tudo, qualquer um poderia imaginar que Irene Cara continuaria sua carreira mas que esse era o ápice. Só que a letra de Fame era premonitória: You ain't see the best of me yet.
Na sequência rolou um leve baque: Irene tentou emplacar uma sitcom estrelada por ela e chamada Irene. Não passou do piloto. Mas OK, o piloto não é ruim, então seguia tudo nos conformes.

Ao ser convidada para fazer parte da série de TV spin off de Fame em 1982, ela recusou a oportunidade repetir o papel de Coco Hernandez. Teria sido esse um outro passo em falso? Acho que não, apesar da série ter feito muito sucesso… na Inglaterra. Sério: os ingleses AMAM a série Fame, sabe-se lá o porquê.

Mas Irene lançaria um álbum pela Epic em 1982, o Anyone Can See. A Epic na época já era babadeira: tinha alguns dos grandes nomes do pop como Michael Jackson e Luther Vandross. Era dona do passe de uma outra latina que despontava: Gloria Estefan, ainda na banda Miami Sound Machine. Em 1984, lançaria o Make It Big do Wham! de George Michael. Ou seja: fazia sentido que ela quisesse transformar Irene numa superestrela, certo? Na minha opinião, o álbum possui clássicos injustiçados, como a balada que dá nome a ele e essa aqui:

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Irene não faz parte do time de compositores de Reach Out I'll Be There, mas participa da criação de todas as outras canções do lado A. O álbum não foi mal nem bem nas vendas – apenas OK. Ele foi produzido pelo Ron Dante, que vem a ser nada menos que a voz de Archie na superbanda ficcional The Archies, rainha do bubblegum pop! (Guarda essa info não pelo Dante, mas por quem o Dante… não é!)

E aí veio o ano de 1983.
Tudo começou quando Giorgio Moroder e Keith Forsey receberam a notícia de que Joe Esposito (co-autor de nada menos que Bad Girls da Donna Summer) não seria mais o cantor da faixa Flashdance… What a Feeling para a trilha sonora de Flashdance. Queriam uma voz feminina, que cairia melhor já que a protagonista era uma mulher – e Esposito poderia continuar na trilha com a balada Lady, Lady, Lady.
Resultado: chamaram Irene. Diz a lenda que ela mudou a letra no carro a caminho do estúdio de gravação e assim assumiu um posto no time de compositores. Sorte a dela: Flashdance se transformaria na primeira música gravada por ela a alcançar o topo da parada da Billboard, uma trilha que vendeu muito.

E com isso ela ganhou o Oscar de Melhor Música Original de 1984 - já que fazia parte do time de compositores. Que tal?
Irene era Oscar material. Em 1985 ela fez outra apresentação ao vivo, sem concorrer:

Aliás, ela nunca mais concorreu ao Oscar. O que aconteceu?

Existem teorias. A primeira vem logo no álbum de 1983.

Escolhas erradas?

What a Feelin' também é o nome do álbum seguinte de Irene Cara. Ele foi produzido pelo mesmo Giorgio Moroder da trilha de Flashdance, que era o Midas de outra estrela, Donna Summer. O chauvinismo de críticos de música ignorou o fato de que Irene era compositora (apenas duas músicas das onze que fazem parte do álbum não tem o seu dedo) e tratou-a como um fantoche bem-produzido. Veja bem: ela já tinha sucessos. Era uma artista completa e qualquer um podia ver isso em filmes e apresentações ao vivo. Mas foi isso que aconteceu, a crítica esnobou. E o ponto mais alto que o disco chegou foi em 77º na parada da Billboard.

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E o álbum é o quê? ÓTIMO. São letras de Irene Cara produzidas por Giorgio Moroder, bitch! O que você quer mais?

Outra coisa que prejudicou o lançamento foi não ter pego carona na cauda do cometa: Flashdance, o filme, foi lançado em abril. A trilha do filme foi lançada em março. Esse álbum de Irene saiu em novembro, em pleno inverno norte-americano, quando o single Flashdance já tinha dado tudo de si. E 1983 foi um ano difícil de bater, com Billie Jean e Beat It do Michael Jackson, Every Breath You Take do The Police, Down Under de Men at Work e Total Eclipse of the Heart de Bonnie Tyler. Irene não teve uma segunda chance de brilhar com as outras ótimas músicas desse disco fora Flashdance – a que chegou mais alto, em oitavo nas paradas, foi Breakdance.

As comparações com Donna Summer em si chegaram, e ambas possuíam um registro parecido de voz. Mas dizem que a coisa não parou por aí. Cara lançou esse álbum pela Network Records, o que traria um tanto de problemas para ela no futuro…

O cara errado

A gente não sabe se essas escolhas de 1983 foram erradas para Irene Cara ou poderiam ser melhores, porém existem fofocas muito plausíveis que dizem que ela se envolveu romanticamente com um homem errado. Não necessariamente porque o cara era do mal – a gente nem sabe quem é ele. Mas ele também era o interesse amoroso de… outro cara. Nada menos que David Geffen.

Esses são Lou Adler, Britt Ekland, David Geffen, Cher, Jack Nicholson e Angelica Huston no Grammy de 1974

Para quem não conhece a história de Geffen, isso vai soar como piada, mas eu juro que é verdade:
Geffen já era um executivo bem-sucedido com a sua própria gravadora nos anos 1980. Mas antes, em 1973, ele foi o homem de ninguém menos que Cher. Eles ficaram juntos por dois anos. A própria Cher diz que ela foi o primeiro relacionamento sólido dele.
Em 1992, ele finalmente sairia do armário. Mas todo mundo já meio que sabia que ele era gay.
(Sim, caso não tenha ficado claro: ele é um homem gay cujo primeiro relacionamento sólido na vida, antes de sair do armário, foi a Cher)

Em algum momento da primeira metade dos anos 1980, aquele interesse amoroso de Irene Cara que citei anteriormente era o mesmo de David Geffen – ou é o que as fofocas dizem…
”Mas e daí?”, você me pergunta. Bem…

A Geffen Records comprou a Network Records em 1984 e Irene não recebeu o dinheiro do What a Feelin'. Ou, segundo as fofocas, recebeu apenas US$ 183! É mole? Dizem que ela correu para assinar com a EMI. Não contente, a Geffen proibiu-a de assinar com a EMI ou qualquer outra gravadora pois a artista ainda estava sob contrato da Geffen! A gravadora (ou seja, David Geffen), não satisfeita, a impediu de participar de trilhas sonoras, de gravar e até de apresentar sua música por um par de anos.

Além de rancoroso, Geffen é bilionário. O que a gente acha? Que um imposto sobre grandes fortunas não cairia nada mal por ali <3

Irene Cara só conseguiria gravar algo em 1987. Lançado pela Elektra, Carasmatic foi produzido por George Duke. Flopou.

Irene diz que foi boicotada, queimada no meio pela "gravadora" – ela não diz nomes, mas a gente consegue ler “DAVID GEFFEN” escrito em uma placa luminosa atrás dela quando fala do assunto.
Até onde vai a vingança para uma bicha machucada, né? Que horror!
Geffen também foi o responsável por engavetar um disco duplo de Donna Summer, olha ela aí de novo, num momento-chave da carreira dela.

Alguém disse racista e misógino? Hum… Não é por nada, só me vieram esses adjetivos na cabeça.

Ah, existe mais um outro fator.

Cocaína

Irene já reconheceu publicamente que foi usuária de cocaína e depois lutou pela sua sobriedade.
Mas sinceramente: isso já aconteceu com outras estrelas e não prejudicou a capacidade delas de fazer sucesso. Portanto, acho que isso é um problema grave e importante da vida de Irene Cara, mas que não é motivo substancial para sua carreira não ter crescido e aparecido e hoje ela não ser tão famosa quanto uma Whitney Houston ou uma Celine Dion.

Irene Cara segue sua carreira longe dos blockbusters e do Hot 100. A última coisa grande que fez foi uma banda de mulheres, a Hot Caramel, que gravou um álbum em 2011.

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E antes disso… Lembra do DJ Bobo? Aquele da eurobaba “everybody move your feet to the rhythm of this beat”… Pois é, rolou um dueto em 2001.

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oh dear

#justiceforirenecara

Quem gostou desse post precisa ouvir o programa Sessão da Tarde no meu podcast sobre o filme Flashdance, que gravei com a Bia Bonduki:

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