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Novelão da Gucci: Lady Gaga vai fazer a Patrizia e a gente já quer relembrar todos os babados!!!

A essa altura você já leu em algum lugar: a história da família Gucci parece que finalmente vai sair do papel para as telonas, parece que vai mesmo ser dirigida por Ridley Scott mas, ao contrário do que se especulava antes, um dos papéis principais, o de Patrizia Reggiani (ex-Gucci), não é mais de Angelina Jolie e sim de Lady Gaga!
O babado, meu bem, é certo. Porque afinal she's just an italian girl.

O projeto do filme não é de hoje. Notícias circulam desde 2007, e já ligavam o projeto a Scott. Nessa nova notícia ainda não se sabe uma confirmação para o começo das filmagens.

Mas caso você seja novinha ou ache que o assassinato de Gianni Versace é a única tragédia que a moda italiana já sofreu… meu bem. Tenho uma historinha para te contar.

O assassinato do estilista amigo das celebridades e supermodelos, Gianni, aconteceu em 1997 e assim eclipsou outro assassinato: o de Maurizio Gucci, em 1995. Maurizio morreu em Milão (e não em Miami, como Versace); já tinha vendido toda a Gucci para a Investcorp em 1993; definitivamente não era tão famoso quanto Gianni, que estava sempre sob os holofotes, desfilando, cortejando os famosos. Mas se eu te disser que a história da Gucci daria uma série muito melhor que American Crime Story: O Assassinato de Gianni Versace, você acreditaria? Segura essa, então: certeza que Ryan Murphy só escolheu Gianni Versace porque a história da Gucci acontece entre Florença e Milão, portanto é uma Italian Crime Story. E a prova é o livro que inspira esse projeto de filme de Scott: Casa Gucci: Uma História de Glamour, Cobiça, Loucura e Morte, de Sara Gay Forden, é tão doido que parece ficção. Já li faz um tempo, e estou relendo agora para fazer esse postzinho que vai dar os highlights dessa trama muito maluca que não inclui só Patrizia, mas tem vários personagens. Vem comigo!

Toda boa família italiana tem um patriarca, já diziam as novelas das oito da Globo. Aqui o cara é Guccio Gucci. Nascido em 1881 em Florença, viu seus pais sofrendo para manter um negócio de chapéus de palha. Decidiu zarpar dali e foi trabalhar no mítico hotel Savoy em Londres.

O Savoy Palace Hotel segue como símbolo do luxo jetsetter até hoje

Guccio ficou de olho nas malas e baús, entendendo os códigos da aristocracia e da elegância. Chegou a passar pela Wagon Lits depois, de trens luxuosos, aprimorando ainda mais o seu olhar para esses artigos de couro. Voltou para Florença e casou com Aida Calvelli. Ela já tinha um filho de 4 anos, Ugo, que ele adotou (guarda esse info que ela vai ser importante). Eles teriam mais 5 filhos, dos quais 4 sobreviveram: Grimalda, Aldo, Vasco e Rodolfo.
Enquanto trabalhava de gerente na filial romana da Franzi, uma empresa de artefatos em couro, Guccio almejava abrir seu próprio negócio em Florença. Encontrou um lugar vago na via della Vigna Nuova, que era um ponto ótimo. Abriu uma revendedora de artigos de couro e com o tempo conseguiu também fazer um ateliê no qual produzia itens exclusivos, com design original. Isso era em 1921.

Curiosidade: o Caffè Giacosa, aberto desde 1815 na Via Tornabuoni, pertíssimo dessa primeira Gucci, é o inventor do Negroni. O drinque foi criado em homenagem ao conde Negroni, que era cliente deles!

Nham!

Então vamos aos filhos nessa época:

Grimalda, la pettegola (a fofoqueira)

Trabalhava no balcão da loja.

Aldo, o que tinha o tino comercial mais aguçado

Aldo teve 4 filhos: Giorgio, Paolo, Patricia e Roberto. Aldo acabou bem proeminente na empresa ao longo do tempo - foi quem fez a expansão internacional e a princípio era arrojado nos negócios.

Vasco, il succube (o inerte)

Preferia caçar no interior da Toscana sempre que podia e ficava meio de buenas em relação ao poder na empresa, mas cuidava da produção.

Rodolfo, o caçula, apelidado de Foffo

Nessa época ainda bem criança, e depois correu atrás do sonho de trabalhar com cinema.

E o Ugo, o filho adotivo? Bem…

O primeiro problema: Ugo, il prepotente

Ugo não se mostrava interessado nos negócios da Casa Gucci. Sendo assim, Guccio arrumou um emprego para ele com um de seus clientes, o Barão Levi. Acontece que Ugo, casado e todo cheio de se querer, ficava dizendo como era bem sucedido, pipipi popopó. Guccio, que contraiu dívidas na Gucci, pediu um empréstimo para Ugo. E adivinha: Ugo não tinha tanto dinheiro assim. Na verdade, tinha uma amante e gastava o dinheiro com ela! Mas Ugo não quis reconhecer isso para o pai adotivo, afirmando que ia lhe dar um empréstimo sim.
Vai vendo…
Guccio, nesse meio tempo, fez um adiantamento bancário, pensando que pagaria juros para o filho quando recebesse dele. Ugo, ainda sem querer reconhecer a sua própria falta de dinheiro, roubou 70.000 liras do caixa do Barão seu patrão!!! Deu para o pai 30.000, como se fossem seus, e sumiu com a namorada durante 3 semanas gastando o resto! Claro que Guccio acabou descobrindo tudo com o Barão em si. Que papagaiada.
Não é só: Ugo se afiliou ao Partito Nazionale Fascista de Mussolini. Virou um oficial local e praticava o famoso "Sabe com quem está falando?” Eu, hein. Que mancha.

Agora vamos falar de outro episódio no mínimo exótico. O Gucci astro de cinema. Rodolfo.

Maurizio D’Ancora, a fase cinematográfica de um dos irmãos

Esse aí de cima é o Rodolfo Gucci. Enfrentando o pai, ele encarou uma carreira na telona que começou em 1929. E sabe que ele até fez bastante coisa e ficou conhecido na Itália? Virou astro do cinema mudo, dizem que chegou a ter um caso com a diva mor Anna Magnani (de Roma Cidade Aberta de 1945, A Rosa Tatuada de 1955, Mamma Roma de 1962 e tantos outros) e se casou com uma atriz milanesa, Alessandra Ratti, que usava o nome artístico Sandra Ravel. Alessandra morreu cedo, no começo da década de 1950, mas antes deixou um filho.
Maurizio Gucci.
Siiiim. Maurizio foi batizado com o nome artístico do pai. E como a mãe morreu quando ele era muito pequeno, Maurizio foi criado pelo pai, que era bem linha dura (como todos os Gucci, diga-se de passagem).
Maurizio D’Ancora em cena:

Nos anos 1930 diz a lenda que surgiram os primeiros símbolos da Gucci. A referência ao mundo da equitação viria na forma dos freios de cavalo no mocassim, o pesponto duplo das selas, o vermelho e verde das correias. Os Gucci inventaram que eram seleiros, mas não procede! Até chegaram a fazer sela, mas só depois, e mais para fins decorativos de loja.

Em 1938, Guccio abre loja em Roma (as maçanetas, cópias das da loja da Via della Vigna Nuova, no formato de oliveiras esculpidas em marfim, começaram a fazer parte da iconografia da grife), e em 1947 aparece a primeira bolsa do modelo Bambu, a 0633, com a tecnologia patenteada da alça feita de bambu (eles a aquecem numa temperatura específica até conseguir entortá-la). Consta que eles precisavam encontrar materiais alternativos, devido ao embargo comercial pré-guerra.

No filme Viagem à Itália, de Roberto Rossellini, Ingrid Bergman usa bolsa e guarda-chuva da Gucci, ambos com detalhes de bambu

Na virada dos anos 1940 para os 1950, a marca está em seu auge. E Guccio morre em 1953, com Aldo, Vasco e Rodolfo assumindo a companhia.

Vasco ficou supervisionando as coisas em Florença; Rodolfo, que desistiu das telonas após a Guerra e a caminhada do cinema italiano para o Realismo, cuidou da abertura da loja em Milão (dizem que ele era supergalanteador e que as clientes ficavam doidas porque o achavam muito parecido com um astro do cinema antigo… Maurizio D’Ancora); e Aldo foi conquistar a América: a primeira loja Gucci fora da Itália abriu em NY.

Os irmãos Vasco, Aldo e Rodolfo

Mas e Grimalda, a irmã mais velha? Pois é.

Os Gucci eram MEGAmachistas

Guccio simplesmente não deixou nada para a filha da empresa. E disse para os filhos que mulher alguma deveria assumir a empresa - ever. Estimulava somente os filhos de Aldo a trabalharem lá: Giorgio, Roberto e Paolo (nessa época Maurizio morava em Milão), deixando a Patricia de fora. Quando nasciam, ele dava um pedaço de couro para o bebê cheirar "pois este é o cheiro do seu futuro".
Que belo exemplar de desgraçado, não?
Grimalda ficou com umas terras, uma fazenda e um dinheirinho. Sendo que seu marido Giovanni chegou a salvar o sogro Guccio quando a empresa ia mal na década de 1920. Se eu fosse ela, teria aberto uma concorrente, bem atrevida. Mas ela preferiu ficar de boa, apesar de obviamente não estar feliz com a divisão.

A lenda conta que a princesa de Mônaco Grace foi em uma loja de Milão em 1966. Rodolfo insistiu em dar-lhe um presente. No fim, ela disse que aceitava um lenço. Mas a Gucci não possuía muitos modelos, apenas alguns com estribo de cavalo estampado, motivos indianos - nada que Rodolfo considerasse adequado para uma princesa. Ele perguntou qual tipo de echarpe ela tinha em mente, e Grace respondeu: "Que tal uma com estampa de flores?” Rodolfo pensou rápido e respondeu: “Acontece que estamos justamente desenvolvendo uma echarpe assim! Prometo que será a primeira a possuí-la!”
E toca a ligar para Accornero para pedir socorro! kkkkk
Fiorio, estampador que ficava em Como, foi quem deu o toque final: ele havia desenvolvido uma técnica que permitia a estamparia com 40 cores diferentes sem que os tons manchassem. Por isso esse floral vivo da Gucci foi tão marcante - ele realmente era uma coisa luxuosa e inédita.

Famiglia: na foto nem parece uma versão de Dinasty da vida real…

Bom, chegou a hora de falar da terceira geração. Quando Vasco morreu, não deixou filhos. Sua viúva concordou em vender as ações para os outros dois irmãos (para o alívio deles). Assim, entram em cena:

Roberto, filho mais novo de Aldo, apelido il prete (o padre)

Teve seis filhos, era bem conservador e religioso. No começo ajudou o pai nos EUA, e depois se estabeleceu em Florença, perto da matriz.

Giorgio, filho de Aldo, o tímido

Teve dois filhos, Alessandro e Guccio. Tinha uma relação difícil com o dominador Aldo. Acabou mudando para Roma e abrindo a Boutique Gucci por lá com Maria Pia, sua segunda esposa. Foi o primeiro ato de rebeldia nesse sentido de alguém da família, quase uma premonição, um laboratório para o que viria depois - a Boutique Gucci vendia artigos mais jovens e com o tíquete médio mais baixo, em desencontro com todo o resto da marca. Aldo disse para a imprensa que ele era uma ovelha negra que trocou um transatlântico por um barco a remo, mas que ele voltaria. E realmente voltou - a Boutique foi reabsorvida pela Gucci e tudo voltou à normalidade… até Paolo mostrar quem realmente era a ovelha negra.

Paolo, filho de Aldo e o mais rebelde

Paolo não gostava do controle do pai, não respeitava a hierarquia. Usava bigode em atitude rebelde (Guccio, o avô, odiava pelos no rosto). O mais criativo, foi o responsável pelos primeiros artigos de prêt-à-porter. As estampas de pombo e falcão nas echarpes vieram dele, um criador de pombos-correio.

Maurizio, filho de Rodolfo, o avvocatino

Superprotegido pelo pai após a morte prematura da mãe, se viu afastado dos negócios por muito tempo.

Cada um dos filhos de Aldo ganhou 10% da parte dele. Rodolfo preferiu não passar sua parte para Maurizio por enquanto por causa do relacionamento atribulado que tinham.
É que Maurizio conheceu uma certa moça em uma festa… e se apaixonou loucamente, para o desespero de Rodolfo!

Reggiani era de família nova rica de Milão: com dinheiro, sem tradição. Não fazia parte da alta-sociedade, mas tinha gostos luxuosos. Ela foi adotada pelo padrasto que trabalhava com transporte de caminhão e ele a adorava, fazia todas as suas vontades. O sobrenome Reggiani é dele. O verdadeiro pai de Patrizia? Há controvérsias: a mãe dela, Silvana, jura de pé junto que é o Reggiani em si. Mas Patrizia sempre o chamou de padrasto…
A esposa de Reggiani morreu em 1956 de câncer. Ele casou com Silvana depois de um tempo, discretamente.

Patrizia e Maurizio se casaram em 1972. Tiveram duas filhas: Alessandra e Allegra.
Rodolfo ficou por um bom tempo sem falar com o filho após o casamento que aconteceu sem sua aprovação. Foi o irmão Aldo quem o convenceu a amolecer. E ele o fez, bem à moda Gucci, encontrando Maurizio como se nada tivesse acontecido e convidando-o para se juntar a Aldo em NY para trabalhar na Gucci por lá.

Enquanto isso, o nome Gucci se popularizava. Nessa época, você podia comprar um chaveiro por US$ 5 ou um cinto inteiro de ouro 18 quilates por alguns milhares de dólares. A marca acabou ficando com uma imagem de barata por causa da adoração pelos mocassins por parte das secretárias de NY e também pela coleção Gucci Accessories Collection, ou GAC, criada por Aldo sob a empresa Gucci Parfums. O plano era deixar a Gucci Parfums cada vez mais poderosa para diminuir o poder do irmão Rodolfo sobre a empresa principal, da qual ele tinha a maioria (50%). Na Gucci Parfums a divisão era menor para Rodolfo, 20%, com Aldo e os 3 filhos cada um com mais 20%. Só que a GAC era uma linha mais barata, de lona e com os monogramas, tipo de nécessaire, vendida em farmácia.

Os lucros imediatos até aumentavam muito, mas em matéria de imagem, a Gucci ficava desgastada. E a pirataria sambava em cima, porque era mais fácil falsificar uma bolsa de lona que uma bolsa de couro.

Ninguém pode falar que Aldo não tinha bom humor: ele combatia os piratas ferozmente, mas quando descobriu um falsificador que escrevia Goochy na sacola de lona, deixou. Achou engraçado! Isso conversa com a própria Gucci hoje em dia escrevendo Guccy em itens originais!

Mas acho que chegou a hora de falar de uma coisa muito específica…

O iate Creole

Um dos barcos mais icônicos do mundo dos milionários, o Creole tem uma história e tanto. Com 64 metros e 3 mastros, já foi considerado por conhecedores como o "mais bonito do mundo". Construído em 1925 a pedido de Alexander Cochran, americano que ganhou fortuna com carpetes, viu seu dono morrer prematuramente por causa de um câncer. Seu primeiro nome foi Vira - que nome para um barco, né? Ave.

Depois disso, mudou de nome para Magic Circle - o que, segundo as crenças dos marinheiros, é um mau presságio... Outro sinal foi o seu batismo - como Cochran estava com tuberculose na época (!!!), seu amigo Fred Hughes fez as honras de quebrar a garrafa de champanhe (para quem não sabe, é esse o ritual de batismo de uma embarcação). Ele teve que tentar 3 vezes até conseguir quebrá-la. Para os marinheiros, se não quebra de primeira… ih…

Em 1948, foi parar nas mãos de Stavros Niarchos, o ricão grego rival de Onassis, que finalmente o rebatizou de Creole. E começa a pior maré: a primeira esposa de Niarchos cometeu suicídio com overdose de pílulas no Creole, em 1970. Ele casou novamente com a irmã mais nova dela, que simplesmente vinha a ser a primeira mulher de Onassis! Adivinha… Ela também se matou. A única descendente viva de Tina Niarchos é sua neta, Athina Onassis, que foi casada com o brasileiro Doda Miranda.

Niarchos passou a odiar a embarcação e prometeu nunca mais colocar os pés nela. Vendeu-a para a marinha dinamarquesa, que por sua vez doou-a, sabe-se lá porque, para uma clínica de reabilitação de drogados. Ele ficou supercaído, todo estragado.

E por que te contei tudo isso? Porque Maurizio comprou o Creole em 1982 pelo que foi considerado uma barganha (menos de um milhão de dólares), reformou-o e ele virou um dos símbolos dos Gucci. Ainda é de Alessandra e Allegra Gucci até hoje. Na época, Patrizia ficou com medo de energias ruins no local por causa do passado trágico dele. Maurizio chamou uma paranormal para dar uma limpada. Foi babado: a mulher ficou em transe, viu uma porta onde não tinha porta (mas onde já teve, antes das inúmeras reformas) e gritou "Deixe-me em paz” onde o corpo de Eugenia Livanos-Niarchos foi encontrado. Etalelê.

E agora, mais um babado…

Paolo mostra as garras

Paolo começou a se desentender com a falta de visão do tio Rodolfo. Estabilizado em Florença, também fazia perguntas incômodas sobre o destino dos lucros da Gucci, que sempre estava com os cofres vazios - e depois, se soube que sua desconfiança fazia sentido, já que o tio e o pai tinham contas milionárias em paraísos fiscais.
Ele acabou mudando para os EUA alegando que o tio estava podando-o no seu cargo de designer. Mas com o pai a coisa também não desenrola bem. Frustradíssimo, ele decide aprontar um negocinho…

E aí começava a nascer a marca… Paolo Gucci. Acredita? kkkkk

Imagina a confusão: Paolo queria vender até em supermercado. Falou com fornecedores da própria Gucci e foi assim que seu tio Rodolfo descobriu os planos.
Paolo foi mandado embora da Gucci em 1980 e processou a empresa da família porque não considerou justa a falta de indenização. Ao mesmo tempo, a Gucci em si aprovou o gasto de US$ 8 milhões, logo de cara, para combater esse novo empreendimento do desgarrado.
E foi assim que uma nova era na Gucci começou: a da guerra da família.

O que pouca gente imagina é que Domenico de Sole, que depois viria a ser o CEO do Gucci Group, entrou nessa história nessa época. Em uma viagem para Milão, De Sole foi convidado por um importante advogado que era seu associado para assistir a uma reunião da família Gucci, daquelas bem pesadas com Aldo, filhos e advogados de um lado e Rodolfo, Maurizio e advogados do outro. A conversa esquentou e o associado pediu para De Sole encabeçar para ver se ele conseguia controlar aqueles florentinos.
Foi o que ele fez, sem se deixar intimidar pelo sobrenome deles. Quando ele interrompeu Aldo, dizendo para ele que simplesmente não era a hora dele falar, Rodolfo decidiu contratá-lo - ele percebeu que o filho Maurizio ia ficar cada vez mais alienado da empresa já que Aldo se negava a dar mais participação para ele, e precisava de ajuda nisso.
Depois da contratação, numa reunião de acionistas em Palm Beach, Aldo chamou Paolo - e De Sole foi representando Rodolfo. Ele queria que o voto do filho desequilibrasse a balança na empresa, para ele continuar controlando-a. Mas Paolo respondeu que só votaria com ele se ele o deixasse trabalhar na marca própria…
E aí Aldo pegou um CINZEIRO GUCCI e o ARREMESSOU, falando um nome bem feio, na direção de Paolo. Não o atingiu, mas Paolo e De Sole ficaram cobertos de caco de cristal. Quenda…

Outra tentativa seguinte de reunião com Paolo também foi mal-sucedida. Ele levou um gravador (!!) e começou a gravar tudo o que dizia. Aldo ficou puto. Puxou o gravador da mão de Paolo, partiu para cima dele. Maior barraco. O rosto de Paolo acabou arranhado, saiu sangue, e o cara começou a gritar para os funcionários: "Chamem a polícia! Chamem a polícia!"
Quer emoção? Pois é, aqui tem. E lá vinham mais processinhos movidos por Paolo contra a Gucci.
As manchetes dos jornais se refastelaram, né?

Dizem que Jackie O, vendo as notícias, mandou um telegrama para Aldo que dizia apenas: "Por quê?”

Em 1982, o próprio Aldo contratava De Sole para defender a ele e à empresa dos ataques de Paolo. Paolo foi jogando merda no ventilador, mostrando dinheiro desviado da família para a justiça. Ele morreu de hepatite crônica, com bem menos dinheiro do que um dia já teve, em 1995.

A hora de Maurizio

Depois que Rodolfo morreu (mas antes de Paolo morrer), Aldo estava quase indo para a cadeia por evasão de impostos. E aí Maurizio arquitetou um plano para ter a presidência da Gucci: se juntou a… Paolo. Conseguiu.

Depois, ainda ficou com o controle da empresa inteira em 1992, em um plot twist com direito a passar a perna nos primos e do tio - negociou com a Investcorp, que comprou as ações de todos eles escondendo que o nome por trás da negociação era o de Maurizio.

Quando Maurizio vendeu a marca para o Investcorp, a Gucci estava patinando financeiramente fazia tempo e tinha perdido o seu valor por ter se popularizado demais. Isso porque Tom Ford já trabalhava nela! Ele queria recuperá-la mas não teve jeito. Na época da morte, já morava separado de Patrizia e tinha uma namorada, Paola Franchi, por cinco anos. Estava determinado a casar com Paola - e Patrizia não seria mais a Lady Gucci.

Patrizia encarcerada em 2017

Patrizia passou 16 anos na prisão depois que foi provado que ela foi a mandante do assassinato de Maurizio. Ao sair da cadeia, em 2014, foi perguntada por uma emissora de TV: "Patrizia, por que você contratou alguém para matar Maurizio? Por que você mesma não atirou?"
E ela respondeu:

SIM, meus caros. Mais um Oscar da Lady Gaga no forninho.
Em outra entrevista, Patrizia declarou que esperava voltar a trabalhar para a Gucci em si. “Eles precisam de mim. Ainda me sinto uma Gucci, na verdade a mais Gucci de todos eles", ela disse. Alessandro Michele deve adorar isso tudo, né? Agora, com o filme, talvez seja melhor abraçar a história toda de uma vez. Ou não? Seria um suicídio comercial?
No dia do veredito de Patrizia, dizem que lojas da Gucci espalhadas pela Itália exibiram algemas prateadas em suas vitrines. Apesar disso, a marca até hoje não comenta um A sobre o assunto.

Patrizia saiu da cadeia em 2014, depois de negar a primeira oferta de saída em 2011 porque estaria condicionada a um trabalho, como qualquer cidadão comum. "Nunca trabalhei na vida e não pretendo começar agora", ela teria dito para o advogado. Parece que mudou de ideia: hoje ela como consultora de design da joalheria Bozart.

Imagem da sequência de abertura do filme Manhattan (1979) de Woody Allen

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