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Miley Cyrus, cadê o AOR?

A cantora Miley Cyrus vinha numa onda AOR. Sabe o que significa a sigla? É Adult-Oriented Rock (ou album-oriented rock, um conceito primo, rock feito para álbuns e não para singles, para ser ouvido num álbum inteiro). Isso é muito diferente das origens do rock: nos anos 1950 e 1960, o rock era a trilha sonora dos jovens, esse público que foi descoberto pela indústria como um mercado com potencial gigante na época. E era mesmo!

A minha teoria (que na verdade é bem lógica e nada inovadora, certeza que devem existir mil pessoas que pensaram a mesma coisa) é que esse público do rock cresceu, virou adulto e queria continuar escutando rock. Os roqueiros também cresceram e sua música, consequentemente, amadureceu. Normal. Os próprios Beatles, principalmente Paul McCartney e George Harrison, seguiram suas carreiras no AOR. É aquele soft rock Alpha FM: Carole King, Fleetwood Mac, America, Carly Simon, Bread… O tal rock de tio, sabe? Risos!

Muita gente acha bem pau molão – afinal, soft rock. Não tô nem aí: adoro e ouço muito. Aqui no Brasil, acho que um dos maiores exemplos é o Clube da Esquina, mas em maior ou menor grau quase todo mundo da MPB flertou com soft rock. O rock rural é bem AOR.
(E depois viria um cara chamado Ritchie, na minha modesta opinião o ápice tardio disso no país em relação a vendas, mas estou preparando um outro post que vai falar disso e de outras coisinhas, como o AOR japonês – que por lá se chama new music e City Pop. Aguarde!)

Bom, e aí chegamos em Miley.

Miley teve uma carreira digna de estudo, é um case. Ex-act da Disney, cresceu sob escrutínio do público e, para a virada, precisava convencer as pessoas que não era mais criança e que podia ser cool ouvir sua música. Algo interessante é que ela já tinha um hit blockbuster no currículo antes da virada: era Party in the USA, que conseguiu furar o bloqueio do pop adolescente e foi ouvida-dançada-curtida por todo mundo. Virou, segundo Kendall Jenner, um clássico. Sério, olha aí:

Miley podia ter tentado convencer lá no começo dos anos 2010 fazendo um álbum cabeça, uma coisa conceitual, mas sem dúvida isso teria dado mais trabalho. Ela foi pelo caminho do impacto com Bangerz e o twerking (sobre o qual foi acusada de apropriação cultural, uma das primeiras vezes que uma discussão do tipo foi parar na grande mídia). Mas com um pezinho no AOR sim: Wrecking Ball era baladão de estádio, digno de Journey.

Wrecking Ball tem nada menos que mais de um bilhão de views no YouTube.

Após o sucesso de Bangerz, veio Miley Cyrus & Her Dead Petz, uma doideira recusada pela gravadora e lançada de maneira mais independente, e Younger Now, um disco bacaninha e bem AOR mas carente de hits (Malibu não é um hit, desculpa aí, rapaziada).

E aí Miley começou a lançar músicas esporádicas por um tempo, que não foram para um álbum de carreira dela. A bela sequência começou com Nothing Breaks Like a Heart, AOR de primeiríssima, colaboração com Mark Ronson que flerta com a disco music e com o country mas que no fundo é uma balada meio inclassificável (é bom chamá-la de AOR porque o estilo inclui essa coisa híbrida, mesmo).

Nothing Breaks não virou o big hit que merecia mas deu para perceber que agradou um público mais velho (e talvez por isso não tenha virado um big hit).

O plano de Miley após isso era lançar uma sequência de 3 EPs: She is Coming, She is Here e She is Everything. Os três formariam o She is Miley Cyrus, seu novo álbum. Mas só o She is Coming saiu. Ele é bem bom, e bem AOR, mas para um EP de apenas 6 faixas podia ser ainda melhor. Enfim, vale ouvir.

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Rolaram também umas bobeiras no caminho tipo a música do novo filme de As Panteras e as do episódio de Black Mirror do qual ela participou. Mas quando veio Slide Away (e com isso a gente percebeu que She is Miley Cyrus de fato não ia sair), pensamos: CARACA, ela é o AOR encarnado, o AOR não morreu, ela modernizou o AOR!

O single do que seria revelado seu próximo álbum meio que confirmou esse pensamento. Midnight Sky é prima de Nothing Breaks no clima, um pouco mais adolescente nas suas afirmações um tanto rebeldes e na sua vocação para a pista de dança. Mas ganhou até um mashup oficial com a rainha do AOR, Stevie Nicks!

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Aí ela anunciou para os quatro ventos: o álbum vai ser de rock. O álbum vai ser de rock!!!

A gente acreditou, né? Ué, se ela estava falando. Vem aí o álbum mais AOR de Miley. Fazia o maior sentido na nossa cabeça.
E aí saiu… Prisioner. E a gente ficou meio… hã?

Não me entendam mal, eu gosto da Dua Lipa. Bastante, até. Mas esse resgate de um clima Bangerz me pareceu algo meio deslocado. Problema é meu, né, que criei expectativas.

E quando saiu o Plastic Hearts, ouvi e fiquei meio… Oi, é a Hannah Montana?
Não fui só eu.

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Tenho certeza que muita gente que era fã de Hannah Montana e cresceu com Miley Cyrus, acompanhando a carreira dela, deve ter curtido esse plot twist. Ou nem considerou isso um plot twist.
As músicas são um pop rock divertidinho e bem descartável. Definitivamente nada AOR. Até os feats confirmam: a postura adolescente de Billy Idol. Joan Jett, ex-The Runaways – tem coisa mais adolê que The Runaways ou que Bad Reputation?

Nunca fui fã de Hannah Montana. Mais uma vez: problema meu, né? WTF do I know…
Mas agora me conta: vocês gostaram do Plastic Hearts ou é meme?

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