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Gucci: de volta ao sexy, mas agora com um toque cabeça

A Gucci dos anos 1990 ficou famosa por explorar a sensualidade como principal característica da sua imagem. A estética capitaneada pelo estilista Tom Ford e pela stylist Carine Roitfeld ficou conhecida como porn chic, para você ter ideia.

Aí a marca passou por Frida Giannini (lembra? Pois eu tenho certa dificuldade em lembrar de algo dessa época) e aí chegou em Alessandro Michele, num desfile masculino no qual ele mexeu profundamente no styling e consequentemente na imagem da marca. Saía a sensualidade e entrava o gênero: a questão agora eram a androginia, a expressão da personalidade e individualidade mais do que o sexo.

O primeiro desfile de Alessandro Michele na Gucci, em 2015

Nessa primavera-verão 2020 recém-apresentada em Milão, Michele volta e reflete sobre essa herança cheia de sexo da Gucci. Só que ele o faz tanto explorando looks extremamente sensuais quanto refletindo sobre o papel da moda enquanto supressora da expressão individual, exercendo o seu poder para uniformizar a todos. Very Foucault of him, especialmente porque no seu caso essa sensualidade parece mais uma expressão individual também do que uma tentativa de normatização & padronização do sexo. No começo do desfile, entram 60 looks entre brancos e beges, afastados do corpo, com tiras afiveladas e amarrações, entre o utilitário e a camisa de força. Sabe a questão sobre uniformização que eu disse que a Gucci discutia no post imediatamente anterior a esse? Sobre Midsommar? Pois é.

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ATUALIZAÇÃO 23/08/2019: A alusão à camisa de força não agradou todo mundo. A modelo Ayesha Tan-Jones escreveu um protesto na própria mão:

Ela ainda declarou que essa referência à camisa de força e looks que se referem a pacientes de sanatório é "sem-imaginação e ofensiva". Veja mais no site da CNN.
Minha opinião? Acho que não é o meu lugar de fala, na verdade, mas superentendo. Também ficaria ofendidíssimo, e não tinha pensado nisso. Foda ver que coisas que fogem à sua realidade realmente te escapam e você pode ser insensível a respeito.
Fim da atualização!

Depois da sessão branca, blecaute e começa o desfile "de verdade". E aí, meu bem, é sexy na cabeça, com direito à ressuscitação daquele mesmo fio dental que você viu no começo desse post.

Várias outras transparências disputam a atenção com fendas absurdas, decotes reveladores, looks levíssimos que propõe, por causa do casting de magérrimas sem curvas mais para exóticas que para beleza padrão, uma sensualidade diferente. Nas mãos, de vez em quando, pinta um chicotinho fetichista. Na trilha, aliás, aparece Madonna e sua Justify My Love!

A falta de diversidade de corpos me incomoda demais. Mas gosto da ideia dessa turma geek-hipster de Michele agora querendo sensualizar.

O vestido coluna com recorte estratégico: na esquerda o de hoje; na direito o do passado.

Mais uns outros lookinhos, não tão sensuais mas que amei, abaixo:

Assista ao desfile abaixo: